terça-feira, 5 de agosto de 2025

A instituição universitária só consegue não ser uma instituição caduca por ser uma instituição vazia

 Escrito por Orlando Vitorino


Navio-Sagres

Gigante Adamastor

«Onde quer que se coloque o início da nossa decadência - da decadência resultante do formidável esforço com que realizámos as descobertas e as conquistas -, aí se deve colocar o início da grande ruptura de equilíbrio que se deu na vida nacional. Com a dispersão por todo o mundo e a morte em tantos combates, precisamente daqueles elementos que criavam o nosso progresso, o nosso povo foi a pouco e pouco ficando reduzido aos elementos apegados ao solo, aos que a aventura não tentava, a quantos representavam as forças que, numa sociedade, instintivamente reagem contra todo o avanço. É um dos casos mais visíveis da criação de uma predominância das forças conservadoras. Com isto, visto à luz do que se explicou, queda revelado o porquê da nossa decadência.

Todos os fenómenos se seguiram (...) como o seguimento fatal da supertradicionalização. O que restava de progressivo desnacionalizou-se depressa. Cavou-se um abismo entre esses e a maioria do país. Em uns e outros, o nível intelectual, o nível cultural e o nível da vontade prática e útil foi baixando. Um ou outro homem de maior destaque surgia e desaparecia e a sua obra, quando não morria com ele, morria pouco depois, pois não havia coesão social, por onde se propagasse, nem interesse intelectual, por onde, ao menos, se mantivesse. A Restauração, livrando-nos da maior vergonha externa, não nos livrou, nem trouxe quem nos livrasse, da vergonha interna paralela. Ficámos independentes como país e dependentes como indivíduos. Tornámos a ser portugueses de nacionalidade, mas nunca mais tornámos a ser portugueses de mentalidade. Nem portugueses, nem nada.

Só da obra do Marquês de Pombal alguma coisa ficou, e isso não pela energia do homem, nem mesmo pelas suas grandes qualidades de organizador, mas pelo ponto de apoio comercial do país. No fim deste estudo se verá a que vem esta observação. O que Pombal criou, porém, sumiu-se com as invasões francesas. Depois delas a nossa desnacionalização teve o seu período abísmico: só o nome da nossa independência nos ficou.»

Fernando Pessoa (in António Quadros, «Fernando Pessoa, a Obra e o Homem», II Volume).

 

«Este Ministro [Sebastião José], apesar de tudo quanto disseram dele os seus panegiristas, não talhou um plano útil que honrasse a sua Nação e o seu século.»

Teófilo Braga (««História da Universidade de Coimbra»).

 

«Não dava tréguas à sua jesuitofobia o Conde de Oeiras. Já não havia um jesuíta em Portugal, exceptuados os que jaziam em vários antros, carregados de ferros (…). Habituara-se a matar. A intensidade do seu gozo era decerto maior que a intensidade da agonia dos seus mortos. Matava sempre. Tinha aquele vício, e diria como o feroz ditador romano: “Quando eu não tiver homens que esmagar está concluída a minha missão”».

Camilo Castelo Branco («Perfil do Marquês de Pombal»).






«O próprio Pombal é o Desejado? Não. Fez-se temer, não se fez amar. Cabeça de Bronze, coração de pedra. Moralmente ignóbil, alheio à graça, indiferente à dor. Inteligência vigorosa, material e mecânica, sem voo, sem asas. Um brutamontes, raciocinando claro. Falta-lhe o génio, o dom de sentir, nobreza heróica, vida profunda – humanidade em suma. Máquina apenas. Não criou, produziu. A criação vem do amor, a génese é divina. Criar é amar. Por isso a obra foi a terra. Pulverizou-se: só dura o que vive. Uma raiz esteia mais que um alicerce. Pombal em três dias, num deserto, quis formar um bosque. Como? Plantando traves. Adubou-as com mortos e regou-se com sangue. Apodreceram melhor».

Guerra Junqueiro («Pátria»).

 

«O terramoto fez-se pois homem, e encarnou em Pombal, seu filho.»

Oliveira Martins («História de Portugal»).

 

«O luxo progrediu, e passou por cima das pragmáticas de D. João V e de D. José I, até que o terramoto de 1755 subverteu a maior parte dos grandes patrimónios e reduziu os pequenos à pobreza. Em 1754, apesar das ruas estreitas e declivosas, havia em Lisboa 300 coches, 4 500 seges de particulares, mais de 400 de aluguer, e um grande número de liteiras, paquebotes e cadeiras de mão. O marquês de Pombal escreveu impudentemente que, entrando para o ministério em 1750, achara o Reino pobre e o erário vazio. No ano anterior ao terramoto, D. José I recebeu dos seus direitos quantia superior a 14 milhões de cruzados. Quando Portugal experimentou a suprema e vergonhosa miséria foi no ministério do conde de Oeiras. Em 1759, os soldados que guardavam a porta do conde de Oeiras pediam esmola a quem visitava o ministro; ao embaixador francês, conde de Merle, pediu publicamente esmola um sargento. Em 1762, o embaixador O’Dunne participava ao conde de Choiseul que os sargentos de algumas companhias e um capitão lhe tinham pedido esmola. Em 1759, o Rei, querendo ir para Mafra, e não tendo dinheiro, levantou do depósito público 28 contos de réis; e, no mesmo ano, querendo ir para VilaViçosa, levou o dinheiro apurado na venda dos móveis, pertenças dos jesuítas. (Quadro Elementar, t. VI, p. 144, 153, 171, e, t. VII, p. 150). Também Portugal, em 1756, recebera de Inglaterra uma esmola de 100 000 libras para remediar a catástrofe do terramoto (Quadro Elementar, tom. XVIII, pág. 361). E, quando a tropa portuguesa mendigava aos representantes da França em 1759, pagava o tesouro 36 000 cruzados por dous meses ao cantor Egipcielli, e, pelo mesmo tempo, pregava-se à porta da Alfândega um edital em que D. José I pedia ao País dinheiro emprestado. Que pelintragem! Que rei e que ministro!»

Camilo Castelo Branco («Perfil do Marquês de Pombal»).

 

«No século XVIII entraram em Portugal as doutrinas antiescolásticas que alegavam ser impossível conciliar a experimentação científica e a revelação cristã com o aristotelismo, ou seja, com a filosofia. As traduções e os comentários dos textos de Aristóteles foram expulsos do ensino público em consequência da reforma pombalina da Universidade de Coimbra, efectuada em 1772. O Marquês de Pombal, mais preocupado em definir a nova posição da Universidade perante a Igreja e o Estado, do que em dar nova orientação filosófica aos estudos superiores, não realizou obra que mereça estima dos pedagogistas.»

Álvaro Ribeiro («Apologia e Filosofia»).


«A 1.ª República foi, toda ela, dominada por dois professores universitários: Teófilo Braga (cuja obra de governante, sempre tão exaltada, consistiu substancialmente em aumentar os privilégios da Universidade) e Afonso Costa. A 2.ª República, a salazarista, foi, como ela própria se chegou a denominar, um "governo de professores". E na actual 3.ª República será deveras instrutivo observar como os professores universitários nela se vão infiltrando.»

Orlando Vitorino («Exaltação da Filosofia Derrotada»).

 

«A proliferação de estudos sociais e de estudos sociológicos, em todo o hemisfério designado por ocidental, com a multiplicação de gabinetes, centros, institutos, faculdades e outras escolas, acusa uma tendência doutrinária que me parece perigosa na medida em que tende a minimizar, ou a minorar, os estudos de psicologia. A sociologia sem psicologia conduz à inversão, e portanto à falsificação, dos métodos explicativos e racionais. Ora a UNESCO está impregnada deste sociologismo tão internacionalista como abstracto, contra o qual não podem deixar de opor-se todos os intelectuais religiosos e todos os intelectuais espiritualistas que meditem sobre o destino transcendente da Humanidade.»

Álvaro Ribeiro («O ideal civilizador dos Portugueses é imensamente superior (incomparavelmente superior) àquele que tem sido proclamado na ONU»).

 

«Ministro da Educação no tempo de Marcello Caetano, Veiga Simão foi o agente responsável pelo igualitarismo socialista no plano da organização do ensino. A ele, pois, se deve, sob o abstracto lema da “democratização do ensino”, a subordinação do sistema escolar às directrizes programáticas emanadas de organizações internacionais, em especial da UNESCO e da OCDE.»

Miguel Bruno Duarte («Noemas de Filosofia Portuguesa»).








A instituição universitária só consegue não ser uma instituição caduca por ser uma instituição vazia

 

A política socialista, ininterruptamente prosseguida desde o veiga-simonismo, deixou pois ficar incólume o ensino superior, ou a universidade. Mas já ele havia ficado incólume durante todo o salazarismo. E, antes do salazarismo, durante o republicanismo. E, ainda antes, durante todo o liberalismo da monarquia. De modo que o nosso ensino superior é, substancialmente, o que dele fez o Marquês de Pombal, orientado pelo pensamento iluminista da época, cujos principais representantes – Verney, R. Sanches, Castro Sarmento – são ainda hoje enaltecidos, através dos panegíricos de A. Sérgio e semelhantes, por epígonos de menor saber que se denominam de progressistas. Ao mesmo tempo, ignora-se, ou faz-se ignorar, a linha mais sábia e mais original do pensamento pedagógico e didáctico português, aquela que, preconizando que a organização do ensino se deduz da filosofia que Pombal e os pombalinos de ontem e de hoje decretaram ser «abominável», culminou em Leonardo Coimbra e se prolonga até nossos dias nas obras de Delfim Santos, Santana Dionísio, José Marinho, Agostinho da Silva e Álvaro Ribeiro. Com tudo isto, tornou-se tão patente que a universidade actual é a universidade pombalina que se pôde chegar à anedota de nunca ter havido, em Coimbra, um professor universitário que não fosse parente de outro professor. Entretanto, impõe-se reconhecer que só uma vez a universidade foi, entre nós, objecto de uma contestação essencial e nacional com a consequente proposta da sua radical remodelação condicionada pela prévia extinção das Faculdades e Institutos existentes. Referimo-nos à contestação feita, em 1919, por Leonardo Coimbra, na Câmara dos Deputados da 1.ª República, contestação que, sempre com a hostilidade dos poderes políticos de todos os credos, nunca deixou de ser reafirmada e actualizada pelos discípulos e continuadores do grande pensador.

O que entre nós acontece, acontece em geral nos outros países, embora alguns se tenham conseguido defender melhor do que nós das inevitáveis consequências de um «ensino superior» que, nos últimos decénios, só consegue não ser uma instituição caduca por ser uma instituição vazia. Os professores, agarrados aos privilégios tradicionais do ofício, constituem-se cada vez mais num sindicato de classe e fazem dos corpos docentes universitários uma associação de socorros mútuos. Movidos pela má consciência do seu magistério vazio, confiam a perduração do ofício e a segurança do emprego à adopção de doutrinas cada vez mais acessíveis, mais fáceis e mais degradadas, de doutrinas que tudo vão concedendo à dispensa de preparação cultural, de estudo documental e de reflexão intelectual e que lisonjeiam, portanto, o atrevimento raciocinante da juventude mais apressada, mais oca e mais afirmativa, de doutrinas acessíveis às formas mais comuns da ignorância. As universidades acabaram, deste modo, por se fazerem instrumentos para a formação de comunistas ou criptocomunistas, meios para a divulgação do comunismo do qual já se disse, com irrefutáveis razões, que é «a única doutrina acessível a todos os estúpidos». Assim se criou aquilo que, numa expressão já corrente, se designa por «marxismo universitário», mistura manhosa de comunismo e criptocomunismo que facilitará a obtenção de emprego bem remunerado numa sociedade dominada por complexos socialistas, que satisfará para toda a vida as estreitas carências intelectuais dos alunos menos dotados, mas que será, para os outros, os mais dotados, reflexivos e sérios, um obstáculo ou um malefício de formação escolar a cuja remoção vão ter de dedicar depois os melhores anos da sua vida. Neste momento, alguns membros da oligarquia socialista que domina o nosso país, oferecem-nos já o doloroso espectáculo da luta que travam consigo próprios para removerem de si o marxismo que a universidade lhes instilou; um deles é, precisamente, o Ministro da Educação.

(Orlando Vitorino, Exaltação da Filosofia Derrotada, Guimarães Editores, 1993, pp. 195-196).





quinta-feira, 31 de julho de 2025

A filosofia na formação do homem português, do homem que fala português e que pensa em português

 Escrito por Álvaro Ribeiro





«A base da pátria é o idioma, porque o idioma é o pensamento em acção, e o homem é um animal pensante, e a acção é uma tradição verdadeiramente viva, a única verdadeiramente viva, concentra em si, indistinta e naturalmente, um conjunto de tradições, de maneiras de ser e de pensar, uma história e uma lembrança, um passado morto que só nela pode reviver. Não somos irmãos, embora possamos ser amigos, dos que falam uma língua diferente, pois com isso mostram que têm uma alma diferente. Estamos, neste mundo, divididos por natureza em sociedades secretas diversas, em que somos iniciados à nascença, e cada um tem, no idioma seu e no que está nele, o seu toque próprio, a sua própria palavra de passe.

(...) A base da sociabilidade, e portanto da relação permanente entre os indivíduos, é a língua, e é a língua com tudo quanto traz em si e consigo que define e forma a Nação

Fernando Pessoa (in António Quadros, «Fernando Pessoa, a Obra e o Homem», II Volume).

 

«De facto os aplausos e a admiração que Leonardo Coimbra colhia (como ele não podia deixar de o perceber) eram puramente espectaculares, dirigidos apenas à sua personalidade exterior de tribuno e homem estranho: na realidade, ninguém o compreendia; e o homem de valor o que deseja é que participem das suas preocupações e não que admirem a sua figura, ou timbre de voz, ou facilidade de palavra; o que ele quer, em suma, é que o compreendam e não que o aplaudam. Leonardo Coimbra sentia com nitidez a sua incomunicabilidade, e sofria como todos os homens superiores a têm sofrido, em todos os tempos e lugares, e sofrerão sempre; sob a máscara do tribuno que frequentemente subia aos estrados para falar, falar, falar, dando-se o ar de homem que tinha a satisfação de transferir as suas ideias, havia o rictus secreto, cheio de amargura, do pensador que sabia que as suas obras somente eram vendidas nas feiras do livro a preços irrisórios, para não serem vendidas a peso. Quantas vezes nos últimos anos, quando os amigos lhe perguntavam de longe a longe se andava a pensar algum livro, ele replicava com rápida mordacidade! - "Mas para quê? Neste país não se pensa: neste país...".




(...) Certo é que alguns dizem que os homens superiores nunca podem falhar; que o que eles realizaram é precisamente o que eles tinham a realizar. Perante a obra de Leonardo Coimbra (como perante a de Antero de Quental) tal teoria afigura-se-nos radicalmente irreflectida. De facto, os homens superiores podem falhar; e falham quase sempre. Em regra, o que eles realizam fica desmedidamente aquém do que lhes era possível. Ora, desde que um desses homens tem a consciência de que as suas melhores virtualidades foram contrariadas e esmagadas pelo que lhes é exterior, natural é que no seu espírito ecluda qualquer forma cancerosa de "desforra": nuns, essa "desforra" é uma simples abominação surda seguida do afastamento; noutros é a reacção colérica conducente à própria perda; noutros é o silêncio seguido de um desaparecimento enigmático, etc. Em Leonardo Coimbra foi a mordacidade implacável. Que é, porém, a mordacidade senão uma reacção ofensiva dos ofendidos? E quem sabe se, sem a intervenção fortuita e trágica do desastre, o seu fim não seria mais nitidamente uma acusação contra o meio?».

Santana Dionísio («Leonardo Coimbra»).

 

«Quem alguma vez ouviu José Marinho interpretar uma frase de Jesus, extraída dos Evangelhos, ou explicar um dos mais belos poemas da língua portuguesa, jamais esqueceu a maravilhosa mestria de quem facilmente abre, desenvolve ou desenrola os textos que foram escritos para transmitir só aos iniciados a verdade das doutrinas sagradas. Transitando do significado exotérico para o sentido esotérico, já não é o professor quem fala, mas talvez o sacerdote inspirado. Desta observação se infere a função que José Marinho pessoalmente atribui à filosofia, deslocando-a para a escolástica, segundo a honrosa tradição medieval.

É, para seus discípulos, evidente que a vocação espiritual de José Marinho se exprime no apelo de transcender a escolástica, a filosofia, o pensamento situado, na inquietação de alcançar a ideia pura. Enquanto outros pensadores, seus contemporâneos, opondo barreiras ou diques ao positivismo invasor – que ameaça anular amanhã as últimas características da cultura portuguesa, e até o idioma nacional, – iam escrevendo ensaios escolásticos sobre as relações da filosofia com a religião, com a pedagogia, com a política, com a literatura, etc., José Marinho, elaborava em segredo a sua obra-prima, que haveria de ser intitulada Teoria do Ser e da Verdade. Publicou-a em 1961, com plena consciência de que praticava uma "intempestiva ousadia" numa sociedade adversa aos livros de pensamento puro.



Traduzida em francês, inglês ou alemão, esta obra seria a demonstração perfeita da superioridade da filosofia portuguesa sobre todas as suas rivais estrangeiras; ela permanece ignorada e esquecida aquém e além fronteiras, por culpa de todos nós, que não sabemos cultivar nem aproveitar as verdadeiras fontes das nossas riquezas espirituais. Síntese poderosa de todas as teses enunciadas na filosofia contemporânea, ela é além disso verificada por uma dinâmica intenção mística. Ela realiza, com a superação da filosofia, a transcensão infinita que ao homem como tal é possível falar, dizer ou escrever».

Álvaro Ribeiro («Homenagem a José Marinho»).



A filosofia na formação do homem português, do homem que fala português e que pensa em português 


De lustro para lustro, ao fim de cinco anos, após a duração de um curso, volta-se a falar em nova reforma, em dar outra forma, ao articulado jurídico de estruturas escolares que parecem já caducas, inoperantes ou improdutivas. Tal resulta de olhar apenas para o que no mundo é efémero, transferível ou relativo, em vez de prestar atenção ao que a experiência tem demonstrado ser constante e improgressivo, tanto no educador como no educando. Quantas vezes se procura imitar o melhor modelo estrangeiro, tantas vezes se esquece o propósito essencial da formação do homem português, do homem que fala português e que pensa em português.

Tal não acontece, porém, em outros povos, e em outros estados, os quais não só cultivam ciosamente as filosofias que criaram ou que importaram, mas também as difundem por livros de apologética adequados à propagação de ideologias propícias ao domínio hegemónico sobre o pensamento estrangeiro. Ocioso será lembrar os exemplos históricos de indução falaciosa na construção de sistemas universais, porque tais factos de intercâmbio cultural demonstraram uma lição que se impõe à memória dos bons entendedores. A subordinação da política à filosofia, implícita ou explícita nos textos jurídicos, vai-se tornando evidente a quem sabe ler com atenção as mais recentes páginas da História, sem confundir as constantes com as variantes de acontecimentos progressivos para um fim remoto ou ignoto.






Durante séculos áureos da Nação Portuguesa, em que se verificou a hegemonia universitária da Escolástica, foi a filosofia predominantemente cultivada em latim e intimamente associada à religião. A disciplina promotora da liberdade de pensamento, enviada em sua forma aristotélico-jesuítica, esteve associada à disciplina seguradora da unidade da fé. Depois de 1772, instaurados o iluminismo liberalista e o sociologismo positivista, haveria o vulgo ignorante, mas bem falante de considerar como anacrónico, retrógrado, ou reaccionário o ensino da filosofia.

Ao longo do século XIX desenvolveu-se contra a Escolástica, não uma crítica minuciosa e certeira, mas uma injusta polémica, tendente a dissolver a relação perene entre a filosofia e a religião. Exaltada foi a liberdade de pensamento, mas tal liberdade deveria ficar subordinada ao determinismo da ciência, formando-se à margem deste círculo vicioso um campo propício às variantes da opinião. Alguns plumitivos chegaram até a doutrinar sobre os conflitos havidos entre a ciência e a religião, encobrindo numa expressão caracterizada pela impropriedade dos termos, intenções precursoras de agitação política e revolução social.

Eliminar a filosofia dos quadros do ensino público foi a aspiração confessada ou inconfessada de muitos reformadores políticos, mas a tal propósito obstavam não só os hábitos didácticos dos professores fiéis à nossa tradição escolástica, mas também o prestígio de que a filosofia gozava nas nações estrangeiras e nos congressos internacionais. Adentro das nossas fronteiras, a filosofia ia sendo também atacada pela licenciosidade dos literatos e parlamentares românticos; mas os escritores realistas, mais prudentes ou mais inteligentes, admitiram uma filosofia esboçada para complemento da enciclopédia científica, imitando o exemplo das celebridades estrangeiras. Ninguém elevou a voz para demonstrar que a exclusão da filosofia escolástica iria dificultar a autêntica e metódica investigação histórica do pensamento artístico, político e religioso do povo português; seria o factor mais profundo da adulteração da fisionomia espiritual da Pátria; aceleraria a dissolução da língua portuguesa no jornalismo escrito e falado para melhor aceitação das expressões de origem internacional.

A palavra «filosofia» permaneceu a designar uma das últimas disciplinas do curso dos liceus, mas tal disciplina, periodicamente reformada nos seus programas ou ministrada por livros estrangeiros, reproduz ainda hoje um método incompatível com uma didáctica vivente, do qual resulta a demissão da inteligência em que se propõe transitar para uma escola universitária. Seria inútil repetir ou resumir as críticas feitas por especialistas autorizados. Nos serviços públicos, desde o Curso Superior de Letras até à última reforma das Faculdades de Letras, nunca houve a intenção de formar filósofos entre os estudantes que para tal demonstrassem vocação ou aptidão, (a exemplo do que se praticou outrora quanto às carreiras eclesiásticas), porque sempre os legisladores atribuíram prioridade às disciplinas de história e à ordenação histórica dos tópicos dos programas, em detrimento das actividades especulativas que se reflectem no julgar, no conceber, no meditar, e que manifestam sua fecundidade pela elaboração de livros originais.




(...) Muitos processos há de excluir a filosofia, ou de fazer passar por filosofia o que é a sua contradição e contrafacção; maior é, porém, o número de artifícios de estilo para significar desdém ou aversão pelos filósofos que não se conformam com o destino injusto do anonimato. Desde o cumprimento insincero, e portanto irónico, mediante palavras lisonjeiras, até às práticas de ofensa, difamação e desonra que os jornais e as revistas acolhem para divertimento dos seus leitores, consolida-se aquela opugnação vulgar ou pública segundo a qual o qualificativo de filósofo é mais ou menos ridículo e, portanto, mais próprio para a comédia do que para a tragédia. Morrem os filósofos nas condições que a História regista para que o castigo social não deixe de recair sobre quantos se dedicam a uma forma de pensamento livre, independente de qualquer ideologia sectária ou partidária, motivados apenas pelo excelso amor da verdade.

(Álvaro Ribeiro, in «Homenagem a José Marinho»).

sábado, 26 de julho de 2025

O homem propriamente dito, na sua singularidade e universalidade

Escrito por Manuel Ferreira Patrício




«(...) disse-me várias vezes Leonardo Coimbra que o nosso sistema escolar faz cessar a evolução mental do português aos quinze anos. É verdade. Basta fazer a análise lógica dos compêndios escolares. Depois dos quinze anos tudo é ensinado a martelo, na intenção de reconduzir as novas e mais complexas noções aos esquemas da mentalidade pueril».

(«O Testemunho de Álvaro Ribeiro», em entrevista apresentada e conduzida por António Quadros).

 

«As minhas reflexões têm uma relação forte com a experiência de professor de filosofia no ensino secundário durante cerca de 10 anos. Não são reflexões abstractas. Vivi por dentro o ensino da filosofia no ensino secundário, entre 1966-67 e 1975-76. Confrontei-me quotidianamente com as dificuldades do ensino da filosofia a jovens adolescentes e posso imaginar as dificuldades que terão hoje os professores de filosofia, com alunos mais novos que os de então, com uma educação qualitativamente degradada e numa sociedade mais desvalorizadora da reflexão.

(...) Há uma menorização geral do ensino da filosofia na Europa, dentro e fora da União Europeia, o que não é grande sinal para o seu futuro».

Manuel Ferreira Patrício («Reflexões sobre o Valor Formativo do Ensino da Filosofia», in Philosophica, 6, 1995).





«(...) talvez induzido por algum popular em Montargil, cheguei a perguntar aos meus queridos Avós se já tinham ouvido falar num eventual filósofo por aquelas bandas. Lá me disseram que sim, que havia um, a caminho das Afonsas. Eu, que sempre fora um experimentalista, lá fui até dar, segundo indicação prévia, com a Travessa das Amendoeiras. Bati à porta e apresentei-me como sendo neto do Manuel Baptista. Entrei e, trocadas algumas breves impressões, dei-me logo conta de que não se tratava propriamente de um filósofo, mas, sim, de um professor universitário. Era o Manuel Patrício».

Miguel Bruno Duarte («Noemas de Filosofia Portuguesa»).

 

«Nas nossas meditações e na nossa modesta docência universitária temos proposto, defendido e utilizado [um termo] que nos parece mais perfeitamente adequado à essência e finalidade da educação: “antropagogia”. Por antropagogia entendemos a teoria e a prática da formação do homem na plenitude da sua humanidade».

Manuel Ferreira Patrício («A Pedagogia de Leonardo Coimbra»).


«Nem todos quando abstraímos temos força suficiente que nos ajude a abstrair, ou seja, a nossa intencionalidade na abstracção tem arcos diferentes – ou seja ainda, não há cavernas iguais nem com os mesmos limites. Podemos afirmar que numa construção da lógica aristotélica, quando pensamos o género, nem todos o compreendemos com a mesma amplitude, porque os arcos de entendimento e os vazios que possamos preencher, em suma, o valor da nossa subjectividade, é sempre variável. O Arco mais profundo é o da intencionalidade».

Luís Furtado («Teoria da Luz e da Palavra»).

 

«O Estado português, fundamentalmente positivista, não tem por missão essencial promover o cultivo da filosofia. Desta afirmação, que merece acordo unânime, inferimos e esclarecemos as consequências observadas naquele ramo de administração pública que até agora tem sido designado por instrução, educação ou escolaridade, o qual pressupõe opção por uma tese definidora da liberdade e do destino do homem em seu trânsito pelo mundo. Outrora referida à finalidade suprema de conhecer e amar a Deus, a vida humana é hoje, programada em obediência às ilusões da prosperidade material e da distribuição das riquezas pelos povos. A falta de uma disciplina ordenadora e coordenadora de todo o saber, a falta de uma filosofia nitidamente caracterizada por seus princípios, meios e fins, tem por consequência a impossibilidade de projectar e concretizar no quadro do ensino público uma instituição que mereça o nome de Universidade.  Um aglomerado de escolas em que falte a unidade, a monarquia, a teologia do saber teorético ou teórico, jamais poderá assegurar ou promover a realização da autêntica e verdadeira cultura. Há escolas superiores umas às outras; há escolas inferiores umas às outras; predomina o relativo sobre o absoluto; mas deste modo a pluralidade dispersiva das ciências, das técnicas e dos ofícios, se torna permeável a todas as contradições que, no tempo como no espaço, ameaçam a continuidade e a segurança do espírito que caracteriza a Nação».

Álvaro Ribeiro («Homenagem a José Marinho»).





O HOMEM PROPRIAMENTE DITO, NA SUA SINGULARIDADE E UNIVERSALIDADE


«Quando nós próprios começámos a pensar o homem e os problemas do homem – escreve Marinho – não tínhamos notícia de outra antropologia senão a científica». Ora esta antropologia considera sempre o homem analiticamente, nas suas «diversas formas de ser ou de saber ou de comunicar e agir». O homem propriamente dito, «na sua singularidade e universalidade, esse não o encontramos ali». Esse homem é o que José Marinho quer captar e por isso se orientou decisivamente para a antropologia filosófica: «A autêntica antropologia é filosófica, quer quando interroga sobre as origens do homem, quer quando interroga sobre a plenitude do homem ou no homem, efémera embora e fugitiva no ser singular que é cada um para si».

A grande interrogação antropológica é, pois, esta: «que é o homem?» Quem interroga? É já, é sempre, inevitavelmente o homem. Todavia, no concretíssimo da interrogação é um homem e um homem numa situação única. Quem interroga realmente sobre o ser do homem sou eu. À interrogação abstracta e insituada prefere Marinho a concreta e situada: «Deixando, pois, o caminho da interrogação primeira, decido interrogar-me a mim próprio e aos que me são mais próximos». É, pois, abandonada uma antropologia geral e assumida «uma antropologia interrogativamente situada aqui e agora, atenta a todo o diverso e divergente, ao que se diferencia ou diferenciou».



José Marinho

Marinho não opõe o universal ao singular. O singular humano – seja um homem, seja um povo, seja uma civilização – não nega o universal humano, pois este é o seu próprio fundamento e razão de ser. Todavia, universalidade não é homogeneidade. O filósofo português é fiel à primeira, mas não cede à ilusão da segunda. Essa foi a ilusão que a Europa viveu com o iluminismo e já antes dele – é hoje, porventura, a ilusão de muitos tecnoconstrutores da Europa comunitária. Diz Marinho: «Essa ilusão radicava na ideia de que o homem provinha de uma forma fixa e dada de uma vez por todas, ou de um género que se subdividisse em espécies, povos e seres singulares». Ilusão impotente perante a análise filosófica, que evidencia que «no homem o género não cobre toda a espécie, a espécie não cobre todo o povo, o povo não cobre toda a riqueza e potencialidade do ser singular».

Uma antropologia para portugueses tem, portanto, de acabar por ser – porque tem de começar por ser – uma antropologia portuguesa. Começa por sê-lo, porque a interrogação radical sobre o ser do homem é feita por portugueses. Acaba por sê-lo, porque a radicalidade da interrogação já envolve a radicalidade da resposta.

(...) Não chegou José Marinho a formular a o problema da antropagogia. E, todavia, é nesta que aquela se cumpre e é sobre a educação que se encerra o opúsculo de que vimos falando [Elementos para uma Antropologia Situada, 1966]. «Aprender tem toda a dimensão humana, permeia toda a vida do homem, desde o primeiro instante» – escreveu. Ora a uma antropologia situada só pode corresponder e só pode seguir-se uma antropagogia situada. O homem que é preciso educar é «o homem concreto aqui e agora» e não «um homem geral que não existe»; o homem que é preciso educar é «um ser concreto em perpétua descoberta de si para si próprio e para os outros».

(In Manuel Patrício, Lições de Axiologia Educacional, Universidade Aberta, Lisboa, 1993, pp. 221-223).



quarta-feira, 16 de julho de 2025

Só o indivíduo vive, só o indivíduo pensa e sente

Escrito por Fernando Pessoa

 



A plebe só pode compreender a civilização material. Julgar que ter automóvel é ser feliz é o sinal distintivo do plebeu.

 

1. A única realidade social é o indivíduo, por isso mesmo que ele é a única realidade. O conceito de sociedade é um puro conceito; o de humanidade uma simples ideia. Só o indivíduo vive, só o indivíduo pensa e sente. Só por metáfora ou em linguagem translata se pode aludir ao pensamento ou ao sentimento de uma colectividade. Dizer que Portugal pensa, ou que a humanidade sente é tão razoável como dizer que Portugal se penteia ou que a humanidade se assoa.

2. Sendo o indivíduo a única realidade social, não é todavia o único elemento social. Esse indivíduo vive em dois meios ou ambientes – um o ambiente físico, outro o ambiente social, ou sociedade. É esse o valor do elemento sociedade – é o meio, um dos meios, em que o indivíduo vive. O sábio realismo de Aristóteles viu isto bem; e assim se assentou a tese política grega – que a sociedade existe para o indivíduo, que não o indivíduo para a sociedade.

Sendo o indivíduo a única realidade social, é o egoísmo a única qualidade real, embora, por disfarces vários e artifícios diversos se construíssem, no decurso da evolução social (não digo do progresso, porque não sei – nem ninguém sabe – se existe progresso) sentimentos altruístas, afinamentos dos instintos.

Para que o indivíduo possa ter uma vida social que lhe seja um elemento de desenvolvimento, ou, em outras palavras, para que a sociedade seja um ambiente favorável ao desenvolvimento do indivíduo, é forçoso que se faça assentar essa sociedade num conceito egoísta. Assim se formam naturalmente nações. A nação é o segundo elemento social primário. Os homens não se agrupam fraternitariamente senão por oposição. Sempre nos unimos para nos opormos. Isto é, aliás, um princípio lógico: definir é limitar.

(In António Quadros, Fernando Pessoa – A Obra e o Homem, II Vol., Arcádia, 1.º edição, 1982, pp. 209-210).



quarta-feira, 2 de outubro de 2024

Esgrima Lusitana no Rio de Janeiro, Brasil, de 6 a 12 de Janeiro 2025

É com muito prazer que anunciamos a realização de um Seminário excecional de Esgrima Lusitana orientado pelo mestre Nuno Russo no Rio de Janeiro, Brasil - de 06 a 12 de Janeiro 2025!

Este seminário é um evento único e é acessível a todos, com ou sem experiência prévia em Jogo do Pau Português.

Para mais informações, é favor contactar o organizador, o agente de ensino Mauro Monteiro:

tel: (0055) 21 986645071.







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quarta-feira, 12 de junho de 2024

“Da maneira de ferir despada” à esgrima portuguesa de pau

Escrito por Paulo Lopes





O Leal Conselheiro é um livro escrito pelo Rei D. Duarte I, compilado por volta de 1438, ano da sua morte. A obra é um tratado de 103 capítulos sobre ética e moral destinado a ser lido por membros da corte. Junto a este livro, D. Duarte escreveu outro com o nome de Livro da Ensinança de Bem Cavalgar Toda Sela, deixado incompleto com a sua morte. Considerado um dos manuais mais antigos sobre hipismo e justa equestre medieval.

No capítulo XIII, «Da maneira de ferir despada», o monarca explica de forma pormenorizada as várias maneiras de poder ferir bem um adversário com uma espada:

«Sobre os avysamentos pera bem ferir despada, a mym parece que razoadamente a cavallo se pode ferir per quatro maneiras: primeira, de talho travesso; segunda, de reves; terceira, fendente de cima pera baixo; quarta, de ponta

Ver aqui, aqui e aqui

Nestes textos é possível constatar a igualdade técnica e táctica do manejo da espada com o manejo do pau no JPP [Jogo do Pau Português], bem como a semelhança dos nomes dos ataques.

No JPP existem basicamente oito ataques de base desferidos aos lados esquerdo e direito do oponente, sendo estes:

- Dois ataques «redondos»:

Ataques paralelos ao chão, ao nível do ombro do adversário, identificado no livro como “travesso”.

Sendo o “talho” um corte da direita para a esquerda, um “talho travesso” seria um ataque redondo pela direita. O ataque “revés” também indicado no livro, seria um ataque da esquerda para a direita. O golpe “travesso” também poderia ser chamado de golpe de “travez”[1].

- Dois ataques «arrepiados»:

Ataques oblíquos de baixo para cima.

Para permitir o movimento dos braços, poucas armaduras protegiam a área da axila, podendo este ataque ser bastante fatal. Uma lâmina podia penetrar aqui e chegar até o pescoço ou o tórax. Os jogadores antigos chamavam a este golpe um “revesso” ou de “revés”[2]. O rei cita o termo “revés”, mas aqui, este termo pode ser interpretado como um golpe arrepiado, ou, como um golpe da esquerda para a direita (como explicado nos redondos).

 



Uma «Ponta» (pontoada ou estocada):

Ataque normalmente directo à cara ou ao plexo solar.

Identificado no livro como “ponta” também.

Numa armadura, por mais fechado que fosse qualquer capacete ou elmo, sempre havia uma abertura para não bloquear a visão.

 – Um ataque «de alto a baixo»:

Ataque desferido directamente à cabeça de cima para baixo.

Identificado no livro como “fendente de cima pera baixo”.

– Dois ataques «enviesados»:

Como o ataque de alto a baixo, são ataques desferidos de cima para baixo, mas de forma oblíqua. Podendo estes serem altos à cabeça, médios ou baixos às pernas. No livro, podemos ler:

«(...) com a espada bem apertada na maão faça [o] seu golpe, non todo travesso nem de cima pera baixo, mes em vyes [enviés] (...)».

Na era medieval, com o uso de armadura, o ataque seria mais fatal de forma oblíqua ao pescoço do que ao topo da cabeça, protegida com um capacete ou elmo. No caso de um ataque enviesado baixo, este seria ao joelho, que estaria protegido por uma dobra.











Tecnicamente no JPP todos estes ataques são feitos em rotação (salvo a «ponta») e de forma descontraída e fluida. Aqui quando aplicada a força, compromete a velocidade da rotação e consequentemente a da vara, sendo o ataque mais forte quando dado em “soltura”, como é referido no livro.

Quando vindo a cavalo:

«(...) e se em viindo o cavallo, da soltura do corpo, do braço juntamente, o golpe era mayor em grande avantajem.»

Estando a pé, a sua postura seria:

«(...) firmando-se sobre as pernas solte bem o corpo e o braço, com a espada bem apertada na maão faça seu golpe (...) E pera ferir de reves, da soltura do braço sollamente se deve fazer.»

In Paulo Lopes, O Jogo do Pau Português – A Arte Marcial Portuguesa, 1.ª Edição: Novembro de 2020, pp. 136-138.



[1] “D. Pedro, ouvindo-o, deu-lhe um golpe de travez que o decapitou”, in “A vida de Nun’Álvares; história do estabelecimento da dynastia de Aviz”, 1893, p. 277.

[2] Palavra de origem latina reversus, que pode significar “golpe ou cutilada dado obliquamente”, in https:// dicionario. Priberam.org/rev%C3%A9s [consultado em 28-08-2019].