Pirâmide de Kéops |
De Aristarco de Samos aos astrónomos de 1900, a humanidade levou vinte e dois séculos para calcular com uma aproximação satisfatória a distância da Terra ao Sol: 149 400 000 quilómetros. Teria bastado multiplicar por um bilião a altura da pirâmide de Kéops, construída 2900 anos antes de Jesus Cristo.
Hoje sabemos que os Faraós depositaram nas pirâmides os resultados de uma ciência da qual ignoramos a origem e os métodos. Ali se volta a encontrar o número Π, o cálculo exacto da duração de um ano solar, do raio e do peso da Terra, a lei de precessão dos equinócios, o valor do grau de longitude, a direcção real do Norte, e talvez muitos outros dados ainda por decifrar. De onde vêm estas informações? Como foram obtidas? Ou transmitidas? E nesse caso por quem?
Para o padre Moreux, Deus deu aos homens antigos conhecimentos científicos. Eis-nos em plena imaginação. «Escuta, ó meu filho: o número 3,14116 permitir-te-á calcular a superfície de um círculo!» Para Piazzi Smyth, Deus ditou estas informações a Egípcios ímpios e ignorantes para poderem compreender aquilo que inscreviam na pedra. E por que motivo Deus, que tudo sabe, se teria tão estrondosamente enganado sobre a qualidade dos seus alunos? Para os egiptólogos positivistas, as mensurações efectuadas em Gizé foram falseadas por investigadores iludidos pela sua ânsia de maravilhoso: nenhuma ciência está inscrita. Mas a discussão vacila entre as decimais, e nem por isso a construção das pirâmides deixa de ser o testemunho de uma técnica que para nós continua a ser totalmente incompreensível. Gizé é uma montanha artificial de 6 500 000 toneladas. Tem blocos de doze toneladas ajustados com uma precisão de meio milímetro. A ideia mais banal é a que geralmente se admite: o Faraó disporia de uma mão-de-obra colossal. Restava explicar como foi resolvido o problema do atravancamento dessas imensas multidões. E os motivos de um tão louco empreendimento. E a maneira como foram os blocos extraídos das pedreiras. A egiptologia clássica não admite como técnica senão o emprego de cunhas de madeira molhada introduzidas nas fendas da rocha. Os construtores só deviam dispor de martelos de pedra, e de serras de cobre, metal mole. Eis o que adensa o mistério. De que forma foram içadas e unidas pedras cortadas com dez mil quilos e mais de peso? No século XIX tivemos a maior dificuldade em transportar dois obeliscos que os Faraós transportavam às dúzias. De que forma é que os Egípcios se iluminavam dentro das pirâmides? Até 1890 só conhecemos as candeias com chama que se alonga e enegrece o tecto. Ora não se vislumbra nas paredes o menor vestígio de fumo. Captariam a luz solar fazendo-a penetrar por meio de um sistema óptico? Não foi encontrado o mais pequeno fragmento de lente.
Não se encontrou nenhum instrumento de cálculo científico, nenhum vestígio como testemunho de uma grande tecnologia. Das duas uma: ou temos de admitir a tese místico-primária: Deus dita informações astronómicas a obreiros obtusos mas aplicados e dá-lhes uma ajuda. Então há informações inscritas nas pirâmides. Os positivistas, à falta de argumentos, declaram que se trata de uma coincidência. Quando as coincidências são tão claramente exageradas, como diria Fort, como se lhes deve chamar? Ou temos de admitir que arquitectos e decoradores surrealistas, para satisfazerem a megalomania do seu rei, mandaram, segundo medidas que lhes passaram pela cabeça ao acaso da inspiração, extrair, transportar, decorar, erguer e ajustar perfeitamente os 2 600 000 blocos da grande pirâmide por empreiteiros que trabalhavam com pedaços de madeira e serras de cortar cartão atropelando-se uns aos outros.
As coisas datam de há cinco mil anos e nós ignoramos quase tudo. Mas o que sabemos é que as pesquisas foram feitas por pessoas para quem a civilização moderna é a única civilização técnica possível. Partindo desse critério, temos de imaginar que tiveram, ou o auxílio de Deus, ou de um colossal e estranho trabalho de formigas. No entanto é possível que um pensamento completamente diferente do nosso possa ter concebido técnicas tão aperfeiçoadas como as nossas, mas diferentes, instrumentos de medida e métodos de manipulação da matéria sem relação com os que nós conhecemos, e que não tenham deixado, a nossos olhos, nenhum vestígio aparente. Pode ser que uma ciência e uma tecnologia poderosas, que deram soluções diferentes das nossas aos problemas postos, tenham desaparecido totalmente com o mundo dos Faraós. É difícil acreditar que uma civilização possa morrer, extinguir-se. É ainda mais difícil acreditar que possa ter divergido da nossa a tal ponto que temos certa relutância em reconhecê-la como civilização. E no entanto!...
Quando a segunda guerra mundial terminou, a 8 de Maio de 1945, a Alemanha vencida começou imediatamente a ser percorrida por missões de investigação. Os relatórios dessas missões foram publicados. Só o catálogo contém 300 páginas. A Alemanha só se separou do resto do mundo a partir de 1933. Em doze anos, a evolução técnica do Reich tomou caminhos singularmente divergentes. Se os Alemães estavam em atraso no domínio da bomba atómica, puseram em estado de funcionar foguetões gigantescos sem equivalente na América ou na Rússia. Se ignoravam o radar, produziram detectores de raios infravermelhos, igualmente eficazes. Se não inventaram os silicones, desenvolveram uma química orgânica completamente nova (1). Para além destas diferenças radicais em matéria de técnica, diferenças filosóficas ainda mais espantosas... Tinham posto de lado a relatividade e abandonado em parte a teoria dos quantas. A sua cosmogonia teria deixado estupefactos os astrofísicos aliados: era a tese do gelo eterno, segundo a qual planetas e estrelas seriam, blocos de gelo flutuando no espaço (...). Se tais abismos se puderam formar em doze anos, no nosso mundo moderno, a despeito dos intercâmbios e comunicações, que pensar das civilizações tal como se puderam desenvolver no passado? Em que medida é que os nossos arqueólogos são qualificados para avaliar o estado das ciência, das técnicas, da filosofia, do conhecimento entre os Maias ou dos Khmers?
Não cairemos na armadilha das lendas: Lemúria ou Atlântida. Platão, no Crítias, ao cantar as maravilhas da cidade desaparecida, e, antes dele, Homero, na Odisseia, ao evocar a fabulosa Scheria, descrevem talvez Tartesso, a Tarshih bíblica de Jonas e objectivo de sua viagem. Tartesso é a mais rica cidade mineira do Mundo e exprime a quinta-essência de uma civilização. Floresceu há não se sabe quantos séculos, depositária de uma sabedoria e de segredos. Por volta do ano 500 antes de Cristo sumiu-se completamente, não se sabe como nem porquê (2). Pode ser que Numinor, misterioso centro celta do século V antes de Cristo, não seja uma lenda (3), mas nada sabemos. As civilizações de cuja existência passada estamos certos, e que desapareceram, são na verdade tão estranhas como a Lemúria. A civilização árabe de Córdova e Granada inventa a ciência moderna, descobre a investigação experimental e as suas aplicações práticas, estuda a química e até a propulsão a reacção. Alguns manuscritos árabes do século XII apresentam esquemas de foguetões de bombardeamento.
Pirâmide de Kukulkán no Estado mexicano do Iucatã, o mais grandioso de todos os templos maias. |
Notas:
(1) A das células de estrutura circular, com oito átomos de carbono.
(2) Sprague de Camp e Willy Ley: De l'Atlantide à l'Eldorado, ed., Plon, Paris.
(3) Trabalhos do Professor Tolkien, da Universidade de Oxford.
Continua
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