Hitler e o Marechal Hindenburg |
Observando, pois, na Inglaterra, em 1942, os mesmos fenómenos a que assistira na Alemanha e na Áustria, Frederico Hayek pode verificar que a divulgação do socialismo se deve, fundamentalmente, a um erro: as pessoas, movidas por nobres e justos ideais que vêm expressos nas finalidades com que o socialismo se apresenta, não possuem a informação suficiente nem se dedicam à reflexão que lhes mostrariam como, de todos os sistemas, o socialismo é não só o menos capaz de realizar esses ideais como, sobretudo, aquele que os tornará irrealizáveis. Importa, portanto, informar as pessoas, dar-lhes elementos para que possam e queiram reflectir.
No intervalo dos seus trabalhos de economista, Hayek vai escrevendo a mais clara demonstração do que é, em todos os seus aspectos, o socialismo, e isso que ele é - «caminho para a servidão» - adopta-o como título do livro, que significativamente, dedica «aos socialistas de todos os partidos». Publica-o nesse mesmo ano de 1942.
Na tranquila aceitação que o socialismo então gozava, o livro é um escândalo. Mas as concepções socialistas eram ainda demasiado esperançosas para que, além de um escândalo, o livro fosse um triunfo. Era difícil compreender que um economista, com o valor, a celebridade e o «futuro» que Hayek tinha, viesse assim refutar globalmente uma doutrina especialmente querida dos economistas. O próprio Hayek conta o divertido episódio de um conhecido «philosopher» americano que escreve a um seu amigo inglês que havia feito uma referência elogiosa ao livro: «não posso admitir que V. elogie um tal livro (que eu, evidentemente, não li)».
Embora traduzido em algumas línguas, acabou por cair sobre o livro a mais sinistra das condenações, a que têm conhecido quase todos os grandes livros deste século: a do silêncio. E a segunda edição inglesa só vem a ser feita 45 anos mais tarde, em 1976!
Entretanto, Frederico Hayek vê multiplicarem-se os pequenos círculos onde se reconhece o valor da obra que incessante e imperturbavelmente prossegue e lhe vai ganhando discípulos, epígonos e colaboradores em vários países. Num volume de ensaios que a essa obra dedicam sete economistas e pensadores políticos, volume publicado há apenas alguns meses («Essays on Hayek», ed. Routledge & K. Paul, London, 1977), um deles, M. Friedman, pode já escrever: «A influência de Frederico Hayek tem sido tremenda...». Em 1974, é-lhe atribuído o Prémio Nobel de Economia. Em 1974, quando a revolução dos Cravos coroa o socialismo em Portugal, o mais alto galardão científico mundial reconhece a obra do pensador que desde há 42 anos vem demonstrando que o socialismo é «o caminho para a servidão».
De 1942 a 1977, de «O Caminho para a Servidão» a «Direito, Legislação e Liberdade» (obra em 3 volumes de que ainda não saiu o terceiro), o pensamento de Frederico Hayek alarga-se da economia à filosofia do direito ou da política. Este alargamento dá sinal do autêntico pensador, mas falarmos dele agora ultrapassaria os limites desta primeira apresentação aos leitores portugueses de um homem que, ignorado da nossa obscurantista e ridícula Universidade, dos nossos economistas e dos nossos políticos, é o homem que que, com maior influência, em nossos dias «deu força aos fundamentos morais e intelectuais de uma sociedade livre» (in Escola Formal, n.º 3, 1977, p. 8).
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