Dominique de Roux em Moçambique, com o actor francês Maurice Ronet. |
A tese do autor é a seguinte: Portugal foi o último dos impérios e seu termo, dado agora, abre a história da humanidade para o Quinto Império, aquele que, anunciado nos libros da tradição mais sagrada e mais secreta, será o império da universalidade. Em termos mais correctos: encerrado o longo ciclo de imperialismo, a humanidade vai entrar no ciclo do universalismo. Ao poder na terra e no tempo, sucederá o poder do uno e do espírito. A dissolução do último império terrenal, equivale à putrefacção, ou saturnificação, onde germinará a flor.
No que tem de narrativo (toda a história da preparação e execução do 25 de Abril), o livro de Dominique de Roux é uma minuciosa descrição de um povo putrefacto. A famosa lamentação shakespereana de que «alguma coisa está podre no reino da Dinamarca», pode completar-se agora com a exultação de que «tudo está podre no reino de Portugal». Isso explica que, sendo este livro o mais interessante e valioso de quantos se publicaram sobre Portugal, seja também o mais silenciado, o que «ninguém leu», o que nenhum jornal noticiou. Com efeito, todos ali figuram mergulhados na podridão, desde os campeões militares e os caudilhos políticos que executaram o golpe até aos homens e mulheres mais em evidência na velha e na nova sociedade portuguesa. Todos são descritos «en su tinta»; os campeões militares, por exemplo, surgem em ambientes e actos, em que o autor também participou, vividos na guerra do Ultramar de cuja realidade e sentido todos foram igualmente ignorantes, moscas saturninas e tontas.
Dominique de Roux em Angola, com o líder terrorista da UNITA, Jonas Savimbi. |
Ao lermos o «Cinquième Empire», mais uma vez evocamos o antiquíssimo mito de como tantas vezes se vai procurar longe o que se tem à mão. Procurando a «flor azul» na distância impossível de percorrer», Dominique de Roux só pôde conhecer, do último império, a putrefacção. Nunca foi aonde o mito do império do espírito é todos os anos celebrado, embora ponha em epígrafe do seu livro um poema de Natália Correia, e não mostra conhecer (exceptuada uma apressada alusão a António Telmo) aqueles que, como Agostinho da Silva, melhor lhe poderiam falar. O jornalista atraiçou o intelectual. Ofuscado pelas vedetas, passou ao lado do que buscava e não o viu. Condenou-se a só ver a podridão (in Escola Formal, 1977, n.º 4, p. 19).
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