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quarta-feira, 21 de abril de 2010

O Despertar dos Mágicos (vi)

Escrito por Louis Pauwels e Jacques Bergier








Madame H. P. Blavatsky



Todos estes movimentos: Rosa-Cruz moderna, Golden Dawn inglesa, Sociedade do Vril alemã (que nos conduzirão ao grupo Tule, no qual encontraremos Haushoffer, Hess, Hitler) tinham maiores ou menores ligações com a Sociedade Teosófica, poderosa e bem organizada. A teosofia juntava à magia neopagã uma solenidade oriental e uma terminologia hindu. Ou antes, abria os caminhos do Ocidente a um certo Oriente luciferino. Foi sob a designação de teosofismo que se acabou por descrever o vasto movimento de renascimento do mágico que impressionou muitas inteligências no início do século.

No seu estudo Le Théosophisme: histoire d'une pseudo-religion, publicado em 1921, o filósofo René Guénon mostra-se profeta. Ele vê aumentarem os perigos por detrás da teosofia e os grupos iniciáticos neopagãos mais ou menos ligados à seita de Madame Blavatsky.

Escreve:

René Guénon
«Os falsos messias que até agora vimos apenas fizeram prodígios de qualidade muito inferior, e aqueles que os seguiram provavelmente não eram muito difíceis de seduzir. Mas quem sabe o que o futuro nos reserva? Se pensarmos que esses falsos messias nunca foram senão instrumentos mais ou menos inconscientes entre as mãos daqueles que os suscitaram, e se nos reportarmos em especial à série de tentativas sucessivamente feitas pelos teosofistas, somos levados a pensar que tudo isso foram apenas ensaios, de certa maneira experiências, que se renovarão sob diversas formas até que o êxito seja alcançado, e que, entretanto, sempre conseguem provocar certa perturbação nos espíritos. Aliás, não acreditamos que os teosofistas, nem os ocultistas ou os espíritas sejam capazes de realizar, por eles próprios e com pleno êxito, tal empreendimento. Mas não haveria, atrás de todos esses movimentos, qualquer coisa de igualmente temível, que os seus chefes talvez nem conhecessem e de que eram, por sua vez, os simples instrumentos?»

É também a época em que uma extraordinária personagem, Rudolph Steiner, desenvolve na Suiça uma sociedade de investigações que se baseia na ideia de que o Universo inteiro está contido no espírito humano e que esse espírito é capaz de uma actividade sem nada de comum com o que a esse respeito nos diz a psicologia oficial. De facto, certas descobertas steinerianas, na biologia (os adubos que não destroem o solo), na medicina (utilização dos metais que alteram o metabolismo) e sobretudo em pedagogia (funcionam hoje na Europa numerosas escolas steinerianas), enriqueceram consideravelmente a humanidade. Rudolph Steiner pensava que há uma forma negra e uma forma branca de investigação «mágica». Achava que o teosofismo e as diversas sociedades neopagãs provinham do grande mundo subterrâneo do Mal e anunciavam uma era demoníaca. Apressava-se a estabelecer, no âmago do seu próprio ensinamento, uma doutrina moral incitando os «iniciados» a só utilizarem forças benéficas. Ele pretendia criar uma sociedade de benevolentes.

Não vamos pôr a questão de saber se Steiner tinha ou não razão, se era ou não senhor da verdade. O que nos impressiona é que as primeiras equipas nazis parecem ter considerado Steiner o seu inimigo número um. Logo de início, os seus agentes dispersam por meio da violência as reuniões de Steinerianos, ameaçam de morte os discípulos, obrigam-nos a fugir da Alemanha e, em 1924, na Suíça, em Dornach, deitam fogo ao centro edificado por Steiner. Os arquivos ardem, Steiner já não está em condições de trabalhar e morre de desgosto um ano mais tarde (in ob. cit., pp. 307-309).


Goetheanum



terça-feira, 20 de abril de 2010

O Despertar dos Mágicos (v)

Escrito por Louis Pauwels e Jacques Bergier




V-2


Os engenheiros alemães, cujos trabalhos estão na origem dos foguetões que expulsaram para o céu os primeiros satélites artificiais, foram obrigados a atrasar o acabamento dos V-2 pelos próprios chefes nazis. O general Walter Dornberger dirigia as experiências de Peenemünde onde nasceram os engenhos teleguiados. Suspenderam essas experiências para submeter os relatórios do general à apreciação dos apóstolos da cosmogonia horbigeriana. Tratava-se, antes de mais nada, de saber como reagiria, nos espaços, o «gelo eterno», e se a violação da estratosfera não desencadearia qualquer desastre sobre a Terra.

O general Dornberger conta, nas suas memórias, que os trabalhos foram de novo suspensos por dois meses, um pouco mais tarde. O Führer sonhara que os V-2 não funcionariam ou então que o céu se vingaria. Como esse sonho se produziu num estado de transe especial, teve maior influência nos espíritos dos dirigentes do que as opiniões dos técnicos. Para além da Alemanha científica e organizadora, o espírito das antigas magias estava alerta. Esse espírito não morreu. Em Janeiro de 1958, o engenheiro sueco Robert Engstroem dirigia um memorial à Academia das Ciências de Nova Iorque para precaver os Estados Unidos contra as experiências astronómicas. «Antes de proceder a tais experiências seria conveniente estudar de uma maneira nova a mecânica celeste», declarava esse engenheiro. E prosseguia, em tom horbigeriano: «A explosão de uma bomba H sobre a Lua poderia causar um pavoroso dilúvio sobre a Terra». Nesta estranha advertência torna a encontrar-se a ideia paracientífica das alterações de gravitação num Universo em que tudo se repercute sobre tudo. Essas ideias (que no entanto não são inteiramente para desprezar se se pretende manter abertas todas as portas do conhecimento) continuam, na sua forma ingénita, a exercer um certo fascínio. No final de um célebre inquérito, o americano Martin Gardner calculava, em 1953, em mais de um milhão de discípulos de Horbiger na Alemanha, na Inglaterra e nos Estados Unidos. Em Londres, H. S. Bellamy prossegue há trinta anos a organização de uma antropologia que tem em consideração a derrocada das três primeiras luas e a existência dos gigantes secundários e terciários. Foi ele que pediu aos russos, depois de guerra, autorização para dirigir uma expedição ao monte Ararate, onde contava descobrir a Arca da Aliança. A agência Tass publicou uma recusa categórica, por os soviéticos terem proclamado a atitude intelectual de Bellamy como fascista e serem de opinião que tais movimentos paracientíficos são de natureza a «revelar forças perigosas». Em França, Denis Saurat, universitário e poeta, tornou-se o porta-voz de Bellamy e o êxito do trabalho de Velikovsky demonstrou que muitos espíritos continuam sensíveis a uma concepção mágica do mundo. É quase escusado dizer, finalmente, que os intelectuais influenciados por René Guénon e pelos discípulos de Gurdjieff concordam com os horbigerianos.







Em 1952, um escritor alemão, Elmar Brugg, publicava um volumoso trabalho em honra do «pai do gelo eterno», do Copérnico do nosso século XX». Escrevia ele:

«A teoria do gelo eterno não é apenas uma obra científica considerável. É uma revelação das ligações eternas e incorruptíveis entre os cosmos e todos os acontecimentos da Terra. Ela junta aos acontecimentos cósmicos os cataclismos atribuídos aos climas, as doenças, as mortes, os crimes, e desta forma abre portas completamente novas ao conhecimento da marcha da humanidade. O silêncio da ciência clássica a seu respeito só é explicável pela conspiração dos medíocres».

(...) O nosso espírito recusa admitir que a Alemanha nazi encarnasse os conceitos de uma civilização sem relação com a nossa. E no entanto é isso, e mais nada, que justifica essa guerra, uma das poucas da história conhecida cujo objecto foi realmente essencial. Era necessário que uma das duas visões do homem, do Céu e da Terra, triunfasse, a humanista ou a mágica. Não havia coexistência possível, ao passo que se pode facilmente imaginar o marxismo e o liberalismo coexistindo: eles assentam sobre a mesma base, pertencem ao mesmo universo. O universo de Copérnico não é o de Plotino; ambos se opõem fundamentalmente, e não apenas no plano das teorias, como no da vida social, política, espiritual, intelectual, passional.

O que nos constrange, para admitir essa visão estranha de outra civilização estabelecida em tão pouco tempo para além do Reno, é que conservamos uma concepção infantil da distinção entre o «civilizado» e aquele que o não é. Precisamos de capacetes de plumas, de tantãs, de choças para sentir essa diferença. Ora seria mais fácil fazer um «civilizado» de um feiticeiro banto do que ligarmos Hitler, Horbiger ou Haushoffer ao nosso humanismo. Mas a técnica alemã, a organização alemã, comparáveis, se não superiores às nossas, ocultaram-nos esse ponto de vista. A formidável novidade da Alemanha nazi foi que o pensamento mágico se uniu à ciência e à técnica.




Os intelectuais difamadores da nossa civilização, virados para o espírito das antigas épocas, sempre foram inimigos do progresso técnico. Por exemplo, René Guénon ou Gurdjieff, ou os inúmeros hinduístas. Mas o nazismo foi o momento em que o espírito de magia se apossou das alavancas do progresso material. Lenine dizia que o comunismo é o socialismo mais a electricidade. De certa maneira, o hitlerismo era o guenonismo mais as divisões blindadas.

(...) É outro arquétipo o da assimilação do fogo à energia espiritual. Quem contém essa energia contém o fogo. Por muito estranho que pareça, Hitler estava convencido que ali onde ele avançasse o frio recuaria. Essa convicção mística explica em parte a maneira como ele conduziu a campanha da Rússia.

Os horbigerianos, que se declaravam capazes de prever o tempo sobre todo o planeta, com meses e mesmo anos de antecedência, tinham anunciado um Inverno relativamente suave. Mas havia outra coisa: como os discípulos do gelo eterno, Hitler estava intimamente persuadido de que contraíra uma aliança com o frio, e que as neves das planícies russas não lhe podiam retardar a marcha. A humanidade, sob a sua orientação, ia entrar num novo ciclo de fogo. Já estava a entrar. O Inverno cederia perante as suas legiões portadoras da chama.

Ao passo que, normalmente, o Führer prestava particular atenção ao equipamento material das suas tropas, apenas mandou entregar aos soldados da campanha da Rússia um suplemento de vestuário irrisório: um cachecol e um par de luvas.

Operação Barbarossa


E, em Dezembro de 1941, o termómetro descia bruscamente a quarenta graus negativos. As previsões eram falsas, as profecias não se realizavam, os elementos insurgiam-se, as estrelas, no seu percurso, cessam bruscamente de trabalhar para o homem justo. Era o gelo que triunfava sobre o fogo. As armas automáticas pararam, pois o óleo gelara. Nos reservatórios, a gasolina sintética separava-se, sob a acção do frio, em dois elementos inutilizáveis. Na retaguarda, as locomotivas gelavam. Sob o seu capote e com as botas do uniforme, os homens morriam. A mais ligeira ferida os condenava. Milhares de soldados, ao acocorarem-se sobre o solo para satisfazer as suas necessidades, caíam com o ânus gelado. Hitler recusou acreditar nesse primeiro desacordo entre a mística e o real. O general Guderian, arriscando-se a ser destituído e mesmo condenado à morte, foi de avião até à Alemanha para pôr o Führer ao corrente da situação e pedir-lhe para dar ordem de retirada.

«Quanto ao frio - disse Hitler -, o assunto é comigo. Ataquem!».

Foi assim que todo o corpo de batalhão blindado que vencera a Polónia em dezoito dias e a França num mês, os exércitos de Guderian, Reinhardt e Hoeppner, a formidável legião de conquistadores a que Hitler chamava os seus imortais, golpeada pelo vento, queimada pelo gelo, desapareceu no deserto do frio, para que a mística fosse mais real do que a Terra.







O que restava desse Grande Exército teve finalmente de renunciar e atacar em direcção ao Sul. Quando, na Primavera seguinte, as tropas invadiram o Cáucaso, realizou-se uma estranha cerimónia. Três alpinistas SS treparam ao cume do Elbruz, montanha sagrada dos arianos, importante local de antigas civilizações, vértice mágico da seita dos «Amigos de Lúcifer». Colocaram a bandeira com a suástica abençoada segundo o rito da Ordem Negra. A bênção da bandeira no alto do Elbruz devia marcar o início da nova era. Dali em diante, as estações obedeceriam e o fogo venceria o gelo por vários milénios. Houvera uma grave decepção no ano anterior, mas não passara de uma provação, a última, antes da verdadeira vitória espiritual. E, apesar das advertências dos meteorólogos clássicos, que anunciavam um Inverno ainda mais de recear que o precedente, apesar dos mil sinais ameaçadores, as tropas subiram em direcção ao Norte e Estalinegrado para cortar a Rússia em duas partes.

«Enquanto a minha filha cantava os seus cânticos exaltados, lá no alto perto do mastro escarlarte, os discípulos da razão mantiveram-se afastados, com os seus rostos tenebrosos...»

Foram «os discípulos da razão, com os seus rostos tenebrosos», que venceram. Foram os homens materiais, os homens «sem fogo», com a sua coragem, a sua ciência «judaico-liberal», as suas técnicas sem prolongamentos religiosos, foram os homens sem a «sagrada desmedida» que, auxiliados pelo frio, pelo gelo, triunfaram. Fizeram malograr o pacto. Venceram a magia. Após Estalinegrado, Hitler deixa de ser um profeta. A sua religião desmorona-se. Estalinegrado não é apenas uma derrota militar e política. O equilíbrio das forças espirituais foi alterado, a roda deixa de se mover. Os jornais alemães aparecem com banda preta e as descrições que fazem do desastre são mais terríveis que as dos comunicados russos. O luto nacional é decretado. Mas esse luto ultrapassa a nação. «Reparai bem!, escreve Goebbels. É todo um pensamento, toda uma concepção do Universo que sofre uma derrota. As forças espirituais vão ser destruídas, a hora do julgamento aproxima-se».





Batalha de Estalinegrado



Em Estalinegrado não é o comunismo que triunfa sobre o fascismo, ou antes, não é só isso. Analisando de mais longe, quer dizer, com a perspectiva necessária para abarcar o sentido de tão amplos acontecimentos, é a nossa civilização humanista que faz parar o desenvolvimento de outra civilização, luciferina, mágica, não feita para o homem mas para «qualquer coisa acima do homem». Não há diferenças essenciais entre as causas dos actos civilizadores da URSS e dos Estados Unidos. A Europa dos séculos XVIII e XIX forneceu o motor que ainda serve. Não faz exactamente o mesmo barulho em Nova Iorque e em Moscovo, e é tudo. No fundo, era de facto um mundo inteiro que estava em guerra contra a Alemanha, e não uma aliança momentânea de inimigos fundamentais. Um só mundo que acredita no progresso, na justiça, na igualdade e na ciência. Um só mundo que tem a mesma visão do cosmos, a mesma compreensão das leis universais e que reserva para o homem no Universo o mesmo lugar, nem grande nem pequeno demais. Um só mundo que acredita na razão e na realidade das coisas. Um só mundo que devia desaparecer completamente para dar lugar a outro de que Hitler se sentia o anunciador.

É o pequeno homem do «mundo livre», o habitante de Moscovo, de Boston, de Limoges ou de Liège, o pequeno homem positivo, racionalista, mais moralista que religioso, desprovido do sentido metafísico, sem apetite para o fantástico, aquele que Zaratustra classifica como um homem-fingido, uma caricatura, é esse pequeno homem saído da coxa do burguês médio que irá destruir o grande exército destinado a abrir o caminho ao super-homem, ao homem-Deus, senhor dos elementos, dos climas e das estrelas. E, por um curioso capricho da justiça - ou da injustiça - é esse pequeno homem de alma tacanha que, anos mais tarde, vai lançar para o céu um satélite, e inaugurar a era interplanetária. Estalinegrado e o lançamento do Sputnik são bem, como dizem os russos, as duas vitórias decisivas, e eles aproximam-nas uma da outra ao celebrar, em 1957, o aniversário da sua revolução. Foi publicada pelos jornais uma fotografia de Goebbles. «Eles acreditavam que íamos desaparecer. Era necessário que triunfássemos para criar o homem interplanetário».


A resistência desesperada, louca, catastrófica de Hitler, no momento em que, como era evidente, tudo estava perdido, só se explica pela expectativa do dilúvio descrito pelos horbigerianos. Se não fosse possível modificar a situação por processos humanos, restava a possibilidade de provocar o julgamento dos deuses. O dilúvio sobreviria, como um castigo, para a humanidade inteira. A noite ia de novo cobrir o globo e tudo ficaria sepultado por tempestades de água e granizo. Hitler, diz Speer com horror, «tentava deliberadamente fazer com que tudo morresse com ele. Já não era mais que um homem para quem o fim da sua própria vida significava o fim de todas as coisas». Goebbels, nos seus últimos editais, saúda com entusiasmo os bombardeiros inimigos que destroem o seu país: «Sob os destroços das nossas cidades aniquiladas estão enterradas as estúpidas realizações do século XIX». Hitler faz reinar a morte: prescreve a destruição total da Alemanha, manda executar os prisioneiros, condena o seu antigo cirurgião, manda matar o cunhado, pede a morte para os soldados vencidos, e desce ele próprio ao túmulo. «Hitler e Goebbels, escreve Trevor Roper, convidaram o povo alemão a destruir as suas cidades e as suas fábricas, a fazer ir pelos ares os seus diques e as suas pontes, a sacrificar os caminhos de ferro e todo o material circulante, e tudo isto em proveito de uma lenda, em nome de um crepúsculo dos deuses». Hitler pede sangue, envia as suas últimas tropas para o sacrifício: «As perdas nunca parecem bastante elevadas», diz ele. Não são os inimigos da Alemanha que ganham, são as forças universais que se preparam para destruir a terra, punir a humanidade, porque a humanidade preferiu o gelo ao fogo, as potências da morte às potências da vida e da ressurreição. O céu vai vingar-se. Ao morrer, resta apenas reclamar o grande dilúvio. Hitler oferece um sacrifício à água: manda inundar o metropolitano de Berlim, onde morrem 300 000 pessoas refugiadas nos subterrâneos. É um acto de magia iniciática: esse gesto provocará movimentos de apocalipse no céu e na Terra. Goebbels publica um último artigo antes de matar, no Bunker, a mulher, os filhos e de se matar a ele próprio. Intitula o seu edital de despedida: «E mesmo que assim fosse». Diz que o drama não se representa à escala da Terra, mas do cosmos. «O nosso fim será o fim de todo o Universo» (in ob. cit., pp. 337-339 e 350-357).







Continua


domingo, 18 de abril de 2010

O Despertar dos Mágicos (iv)

Escrito por Louis Pauwels e Jacques Bergier





Hans Hörbiger



Socialismo mágico


«Têm confiança nas equações e não têm em mim! De quanto tempo precisarão ainda para compreender que as matemáticas representam uma mensagem sem valor?».

Hans Hörbiger



Foi em 1913 que um certo Philipp Fauth (1), astrónomo amador especializado na observação da Lua, publicou com alguns amigos um enorme livro de mais de oitocentas páginas: A Cosmogonia Glacial de Hörbiger. A maior parte da obra era escrita pelo próprio Hörbiger.

Hörbiger, nessa época, administrava com negligência os seus negócios pessoais. Nascido em 1860, de uma família conhecida no Tirol desde há séculos, fizera os estudos na Escola de Tecnologia de Viena, e um estágio prático em Budapeste. Desenhador na fábrica de máquinas a vapor Alfredo Collman, entrara em seguida como especialista dos compressores na fábrica de Land, em Budapeste. Foi aí que inventou, em 1894, um novo sistema de torneira para bombas e compressores. A licença fora vendida a poderosas sociedades alemãs e americanas, e Hörbiger vira-se de súbito na posse de uma grande fortuna que a guerra em breve dispersaria.

Hörbiger era apaixonado pelas aplicações astronómicas das mudanças de estado da água: líquido, gelo, vapor, que tivera ocasião de estudar no seu trabalho. Pretendia explicar com isso toda a cosmografia e toda a astrofísica. Bruscas inspirações, intuições fulgurantes tinham-lhe aberto as portas, dizia ele, de uma ciência nova que continha todas as outras ciências. Ia transformar-se num dos grandes profetas da Alemanha messiânica e, como viriam a escrever depois da sua morte: «Um descobridor de génio abençoado por Deus».

A doutrina de Hörbiger deve o seu poder a uma visão completa da história e da evolução do cosmos. Ela explica a formação do sistema solar, o aparecimento da Terra, da vida e do espírito. Descreve todo o passado do Universo e anuncia as suas futuras transformações. Responde às três interrogações essenciais: o que somos nós? De onde vimos? Para onde vamos? E responde de forma exaltante.

Tudo assenta na ideia da luta perpétua, nos espaços infinitos, entre o gelo e o fogo e entre a força de repulsão e a força de atracção. Essa luta, essa tensão variando entre princípios opostos, essa eterna guerra no céu, que é a lei dos planetas, rege também a Terra e a matéria viva e determina a história humana. Hörbiger pretende revelar o mais longínquo futuro, e introduz noções fantásticas a respeito da evolução das espécies vivas. Altera aquilo que geralmente pensamos da história das civilizações, da aparição e do desenvolvimento do homem e das suas sociedades. Não descreve, a esse respeito, uma elevação contínua, mas uma série de ascensões e de quedas. Ter-nos-iam precedido, há centenas de milhares de anos, e talvez biliões de anos, homens-deuses, gigantes, civilizações fabulosas. Aquilo que eram os antepassados da nossa raça talvez nós o voltemos a ser, através de cataclismos e mutações extraordinárias, no decurso de uma história que, sobre a Terra como no cosmos, se desenrola por ciclos. Pois as leis do céu são as mesmas que as da Terra e o Universo inteiro participa do mesmo movimento, é um organismo vivo onde tudo se repercute sobre tudo. A aventura dos homens está ligada à aventura dos astros, o que se passa no cosmos passa-se sobre a Terra, e reciprocamente.







Como se vê, esta doutrina dos ciclos e das relações quase mágicas entre o homem e o universo fortifica o pensamento tradicional mais remoto. Volta a introduzir as antiquíssimas profecias, os mitos e as lendas, os antigos temas do Génesis, do Dilúvio, dos Gigantes e dos Deuses.

Esta doutrina, como melhor se compreenderá mais adiante, está em contradição com todos os dados da ciência admitida. Mas, dizia Hitler, «há uma ciência nórdica e nacional-socialista que se opõe à ciência judaico-liberal». A ciência admitida no Ocidente, como aliás a religião judaico-cristã que aí encontra cumplicidades, é uma conspiração contra o sentido da epopeia e do mágico que reside no coração do homem forte, uma vasta conspiração que fecha para a humanidade as portas do passado e do futuro para além do curto espaço das civilizações recenseadas, que a despoja das suas origens e do seu destino fabuloso, e que a priva do diálogo com os seus deuses.

Os sábios admitem geralmente que o nosso universo foi criado por uma explosão, há três ou quatro biliões de anos. Explosão de quê? Talvez o cosmos inteiro estivesse contido num átomo, ponto zero da criação. Esse átomo teria explodido e estaria desde então em constante expansão. Estariam contidas nele toda a matéria e todas as forças hoje empregadas no Universo. Mas, aceitando a hipótese, não se pode dizer, no entanto, que se trata do começo absoluto do Universo. Os teóricos da expansão do Universo a partir desse átomo omitem o problema da sua origem. No fim de contas, a esse respeito a ciência não faz declarações mais precisas do que o admirável poema índio: «No intervalo entre a dissolução e a criação, Vishnu-Cesha repousava na sua própria substância, luminoso de energia dormente, entre os gérmenes das vidas futuras».

No que se refere ao nascimento do nosso sistema solar, as hipóteses também são vagas. Imaginaram que os planetas teriam brotado de uma explosão parcial do Sol. Um grande corpo astral teria passado perto, arrancando uma parte da substância solar, que se teria dispersado no espaço e como que condensado em planetas. Depois, o grande corpo, o superastro desconhecido, continuando o seu percurso, ter-se-ia perdido no infinito. Imaginaram ainda a explosão de um gémeo do nosso Sol. O professor H.-N. Roussel, resumindo a questão, escreveu com humor: «Até que saibamos como é que a coisa aconteceu o que há realmente de certo é que o sistema solar se produziu de uma certa maneira».


Quanto a Hörbiger, ele pretende saber como a coisa aconteceu. Conhece a explicação definitiva. Numa carta ao engenheiro Willy Ley confirma que essa explicação lhe saltou à vista na juventude. «Tive a revelação, diz ele, quando, jovem engenheiro, observei um dia uma corrente de aço fundido sobre a terra molhada e coberta de neve: a terra explodia com certo atraso e grande violência». É tudo. A partir daí, a doutrina de Hörbiger desenvolver-se-á e começará a dar frutos. É a maça de Newton.

Havia no céu um enorme corpo de alta temperatura, milhões de vezes maior do que o nosso Sol actual. Esse corpo entrou em colisão com um planeta gigante constituído por uma acumulação de gelo cósmico. Essa massa de gelo penetrou profundamente no supersol. Nada se produziu durante centenas de milhares de anos. Depois, o vapor de água fez explodir tudo.

Alguns fragmentos foram projectados tão longe que se perderam no espaço gelado.

Outros tornaram a cair sobre a massa central de onde partira a explosão.

Outros finalmente foram atirados para uma zona média: são os planetas do nosso sistema. Havia trinta. São blocos que a pouco e pouco se cobriram de gelo. A Lua, Júpiter, Saturno são de gelo e os canais de Marte são fendas do gelo. Só a Terra não está inteiramente tomada pelo frio: aí mantém-se a luta entre o gelo e o fogo.

A uma distância igual a três vezes a de Neptuno encontrava-se, no momento dessa explosão, um enorme anel de gelo. E ali se encontra ainda. É o que os astrónomos oficiais teimam em chamar a Via Láctea, porque algumas estrelas semelhantes ao nosso Sol brilham através dele. Quanto às fotografias de estrelas individuais, cujo conjunto daria uma Via Láctea, trata-se de truques fotográficos.

As manchas que se observam no Sol e que mudam de forma e de lugar todos os onze anos continuam inexplicáveis para os sábios ortodoxos. Elas são produzidas pela queda de blocos de gelo que se desagregam de Júpiter. E Júpiter fecha o seu círculo em redor do Sol todos os onze anos.

Planeta Júpiter


Na zona média da explosão, os planetas do sistema de que nós fazemos parte obedecem a duas forças:

- A força primeira da explosão, que os afasta;

- A gravitação, que os atrai em direcção das massa mais forte, situada nas proximidades.

Estas duas forças não são iguais. a força da explosão inicial vai diminuindo, pois o espaço não está vazio: há uma matéria ténue, feita de hidrogéneo e de vapor de água. Além disso, a água que atinge o Sol enche o espaço de cristais de gelo. Assim, a força inicial, de repulsão, acha-se cada vez mais travada. Em contrapartida, a gravitação é constante. É o motivo por que cada planeta se aproxima do planeta mais próximo que o atrai. Aproxima-se dando voltas em redor, ou antes, descrevendo uma espiral que se vai estreitando. Desta forma, mais cedo ou mais tarde, todo o planeta cairá sobre o que estiver mais próximo, e todo o sistema acabará por cair novamente em gelo no Sol. E dar-se-á então uma nova explosão, e um novo recomeço.

Gelo e fogo, repulsão e atracção estão permanentemente em luta no Universo. essa luta determina a vida, a morte e o perpétuo renascimento do cosmos. Um escritor alemão, Elmar Brugg, escreveu em 1952 uma obra em homenagem a Horbiger, na qual dizia:

«Nenhuma das doutrinas de representação do Universo punham em jogo o princípio de contradição, de luta entre duas forças contrárias, e de que, no entanto, a alma do homem se alimenta há milénios. O mérito imperecível de Hörbiger é ter ressuscitado poderosamente o conhecimento intuitivo dos nossos antepassados por meio do conflito eterno do fogo e do gelo, cantado por Edda. Ele expôs esse conflito ante os olhos dos seus contemporâneos. Fundou cientificamente essa imagem grandiosa do mundo ligado ao dualismo da matéria e da força, da repulsão que dispersa e da atracção que torna a reunir.

É então certo: a Lua acabará por cair sobre a Terra. Há um momento, algumas dezenas de milénios, em que a distância de um planeta a outro parece fixa. Mas poderemos constatar que a espiral se estreita. Pouco a pouco, no decorrer dos tempos, a Lua aproximar-se-á. A força de gravitação que ela exerce sobre a Terra aumentará. Então as águas dos nossos oceanos juntar-se-ão numa maré permanente, e aumentarão de volume, cobrindo as terras, submergindo os trópicos e cercando as mais altas montanhas. Os seres vivos achar-se-ão progressivamente libertos do seu peso. Crescerão. Os raios cósmicos tornar-se-ão mais poderosos. Agindo sobre a génese e os cromossomas provocarão mutações. Ver-se-ão surgir novas raças, animais, plantas e homens gigantescos.






Depois, ao aproximar-se ainda mais, a Lua explodirá, girando a grande velocidade, e transformar-se-á num imenso anel de rochedos, de gelo, água e gás, girando cada vez mais depressa. Por fim, esse anel cairá sobre a Terra, e então será a Queda, o Apocalipse anunciado. Mas se sobreviverem alguns homens, os mais fortes, os melhores, os eleitos, estar-lhes-ão reservados estranhos e formidáveis espectáculos. E talvez o espectáculo final.

Após milénios sem satélite, durante os quais a Terra terá conhecido extraordinárias imbricações de raças antigas e modernas, civilizações vindas dos gigantes, recomeços para além do Dilúvio e de imensos cataclismos, Marte, mais pequeno do que o nosso globo, acabará por se lhe reunir. Atingirá a órbita da Terra. Mas é demasiado grande para ser capturado, para se tornar, como a Lua, um satélite. Passará muito perto da terra, roça-la-á ao cair sobre o Sol, atraído por ele, aspirado pelo fogo. Então a nossa atmosfera achar-se-á de um momento para o outro tragada, arrastada pela gravitação de Marte, e abandonar-nos-á para se perder no espaço. Os oceanos agitar-se-ão aos borbotões à superfície da Terra, lavando tudo, e a crosta terrestre estalará. O nosso globo, morto, continuando a girar em espiral, será apanhado por planetóides gelados que vagueiam pelo céu, e transformar-se-á numa enorme bola de fogo que por sua vez se precipitará sobre o Sol. Após a colisão haverá o grande silêncio, a grande imobilidade, enquanto o vapor de água se acumulará, durante milhões de anos, no interior da massa chamejante. Finalmente haverá uma nova explosão para outras criações na eternidade das forças ardentes do cosmos.

Tal é o destino do nosso sistema solar na visão do engenheiro austríaco que os dignitários nacionais-socialistas chamavam «O Copérnico do século XX». Vamos agora descrever esta visão aplicada à história passada, presente e futura da Terra e dos homens. É uma história que, através dos «olhos de tempestade e batalha» do profeta Horbiger, se assemelha a uma lenda, cheia de revelações fabulosas e formidáveis estranhezas (in ob. cit., pp. 314-320).


(1) Philipp Fauth nasceu a 19 de Março, de 1867 e morreu a 4 de Janeiro de 1941. Engenheiro e construtor de máquinas, as sua investigações sobre a Lua deram-lhe uma certa notoriedade: traçara dois mapas da Lua, e uma cratera dupla, ao sul da cratera de Copérnico, tem o nome de Fauth, por decisão da União Internacional de 1935. foi nomeado professor em 1939, por medida especial do Governo nacional-socialista.




Continua


sábado, 17 de abril de 2010

O Despertar dos Mágicos (iii)

Escrito por Louis Pauwels e Jacques Bergier




Pirâmide de Kéops


De Aristarco de Samos aos astrónomos de 1900, a humanidade levou vinte e dois séculos para calcular com uma aproximação satisfatória a distância da Terra ao Sol: 149 400 000 quilómetros. Teria bastado multiplicar por um bilião a altura da pirâmide de Kéops, construída 2900 anos antes de Jesus Cristo.

Hoje sabemos que os Faraós depositaram nas pirâmides os resultados de uma ciência da qual ignoramos a origem e os métodos. Ali se volta a encontrar o número Π, o cálculo exacto da duração de um ano solar, do raio e do peso da Terra, a lei de precessão dos equinócios, o valor do grau de longitude, a direcção real do Norte, e talvez muitos outros dados ainda por decifrar. De onde vêm estas informações? Como foram obtidas? Ou transmitidas? E nesse caso por quem?

Para o padre Moreux, Deus deu aos homens antigos conhecimentos científicos. Eis-nos em plena imaginação. «Escuta, ó meu filho: o número 3,14116 permitir-te-á calcular a superfície de um círculo!» Para Piazzi Smyth, Deus ditou estas informações a Egípcios ímpios e ignorantes para poderem compreender aquilo que inscreviam na pedra. E por que motivo Deus, que tudo sabe, se teria tão estrondosamente enganado sobre a qualidade dos seus alunos? Para os egiptólogos positivistas, as mensurações efectuadas em Gizé foram falseadas por investigadores iludidos pela sua ânsia de maravilhoso: nenhuma ciência está inscrita. Mas a discussão vacila entre as decimais, e nem por isso a construção das pirâmides deixa de ser o testemunho de uma técnica que para nós continua a ser totalmente incompreensível. Gizé é uma montanha artificial de 6 500 000 toneladas. Tem blocos de doze toneladas ajustados com uma precisão de meio milímetro. A ideia mais banal é a que geralmente se admite: o Faraó disporia de uma mão-de-obra colossal. Restava explicar como foi resolvido o problema do atravancamento dessas imensas multidões. E os motivos de um tão louco empreendimento. E a maneira como foram os blocos extraídos das pedreiras. A egiptologia clássica não admite como técnica senão o emprego de cunhas de madeira molhada introduzidas nas fendas da rocha. Os construtores só deviam dispor de martelos de pedra, e de serras de cobre, metal mole. Eis o que adensa o mistério. De que forma foram içadas e unidas pedras cortadas com dez mil quilos e mais de peso? No século XIX tivemos a maior dificuldade em transportar dois obeliscos que os Faraós transportavam às dúzias. De que forma é que os Egípcios se iluminavam dentro das pirâmides? Até 1890 só conhecemos as candeias com chama que se alonga e enegrece o tecto. Ora não se vislumbra nas paredes o menor vestígio de fumo. Captariam a luz solar fazendo-a penetrar por meio de um sistema óptico? Não foi encontrado o mais pequeno fragmento de lente.


Não se encontrou nenhum instrumento de cálculo científico, nenhum vestígio como testemunho de uma grande tecnologia. Das duas uma: ou temos de admitir a tese místico-primária: Deus dita informações astronómicas a obreiros obtusos mas aplicados e dá-lhes uma ajuda. Então há informações inscritas nas pirâmides. Os positivistas, à falta de argumentos, declaram que se trata de uma coincidência. Quando as coincidências são tão claramente exageradas, como diria Fort, como se lhes deve chamar? Ou temos de admitir que arquitectos e decoradores surrealistas, para satisfazerem a megalomania do seu rei, mandaram, segundo medidas que lhes passaram pela cabeça ao acaso da inspiração, extrair, transportar, decorar, erguer e ajustar perfeitamente os 2 600 000 blocos da grande pirâmide por empreiteiros que trabalhavam com pedaços de madeira e serras de cortar cartão atropelando-se uns aos outros.

As coisas datam de há cinco mil anos e nós ignoramos quase tudo. Mas o que sabemos é que as pesquisas foram feitas por pessoas para quem a civilização moderna é a única civilização técnica possível. Partindo desse critério, temos de imaginar que tiveram, ou o auxílio de Deus, ou de um colossal e estranho trabalho de formigas. No entanto é possível que um pensamento completamente diferente do nosso possa ter concebido técnicas tão aperfeiçoadas como as nossas, mas diferentes, instrumentos de medida e métodos de manipulação da matéria sem relação com os que nós conhecemos, e que não tenham deixado, a nossos olhos, nenhum vestígio aparente. Pode ser que uma ciência e uma tecnologia poderosas, que deram soluções diferentes das nossas aos problemas postos, tenham desaparecido totalmente com o mundo dos Faraós. É difícil acreditar que uma civilização possa morrer, extinguir-se. É ainda mais difícil acreditar que possa ter divergido da nossa a tal ponto que temos certa relutância em reconhecê-la como civilização. E no entanto!...


Quando a segunda guerra mundial terminou, a 8 de Maio de 1945, a Alemanha vencida começou imediatamente a ser percorrida por missões de investigação. Os relatórios dessas missões foram publicados. Só o catálogo contém 300 páginas. A Alemanha só se separou do resto do mundo a partir de 1933. Em doze anos, a evolução técnica do Reich tomou caminhos singularmente divergentes. Se os Alemães estavam em atraso no domínio da bomba atómica, puseram em estado de funcionar foguetões gigantescos sem equivalente na América ou na Rússia. Se ignoravam o radar, produziram detectores de raios infravermelhos, igualmente eficazes. Se não inventaram os silicones, desenvolveram uma química orgânica completamente nova (1). Para além destas diferenças radicais em matéria de técnica, diferenças filosóficas ainda mais espantosas... Tinham posto de lado a relatividade e abandonado em parte a teoria dos quantas. A sua cosmogonia teria deixado estupefactos os astrofísicos aliados: era a tese do gelo eterno, segundo a qual planetas e estrelas seriam, blocos de gelo flutuando no espaço (...). Se tais abismos se puderam formar em doze anos, no nosso mundo moderno, a despeito dos intercâmbios e comunicações, que pensar das civilizações tal como se puderam desenvolver no passado? Em que medida é que os nossos arqueólogos são qualificados para avaliar o estado das ciência, das técnicas, da filosofia, do conhecimento entre os Maias ou dos Khmers?

Não cairemos na armadilha das lendas: Lemúria ou Atlântida. Platão, no Crítias, ao cantar as maravilhas da cidade desaparecida, e, antes dele, Homero, na Odisseia, ao evocar a fabulosa Scheria, descrevem talvez Tartesso, a Tarshih bíblica de Jonas e objectivo de sua viagem. Tartesso é a mais rica cidade mineira do Mundo e exprime a quinta-essência de uma civilização. Floresceu há não se sabe quantos séculos, depositária de uma sabedoria e de segredos. Por volta do ano 500 antes de Cristo sumiu-se completamente, não se sabe como nem porquê (2). Pode ser que Numinor, misterioso centro celta do século V antes de Cristo, não seja uma lenda (3), mas nada sabemos. As civilizações de cuja existência passada estamos certos, e que desapareceram, são na verdade tão estranhas como a Lemúria. A civilização árabe de Córdova e Granada inventa a ciência moderna, descobre a investigação experimental e as suas aplicações práticas, estuda a química e até a propulsão a reacção. Alguns manuscritos árabes do século XII apresentam esquemas de foguetões de bombardeamento.

Pirâmide de Kukulkán no Estado mexicano do Iucatã, o mais grandioso de todos os templos maias.


(...) O império de Hitler, o de Almançor desmoronaram-se no meio do fogo e do sangue. Uma bela manhã de Junho de 1940, o céu de Paris escureceu, o ar ficou carregado de vapores de gasolina, e sob aquela imensa nuvem que ensombrou os rostos alterados pelo espanto, o pavor, a vergonha, uma civilização vacila, milhares de seres fogem ao acaso pelas estradas metralhadas. Quem viveu esses momentos, e presenciou também o crepúsculo dos deuses do III Reich, pode imaginar o fim de Córdova e de Granada, e milhares de outros fins do mundo, no decorrer dos milénios. Fim do mundo para os Incas, fim do mundo para os Tolteques, fim do mundo para os Maias. toda a história da humanidade: um fim sem fim... (in ob. cit., pp. 202-206).


Notas:

(1) A das células de estrutura circular, com oito átomos de carbono.

(2) Sprague de Camp e Willy Ley: De l'Atlantide à l'Eldorado, ed., Plon, Paris.

(3) Trabalhos do Professor Tolkien, da Universidade de Oxford.

Continua


quinta-feira, 15 de abril de 2010

O Despertar dos Mágicos (ii)

Escrito por Louis Pauwels e Jacques Bergier






Vivemos convencidos de que a invenção técnica é um fenómeno contemporâneo. É porque nunca nos demos ao trabalho de consultar os velhos documentos. Não existe um único serviço de investigação científica que vise o passado. Os livros antigos, se são lidos, são-no apenas por raros eruditos de formação puramente literária ou histórica. Portanto aquilo que eles contém de ciência e de técnica escapa à atenção. Será o desinteresse pelo passado devido a estarmos demasiado ocupados na preparação do futuro? Não é certo. A inteligência francesa parece atrasada segundo os esquemas do século XIX. Os escritores de vanguarda estão sem apetite para a ciência, e uma sociologia que data da máquina a vapor, um humanismo revolucionário nascido com a espingarda Chassepot continuam a mobilizar a atenção. Não se imagina até que ponto a França se condensou em redor do ano de 1880. Estará a indústria mais alerta? Realizou-se em 1955 a primeira conferência atómica mundial, em Genebra. René Alleau foi encarregado da difusão em França dos documentos relativos às aplicações pacíficas da energia nuclear. Os dezasseis volumes que contêm os resultados experimentais obtidos pelos sábios de todos os países constituem a mais importante publicação da história das ciências e das técnicas. Cinco mil indústrias que hão-de interessar na energia nuclear com maior ou menor brevidade receberam uma carta anunciando essa publicação. Houve vinte e cinco respostas.

Será sem dúvida necessário esperar que as novas gerações alcancem cargos de responsabilidade para que a inteligência francesa recupere uma verdadeira agilidade. É para essas gerações que escrevemos este livro. Se estivéssemos verdadeiramente atraídos pelo futuro, está-lo-íamos também pelo passado, buscaríamos riquezas nos dois sentidos do tempo, com o mesmo apetite.


Nova Biblioteca de Alexandria


Nada sabemos ou quase nada do passado. Há tesouros que dormem nas bibliotecas. Preferimos imaginar, nós que afirmamos «amar o homem», uma história do conhecimento descontínua, e centenas de milhares de anos de ignorância a precederem alguns lustros de saber. A ideia de que tivesse surgido, de súbito, um «século de luz», ideia que admitimos com uma desconcertante ingenuidade, mergulhou na sombra todas as restantes épocas. Um olhar novo sobre os livros antigos modificaria tudo. Ficaríamos transtornados pelas riquezas que contêm. E teríamos de chegar à conclusão, de acordo com o que dizia Atterbury, contemporâneo de Newton, «que há mais obras antigas perdidas do que conservadas».

Foi esse olhar novo que o nosso amigo René Alleau, simultaneamente técnico e historiador, pretendeu lançar. Imaginou um sistema e obteve alguns resultados. Até à data, parece não ter obtido qualquer espécie de incitamento para prosseguir na tarefa que ultrapassa as possibilidades de um homem só. Em Dezembro de 1955, perante os engenheiros da Mecânica Automóvel, reunidos sob a presidência de Jean-Hemri Labourdette, ele pronunciava, a meu pedido, uma conferência cujo essencial era o seguinte:

«Que resta dos milhares de manuscritos da biblioteca de Alexandria fundada por Ptolomeu Soter, desses manuscritos insubstituíveis e para sempre perdidos, referentes à ciência antiga? Onde estão as cinzas das 200 000 obras da biblioteca de Pérgamo? Que foi feito das colecções de Psístrato em Atenas, e da biblioteca do Templo de Jerusalém e da do santuário de Phtah em Mênfis? Que tesouros continham os milhares de livros que foram queimados no ano 213 antes de Cristo por ordem do imperador Cheu-Hoang-Ti, com um fim unicamente político? Nestas condições, encontramo-nos perante as obras antigas como perante as ruínas de um templo imenso de que apenas restam algumas pedras. Mas o exame atento desses fragmentos e dessas inscrições permite-nos entrever verdades profundas demais para se atribuírem apenas à intuição dos antigos.


Destruição da antiga Biblioteca de Alexandria


Em primeiro lugar, ao contrário do que se supõe, os métodos do racionalismo não foram inventados por Descartes. Consultemos os textos: "Aquele que procura a verdade, escreve Descartes, deve tanto quanto possível duvidar de tudo". É uma frase muito conhecida, e a ideia parece bastante recente. No entanto, se lermos o segundo livro da Metafísica de Aristóteles, veremos: "Aquele que procura instruir-se deve em primeiro lugar duvidar, pois a dúvida do espírito conduz a descobrir a verdade". Aliás, pode constatar-se que Descartes foi buscar a Aristóteles não apenas esta frase capital, mas também a maior parte das suas famosas regras espirituais, que têm como base o método experimental. Em todo o caso isto prova que Descartes tinha lido Aristóteles, do que se abstêm inúmeras vezes os modernos cartesianos. Estes também poderiam constatar que houve alguém que disse: "Se me engano, chego à conclusão que existo, pois aquele que não existe não se pode enganar, e, precisamente porque me engano, sinto que existo". Infelizmente, não foi Descartes, mas Santo Agostinho.

Quanto ao cepticismo necessário ao observador, não se pode na verdade levá-lo muito mais longe que Demócrito, o qual só considerava válida a experiência a que pessoalmente assistira e cujos resultados autenticara com o seu próprio selo.

Isto parece-me muito diferente da ingenuidade de que os Antigos são acusados. Sem dúvida, direis vós, os filósofos da Antiguidade eram dotados de um génio superior no domínio do conhecimento, mas enfim, no plano científico, que sabiam eles realmente?

Ao contrário também do que se pode ler nas actuais obras de divulgação, as teorias atómicas não foram encontradas nem desenvolvidas por Demócrito, Leucipo e Epicuro. De facto, Sextus Empiricus diz-nos que o próprio Demócrito as recebera e obtivera por intermédio de Moschus o Fenício, o qual parece ter confirmado que o átomo era divisível, ponto capital que convém notar.




Reparai que a teoria mais antiga é também mais exacta do que as de Demócrito e dos atomistas gregos em relação à indivisibilidade dos átomos. Neste caso determinado, parece tratar-se mais de um obscurecimento dos conhecimentos arcaicos, tornados incompreensíveis, do que de descobertas originais. Enfim, no plano cosmológico, e apesar da ausência de telescópios, com espanto verificamos serem muitas vezes os conhecimentos astronómicos tanto mais exactos quanto mais antigos. No que respeita, por exemplo, à Via Láctea, segundo Tales e Anaxímenes, seria constituída por estrelas, formando cada uma delas um mundo com sol e planetas, e esses mundos estavam situados num espaço imenso. Pode verificar-se em Lucrécio a percepção da uniformidade da queda dos corpos no vácuo e a concepção de um espaço infinito ocupado por uma infinidade de mundos. Pitágoras, antes de Newton, criou a lei inversa do quadrado das distâncias. Plutarco, depois de explicar a lei da gravidade, procura a origem da mesma numa atracção recíproca entre todos os corpos terrestres da mesma maneira que o Sol e a Lua atraem para o seu centro todas as partes que lhes pertencem e as retêm na sua esfera particular.

Galileu e Newton confessaram claramente aquilo que deviam à ciência antiga. Também Copérnico, no prefácio das suas obras dedicadas ao Papa Paulo III, escreve textualmente que descobriu a ideia do movimento da Terra ao ler os Antigos. Aliás, a confissão desses empréstimos em nada diminui a glória de Copérnico, de Newton e de Galileu, os quais pertencem a essa raça de espíritos superiores cujo desinteresse e generosidade os levam a não se preocuparem com o amor-próprio de autor ou a originalidade, seja a que preço for, que são preconceitos modernos. Mais humilde e mais profundamente autêntica parece a atitude da modista de Maria Antonieta, Mademoisselle Bertin. Ao modernizar habilidosamente um chapéu antigo, exclamou: "Só é novo o que está esquecido"...» (in ob. cit., pp. 86-90).



Galileu Galilei



Continua


quarta-feira, 14 de abril de 2010

O Despertar dos Mágicos (i)

Escrito por Louis Pauwels e Jacques Bergier




Base lunar


Enquanto em França um dos nossos melhores sociólogos chora sobre Le Travail en miettes, título de uma das suas obras, os sindicatos americanos estudam a semana de vinte horas. Enquanto os intelectuais parisienses, supostamente de vanguarda, perguntam a si próprios se Marx deverá ser ultrapassado, ou se o existencialismo é ou não um humanismo revolucionário, o Instituto Sternfeld de Moscovo estuda a implantação da humanidade na Lua. Enquanto Eugénio Varga aguarda o desmoronamento dos Estados Unidos anunciado pelo profeta, os biólogos americanos preparam a síntese da vida a partir do inanimado. Enquanto o problema da coexistência se continua a pôr, o comunismo e o capitalismo estão prestes a ser alterados pela mais poderosa revolução tecnológica que possivelmente a Terra jamais conheceu. Estamos com os olhos colocados na parte de trás da cabeça. Seria altura de os pormos no seu devido lugar.

O último sociólogo poderoso e imaginativo foi talvez Lenine. Definiu com clareza o comunismo de 1917: «É o socialismo mais a electricidade». Já passou cerca de meio século depois disso. A definição continua válida para a China, a África, a Índia. Mas para o mundo moderno é letra morta. A Rússia aguarda o pensador que venha a descrever a nova ordem: o comunismo mais a bomba atómica, mais a automatização, mais a síntese dos carburantes e dos alimentos a partir do ar e da água, mais a física dos corpos sólidos, mais a conquista das estrelas, etc. John Buchan, depois de assistir ao funeral de Lenine, anunciava a chegada de outro Vidente que criaria um «comunismo com quatro dimensões».







Se a URSS não tem a sociologia que merece, a América não está mais bem fornecida. A reacção contra os «historiadores vermelhos» do final do século XIX provocou, por parte dos observadores, o elogio declarado das grandes dinastias capitalistas e das organizações poderosas. Há qualquer coisa de saudável em tal franqueza, mas a perspectiva é pequena. Os críticos do american way of life são raros, literários, e procedem da forma mais negativa. Nenhum parece incitar a imaginação ao ponto de ver surgir, através dessa «multidão solitária», uma civilização diferente das suas formas exteriores, até sentir uma crepitação das consciências, a aparição de novos mitos. Através da abundante e espantosa literatura chamada de «ficção científica» sobressai no entanto a aventura de um espírito quase adolescente ainda, que se desdobra à medida do planeta, se empenha numa reflexão à escala cósmica e situa, de maneira diferente, o destino humano no vasto Universo. Mas o estudo de semelhante literatura, tão comparável à tradição oral dos narradores antigos, e que dá provas dos profundos movimentos da inteligência em marcha, não é coisa séria para os sociólogos.

Quanto à sociologia europeia, continua estritamente provinciana, com toda a sua inteligência empenhada em longas discussões a respeito de ninharias. Nestas condições, não é de admirar que as almas sensíveis se refugiem no catastrófico. Tudo é absurdo e a bomba H pôs um ponto final na história. Esta filosofia, que parece simultaneamente sinistra e profunda, é mais fácil de manejar que os pesados e delicados instrumentos de análise do real. É uma passageira enfermidade do pensamento dos civilizados que não adaptaram as noções herdadas (liberdade individual, pessoa humana, felicidade, etc.) à alteração dos fins da civilização que se inicia. É uma fadiga nervosa do espírito, no momento em que esse espírito, preocupado com a suas próprias conquistas, deve, não só soçobrar, como mudar de estrutura. No fim de contas, não é a primeira vez que na história da humanidade a consciência é obrigada a passar de um plano para outro. Qualquer modificação é dolorosa. Se há um futuro, merece ser examinado. E, neste presente apressado, não é em referência ao passado mais próximo que a reflexão deve ser feita. O nosso próprio futuro é tão diferente daquilo com que acabamos de tomar contacto como o século XIX era diferente da civilização Maia. Portanto, é por meio de incessantes projecções através do tempo e do espaço que devemos proceder, e de forma alguma por meio de comparações minúsculas numa fracção ínfima, onde o passado recentemente vivido não possui qualquer das probabilidades do futuro e onde o presente, logo que toma forma, é tragado por esse inutilizável passado.




A primeira ideia verdadeiramente fecunda é que há diferença de alvos. Um cavaleiro das cruzadas que regressasse para junto de nós perguntaria imediatamente por que motivo se não utiliza a bomba atómica contra os Infiéis. De sentimentos firmes e inteligência aberta, no fim de contas sentir-se-ia menos assombrado com as nossas técnicas do que pelo facto de os Infiéis ainda possuírem metade do Santo Sepulcro, estando a outra, aliás, nas mãos dos Judeus. O que ele teria maior dificuldade em compreender seria uma civilização rica e poderosa, cuja riqueza e poderio não são explicitamente consagrados ao serviço e à glória de Jesus. Que lhe diriam os nossos sociólogos? Que estes imensos esforços, batalhas, descobertas, têm como objectivo único elevar o «nível de vida» de todos os homens? Isso parecer-lhe-ia absurdo, pois a vida apresentava-se sem objectivo. Eles falar-lhe-iam ainda de Justiça, de Liberdade, de Pessoa Humana, recitar-lhe-iam o evangelho humanista-materialista do século XIX. E o cavaleiro sem dúvida responderia: mas Liberdade para quê? Justiça para quê? A pesssoa humana para dela fazer o quê? Para que o cavaleiro encarasse a nossa civilização como uma coisa digna de ser vivida por uma alma seria necessário não utilizar a linguagem retrospectiva dos sociólogos. Seria necessário utilizar uma linguagem prospectiva. Haveria que mostrar-lhe o mundo em marcha, a inteligência em marcha, como a formidável vibração de uma cruzada. Trata-se, uma vez mais, de libertar o Santo Sepulcro: o espírito retido na matéria, e repelir o Infiel: tudo o que é infiel ao infinito poder do espírito. Continua sempre a tratar-se de religião: tornar manifesto tudo o que une o homem à sua própria grandeza e essa grandeza às leis do Universo. Seria necessário mostrar-lhe um mundo onde os ciclotrões são como as catedrais, as matemáticas como um cântico gregoriano, onde as transformações se operam, não apenas no centro da matéria, mas nos cérebros, onde as massas humanas de todas as cores se agitam, onde a interrogação do homem faz vibrar as suas antenas nos espaços cósmicos, onde a alma do planeta desperta. Então talvez se sentisse aqui como em sua casa, apenas colocado noutro nível. Talvez se lançasse a caminho do futuro, como outrora se lançava a caminho do Oriente, depois de se ligar novamente à fé, mas num grau diferente.

Vede portanto o que vivemos! Fixai o olhar nos vossos próprios olhos! Fazei luz nestas trevas! (in O Despertar dos Mágicos, Bertrand Editora, 1987, pp. 55-58).















International Space Station (ISS).






























Continua