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sábado, 30 de setembro de 2023

A beligerância de Portugal na I Grande Guerra

Escrito por Franco Nogueira



«Perdida a independência, foi sofrido o domínio espanhol. De harmonia com a obsessão ancestral, aquele tornou-se mais e mais opressivo e absorvente. Camões sentira o contentamento amargo e doloroso de morrer com a pátria. Constrói-se mais um símbolo a diversificar as raízes portuguesas. E afirma-se a saudade da independência, desponta o sebastianismo, ergue-se o encoberto. Símbolos? Mas os símbolos de uma nação correspondem, quando emergem de um sentir colectivo, a necessidades espirituais, e traduzem em termos simples e populistas os terrores de um povo ou a sua fé numa providência salvadora. O Sebastianismo, o Encoberto, o Rei Artur e a sua Távola Redonda, Perceval e o seu Graal, Joana de Arc e a sua fogueira, os Niebelungos e as Walkirias, o Destino Manifesto, mil outros – fizeram e fazem parte do sistema de segredos, do conjunto de cumplicidades, do acervo de certezas interiores, das realidades morais inerentes a uma nacionalidade; e na sua ausência, um povo não encontra a sua alma, nem possui marcos de referência a que se arrimar nas crises. Sempre foi esse o papel que aqueles símbolos desempenharam e desempenham numa França, ou numa Inglaterra, ou numa Germânia. E assim sucedia também em Portugal nos princípios do século XVII. Reacordada a consciência nacional, revigorados os grandes símbolos, despertado o escol por virtude da mão férrea de Castela, sentem-se desiludidos aqueles mesmos que haviam traído o interesse português. É reencontrada uma elite que passou a sentir e pensar em termos nacionais e reconstitui-se a consciência de que eram fundamentais o Atlântico e o Ultramar, e estes estavam sendo sacrificados à política continental da Espanha. Foi assim viável aproveitar o declínio castelhano. Uma viragem política internacional favoreceu os propósitos portugueses: e em 1 de Dezembro de 1640 Portugal é de novo independente. Mas que independência?

Foi o regresso a uma doutrina nacional e a uma dialéctica portuguesa, decerto, e que mergulhava as suas raízes na estrutura nacional defendida por João das Regras nas cortes de Coimbra. Mas em pouco, depois de Vestefália, começaram os responsáveis portugueses a enredar os interesses puramente nacionais no vespeiro das quezílias, das intrigas, das querelas do continente europeu. Políticas de casamentos reais mal conduzidas, políticas de alianças improvisadas, e de oportunismo irresponsável, lançaram Portugal no abismo de novo. Sobre o corpo exangue dos portugueses digladiaram-se as forças económicas e políticas das potências continentais e das potências marítimas. Há períodos de saudável recuperação: a política externa de João V, o consulado de Pombal. Mas nos fins do século XVIII e na primeira metade do século XX, Portugal soçobra mais uma vez perante os interesses e jogos alheios. E todo o primeiro liberalismo português sofreu do embate constante, em solo nacional, dos dissídios entre os potentados europeus. Foi a fraqueza e a hesitação internas; foi a confiança imprudente num equilíbrio europeu que se presumia favorável à existência de um Portugal independente e soberano; e foi o valor atribuído a atitudes aparentemente amigas por parte de países continentais. E assim se chegou, com os responsáveis portugueses atónitos, ao passo violento do ultimato britânico. Teve clara consciência do desastre o rei D. Carlos; e por breves anos a sua política externa recuperou muito terreno para Portugal. Mas a I República, com intenções tão altas quanto inábeis e ingénuas, enleou mais uma vez a nação nas querelas europeias. Nenhuma justificação houve para a entrada na I Grande Guerra, salvo talvez o desejo republicano de diferenciar a geopolítica de Portugal da de Espanha, de modo a que o “mau vizinho” que esta era renunciasse de vez às suas intrigas contra Portugal (João Chagas, Diário, IV). Neste contexto, Aquilino Ribeiro, que fora vivamente contrário à ida de Portugal à guerra, formulou no entanto as três perguntas relevantes: “Que posição seria amanhã a de Portugal perante a Espanha a quem os aliados estavam gratos por toda a sorte de auxílio encapotado? E se, inesperadamente, D. Quixote empunhasse o escudo e a lança ao lado da Entente? Não lhe ficariam veleidades de dar um passeio, o sonhado passeio até Lisboa?” (Aquilino Ribeiro, Alemanha Ensanguentada, 307). Da nossa participação, todavia, regressámos a casa sem glória, nem benefício material ou político, e sem a gratidão dos aliados, e nem ao menos o seu apreço. Foram para a Espanha as homenagens dos aliados, e àquela foi atribuído um lugar no Conselho Executivo da Sociedade das Nações, o que foi negado a Portugal, beligerante que havia sido; e o facto motivou vivo protesto de Afonso Costa. Mayer Garção, em A Manhã, escrevia que “Portugal perdeu a guerra” (José Medeiros Ferreira, Um Século de Problemas, 39)».

Franco Nogueira («Juízo Final»).




Embarque de tropas para Angola


A beligerância de Portugal na I Grande Guerra


Iniciadas as hostilidades, o chefe do Governo português leu em 7 de Agosto de 1914, perante o Parlamento, uma declamação: «Logo após a proclamação da República, todas as nações se apressaram a declarar-nos a sua amizade, e uma delas, a Inglaterra, a sua aliança. Por nossa parte temos feito, incessantemente, tudo para corresponder à sua amizade que deveras prezamos, sem nenhum esquecimento, porém, dos deveres da aliança que livremente contraímos e a que em circunstância alguma faltaríamos. Tal é a política internacional de concórdia e de dignidade que este governo timbra em continuar, certo de que assim solidariza indiscutivelmente os votos do venerando Chefe do Estado com o consentimento colectivo do Congresso e do Povo Português.» Havia nesta linha de conduta a reafirmação incondicional da aliança inglesa, sem que aliás a Inglaterra o tivesse solicitado publicamente; a formulação de uma política internacional de concórdia, no momento em que rompiam as hostilidades generalizadas, não tinha sentido nem conteúdo; e como essa política não equivalia à de neutralidade, que não era declarada, nem muito menos à de beligerância, que também se não sugeria, foi por muitos considerada equívoca a situação criada. Mais vigorosamente do que outros protestava João Chagas em Paris contra a atitude assumida pelo governo de Lisboa. Impressionado por pequenos factos, considerava vexatório que Portugal não marcasse de começo uma posição clara quando todos, até o Haiti [1], já o haviam feito; pensava que sofríamos uma humilhação nacional porque ouvia na rua um comentário desagradável [2], ou porque um jornal publicava um artigo crítico; desenvolvia uma actividade frenética, por cartas e telegramas para Lisboa, procurando convencer o governo e os seus amigos políticos de que o interesse do país era constituir-se beligerante ao lado da França; e na falta dessa beligerância pretendia que ao menos houvesse uma declaração firme e nítida de neutralidade. Era de desespero o espírito de João Chagas: e pensava em vir a Lisboa «insurreccionar» o país para o salvar de um «tremendo desastre moral» [3]. De Madrid, por outro lado, Vasconcelos aconselhava prudência, e recomendava que nos abstivéssemos de «excessivos entusiasmos anglófilos»; e sublinhava que decerto os ingleses estranhariam que, à sua custa, tivéssemos gestos provocadores. Chagas classificava de abjecta esta atitude, desprezava Vasconcelos como um pobre cirurgião; e entendia que Bernardino Machado e Freire de Andrade eram agentes da Inglaterra [4]. Mas Bernardino Machado, por sua vez, confidenciava que Andrade era um agente da Alemanha, e que o estava atraiçoando vilmente. Entretanto, de Londres expunha Teixeira Gomes um ponto de vista inteiramente diverso. Entendia que a beligerância de Portugal só poderia embaraçar a Inglaterra, e que esta, em caso de aperto, não nos defenderia se houvéssemos entrado em guerra sem seu consentimento; e esperava que no país os «doidos» deixassem seguir o governo no caminho iniciado [5]. Era esta, aliás, a posição que resultava das conversas com Sir Edward Grey; e o Governo inglês, oficialmente mas em confidência, solicitava-nos que, de momento, nos abstivéssemos de qualquer declaração de neutralidade ou de beligerância. Em Lisboa, Freire de Andrade procurava, em princípio, manter na prática a neutralidade portuguesa, sem prejuízo do entendimento com a Inglaterra e de alguns pequenos serviços discretamente prestados a esta. Era o objectivo que decerto mais convinha aos interesses nacionais. Mas a paixão prejudicava esse desígnio. Desencadeia-se uma campanha em favor da nossa intervenção na guerra: forma-se, como no passado, o partido inglês, o partido francês, e o partido dos aliados. E alegava-se: se não entrasse na guerra, Portugal não garantia a sua admissão na Conferência da Paz e no futuro organismo internacional que desta resultasse; e a beligerância portuguesa era indispensável se queríamos manter a integridade do ultramar. Esta era, com efeito, uma preocupação sincera. Quando na chefia do governo de guerra, António José de Almeida haveria de declarar no Parlamento: «É necessário que ao chegarmos ao fim da guerra possamos manter intacto, se não aumentado, o nosso domínio colonial em África, e por toda a parte bem assinalado o nosso prestígio de nação autónoma, de nação livre». No subconsciente do chefe do governo, estava ligada a independência à integridade do ultramar. Barbosa de Magalhães, em nome da maioria democrática, deu o seu apoio àquelas palavras; idêntica foi a atitude de Vasco de Vasconcelos, pelos evolucionistas; e Brito Camacho, dissociando-se no mais, seguia o governo na defesa do ultramar [6]. Mas aqueles que estavam na oposição ao governo, por disciplina partidária, não aceitavam tais razões, e era banidos como constituindo o partido germanófilo. No meio do tumulto agitado e emocional, ergue-se uma voz serena e fria: a de Brito Camacho. Em sucessivos artigos na Luta, Camacho sustenta repetidamente uma tese nacional: reafirme-se a aliança inglesa; cumpra-se o que a Inglaterra nos solicitar, desde que o faça oficialmente em nome da aliança, e invocando-a; enquanto nada nos for pedido, mantenhamos e defendamos uma estrita neutralidade. Escrevendo como homem de Estado que possui a visão histórica das forças externas que actuam em torno do país, Brito Camacho repisava que não devíamos ir «para a guerra sem expressa solicitação da nossa aliada, porque nem seria patriótico impormo-nos tão grande sacrifício por mero diletantismo militar, nem seria correcto que pretendêssemos impor à Inglaterra serviços que ela tivesse por dispensáveis» [7]. E aos argumentos dos intervencionistas Camacho respondia: a Holanda estava neutral, possuía domínios ultramarinos, e não ia decerto perder estes por se haver mantido neutral; a Espanha também proclamava a neutralidade, e sem dúvida não deixaria por esse facto de pertencer ao futuro organismo da paz; e além disso haveria tanto interesse em que nos tornássemos membros daquele? Esta posição de neutralidade portuguesa era aquela que já Pombal e D. João VI, perante as querelas europeias, haviam procurado defender; mas a exaustão do tesouro e a falta de forças militares não o haviam permitido. Repetia-se agora o mesmo desastre: não possuíamos forças armadas que pudessem defender e impor a nossa neutralidade. Assim o declarava o ministro da Guerra na tribuna do Parlamento. E para que não houvesse qualquer dúvida, referindo-se ao exército, afirmava: «não digo que tem pouco, digo que não tem nada» [8]. Um aspecto, todavia, importava considerar: a vizinhança que tínhamos em África com territórios alemães. Recomendava Brito Camacho que se organizassem e enviassem expedições militares ao ultramar: combatendo aí os alemães, defenderíamos o que era nosso e do mesmo passo prestávamos preciso auxílio à nossa aliada, dispensando-a de distrair tropas da Europa para África. E Camacho dizia «mal de nós se precisássemos amanhã de prover à defesa do nosso território, no continente ou no ultramar, e não pudéssemos fazê-lo porque os nossos soldados andavam combatendo noutra parte!» [9]. Por virtude desta posição nacional e independente sofreu Camacho os mais acerbos ataques dos partidos; e estes não hesitaram mesmo perante a injúria pessoal. Era de grande violência a campanha intervencionista na imprensa que obedecia a Bernardino Machado ou Afonso Costa; João Chagas ameaçava demitir-se e vinha a Lisboa, e com frenesi falava a todos os principais vultos da política na necessidade da entrada de Portugal na guerra. Em fins de 1914 caía o governo, e Freire de Andrade abandonava os Estrangeiros. Em Londres, Teixeira Gomes, muito mais ponderado que Chagas, sentia-se inquieto. Desabafava: «a nacionalidade portuguesa poderá sair desta crise mais forte; mas também pode sair moribunda; e também pode desaparecer. O que há de profundamente doloroso nesta perspectiva é a convicção de que seria fácil alcançar o primeiro dos três resultados e tudo parece encaminhar-se para os dois últimos, só porque meia dúzia de homens não querem entender-se em um assunto que lhes não afecta os interesses partidários nem particulares: a política internacional» [10]. Encarando o problema no plano nacional e não partidário, Teixeira Gomes dizia a Brito Camacho: «a minha correspondência para o ministério, quando for conhecida, provará que fiz tudo para evitar que entrássemos em guerra, provará mais que tornada a nossa cooperação inevitável não consenti que ela se realizasse sem que a Inglaterra formalmente invocasse a aliança, única forma de podermos auferir daí, no futuro, algumas vantagens» [11]. Sir Edward Grey, apavorado com a precipitação portuguesa, continuava a recomendar prudência, e a manifestar o desejo de que não entrássemos na guerra; às levianas ofertas portuguesas respondia que guardássemos o nosso exército e a nossa marinha para nos defendermos, no continente e no ultramar, visto que, em apertos na Europa, não poderia a Inglaterra fazê-lo; e esta, de Portugal, apenas requeria alguns pequenos serviços, discretos e não incompatíveis com a neutralidade [12]. Esta posição da Grã-Bretanha era perfeitamente correcta; e correspondia à conduta defendida por Brito Camacho. Mas nas esferas políticas ganhavam terreno os intervencionistas a todo o preço: e queriam impor à Inglaterra a ida de uma missão militar portuguesa a Londres. E quando a França e a Grã-Bretanha nos solicitaram a cedência de alguma artilharia, respondemos que apenas satisfaríamos o pedido se o armamento fosse acompanhado de uma divisão de infantaria. Ficaram contrariados os embaixadores de França e da Inglaterra; e o adido militar francês, sugeria cortesmente que as nossas tropas não estavam treinadas, nem organizadas, insinuando assim a sua perfeita inutilidade. Mas a campanha intensificava-se; e ganhava terreno na imprensa partidária, depois de um artigo do major Sá Cardoso, a ideia do envio de tropas para França. Com a nova administração, ficavam senhores do governo os intervencionistas.

Infantaria portuguesa em França.

Já havíamos sido atacados em África pelos alemães, e com estes travado duros combates. Mas não fora declarada a guerra. Apesar de tudo, a opinião pública não lhe era favorável. Em Janeiro de 1915, o governo é derrubado pela ditadura do general Pimenta de Castro. Este continua na aparência a política anterior: abastece navios ingleses em portos nossos, permite o trânsito de tropas britânicas, presta outras pequenas ajudas: mas não agrava a política intervencionista. Mas em Maio de 1915 há novo movimento revolucionário. Constitui-se um governo de guerra: chama-se João Chagas à presidência: mas um atentado inibe-o de assumir funções. Para os Estrangeiros entra Augusto Soares; a Guerra é confiada a Norton de Matos. A todo o custo, queremos declarar a beligerância: era uma obsessão. Mas Sir Edward Grey é peremptório: se quisermos declará-la, «façamo-lo por motivos exclusivamente nossos e jamais invocando a aliança» [13]. Em resposta, Augusto Soares alega as reclamações alemãs contra actos nossos, os ataques das tropas germânicas da Damarlândia, o fornecimento de armas à África do Sul, o combate de Naulila, e tudo o ministro atribui ao facto de sermos aliados da Inglaterra [14]. Esta argumentação, obviamente especiosa, não impressiona Grey; a verdade é que, sem embargo de todos aqueles factos, a Alemanha não declarara guerra a Portugal: e assim apenas por motivos exclusivamente portugueses poderemos nós declará-la. Era necessário um pretexto, portanto; e esse encontrámo-lo na apreensão dos navios mercantes alemães surtos no Tejo. No mês de Fevereiro de 1916 requisitámos os barcos; e em Março a Alemanha afirmava-se em estado de guerra com Portugal. Era a vitória dos intervencionistas. Alexandre Braga propõe um governo nacional: era a união sagrada. Na verdade, porém, o ministério era composto apenas de democráticos e evolucionistas: presidia António José de Almeida;  Augusto Soares e Norton de Matos continuavam nos Estrangeiros e na Guerra; Afonso Costa entrava para as Finanças. Por vontade própria, e coerentes com a atitude anterior, excluíam-se os unionistas de Camacho, e os socialistas e monárquicos. O partido da guerra celebrou o triunfo; e em Paris Chagas exclamava: «aleluia» [15]. E do facto tiravam os intervencionistas conclusões de tocante candura: os aliados eram convidados a almoço no Quai d’Orsay, e «assim Portugal entra pela primeira vez no consórcio da Entente»; Portugal era tratado amigavelmente no Figaro e isso considerava-se uma das «surpresas da guerra»; quando Chagas subia numa manhã as escadas do Quai d’Orsay, era «Portugal que subia a uma das eminências da sua história»; e perante um telegrama de cortesia do Chefe do Estado francês, em que se faziam votos pela glória de Portugal, comentava-se que «era a primeira vez, há alguns séculos, que a glória de Portugal é uma palavra em documentos internacionais» [16]. Não o entendia assim, porém, a massa popular, e nesta não tem eco o triunfo dos intervencionistas.

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Segue-se a nossa participação activa. Afonso Costa e Augusto Soares deslocam-se a Londres e Paris para concertar pormenores; organiza-se e envia-se para França o Corpo Expedicionário Português; e até ao fim das hostilidades não cessam os nossos sacrifícios. Era o «anseio de evidência mundial que tinha impulsionado o desejo de intervir na luta»; e não foi viável conduzir o nosso esforço em termos devidos porque o escol era alheio à vida colectiva da nação, ou não traduzia aquele mínimo de convergência indispensável perante os mais altos interesses nacionais [17]. A incapacidade do governo e a resistência passiva da opinião pública provocaram novo golpe de Estado: em Dezembro de 1917, Sidónio Pais assumia o poder: e Bernardino Machado, Afonso Costa, Augusto Soares, Norton de Matos, João Chagas, outros mais, eram exilados ou afastados. Foi modificada a política de guerra: não nos retirámos das hostilidades: mas o C.E.P. deixou de ser reforçado e arrastou desde então uma existência apagada e inútil. Um instante de prestígio fugaz: em 9 de Abril de 1918 as forças portuguesas foram severamente batidas no Lis: mas o comportamento dos soldados foi galhardo. Entretanto, continuámos a reforçar as nossas posições em África; e para as defender não oferecia o sentimento nacional qualquer resistência.

Feita a paz, procedeu-se ao saldo dos sacrifícios de Portugal. Escreve um professor eminente: expedições para a África de 34 600 brancos, a que foram associados 19 500 soldados pretos; fornecimento aos aliados de 30 000 espingardas, 15 milhões de cartuchos, 56 bocas de fogo, 14 400 granadas; cedência de 157 233 toneladas de navegação à Inglaterra e permissão para serem utilizados os nossos portos; manutenção de matérias-primas e géneros alimentícios; entre mortos, feridos e inutilizados, perdemos em França 14 623 soldados, e em África 21 000; perda de cerca de 100 000 homens por invasão ou subversão dos territórios [18]. Em compensação, a Portugal foi reconhecido o direito de pertencer à comissão que organizaria a Sociedade das Nações, à de Portos e Vias, à de Reparações – e recebemos a minúscula povoação de Kionga, ao norte de Moçambique, que os alemães nos haviam tomado. Foi tudo: e era nada. E enquanto negociávamos em Paris, assassinava-se em Lisboa o presidente Sidónio Pais, surdia uma revolução em Santarém, proclamava-se a monarquia do norte. Como no Congresso de Viena, também em Paris éramos tratados de sub-aliados [19].

A Assinatura da Paz na Sala dos Espelhos (pormenor do quadro de William Orpen). Afonso Costa surge retratado de pé, o segundo à esquerda).


Galeria dos Espelhos no Palácio de Versalhes.

Como nas guerras europeias anteriores – dos sete anos, de sucessão de Espanha, campanha do Rossilhão, guerras napoleónicas – também no conflito europeu de 1914-1918 fez Portugal sacrifícios pesados. E contudo não tínhamos nenhum interesse vital afectado na Europa, e que portanto devêssemos defender. Mas não soubemos proclamar uma neutralidade, que por outro lado não poderíamos fazer respeitar, dada a nossa extrema fraqueza económica e militar; apenas para satisfação de lutas partidárias internas e em obediência cândida e cega a ideologias que não eram nossas, envolvemo-nos no conflito contra a vontade dos seus principais condutores; e apresentámos continuamente, perante terceiros, o espectáculo da divisão política, da desagregação administrativa, da ingenuidade na acção internacional. Chagas, o grande paladino da intervenção, e que considerava esta uma aleluia, viu desfeitas as suas ilusões. E em 1918 escrevia: «ontem, o parlamento francês celebrou já a apoteose dos aliados da França. Falou-se em todos: não se falou em nós. De resto é de toda a evidência que existe o propósito de ocultar o caso de Portugal, como um caso triste que é discordante no conjunto da vitória» [20]. E, com efeito, no fecho da luta beneficiámos rigorosamente de coisa nenhuma.

(In Franco Nogueira, As Crises e os Homens, Livraria Civilização Editora, 2.ª edição, 2000, pp. 238-244).






[1] João Chagas, Diário, I, 147.

[2] João Chagas, Diário, I, 159.

[3] João Chagas, Diário, I, 157.

[4] João Chagas, Diário, I, 255.

[5] Teixeira Gomes, Correspondência, I, 195.

[6] Diário das Sessões, 8 de Novembro de 1916.

[7] Brito Camacho, Portugal na Guerra, 110-111.

[8] Brito Camacho, ob. cit., 156.

[9] Brito Camacho, ob. cit., 124.

[10] Teixeira Gomes, Correspondência, I, 212.

[11] Teixeira Gomes, ob. cit., 216-217.

[12] Freire de Andrade, carta de 11-12-1914.

[13] História de Portugal, ed. de Barcelos, VII, 501.

[14] Livro Branco, doc. 300. Também carta de Teixeira Gomes a Augusto Soares, Correspondência, II, 54.

[15] João Chagas, Diário, II, 217. Comentando a intervenção, escrevia Agostinho de Campos: «A verdade é que alguns dos nossos mais fogosos intervencionistas estavam convencidos de que a beligerância portuguesa era vantajosa, primeiro e com certeza, para o seu partido; depois e talvez, para a sua pátria». Agostinho de Campos, Portugal em Campanha, 240.

[16] João Chagas, Diário, II, passim.

[17] História de Portugal, ed. de Barcelos, VII, 505. Em Rescaldo da Guerra, Brito Camacho faz uma lúcida análise dos erros e leviandades cometidas.

[18] Professor Hernâni Cidade, em História de Portugal, ed. de Barcelos, VII, 521-522.

[19] Saliente-se que, também como em Viena, o representante inglês na conferência de Paris, Balfour, envidou todos os esforços para que fossem satisfeitas as reclamações portuguesas. A Europa continental, porém, julgou de outro modo.

[20] João Chagas, Diários, IV, 343-344.


domingo, 17 de setembro de 2023

Portugal em África

Escrito por Franco Nogueira


Batalha de Coolela, travada em 7 de Novembro de 1895, durante a qual Mouzinho de Albuquerque esteve pela primeira vez debaixo de fogo.


Ocupação de Manjacaze, última operação militar antes de Chaimite.

«António Enes também veio a revelar-se um comissário lúcido em termos militares. Apesar de ser um civil, foi a ele que a tropa ficou a dever o esquema global das campanhas de 1895. Em primeiro lugar, decidiu-se a resolver a questão da segurança nas "terras da Coroa". Foi igualmente graças à sua acção que os oficiais puderam contar com meios logísticos locais. Também defendeu desde a primeira hora o avanço no terreno baseado em colunas móveis e foi o comissário régio quem procedeu à reorganização militar da província. Sob a sua direcção política, nasceu a tal geração de jovens soldados que ganhou destaque nas campanhas de Moçambique. No seu tempo, a tropa adquiriu experiência de combate e obteve com custos mínimos os resultados que até então ninguém havia conseguido. No seu conjunto, as vitórias de Marracuene, Magul, Coolela e Manjacaze terão custado 14 baixas brancas, número insignificante quando comparado com os 5592 mortos deixados pela França em Madagáscar, na mesma altura. Foi este sucesso e traquejo operacional que esteve na base da criação de uma percepção muito característica dos chamados "africanistas". Para eles, o Império viria a revelar-se a própria razão de ser da nação. Sem Império, esta não se cumpria, ideologia [ou realidade] que os regimes políticos até 1974 não mais iriam abandonar.

Assim, os louros da campanha de 1895 ficaram a dever-se mais à acção estratégica, organizativa e política de António Enes do que ao voluntarismo de Mouzinho de Albuquerque, tardiamente chegado a Moçambique, ou à vitória obtida em Chaimite já no final do ano. A captura do Gungunhana (...) seria apenas um episódio, ainda que significativo, do esforço militar português na colónia do Índico. No seu conjunto, as operações desenvolvidas ao longo de 1895 representaram a primeira campanha "moderna" levada a cabo pelas Forças Armadas nacionais, vindo a servir de modelo para as que se seguiram.


Todavia, para a história, os feitos deste ano seriam associados ao militar, não ao paisano. Percebe-se a razão da preferência. António Enes, para além de não pertencer ao meio castrense, tinha um perfil discreto, um passado de homem de Letras cordato, apesar de se ter envolvido uma década antes em polémicas políticas contra a Coroa no jornal O Progresso. Já o capitão Joaquim Mouzinho de Albuquerque tinha uma aura diferente, mais própria dos heróis que conseguiam triunfar apesar de rodeados de dificuldades. A prisão do "leão de Gaza", o seu feito maior, levado a cabo por um punhado de brancos, que enfrentaram destemidamente milhares de africanos no seu reduto, tornou-se uma façanha difícil de igualar.

De resto, para além da sua figura cimeira, a campanha de 1895 iria ser o berço de uma geração de protagonistas como Eduardo Galhardo, Paiva Couceiro, Eduardo Costa, Freire de Andrade, Sanches de Miranda e Aires de Ornelas, a que se juntariam em breve Gomes da Costa e João de Azevedo Coutinho. Este grupo de "africanistas", os "centuriões" como lhes chamou René Pélissier, não contando Caldas Xavier, que morreu em Lourenço Marques logo nos inícios de 1896, iria tornar-se a curto prazo numa espécie de Ínclita Geração do final do século XIX. O heroísmo demonstrado por Mouzinho de Albuquerque à entrada de Chaimite só passou a encontrar comparação na Batalha de Aljubarrota.

A «geração» de Mouzinho de Albuquerque. Os companheiros de África. Sentados da esquerda para a direita: Dr. Baltasar Cabral, Mouzinho de Albuquerque e Aires de Ornelas. De pé, da esquerda para a direita: Andrade Velez, Gomes da Costa, Eduardo Costa, João de Azevedo Coutinho, João Galvão e Baptista Coelho.

(...) Este grupo de militares teve o condão de, pelas suas proezas nunca alcançadas nos anos recentes, despertar o país para a realidade colonial e de promover a afirmação de Portugal perante o exterior numa altura em que o prestígio nacional em África já tinha conhecido melhores dias. Os inimigos não eram as azagaias dos Vátuas, mas sim os apetites que a debilidade da presença portuguesa despertou nas potências europeias, nomeadamente na Grã-Bretanha e na rival Alemanha».

Paulo Jorge Fernandes («MOUZINHO DE ALBUQUERQUE. Um soldado ao serviço do Império»).

 

«Estamos em África há 400 anos, o que é um pouco mais que ter chegado ontem. Levámos uma doutrina, o que é diferente de ser levados por um interesse. Estamos com uma política que a autoridade vai executando e defendendo, o que é distinto de abandonar aos chamados “ventos da história” os destinos humanos. Podemos admitir que a muitos custe compreender uma atitude tão estranha e diversa da usual; mas não podemos sacrificar a essa dificuldade de compreensão populações portuguesas cujos interesses na comunidade nacional consideramos sagrados.»

Oliveira Salazar («Portugal e a Campanha Anticolonialista»).

«Portugal foi vítima de um ludíbrio gigantesco, os portugueses foram enredados num logro colossal. As forças que atacavam Portugal, e os seus agentes, criaram na consciência colectiva, quanto à visão do País, uma fractura entre o consenso nacional histórico e o consenso nacional contemporâneo. Não foi por acaso que se procurou, e ainda procura, apagar e fazer esquecer a história de Portugal, e deste facto é a tentativa de destruir a figura de Camões, o símbolo mais expressivo: àquelas forças importa que Portugal se transforme numa terra sem história.»

Franco Nogueira («Diálogos Interditos», I Volume).




Portugal em África


Depois da crise com a Inglaterra, não estavam findas as preocupações ultramarinas. Era a tradição: paz com Portugal na Europa; guerra ao que Portugal possuísse além-mar. Desencadeia-se uma campanha política e de imprensa, de âmbito internacional. Acusações graves são lançadas: incapacidade administrativa, atraso económico, prática de escravatura, tesouro exausto. Alegam-se massacres por autoridades portuguesas; e dissemina-se a ideia de que as populações se encontravam em estado de insurreição. As potências fingem-se preocupadas, e consideram um dever moral e político substituir Portugal em África: apenas assim poderiam continuar generosamente a suportar o fardo do homem branco, impondo ao negro o respeito que os portugueses eram inábeis para garantir, e só assim seria viável levar a civilização ao continente africano, explorando as suas riquezas, mercados, matérias-primas. E como Portugal – adiantavam os mesmos críticos – não tinha exércitos, capitais, técnicas, ou quadros administrativos suficientes, era forçoso que a Europa tomasse sobre si essa responsabilidade, e se assinasse o sacrifício de partilhar a África portuguesa. E a recusa ou a resistência de Portugal era um obstáculo, um embaraço incómodo que entravava o que era havido como alta política europeia, e ofendia os supremos ideais que as grandes potências difundiam no mundo, num mandato que ninguém lhes outorgara.

Tendo suspendido o pagamento da dívida externa, e vivendo em déficit, era desesperada a situação financeira [1]. O descrédito era total [2]. O conde de Reillac, nosso credor, era implacável. Cartazes ofensivos eram afixados em Paris; e nos cafés-concertos exibiam-se velhos decrépitos, andrajosos, que esmolavam para Portugal. Tentou-se um empréstimo na praça de Londres: em penhor, ficariam cativos os réditos aduaneiros do ultramar. Soube-o a Alemanha, e Berlim logo se precipitou: queria partilhar de qualquer operação financeira que acaso se repercutisse na África portuguesa. Em face de dificuldades com os boers, que se avizinhavam, a Grã-Bretanha tinha interesse em evitar a exclusiva intervenção alemã. E em 1898 Balfour assina com os alemães dois acordos secretos, e uma nota, prevendo a partilha das províncias portuguesas de África: para a Inglaterra, todo o sul do Zambeze e o norte de Angola; para a Alemanha, o sul de Angola, ligando com o sudoeste, e o norte de Moçambique (e ainda Timor). Firmados os documentos, os enviados britânicos e alemães em Lisboa, numa diligência comum, põem à disposição do Governo português os recursos financeiros necessários, solicitando para garantia o controle aduaneiro do ultramar. O governo fora informado dos acordos de Londres; e José Luciano, que o presidia, repudiou a oferta. Mas a França também apurara o segredo, e apressou-se a fornecer os créditos precisos, de forma desinteressada, porque o seu objectivo era frustrar o entendimento anglo-germânico. Fortalecidos com o apoio francês, e denunciado em Londres os acordos de que tivéramos conhecimento, foi viável levar a Grã-Bretanha ao cumprimento da aliança e do tratado de 1891. Foi essa a política de D. Carlos e de Soveral. Aproveitando a guerra contra os boers, que agora a Inglaterra conduzia na África Austral, e necessitando aquela de auxílio português, declarámos que lho prestaríamos em nome da aliança, e se esta fosse invocada; e foi essa invocação e confirmação que se obteve com o Tratado de Windsor, em fins de 1899.

Mas a Europa entrava no regime de paz armada. Era crescente a tensão entre as potências: deslocações das alianças e Entente Cordiale entre a França e a Inglaterra, com a morte da rainha Vitória e a subida de Eduardo VII ao trono [3]; intervenção alemã na África Equatorial; incidente de Agadir; crise em Marrocos e protectorado francês. Deseja a Inglaterra travar o rearmamento da Alemanha, e de novo a encaminhou para África. Voltou a ideia de reformar os acordos de 1898, e nos últimos anos do século XIX o Governo inglês sentiu sempre o desconforto da «situação ambígua» de que se queixava Sir Edward Grey. Em Berlim, todavia, falava-se de Angola como de território alemão, e também do norte de Moçambique, junto ao Tanganica; e em Inglaterra, sem embargo do Tratado de Windsor, cresce o fascínio pela mesma província, e o desejo de acaso a incorporar. Assinariam os dois governos, em Agosto de 1913, um novo tratado de partilha, que reproduzia as convenções secretas de 1898. Um ponto era alterado: para não desprazer à Austrália, substituía-se Timor por S. Tomé e Príncipe. Para fazer pressão sobre Portugal, e por sugestão de Tattenbach, a Alemanha enviara uma esquadra a Lisboa, e logo a Inglaterra, para equilibrar aquela pressão, fez comparecer no Tejo a sua frota de Gibraltar. De novo reagiu a França. Esta pretendia a Guiné, Cabo Verde e Cabinda. Paris intervém em Berlim e Londres, e exige que nenhumas modificações sejam feitas na bacia do Zaire sem o seu acordo. Para contemporizar, consegue a Inglaterra que a Alemanha aceda ao pedido francês; e nesse sentido foi assinado, em Julho de 1914, o respectivo acordo. Antes da sua execução, mergulharia a Europa numa guerra generalizada [4].

Um aspecto do desenvolvimento urbano de Lourenço Marques no final do século XIX.

Da rivalidade entre as potências, beneficiou Portugal: entravou a partilha do ultramar. Mas a conservação deste deveu-se, acima de tudo, ao esforço resoluto então feito para o guarnecer e administrar. Fustigados por crises sucessivas, feridos por um ultimato, ameaçados pelas cobiças de terceiros, empreendemos uma campanha sistemática de ocupação efectiva. Compreendeu a opinião pública quanto era imperioso fazê-lo: sentiu a Nação essa cruzada: e os governos, apoiados numa política nacional e mesmo compelidos a praticá-la, puderam tomar as providências apropriadas. Estava-se perante um problema vital do país: este gerara um movimento colectivo e uma mística popular: e contra esta foram impotentes os conluios palacianos, os ódios pessoais dos dirigentes, os grupos e facções partidárias, e até o desinteresse dos que se consideravam o escol mental.

Esse esforço tinha de se exercer em relação a Angola. Havia que demarcar com precisão os limites definidos, nos vários tratados: ao norte, em face de franceses e belgas; pelo sul, com os alemães; e a leste, ao longo de todo o Barotze [5], uma vasta faixa fora-nos arrancada na crise anglo-lusa de 1890. As populações locais encontravam-se em estado de excitação e incerteza, e era indispensável afirmar a soberania nacional. Tropas e material foram enviados da metrópole, e a ocupação levada aos confins da província. Destacam-se Artur de Paiva, Veríssimo Teixeira, Padrel. Dois povos ofereciam especiais dificuldades. Ao sul, os cuamatos: Alves Roçadas, partindo da Huíla, empenhou-se em combates sucessivos: e ao findar o ano de 1907 quase toda a área estava pacificada e sob domínio português. Ao norte, na região dos Dembos, régulos e sobas agiam com independência quase absoluta. Numa zona áspera pelo clima e configuração do terreno, João de Almeida estabelece postos militares e administrativos, e a soberania portuguesa retoma os seus direitos. Depois, como governador da Huíla, dirige-se ao sul; e continua a obra de Roçadas ocupando Hinga, Dombola, Balondo e demais pontos nevrálgicos. Por 1915, com Pereira de Eça, toda a fronteira sul de Angola estaria enfim balizada. Entretanto, durante o governo de Paiva Couceiro, já antes arduamente experimentado nas campanhas de Moçambique, haviam sido abertas vias de penetração por todo o interior: fora a política de «intervencionismo» que permitiu consolidar a província, dar-lhe unidade territorial, preparar o seu desenvolvimento, e sobretudo prevenir novas ambições de terceiros [6].

Era na costa oriental, todavia, que o nome português atingira a última das degradações. Para além de Lourenço Marques, quase se não exercia autoridade portuguesa em Moçambique. Em todas as terras da coroa lavrava a revolta. Surdira na região de Magaia, e logo se estendera a uma vasta área. A linha do Incomati pertencia aos rebeldes; até ao Save, mesmo em zonas tão distantes como Cossine, os soldados portugueses só estavam seguros da terra que pisavam; e ao norte do Save, desde a fronteira do Transwaal até aos vales do Pungue e do Busi, tudo estava abandonado a influência alheia. Diziam as populações aborígenes que o mato lhes pertencia e que apenas Lourenço Marques era dos brancos; e os portugueses eram havidos como mais timoratos que mulheres ou designados, por desprezo, como galinhas [7]. Nos territórios ingleses vizinhos era conduzida uma campanha contra Portugal, pela imprensa e pela corrupção; e Cecil Rhodes, o adversário mais tenaz que alguma vez defrontámos em África, espreitava em Capetown o ensejo de explorar as dificuldades portuguesas. Os governos europeus vigiavam os acontecimentos; sugeria-se que caudilhos e mercenários europeus formassem com os rebeldes uma hoste aguerrida que tomasse Lourenço Marques; e esta seria depois proclamada cidade livre, com estatuto de autonomia garantido pelas potências europeias [8]. Nas águas de Moçambique, e na baía da capital, cruzavam esquadras inglesas e alemãs; e por toda a África em redor, desde o Natal ao Niassa, considerava-se Moçambique como província a abandonar pelos portugueses. Estes estavam «prestes a ser atirados ao mar pelos cafres»; e na África Austral não tinham limite os insultos, as vaias, as calúnias, as acusações, as objurgatórias contra Portugal por causa de África. Complicava o problema a existência das comunidades boers no Transwaal; estes ambicionavam o porto e cidade de Lourenço Marques, sabiam que os ingleses, no entanto, não lho consentiriam; mas também não desejavam que estes últimos se apossassem daquela posição; e por isso preferiram que Portugal se firmasse naquela área vital para a república de Pretorius. Londres entrevia, do seu lado, o futuro conflito anglo-boer: para o ataque ao Transwaal considerava indispensável Lourenço Marques: e a menos que lançasse uma agressão frontal ou que os portugueses sucumbissem, apenas a aliança com Portugal, e a invocação expressa desta, permitiria usar aquele porto. Foi esta conjugação de circunstâncias que Soveral explorou com lucidez, e que levou ao Tratado de Windsor [9]. Tudo era seguido pelos gabinetes da Europa, e estes formavam a sua opinião àquela luz. E tudo parecia perdido para Portugal quando o governo de Lisboa, num sobressalto de pavor, resolve nomear António Enes como Comissário Régio em Moçambique, e com plenos poderes.

Vista geral de Lourenço Marques no primeiro decénio de 1900.

António Enes chega a Moçambique praticamente sem nada. Mas em nenhum momento equacionou a missão a cumprir com os elementos, de homens e de material, que possuía: aquela tinha de ser executada com o que houvesse ou lhe pudesse vir a ser fornecido. Desfrutava o Comissário Régio do apoio firme do rei D. Carlos e da rainha D. Amélia, que no alto nível da política portuguesa pareciam ser as únicas figuras interessadas com paixão pela África. E tinha ainda a compreensão e o auxílio do ministro da Marinha e Ultramar, Ferreira de Almeida. Este lutava, no entanto, com as maiores dificuldades: os seus colegas de gabinete tinham pavor de tudo e deixavam-se impressionar pelas críticas [10]; os jornais políticos e homens de governo não queriam a campanha contra Gungunhana [11]; todas as medidas eram paralisadas pela «engenhoca política» e pelos «interesses ilegítimos» [12], e queixava-se de que todos queriam resultados sem sacrifícios. Então desabafa com Enes: «eu ainda não percebi a razão de certos receios e ainda menos a importância que se dá a certos sujeitos; que por este andar o país não se aguenta é fora de toda a dúvida; assim vou-me embora e hei-de arrepender-me toda a minha vida de mais uma vez tomar alguma coisa a sério» [13]. Era este o ambiente político que António Enes, ao partir, deixara atrás de si. Mas nem o facto, nem a escassez de meios em Moçambique entibiaram o Comissário Régio. Empreendeu a sua missão com a coragem e a cegueira de quem luta por ideia ou interesse que o transcende. Enes trabalhou sobretudo com homens: Caldas Xavier, Paiva Couceiro, Aires de Ornelas, Mouzinho, Freire de Andrade, Eduardo Costa, Eduardo Galhardo, Roque de Aguiar. Estes homens, quase entregues a si próprios, improvisando com engenho, imaginando com fé, de nada fazendo tudo, indiferentes à fortuna e ao sacrifício, mantiveram Moçambique na nação portuguesa, e impuseram aos locais e aos estranhos o respeito pela soberania nacional.

Chegou António Enes nos primeiros dias de Janeiro de 1895 a Lourenço Marques, e inteirado da situação logo organiza, com bocados de forças díspares, uma coluna que marcha para o Norte. É confiado o comando ao major de infantaria Caldas Xavier. No grupo do Comissário Régio, este era decerto a individualidade mais rica, mais humanamente generosa, mais densa de isenção e de espírito de sacrifício: de uma energia inquebrantável, era a obstinação personificada e tinha brasas nos olhos: e era oficial de grande valor militar, além do mais. Em 2 de Fevereiro, a coluna está acampada por alturas de Marracuene, a cerca de trinta quilómetros de Lourenço Marques. Na madrugada daquele dia, com as tropas formadas em quadrado, os vátuas, cafres, landins atacaram por milhares. Era a mais fraca a face constituída por angolas, e sobre essa se concentraram os assaltantes. Rompido esse lado penetraram no interior: e a doutrina militar dizia que uma vez desfeito um lado, não mais se poderia recompor um quadrado, e seria destruído. Mas os oficiais de Marracuene – Caldas Xavier, Couceiro, Ornelas, Eduardo Costa, alferes Pinto – «esqueceram-se de que não havia exemplos de se salvarem quadrados arrombados» [14]. Todas as outras três faces, constituídas por tropas brancas, mantiveram-se firmes: embora sentindo nas suas costas a luta corpo a corpo com os vátuas no interior do quadrado, continuaram sob formatura imperturbável e a fazer pontaria certeira para o exterior. Roque de Aguiar e o alferes Pinto correm para os angolas espavoridos; e Caldas Xavier, dominando todos com a sua presença e a sua bravura, obriga-os a retomarem as fileiras. Reconstituiu-se o quadrado: e «é tão desusado, tão único, este fenómeno de se reorganizar, sob pressão do inimigo, um quadrado já desmantelado, que se tem procurado para ele muitas explicações, extraordinárias, mas inverosímeis» [15]. Ao cair da tarde, retiravam-se os assaltantes: haviam perdido centenas de mortos: e depois, dos ferimentos graves, muitos outros «estiveram muito tempo a morrer», como disse uma das testemunhas nativas. Limpo o terreno, exploradas as cercanias, fortificado o local, regressou a coluna a Lourenço Marques. Era um conjunto de destroços humanos. Mas, chegados às primeiras casas, gritou Caldas Xavier às forças: «Lembrem-se de que vão ser vistos por estrangeiros!». Não foi preciso mais exortação ou ordem: foi geral o aprumo. «Nas filas que passavam cadenciadas descobriam-se rostos emaciados, peles esverdeadas ou terrosas, magrezas esqueléticas, malares esbrugados e retintos pelas vermelhidões das febres, lábios sem cor, pálpebras negras e entumecidas; mas os olhos, esses brilhavam sempre. Traziam os uniformes de linhagem empastados de lama até às golas, negros pela pólvora e pela graxa do equipamento, encarnados da areia, escorrendo água, descosidos de farpões; o calçado vinha cambado e roto, as ferragens do armamento cheias de ferrugem. Cobriam-nos todos os estigmas, todas as imundícies, todos os desalinhos com que o sertão e a guerra, as duras provações e o forçado abandono de si podem deprimir a dignidade da figura humana; mas a expressão viril dos semblantes, o próprio esforço com que dissimulavam a fadiga, o sereno desassombro com que deixavam ver os seus farrapos sujos, a lembrança do que tinham ousado, feito e padecido, faziam-nos parecer tanto mais nobres quanto mais sórdidos, e mais heróicos quanto mais definhados» [16]. Frente à residência do Comissário Régio, a coluna faz alto, abre em formatura, saúda em continência. Caldas Xavier, muito naturalmente, manda o chefe do estado-maior pedir ordens e instruções para acção imediata. Mas Enes determina que a força regresse a quartéis. E «estrangeiros escarninhos, que paravam para os ver, ficavam sérios e reverentes; e lágrimas silenciosas de enternecimento e ufania rolavam pelas faces dos bons portugueses» [17].


Paiva Couceiro

Fora um golpe duro no império vátua; mas apenas um golpe. Tanto bastou para que a imprensa internacional redobrasse nos seus ataques e calúnias; muitos jornais apresentavam a vitória portuguesa como tendo sido um massacre dos soldados brancos; as correspondências expedidas de Moçambique vilipendiavam e achincalhavam a acção do Comissário Régio e das suas forças; os interesses das potências sentem-se afectados; e Couceiro, indignado, procura pelos cafés da Polana os correspondentes estrangeiros, e esbofeteia-os até caírem. Entretanto, António Enes trabalha politicamente. Urde as suas intrigas contra o chefe vátua; oculta ciosamente os seus planos; e por intermédio do conselheiro Almeida procura averiguar das verdadeiras intenções de Gungunhana. Ao norte, as companhias majestáticas, com predomínio de capitais estrangeiros, tinham atitudes equívocas. Almeida era ao mesmo tempo secretário da Companhia de Moçambique; e o tenente Bicker, que Enes destacara para junto do conselheiro, considerava suspeitas as relações daquele com o chefe vátua. Este último, nas conversas com Almeida e Bicker, prometia vassalagem ao rei de Portugal, e depois desdizia-se; procurava comportar-se como se fosse alheio aos rebeldes; mas em Abril já o Comissário Régio concluíra que o régulo tinha entendimentos com agentes estrangeiros [18], não desejava cooperar com os portugueses, e que sem a sua destruição não haveria paz em Moçambique.

Reorganizadas as forças, recebidos do reino alguns elementos em homens e material, coadjuvado pelo auxílio técnico do coronel Galhardo (que acabava de chegar), o Comissário Régio lança sucessivas colunas para o norte. Ocupa Incanene; bate a margem esquerda do Incomati; submete Mapunga e Maputo; e inicia os preparativos contra Inhambane. Chega da metrópole um esquadrão de cavalaria. Enes sente o seu poder aumentar, é crescente o prestígio das armas portuguesas, muitos régulos se acolhem à autoridade do governo: podia passar à ofensiva. Ponto fundamental a resolver, contudo, era este: tentar a submissão de Gungunhana por meios pacíficos ou destruí-lo em guerra aberta? Almeida continuava de intermediário, e afirmava ter grande ascendente sobre aquele. E depois de muitas trocas de mensagens, dá a conhecer as condições do imperador dos vátuas; se retirássemos das fronteiras do seu território as nossas forças, licenciaria a sua gente de guerra; e para garantia de que entregava os rebeldes oferecia dois reféns importantes, mil libras em oiro e três dentes de elefante, dos grandes. Almeida acrescentava não ser viável conseguir mais: os ingleses espalhavam no sertão o rumor de que os portugueses em qualquer caso fariam a guerra; e porque persuadido de que esta era inevitável, não poderia aceitar outras condições. Desde este momento, Enes tomou a decisão, embora sem a enunciar, de se apoderar de Gungunhana, e não mais confiou na lealdade do conselheiro Almeida. «E do Reino? Vinham da metrópole palavras de apoio, de encorajamento, de orientação que minorassem ou levitassem as preocupações do Comissário Régio? Não: o Terreiro do Paço continuara sempre preocupado com os problemas partidários e os favores pessoais; e, na imprensa, as velhas rivalidades políticas ou os antagonismos jornalísticos não tinham férias, enquanto Enes se devotava a uma alta e difícil tarefa de puro interesse nacional» [19]. Enes chega a solicitar a exoneração; mas retira-a, a pedido de Lobo de Ávila. E com redobrado vigor prossegue a campanha contra os vátuas.

Organizada poderosa coluna, sob o comando de Galhardo, este parte em direcção de Manjacase, no interior do território vátua. Em Coolela dá-se o embate com as forças de Gungunhana: o resultado é desastroso para estas. No seu relatório ao Comissário Régio, e ao analisar o comportamento do quadrado, Galhardo informa: «Tais oficiais e soldados são o orgulho dos chefes que têm a honra de os dirigir, exaltam o seu país e o seu Rei, e bem merecem da Pátria» [20]. Fora novo golpe para o poderoso régulo: e este é obrigado a fugir desordenadamente. Galhardo não soube ou não pôde, todavia, explorar a vitória. Seria o capitão Mousinho de Albuquerque, por encargo de Enes, que remataria a campanha. Entretanto, o Comissário Régio dava a sua missão por concluída: tudo estava pacificado: e em Janeiro de 1896, um ano depois de chegar, embarcava para Lisboa. Nomeado governador militar de Gaza, com suficientes meios militares à sua disposição, Mousinho empreende a prisão de Gungunhana. Num gesto de supremo arrojo, depois de ter feito cercar Chaimite, dirige-se quase só ao local onde se encontra o chefe vátua com os seus ministros. Perante o assombro de quantos negros cercam a cabana real, Gungunhana é preso, amarrado, lançado por terra. Dois dos seus ministros, mais hostis a Portugal, são fuzilados de pronto. Era a derrocada do império que pusera em risco Moçambique. A caminho do reino seguia António Enes: desgostoso, amargurado, tendo «desejado muitas vezes morrer» perante a incompreensão e a injustiça de Lisboa. Como Sá de Miranda havia mais de três séculos, como Herculano havia vinte ou trinta anos, também Enes ansiava por abandonar tudo, desaparecer, aniquilar-se. E antes de partir escrevera a sua filha Luísa: «Não quero ser mais coisa alguma neste país em decomposição! Como eu agora tenho podido apreciar os homens, os caracteres, as coisas, os serviços públicos! E que tristeza e amargura me tem causado essa apreciação! Está tudo tão podre! Se eu aqui conseguir evitar desastres e vergonhas, já terei operado um verdadeiro milagre, que me fará acreditar na Providência. Não me meto noutra, não!» [21]. Um homem, todavia, reparou  nos serviços de António Enes: em 24 de Janeiro de 1896, o rei D. Carlos, depois de o felicitar, oferecia-lhe a grã-cruz da Torre e Espada «como lembrança dos grandes e relevantes serviços que à tua Pátria e ao teu Rei prestaste em África». E uma figura de mulher expressou a sua emoção: em telegrama, a rainha D. Amélia quis associar-se numa «derradeira homenagem àqueles que pela Pátria deram a vida e saúdo todos aqueles, Comissário Régio, oficiais e soldados que tão brilhantemente continuaram as nossas gloriosas e nunca interrompidas tradições» [22].

Praça Mouzinho de Albuquerque (Moçambique, cerca de 1970).



Suportou a massa do povo português todos os sacrifícios e todos os gastos com as campanhas de África. Enquanto a política se agitava, e os governos se sucediam, e a ideia republicana se difundia, o nome de Portugal ganhava prestígio por todo o sul do Sara, e os conluios das potências, para partilhar os nossos domínios, eram frustrados. Nos primeiros anos do século XX apenas um território dava cuidados sérios: a Guiné. Surge então a grande figura de João Teixeira Pinto: mercê da sua acção, também naquela província foi viável consolidar a soberania portuguesa e pôr cobro a desígnios territoriais franceses [23]. Mas aproximava-se uma crise internacional de proporções catastróficas. Novos cuidados, novos sacrifícios iam afectar o povo português, e  também novos erros de alguns.

(In Franco Nogueira, As Crises e os Homens, Livraria Civilização Editora, 2.ª edição, 2000, pp. 223-232).



[1] Soveral escrevia para Lisboa: «O que parece incrível é que El-Rei não veja os perigos da sua situação e a catástrofe inevitável». Carta inédita de Luís Soveral ao conde de Arnoso, de 22-7-1898, na posse da Família.

[2] Soveral informava: «Chamberlain disse ontem ao Príncipe de Gales que nada se podia fazer com os governos portugueses, que eram de uma fraqueza inconcebível». Carta inédita de Soveral ao conde de Arnoso, de 7 de Agosto de 1898, na posse da Família.

[3] É geralmente desconhecida em Portugal a acção de relevo desempenhada por Soveral na negociação da Entente Cordiale. Foi Soveral um dos comissários que Eduardo VII utilizou junto de Delcassé. Ver André Maurois, Edouard VII et son temps, Paris, 1937.

[4] Minúcias de todas as negociações podem ver-se em: Professor Doutor Marcello Caetano, ob. cit., 153-180; José de Almada, Convenções anglo-alemãs relativas às colónias portuguesas; História de Portugal, ed. de Barcelos, VII, 598-600. Sobre os aspectos financeiros, Teixeira de Sousa, Para a história da Revolução, I, 40 e segs, e nos aspectos políticos, págs 157 e segs.

[5] Soveral ocupava-se activamente em Londres do caso, e comentava com bom humor: «Eu devia ir à Irlanda na próxima semana mas o Barotze não permite». Carta inédita ao conde de Arnoso.

[6] Pode encontrar-se no volume «Angola», editado pelo Instituto Superior de Ciências Sociais e Política Ultramarina (1963-1964), talvez o melhor estudo de conjunto sobre a fixação das fronteiras de Angola, por Luís de Matos, até este período. No mesmo volume, e no plano político, o estudo de Henrique Martins de Carvalho sobre as relações de Angola com os territórios vizinhos. Ver ainda «Angola, meio século de integração», de João Pereira Neto, ed. do I.S.C.S e P.U.

[7] António Enes, A Guerra d’África em 1895, pág. 44, ed. de 1898.

[8] António Enes, A Guerra d’África em 1895, pág. 45.

[9] Sobre a acção diplomática de D. Carlos e de Soveral, e embora o autor nem sempre seja objectivo, tem interesse o D. Carlos I, de Luís Vieira de Castro, 2.ª ed., 1941.

[10] Carta de Ferreira de Almeida a António Enes, de 7-5-95, in «As Campanhas de Moçambique em 1895», compilação, prefácio e notas do Professor Doutor Marcello Caetano, Lisboa, 1947.

[11] Carta sem data, ibidem.

[12] Carta sem data, ibidem, pág. 79.

[13] Cartas de Ferreira de Almeida a António Enes, de 7-4-95 e 2-7-95.

[14] António Enes, ob. cit., 95.

[15] António Enes, ob. cit., 95.

[16] António Enes, ob. cit., 107.

[17] António Enes, ob. cit., 108.

[18] Salisbury chegou a propor que Portugal reconhecesse Gungunhana como soberano independente.

[19] Professor Doutor Marcello Caetano, prefácio a Campanhas de Moçambique em 1895, pág. 10.

[20] António Enes, ob. cit., 506.

[21] Carta de 27 de Junho de 1895.

[22] Sobre este período da história de Moçambique contém elementos de interesse: A derrocada do império vátua e Mouzinho de Albuquerque, de Francisco Toscano e Julião Quintinha; Mouzinho, do general Ferreira Martins; As fronteiras de Moçambique, de Luís de Matos; Relações entre Moçambique e a África do Sul, de Silva Rego; Mouzinho de Albuquerque, de Eduardo de Noronha.

[23] Ver João Teixeira Pinto, A ocupação militar da Guiné, ed. de 1936.


Conjunto de espadas e o bastão de guerra de Mouzinho de Albuquerque.