quarta-feira, 23 de abril de 2014

Jesus, Filho de Deus

Escrito por António Correia de Oliveira







Jesus, Filho de Deus, segundo Adão,
Palavra de humaníssimo sentido
E verbo que só Anjos saberão:

Tu, que já eras, antes que surgido
O mundo fosse, e Pai celestial
Antes de nosso filho haver nascido;
Tu, que, da glória e luz primordial,
Para ensinar os homens te fizeste,
Como qualquer, seu companheiro e igual;

Tu, que inspiraste a lei, e a obedeceste:
Pois, se nos deste a morte, em maior dor
Te deste a vida em que por nós morreste;

Tu, cuja mão de Amigo e Criador
Ao mesmo tempo afaga as criancinhas,
Sustém os astros, desabrocha a flor;

Tu, que as ondas do mar em paz continhas,
E as iras do Senhor contra o seu Povo
Amansavas em ti por onde vinhas;

Tu, que no céu longínquo, frio e covo
Qual a palma da mão fechando em nada,
Um Céu abriste, todo cheio e novo;

Tu, chama e alvor da quieta Madrugada,
Em torno à qual os orbes resplendentes
Lembram aves da noite em debandada;

Tu, que baixaste à escuridão das gentes;
E aos cegos deste a luz deslumbradora,
Um outro olhar aos olhos dos videntes;

Tu, Rei dos Anjos entre a luz sonora,
Senhor do espaço infindo e tempo eterno
De aquém e de além vida, noite e aurora;

Tu, doce e meigo como o sol de inverno,
Peregrino do Céu, batendo, à entrada,
Três argoladas aos portais do Inferno:

Pelo Nome do Padre; uma chamada;
Segunda, pelo Filho; a derradeira,
Pelo Espírito Santo, imensa e alada;

Tu, que desceste para a nossa beira,
Trazendo a paz, o amor, a fé, a esp'rança
Ao que a não tem e de verdade a queira;

Tu, que chamaste a tímida criança,
O triste, o humilde, o pobre, o abandonado,
E, em tua mão trazendo uma balança,

Para julgar o trânsfuga, o culpado,
Sorrindo, a Cruz lançaste, ao peso todo,
Não contra o infeliz, mas a seu lado:

- Senhor! onde é que vais, por esse modo,
Teus pés, afeitos ao veludo etéreo,
Mais do que espinhos, recalcando o lodo?

Verbo Ser e Verbo Amar


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