1. O socialismo está morto
Logo ligámos esta observação no comentário com que Hayek, homem idoso de 77 anos, respondeu no Grémio Literário à pergunta de um jornalista: «Quando eu era jovem, só os velhos eram liberalistas. Quando cheguei à meia-idade, ninguém era liberalista. Quando, agora, chego à velhice, a maior parte dos jovens são liberalistas».
Imediatamente lembrámos também abertura do Cap. XVII do seu famoso livro, «A Constituição da Liberdade»:
«Os futuros historiadores designarão o período que decorreu entre 1848 e 1948 como o século do socialismo. (...) O facto mais decisivo registado no último decénio - o de 1950-60 - é o fracasso do socialismo. Não só se desvaneceu o atractivo intelectual que exercia como foi abandonado pelas massas. Isso obrigou os partidos socialistas de todas as latitudes a procurarem ansiosamente novos programas que lhes assegurem a colaboração activa dos seus filiados (...) É possível que a designação de socialismo ainda seja adoptada em algum novo programa que os partidos socialistas existentes elaborem. O certo é, porém, que no nosso mundo ocidental o socialismo, no que autenticamente significa, está morto».
2. A tirania das maiorias esmagadoras
Conhecedor das dificuldades que se levantaram à vinda e à estadia de Frederico Hayek em Portugal, conhecedor do sectarismo ideológico que nos domina, Sales Lane, director do Grémio Literário, onde Hayek proferiu as suas conferências, evocou, nas palavras com que o apresentou e que foram um modelo de convivência civilizada, a liberdade de opinião e expressão, sem a qual não há democracia, e o direito de cada um dizer o que pensa, sem o qual não há progresso, nem ciência, nem civilização. Abonou-se, depois, do pensamento de Alexandre Herculano, liberalista cujo centenário decorreu o ano passado e que as instituições socialistas vigentes concordaram em ser celebrado. Citou alguns dos seus princípios que constituem a negação de tudo o que seja socialismo e democracia entendida por socialistas. Um exemplo: «É tão abominável o poder exercido por um tirano sobre todo um povo como o poder exercido por uma maioria sobre um único indivíduo».
3. Postura de águia e rosto de bom demónio
A 1.ª Conferência de Frederico Hayek realizou-a ele quando acabava de desembarcar de uma viagem de 10 horas desde S. Paulo e depois de ter percorrido, em mês e meio, todo o caminho que vai da Alemanha aos EUA, Chile, Argentina e Brasil até Lisboa. A fadiga em nada obscureceu a nitidez do seu pensamento e a clareza das respostas que deu às perguntas que os jornalistas lhe dirigiram ao final da conferência.
É Hayek um homem velho mas a quem a sabedoria conservou, como sempre conserva, a frescura e a vivacidade de uma inteligência fulgurante. Velho, magro, alto, de ombros largos como Platão, de olhos penetrantes e fixados no mais profundo, tem um rosto que lembra - quem o diz é a mulher que com ele esteve recentemente no Japão - as máscaras dos bons demónios da mitologia japonesa. Um colaborador da «Escola Formal», caçador inveterado, observou que Hayek tem uma postura de águia: o rosto demoníaco e penetrante ergue-se de dois ombros magros e tão largos que se afiguram asas recolhidas, e em seus gestos e passos há qualquer coisa - para de novo empregarmos uma imagem platónica - de um «bípede emplumado».
4. Sumaríssima demonstração de como o socialismo é um totalitarismo
Demonstrou Frederico Hayek na sua 1.ª Conferência:
O socialismo é uma combinação daquilo a que ele chama «justiça social» e da sujeição de toda a economia a uma planificação centralizada.
Justiça social é uma designação de conteúdo vazio. Acaba por designar o antiquíssimo problema da distribuição da riqueza e acaba por consistir, para as pessoas, em ter-se mais do que se tem. De conceito assim indefinido, vazio e em si mesmo contraditório, a realização da «justiça social» é confiada ao planeamento centralizado da economia. Ora este é, por sua vez, irrealizável: implica ele que o planificador saiba aquilo que todos os indivíduos sabem, o que é manifestamente impossível. O planificador, então, planifica segundo finalidades que ele determina, e distribui a riqueza segundo critérios que ele estabelece. Sem discutirmos agora quem determina tais finalidades, estabelece tais critérios e o que isso significa, observemos apenas: para distribuir a riqueza segundo critérios estabelecidos, o socialismo não pode permitir que as pessoas façam o que querem. Obriga-as, por isso, a obedecer a regras imperativas. O resultado será um sistema dirigido que implica a existência de um governo ditatorial, um governo que nos diz, ou dita, aquilo que devemos fazer.
5. Só o Estado cria monopólios
Os socialistas - que com a planificação centralizada reduzem toda a economia a um único monopólio - acusam o liberalismo, ou o sistema de concorrência e mercado livre, de conduzir à formação de monopólios. É uma velha, corrente e falsa afirmação. O sistema de concorrência não conduz à formação de monopólios. Os monopólios resultam sempre da intervenção do Estado quando se decide a «proteger» certos sectores económicos. Foi na Alemanha que tiveram origem os monopólios e resultaram eles da acção dos governos de inspiração socialista que dominaram a Alemanha a partir dos últimos decénios do século passado até ao fim da Segunda Guerra Mundial.
Também Frederico Hayek refutou que o desenvolvimento tecnológico torne inevitável o monopólio. Deu o mesmo exemplo: no final do século passado, quando formou os primeiros monopólios, a Alemanha estava longe de ser o país de maior desenvolvimento tecnológico que era, então, a Inglaterra. Ora na Inglaterra os monopólios só surgiram em 1930 e em resultado da intervenção «proteccionista» do Governo.
Na prática que adoptou, o sindicalismo consiste em forçar a acção do Governo, não no interesse geral, não em benefício das classes trabalhadoras, mas só em benefício de certos grupos. (um dos participantes no diálogo que se seguiu a esta conferência aludiu ao livro «The Constitution of Liberty» em cujo Cap. XVIII Frederico Hayek distingue entre as funções legítimas e a justa existência de associações de trabalhadores, por um lado, e, por outro lado, o carácter que a essas associações foi dado pelo sindicalismo com a sua pressão sobre o Governo, a obtenção de leis de excepção para a sua actividade, a coacção e até a violência que se permite exercer impunemente sobre os trabalhadores e a população em geral, o exclusivo para certos grupos dos benefícios que deste modo obtém, a fictícia elevação dos salários que estabelece e logo é seguida da inevitável inflação, etc.).
7. Um aforismo
Não há liberdade política sem liberdade económica.
8. O Cerco
Continua
Nenhum comentário:
Postar um comentário