Escrito por Orlando Vitorino
Loucas e desvairadas são as promessas dos socialistas. A mais constante é a da abundância universal que virá satisfazer todas as carências. Data ela dos primeiros socialistas modernos, ainda na época da Revolução Francesa. O último socialista a quem a vimos utilizar foi ao chefe dos comunistas espanhóis durante a recente campanha eleitoral, conforme notou a imprensa socialista portuguesa. Pouco antes, fora a mesma promessa repetida entre nós pela boca de um dos chefes militares do «gonçalvismo», o General Charais, que lhe dava uma justificação divertida, embora não original entre os socialistas: a prosperidade resultaria, segundo aquele comandante de exércitos, do facto de a Terra ter entrado agora no signo do Aquário que os astrólogos dizem ser um signo de abundância (o caso vem referido e abonado a pags. 99/100 do livro de Orlando Vitorino «Refutação da Filosofia Triunfante»).
A abundância universal é, porém, uma promessa modesta em comparação com outras que os mais autorizados socialistas têm feito: um dos primeiros, se não o primeiro, doutrinador socialista moderno, o inglês Godwin, chegou a anunciar que o socialismo daria aos homens a imortalidade. Vale a pena transcrever um breve (por piedoso) trecho do admirável livro de Ludwig von Mises «A Acção Humana - Tratado de Economia» (pág. 105, ed. Sope S.A., Madrid, 1968):
«Assegurava Godwin que, abolida a propriedade, o homem chegaria a ser imortal (1). Charles Fourier antevia os oceanos a transbordar de saborosa limonada em vez de água salgada (2). A economia de Marx passa inteiramente por alto a escassez dos factores materiais de produção. E Trotzky chega ao extremo de proclamar que, no paraíso proletário, o homem médio alcançará o nível intelectual de um Aristóteles, um Goethe ou um Marx e, para além destes cumes, maiores alturas ainda se alcançarão» (3).
(in Escola Formal, n.º 3, Agosto/Setembro de 1977, p. 25).
Notas:
(1) W. Godwin, An Enquiry Concerning Political Justice, II, págs. 393-403, Dublin, 1973.
(2) C. Fourier, Théorie des Quatre Mouvements, I, pág. 43, Obras Completas, 3.ª ed., Paris, 1846.
(3) L. Trotzsky, Literature and Revolution, pág. 256, Londres, 1925.
domingo, 4 de abril de 2010
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