«Nenhuma organização reivindicou a responsabilidade pelo atentado ao World Trade Center».
Michael Pohly/Khalid Durán («Ussama Bin Laden e o Terrorismo Internacional»).
«Hoje, os Estados Unidos procuram destruir os mesmos acampamentos que a CIA ajudou a erguer para os guerrilheiros da Al-Qaeda. Robert Fisk, que conhece a região e que manteve contactos com Bin Laden no seu acampamento, diz numa entrevista que este não lhe pareceu ser o tal grande terrorista internacional que os EUA pretendem que seja. Pelo contrário, ele é um homem isolado e só, constantemente tentando saber o que se passa nas outras partes do mundo.
O anuário de referência Who's who?, desde 1999, que vem mencionando Bin Laden no meio dos magnatas, dos políticos e dos aristocratas e sem qualquer menção de um endereço conhecido: "Usamah bin Laden, chefe de guerrilheiros saudita".
No dia 11 de Setembro, tudo se alterou para Bin Laden. Se até aí as perseguições não lhe permitiam um sono sossegado, agora, cada minuto é de vigília e de espera. Não que a proximidade eventual da morte o atormente; Usamah disse um dia que o facto de continuar vivo quando tudo faria querer que não resistiria aos ataques soviéticos no Afeganistão, é para si como que um tempo extra sobre a Terra - um bónus de Alá - que vai aproveitando para O servir como melhor pode e sabe.
Quanto ao resto do clã Laden, e até ao ataque em Nova Iorque, a vida vinha decorrendo como se um dos seus membros não fosse já o homem mais procurado do mundo.
Contudo, a 15 de Setembro, numa reunião em Cannes, em casa do irmão Yeslam, ficou decidido o retorno de todos os membros da família para Djedda.
No dia 18 ao final do dia, cinco limusinas negras, escoltadas por funcionários do FBI, chegaram a uma zona reservada do aeroporto de Boston-Logan. Cerca de trinta árabes, todos de nacionalidade saudita, alguns mesmo com passaportes norte-americanos, dirigiram-se a uma das pistas onde os aguardava um Boeing 727 especial, com apenas quarenta luxuosos lugares de primeira classe. Uma semana após a destruição das torres gémeas, parte dos membros da família Laden, por ordem do rei Fahd, abandona os EUA, vindos do Texas, onde tinham passado o dia numa propriedade secreta. Antes da aterragem na Arábia Saudita, todos os Laden despiram os seus fatos cinzentos e enfiaram as túnicas brancas iguais à do irmão Usamah».
R. Carmo e C. Monteiro («Eu, Mujahid Usamah Bin Ladin, O Homem Invisível»).
Mohamed Ibn Abdelwahab reformara as suas opiniões religiosas com base na ideologia iniciada por Ibn Taïmiya. Convidou então todos os muçulmanos da península arábica a aderir ao que julgava ser a forma perfeita do Islão. A sua leitura extremista da religião ensinava que tudo o que surgiu no Islão depois da geração do Profeta e dos seus discípulos é uma bidaa, e portanto, na sua opinião, algo que deve ser combatido por todos os meios. Na sua opinião, o Islão puro é o do salaf [literalmente: os predecessores], ou seja, aquele que é praticado pelos companheiros do Profeta. Recusa qualquer ideia de modernização do Islão e qualquer evolução dos princípios islâmicos. Para ele, o Corão é um texto "válido em todos os lugares e em todos os tempos" e, por conseguinte, ninguém devia afastar-se da sua leitura literal.
(...) O wahhabismo foi endossado pela tribo de Al-Saud que reinava então pela força numa parte da península arábica e cujos descendentes se tornaram hoje os "servidores dos lugares santos do Islão". Foi esta aliança entre o sabre (Al-Saud) e a ideologia (Mohamed Ibn Abdelwahab) que deu nascença, em 1744, ao embrião daquilo que iria tornar-se a Arábia Saudita. Um juramento de fidelidade mútua entre o poderoso emir da região, Mohamed Al-Saud, e o poderoso teólogo Mohamed Ibn Abdelwahab selaria essa aliança. O wahhabismo torna-se então o guia oficial do emirado. As conquistas que os Saud empreenderam mais tarde na região acabaram por criar o reino da Arábia Saudita e os outros emirados do Golfo, Estados que os ocidentais e, nomeadamente, os britânicos, acabarão por desenhar com todas as suas linhas após a Primeira Guerra Mundial, no seguimento da queda do Império Otomano. O wahhabismo torna-se o sistema sócio-político oficial em vigor na Arábia Saudita e em todos os outros emirados. Todos estes Estados serão então regidos pela Sharia. Considerando a Sharia como lei divina, a Arábia Saudita e todos os emirados do Golfo estimam como nula qualquer lei de origem humana que entrar em contradição com ela. Assim acontece por exemplo com a Declaração Universal dos Direitos do Homem, totalmente inaplicáveis num sistema que ainda hoje autoriza várias formas de escravatura, viola os direitos das mulheres, amputa os ladrões, lapida mulheres e homens adúlteros, etc.
Profeta Maomé recitando o Alcorão em Meca (gravura do século XV). |
Miniatura persa que retrata a ascensão de Maomé ao céu. |
Allah em árabe num medalhão na Hagia Sofia (Istambul). |
Interior da Basílica de Santa Sofia |
Quando os primeiros jazigos petrolíferos foram descobertos durante os anos 30, os britânicos e os americanos fizeram desse Estado teocrático dirigido por ditadores fanáticos e sanguinários o seu principal aliado na região. Fecharão naturalmente os olhos sobre todos os atentados aos Direitos do Homem e sobre todas as práticas supostamente contrárias aos seus valores.
Com o decorrer dos anos, a Arábia Saudita implementará uma estratégia baseada no dinheiro gerado por um maná petrolífero inesgotável, para propalar o wahhabismo através do mundo. Ao permitir a sua expansão, os sauditas queriam contrariar, desse modo, os defensores de outras correntes islâmicas enquanto os ocidentais procuravam abalar os nacionalismos que despontavam nos países árabes. Nas mesquitas de Meca e Medina, incitam-se os jovens muçulmanos vindos dos quatro cantos do mundo a rebelarem-se contra os seus regimes respectivos tanto mais que estes últimos eram, na maioria dos casos, aliados muito próximos da URSS. Este é outro motivo pelo qual os americanos e britânicos não se sentiam minimamente incomodados pela propagação desta doutrina violenta e obscurantista; muito pelo contrário, em plena guerra fria isso dava uma ajuda aos negócios da maioria dos países ocidentais. Os islamistas opunham-se então aos nacionalismos árabes como o do egípcio Nasser ou, mais tarde, o do sírio Al-Assad.
Além disso, a Arábia Saudita não tardará a tornar-se o financiador por excelência de todos os partidos e regimes islamistas sunitas, bem como de todos os movimentos islamistas através do mundo. Apoiará os micro-estados da península arábica e, mais tarde, o Paquistão, a Indonésia e todos os países que tinham decidido instaurar a "lei divina" na Constituição.
(...) Em 1979, Osama Bin Laden obtém o diploma de engenharia civil. Já frequenta os meios islamistas sauditas. Esse é também o ano em que o ayatollah Khomeiny triunfa com a sua "revolução islâmica" no Irão e em que o exército soviético invade o Afeganistão. Ainda estamos em plena guerra fria. Os estrategas da Casa Branca e do Pentágono elaboram um plano diabólico que vai permitir-lhes realizar um sonho que acarinham de longa data: enfraquecer a URSS e levar o Exército Vermelho a passar por aquilo que o Exército americano passara alguns anos antes no Vietname. Desta vez o teatro das operações será o Afeganistão, país povoado por etnias e tribos guerreiras que não terão decerto medo de enfrentar uma potência mundial.
Os americanos porão em prática a sua estratégia apelando a dois aliados que também tinham interesses estratégicos neste conflito: a Arábia Saudita e o Paquistão.
Para a Arábia Saudita esta guerra ia permitir exportar a ideologia wahhabita para as portas do continente asiático e instaurar um regime que defenderia a sua ideologia. E, para os sauditas, exportar o wahhabismo para o Afeganistão era mais importante do que para qualquer outro lado. Este país tem uma fronteira com o Irão de Khomeiny, um Estado teocrático que pratica um Islão xiita, profundamente hostil ao wahhabismo e, por conseguinte, à Arábia Saudita e ao seu regime, e susceptível de estender a sua "revolução" aos países vizinhos. O prolongamento do wahhabismo era portanto estratégico para a Arábia Saudita. Esta ideologia devia alcançar as portas do Irão e impedir o ayatollah Khomeiny de exportar uma "revolução islâmica" nascente.
Quanto ao Paquistão, tinha outras preocupações. Desde a sua criação em 1947, este país viveu sempre com a Índia, seu vizinho, uma situação que nem era bem de guerra nem propriamente de paz, pontuada periodicamente por conflitos. O Paquistão precisava de um aliado seguro nas suas fronteiras a Oeste e, sobretudo, de um Estado que não estivesse sob a alçada da Índia. Foi assim que os paquistaneses também se implicaram - indirectamente - na guerra. Formou-se então uma aliança tripartida, constituída pelos Estados Unidos, a Arábia Saudita e o Paquistão. Subtilmente, os membros desta "associação" dividiram os papéis entre si. Através da CIA, os americanos deviam armar e financiar os combatentes afegãos; através do seu exército e dos seus serviços secretos, o Paquistão devia treinar os combatentes e assegurar-lhes a logística, formando uma base de retaguarda para os guerreiros afegãos e, por fim, a Arábia Saudita, para além do financiamento, devia exportar não só a ideologia wahhabita como inflamar os jovens muçulmanos, transformando-os em combatentes pela "causa afegã". Hoje calcula-se que mais de 35 000 combatentes árabes partiram para as trincheiras afegãs entre 1979 e 1989. Vinham de uns cinquenta países; havia obviamente sauditas, mas também egípcios, magrebinos, iemenitas, sírios, iraquianos, etc.
Durante dez anos os americanos não cessaram de enviar armas, munições e material. A CIA supervisava de muito perto o desenrolar das operações. Segundo certas estimativas, a central americana de informação deixou três mil milhões de dólares no Afeganistão e tudo isto ocorria quase publicamente: Zbigniew Brzezinski ou ainda Warren Christopher, conselheiros de Jimmy Carter tal como, depois, conselheiros de Ronald Reagan, iam visitar regularmente os combatentes afegãos e árabes nos campos de treino.
Zbigniew Brzezinski |
Ronald Reagan |
Em Março de 1985, o presidente Ronald Reagan assina a directiva de segurança nacional n.º 166, que autoriza uma ajuda militar secreta aos combatentes afegãos. Esta iniciativa tinha como objectivo combater o exército soviético. A nova ajuda dos Estados Unidos foi marcada por um considerável aumento da quantidade de armas fornecidas. Não obstante, escaldadas pelas guerras secretas empreendidas pela CIA contra Cuba e o Laos, as autoridades americanas decidem não envolver os seus agentes em território afegão. A vertente operacional será assegurada pelos agentes do Inter Service Intelligence (ISI), o poderoso serviço paquistanês de informação, que traziam todo o seu saber em matéria de guerrilha aos chefes de guerra afegãos.
Utilizando os serviços de informação paquistaneses, a CIA desempenhava um papel-chave no treino dos combatentes afegãos, então chamados mujahedin ["combatentes da guerra santa"]. A conotação religiosa deste qualificativo e aquilo que ele podia comportar como sentido não embaraçava ninguém. Aliás, os combatentes apoiados pela CIA tinham integrado um estrito ensino religioso na sua preparação militar. Os Estados Unidos desejavam que fosse uma "guerra de religião" para os afegãos, e não uma guerra de libertação.
(...) Os americanos manipulavam os islamistas fazendo-os crer que os consideravam como "revolucionários que combatiam pela liberdade". Se nessa época emissários da administração americana visitavam campos de combatentes afegãos, isso não significava de modo algum que os homens de Washington estabelecessem laços directos com os combatentes. A central americana de informação "geria" estes combatentes através, nomeadamente, dos serviços secretos paquistaneses e sauditas. A esse propósito, a ideia segundo a qual Bin Laden teria sido um agente da CIA tem mais a ver com um fantasma jornalístico e intelectual do que com a realidade.
Vários motivos levam-me a dizê-lo com esta brutalidade. Em primeiro lugar, essa informação que ainda vai sendo alimentada em certos meios mediáticos demonstra um desconhecimento total da ideologia islamista. Com efeito, os integristas muçulmanos - sobretudo os da estirpe de um Bin Laden - não se autorizam estar a soldo de um não-muçulmano. Baseando-se no versículo corânico que estipula: "Não tomais os judeus e os cristãos como aliados...", os islamistas consideram como um "renunciador" qualquer muçulmano que milite pela causa de um não-muçulmano. Ora, Bin Laden nunca se teria aventurado a colocar-se nessa posição. Aliás, se a CIA tivesse divulgado nem que fosse a sombra de uma prova que mostrasse laços eventuais entre ela e o milionário saudita, este já teria sido eliminado pelos seus próprios homens pois, sempre ideologicamente falando, a execução do "renunciador" prima sobre a execução do "infiel". Em segundo lugar, na época da guerra contra a URSS, Bin Laden ainda não era o que é hoje. É certo que desempenhou um papel não negligenciável mas, para a CIA, ele era menos importante do que os chefes de guerra afegãos. Por fim, convém precisar que o próprio Bin Laden considera como um insulto a alegação pretendendo que ele foi um agente da CIA. Como todos os islamistas, foi manipulado pela CIA, mas nunca trabalhou para a agência de informações de Langley. Em Dezembro de 1998, durante uma entrevista concedida a Jamal Ismail, jornalista da Al-Jazira, o canal televisivo do Qatar, Osama negou categoricamente esta alegação, desafiando a administração americana: "...os americanos mentem quando pretendem que colaboraram connosco em dada altura e nós desafiamo-los a fornecerem qualquer prova. Muito pelo contrário, eles representavam um peso para nós. (...) Já nessa altura lhes éramos hostis e, graças a Alá, tivemos conferências desde essa época, em Hedjaz e Nejd, em que declarámos, há mais de doze anos, a necessidade de boicotar os seus produtos e de atacar as suas forças e a sua economia". Não é possível ser mais claro.
(...) A 23 de Agosto de 1996, Bin Laden divulga, a partir do Afeganistão, uma verdadeira "declaração de guerra" contra os USA. Na realidade, oficializa de certo modo as ameaças que não deixou de reiterar desde há uma década. Nessa declaração, promete aos americanos e aos seus aliados "uma guerra longa e impiedosa até à libertação dos Lugares Santos". Começa então a falar de Al-Qaeda nos meios especializados.
Já o suspeitam de ter estado por trás do atentado cometido a 25 de Junho de 1996 contra a base americana de Khobar, na Arábia Saudita, que causara dezanove mortos. Ele qualificará esta operação de "grandiosa", mas negará sempre a sua participação. Mais tarde descobriu-se que fora realmente uma operação da Al-Qaeda.
O que é a Al-Qaeda? Literalmente, a palavra significa "A Base", mas esta denominação não foi escolhida fortuitamente. Com efeito, a organização existe sob uma forma embrionária desde o final da guerra contra os soviéticos no Afeganistão. Ao recuperar os ficheiros do Maktab Al-Khadamat no final da guerra, Bin Laden conseguira ficar em contacto com os seus antigos "companheiros de armas" que mais tarde iriam formar a "base" da sua organização, isto é, Al-Qaeda. Com efeito, ao observar atentamente o organigrama da organização terrorista, é evidente que, em 1998, a estrutura dirigente, na ocorrência Bin Laden, Aiman al-Zawahiri, Mohamed Atef, Abu Mossab al-Zarqawi, etc., eram todos antigos "legionários" afegãos. É a partir dessa base de veteranos do Afeganistão, muitos deles regressados aos seus países de origem, que Bin Laden consegue criar uma organização de múltiplas ramificações. A ideia da criação de Al-Qaeda tinha aliás começado por germinar na cabeça de Abdallah Azzem por volta do final dos anos 80, e em 1988, ele evocou o assunto a três homens: Osama Bin Laden, Mohamed Atef, também conhecido como Abu Hafs, al-Masri, e Aiman al-Zawahiri, que se tornará o número dois da organização terrorista.
Na filosofia dos seus dirigentes, Al Qaeda devia servir nomeadamente como elemento federativo para todas as organizações islamistas espalhadas pelo mundo, que até então tinham objectivos divergentes e regionais: Al-Qaeda reuniu-as em torno de um único denominador comum: a realização de uma jihad planetária».
Mohamed Sifaoui («Onde está Bin Laden? O Jogo Duplo dos Americanos»).
«O termo "salafismo" designa a escola de pensamento que apareceu durante a segunda metade do século XIX e que defendia, por reacção à propagação das ideias europeias, o retorno à tradição dos "antepassados piedosos" (salaf). Os salafitas são, no sentido exacto do termo, "integristas" do Islão, hostis a qualquer inovação, descrita como "interpretação humana" da lei e da ordem divinas. Os "salafitas combatentes da jihad" são adversários dos Irmãos Muçulmanos, de quem denunciam a excessiva modernidade, que os leva a tomar demasiadas liberdades com a letra dos textos sagrados. Consideram que a situação no mundo muçulmano está madura para se passar à ofensiva, e conduzir, quando for ocasião, a jihad que levará à proclamação do Estado Islâmico.
Neste sentido são todos simultaneamente herdeiros do grupo egípcio chamado Tanzim al-Jihad (Organização da Jihad), que assassinou o presidente Sadate em Outubro de 1981, e de Abdullah Azzam.
Os salafitas combatentes da jihad têm uma filiação pessoal com os assassinos de Sadate, pois um bom número de militantes que gravitavam à volta destes, depois da sua prisão e do seu processo no Egipto, juntaram-se-lhes nos campos de Peshawar a partir de 1984-1985, quando começaram a ser libertados aqueles que tinham sido condenados às penas mais leves.
Quanto a Abdullah Azzam, que se manteve como Irmão Muçulmano de obediência estrita, ele está muito ligado ao establishment saudita a favor do qual canaliza o ardor dos militantes islamistas do mundo. Além do Afeganistão, todos os países muçulmanos "usurpados" têm, segundo ele, vocação para suportar a jihad que os conduzirá de volta à submissão à autoridade de um poder islâmico. Isso diz respeito antes de mais à sua Palestina natal, mas também à Andaluzia arrancada ao Dar el Islam pela Reconquista, às Filipinas da Frente de Libertação Moro, às Repúblicas muçulmanas da ex-União Soviética, vizinhas do Afeganistão, e ao Iémen do Sul ainda comunista nessa altura, particularmente execrado por Riade. Nesta lista de Estados "a libertar", misturam-se Estados cujos governos não são muçulmanos e outros em que os muçulmanos são maus crentes.
Afastado do mundo e das suas realidades, este grupo de militantes armados, treinados e alimentados por uma ideologia que chama ao combate para restaurar os direitos de Deus, pretensamente violados pelo mundo, os salafitas combatentes da jihad, vai virar-se rapidamente contra os principais Estados Ocidentais, como a França ou os Estados Unidos, que tinham servido anteriormente de aliados e depois de refúgio para alguns veteranos afegãos. Estes Estados vão tornar-se alvos de ataques terroristas que perturbarão os equilíbrios internacionais construídos depois do fim da guerra fria. Assim, alguns dirigentes dos combatentes da jihad, que deixam o Afeganistão depois do fim do conflito, procuram asilo na Europa, a partir de 1992, para reconstruírem aí redes de financiamento, de aprovisionamento das frentes, de informação e de comunicação, necessárias para a continuação da jihad com vista à instauração do Estado islâmico no Afeganistão e à preparação das futuras jihad noutros locais.
(...) Jeff Gerth e Judith Miller, jornalistas do New York Times, mostraram no decurso de uma investigação que [a] privatização do terrorismo era, sobretudo, imputável a homens ricos de negócios do Golfo Pérsico. Assim, escreveram eles: "A maior parte dos fundos destinados aos terroristas que atacam os americanos, israelitas e súbditos dos países ocidentais, vem de indivíduos ricos da Arábia Saudita ou de outros Estados do Golfo Pérsico, aliados dos Estados Unidos".
Perante esta nova forma de terrorismo, o departamento de Estado americano vai a pouco e pouco tentando recuperar do seu atraso na matéria. É por isso que o relatório anual do departamento de Estado, em 1995, sobre o terrorismo global, faz brevemente o ponto sobre o papel destes financeiros privados. Philip C. Wilcox, chefe do departamento de Estado para o contra-terrorismo, afirma que o Hamas e outros grupos de combatentes da jihad receberam em 1995 fundos provenientes de doadores de países do Golfo Pérsico, mas também dos Estados Unidos. Muitas vezes esses fundos com origem em árabes ricos são encaminhados para os grupos terroristas islâmicos por intermédio das organizações caritativas a que já nos referimos.
São os atentados antiamericanos no Médio Oriente que levaram os serviços americanos - o departamento de Estado, a CIA, o FBI e o ministério do Tesouro - a intensificar a sua vigilância sobre os potenciais apoios privados desses grupos. Mas combater esses carreiros de financiamento, muitos dos quais passam por organizações caritativas, é muito mais complexo do que identificar um Estado empregador de um grupo terrorista. Neste caso, basta decidir das sanções a aplicar-lhe, deixando-lhe o cuidado de resolver ele próprio o problema do seu terrorismo, se quiser obter o levantamento das sanções. Um exemplo entre mil: o caso Khalifah. Em 1996, Khalifah era detido nos Estados Unidos, acusado de ter financiado uma organização terrorista. Tinha sido condenado à morte, por contumácia, pela justiça jordana por ter estado implicado numa rede de financiamento de uma organização terrorista cujo objectivo era assassinar súbditos americanos e judeus. Segundo os serviços de informações jordanos, Khalifah também teria participado num caso de financiamento de um campo de treino nas Filipinas. Ora, em sua defesa, fez valer que era membro da International Islamic Relief Organization, uma organização caritativa financiada pelo governo saudita. É verdade que contra ele jogou o facto de outros membros desse grupo terem reconhecido que essa organização fornecia fundos ao Hamas. Quem é Khalifah? Um dos numerosos cunhados de Usamah bin Laden.
Com esta privatização progressiva do terrorismo internacional, Usamah bin Laden, que é disso o principal responsável desde o início da jihad afegã, introduziu na história do terrorismo, é necessário que se diga, uma mudança radical que mergulha mais ou menos no desconhecido os serviços de segurança e de contra-terrorismo do mundo».
Florent Blanc («Bin Laden e a América»).
«Em que mundo vivemos. Operações de propaganda e guerra psicológica de estados-nação em conflito dizem-nos que o preto é branco e o branco é preto, estas mentiras e falsidades criam zonas cinzentas, o reino das operações dos Senhores da Sombra. Pois, quando os governos operam em extremo secretismo, permitindo que as suas agências de informação funcionem com impunidade e sem fiscalização, então os nobres ideais da arte de governar podem ser sequestrados pelos Homens dos Bastidores, colocando os estados-nação uns contra os outros, numa dança hegeliana de conflito e resolução.
Os ataques em solo americano em 2001 foram alimentados por uma ameaça muito maior do que o simples ódio cego posto em acção por insurgentes islâmicos a partir dos seus refúgios no Afeganistão e no Paquistão. Esses actos provém de trás da paisagem bidimensional de lados opostos diariamente apresentada pelos sabichões e comentadores. Esses jogos de sombras perturbam-nos as vidas com corrupção descarada e agendas sobrecarregadas e fazem-nos saltar continuamente de uma "crise" para outra. Esta aberração, qual monstro escondido, conduz muitos actos, sejam eles de grupos fundamentalistas cristãos de direita, de conselhos de administração de companhias petrolíferas, de mesquitas Wahhabi, de bancos privados nos emirados do Golfo Pérsico, de centros hasídicos de "diamantes de sangue" na Europa e em Nova Iorque, ou de arsenais do antigo Pacto de Varsóvia.
Esta influência sinistra é confirmada por um número épico de "coincidências" e por relações documentadas entre a CIA, Nações Unidas, DEA, FBI, Interpol, autoridades belgas e britânicas, fundamentalistas cristãos e interesses da máfia russo-israelita. O motor que faz mover muitos acontecimentos que mudam o mundo não é a ideologia, não é a religião, não é a política e de certeza que não é o patriotismo. E o dinheiro parece mesmo motivar muitos participantes - peões voluntários daqueles que anseiam por controlar o futuro da humanidade.
(...) O regime dos Senhores da Sombra não quer más notícias, só boas notícias. A União Soviética era conhecida por uma política semelhante - não havia más notícias no velho Império. Desastres de aviação, tremores de terra, dissidentes e epidemias nunca eram cobertos pelos meios de comunicação social soviéticos. A comunicação social controlada pelos Senhores da Sombra está a adoptar gradualmente a mesma política - a guerra no Afeganistão não é para proteger o negócio da droga, mas antes para levar a democracia a uma terra desgraçada; a guerra no Kosovo não teve nada a ver com assumir o controlo dos recursos naturais mais valiosos do país, mas antes com a libertação de um povo oprimido e resignado, à procura da autodeterminação e, por essa razão, punidos pelos sérvios, armados em lobos maus; o assalto em toda a linha à Rússia tem de ser visto no contexto da comunidade internacional e construção de nações, e não com o aniquilamento do único país capaz de destruir dez vezes a aliança da OTAN...
(...) Nos dias sombrios da Segunda Guerra Mundial, o ministro nazi da propaganda, Josef Goebbels, percebeu isto perfeitamente: "Com voz ou sem voz, o povo pode ser sempre levado a fazer o que lhe mandem. É fácil. Basta dizer que está a ser atacado, e denunciar os pacifistas por falta de patriotismo, expondo o país a um perigo maior". Resulta em qualquer país e em qualquer época.
Na sequência imediata dessa guerra, um emigrado russo como eu, Vladimir Nabokov, escreveu um dos melhores romances distópicos do século XX, Bend Sinister. Num país imaginário, governado pelo Partido do Homem Comum, o seu protagonista filósofo é sistematicamente destruído por um Estado tirânico, "em guerra com os seus próprios súbditos". Bend Sinister defende a liberdade da mente individual não só de ditaduras estrangeiras, mas também da imposição da cultura de massas, da propaganda de massas e da mobilização das massas no seu próprio interior.
Porém, mesmo no seu romance mais político, concebido no calor da guerra, Nabokov passa do problema do momento para a força e o mistério da consciência: o poder da mente, do coração e da alma de uma pessoa para resistir à opressão política a que é sujeita. A resistência do romance em si, em nome da consciência, é contra o pensamento de grupo que nivela a mente humana individual».
Daniel Estulin («Os Senhores da Sombra»).
Os Senhores da Sombra
(...) Se o leitor ainda acreditar que não pode realmente haver um envolvimento institucional importante, com as mãos na massa no negócio da droga, será para si uma surpresa saber que, em finais de Junho de 1999, inúmeros serviços noticiosos, incluindo a Associated Press, relataram que Richard A. Grasso, então presidente da Bolsa de Nova Iorque, voou para a Colômbia, para se encontrar na selva com um(a) porta-voz de Raul Reyes, das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC). Estas são o principal aparelho narco-terrorista da Colômbia, como qual o governo dos EUA está em guerra não oficial.
O objectivo da viagem era «levar uma mensagem de cooperação dos serviços financeiros dos EUA» e discutir o investimento estrangeiro e o futuro papel das empresas dos EUA na Colômbia. O que tem que os EUA possam querer? Dinheiro - dinheiro da droga: mais um bilião de dólares em valores que têm vindo a ser acumulados na Colômbia há mais de trinta anos. São praticamente recursos ilimitados, que fazem crescer água na boca a Wall Street só de pensar em canalizá-los através dos seus mercados financeiros.
Claro que nem sempre é fácil. Se um americano for a um banco e depositar 10 000 dólares ou mais em dinheiro, o banco é obrigado por lei a preencher um relatório de transacção de divisas. Todavia, as grandes empresas podem embolsar um cheque de 100 milhões de dólares de qualquer barão da droga sem a mínima exigência de informação. Contudo, antes de poderem canalizar esse dinheiro para os próprios resultados anuais, algo tem de ser feito para o legitimar.
Ao contrário de há 150 anos, hoje os lucros do lucrativo comércio da droga são ilegais. É algo frequentemente esquecido pelas pessoas que procuram entender como funciona o nefasto negócio da droga. Antes desse dinheiro poder ser usado legalmente, tem de ser escondido e, posteriormente, branqueado. Não se pode esconder 700 mil milhões de dólares num colchão. «O dinheiro move-se tão depressa que, a menos que se domine os sistemas informáticos que o movimentam, ou o programa que o gere, seria impossível seguir-lhe o rasto» (8). A ignorância, principalmente quando as transacções de branqueamento são gigantescas, não é uma posição sustentável.
Além disso, as empresas podem ganhar uma fantástica quantia de dinheiro pedindo emprestado dinheiro ilegal a traficantes de droga e a países que negoceiam em drogas a uma taxa de juro inferior e branqueando-o com lucros astronómicos. Quando 100 mil milhões de dólares de dinheiro ilegal inútil são emprestados a cinco por cento a uma empresa gigantesca, esse dinheiro torna-se por sua vez legal e líquido.
Le Monde Diplomatique, a principal fonte de informações para os diplomatas internacionais, num artigo de investigação, descobriu serviços de informações dos EUA, bancos e outras empresas multinacionais no topo de uma enorme rede global de crime organizado e lavagem de dinheiro. Citou «cartéis, negócios e especulação com informações do interior, balanços fraudulentos, apropriação de fundos públicos, espionagem, chantagem e traição, entre uma grande quantidade de outras práticas duvidosas. No entanto, nada disto pode ser bem sucedido sem os governos estarem dispostos a manter, no mínimo, os regulamentos restritivos, a abolirem ou ultrapassarem as regras existentes, a paralisarem inquéritos... e a reduzirem ou conceberem amnistias perante qualquer multa» (9).
A CIA tem uma relação estreita com este sistema. Tem tido o seu nome relacionado com o negócio da droga durante a maior parte dos seus 60 e tal anos de existência. Quase todos os participantes-chave na história da agência têm tido uma relação especial com o sistema financeiro da América.
Clark Clifford: advogado e banqueiro de Wall Street. Antigo ministro da Defesa de Lyndon B. Johnson. Pronunciado por actos criminosos como presidente do First American Bankshares, banco controlado em segredo pelo banco corrupto da CIA para a droga, o BCCI, por ganhar 6 milhões de dólares em lucros de títulos do banco que comprara com um empréstimo sem garantias do BCCI.
Richard Helms: Director da CIA. Pronunciado e acusado por mentir ao Congresso em 1976. O seu advogado foi Clark Clifford.
Allen Dulles foi o principal espião americano do Office of Strategic Services [OSS, antecessor da CIA] na Suíça, encontrando-se com frequência com dirigentes nazis e cuidando dos investimentos dos EUA [leia-se Rockefeller] na Alemanha. Executivo da Standard Oil, uma empresa de Rockefeller. Ideólogo da CIA. Director desta no tempo de Eisenhower. Profissão: Sócio da mais poderosa firma de advogados de Wall Street, a Sullivan and Cromwell, e o responsável por inundar os EUA de LSD na década de 1960.
Bill Casey: o director da CIA no tempo de Reagan e veterano da OSS. Serviu no tempo de Nixon como presidente da Comissão de Garantias e Câmbios. Profissão: advogado de Wall Street e corretor da bolsa. Uma actividade secreta relacionada com as operações de tráfico de droga da CIA teve o nome de código Amadeus, cortina da CIA, gerindo branqueamento de dinheiros da droga através de uma série de bancos por todo o mundo. Cinco meses antes de falecer de um tumor cerebral inoperável reconheceu que a CIA tem estado envolvida no negócio da droga. Deixou uma declaração com a assinatura reconhecida no notário a garantir este facto, com Richard Nixon a assinar como testemunha (10).
Do Vietname ao Cambodja, do Laos ao Paquistão e Afeganistão, do Irão aos Contras e mais, a agência tem sido o bombo da festa preferido da esquerda progressista. Porém, não é apenas a CIA que está envolvida em droga até à ponta dos cabelos. No artigo mencionado acima, Le Monde Diplomatique afirmou explicitamente que «os serviços secretos do aparelho de estado mais poderoso do mundo [leia-se os EUA]... entraram na guerra económica», tornando-se «o sócio número um do crime financeiro internacional» (11). A mesma acusação pode ser feita ao Serviço de Informações Externas britânico (MI6), à Mossad israelita, à DGSE francesa, ao FSB russo, já para não falar de agências de informações secretas de Marrocos, Colômbia, Honduras, El Salvador, Venezuela, Panamá, República Dominicana, Filipinas, etc.
Pondo de lado os contos de fadas populares, a Guerra do Vietname foi sobre drogas. Os franceses foram expulsos e o consequente vazio foi de imediato preenchido pela agência, que assumiu o comércio da droga, o seu processamento e distribuição. Desta simples perspectiva, pouco espaço fica para visões idealistas da Guerra do Vietname como o conflito entre o bem e o mal, nós contra eles, a Velha Glória contra a Foice e o Martelo, Soldados Cristãos Progressistas contra Comunas sem Deus. Não, foi outra coisa. Na relação simbiótica entre o poder económico e o militar, o dinheiro alimenta as forças armadas, e estas mantêm os recursos e os mercados. Guerra e drogas: um casamento feito no céu.
Christian de Brie e Jean de Maillard, noutro artigo brilhante para o Le Monde Diplomatique, edição de Abril de 2000 intitulado «Crime, A Maior Livre Iniciativa Do Mundo», descrevem um «sistema operativo» palpável de fluxo internacional de capital de droga: «Ao permitir que o capital flua sem controlo de um extremo do mundo para o outro, a globalização e o abandono da soberania juntaram-se para promover o crescimento explosivo de um mercado financeiro fora-da-lei. É um sistema coeso, intimamente ligado à expansão do capitalismo moderno e baseado numa associação de três parceiros: governos, multinacionais e máfias. Negócio é negócio: o crime financeiro é acima de tudo um mercado florescente e estruturado, regido pela oferta e pela procura. A cumplicidade dos grandes negócios e o laisser faire político são a única maneira de o crime organizado, em larga escala, conseguir branquear e reciclar os lucros fabulosos das suas actividades. As multinacionais necessitam do apoio dos governos e da neutralidade das entidades reguladoras para consolidarem as suas posições, aumentarem os lucros, resistirem à concorrência e esmagá-la, conseguirem realizar o «negócio do século» e financiarem as suas operações ilícitas. Os políticos estão directamente envolvidos e a sua capacidade de intervenção depende do apoio e financiamento que os mantêm no poder. Este conluio de interesses é uma parte essencial da economia mundial, o lubrificante que mantém as rodas do capitalismo a girar».
Outro suspeito é o Bank of Nova Scotia, do Canadá, agora com sede em Toronto. Por um lado, funciona como grande negociante de ouro e líder do mercado do ouro de Toronto, por outro, funciona como banqueiro para gigantescas empresas de extracção mineira canadianas a funcionarem no Terceiro Mundo. Segundo fontes bem informadas dos serviços de informações secretas dos EUA, o Bank of Nova Scotia pode ser um importante operador de dinheiro sujo nas Caraíbas, fazendo passar capital contra as restrições de divisas, uma grave violação das leis locais sobre divisas.
Como é que os bancos com grandes ares de respeitabilidade se enquadram no tráfico de drogas, com toda a sua sujidade inerente? Um modo consiste em financiar aquisições legítimas de empresas registadas e com licenças para negociarem como importadoras de produtos químicos. A Hong Kong and Shanghai Bank está mesmo no meio desse comércio por intermédio de uma empresa, a Tejapaibul, cujo banco é o BHSH. O que faz essa empresa? Importa para Hong-Kong quase todos os produtos químicos necessários para processar o ópio bruto, transformando-o em heroína pela diacetilação da morfina com anidrido acético, o insubstituível agente químico necessário para o processamento de heroína. O anidrido acético também é usado na conversão de celulose em acetato, componente das películas fotográficas e na produção da aspirina. Nesse caso deveria surpreender que os maiores mercados para o anidrido acético desviado continuem a estar no Afeganistão. Sei o que está a pensar. Talvez os afegãos sejam simplesmente mais susceptíveis às vulgares constipações do que qualquer outra pessoa no planeta.
As campanhas públicas recorrendo a uma linguagem dura foram cinicamente lançadas com toda a pompa e circunstância durante as eleições nacionais de governos na Europa e nos EUA, prometendo «dar luta aos barões da droga», não passam de um perfeito disparate. Conforme previamente observado, se os governos, o Parlamento Europeu ou o Congresso dos EUA, por exemplo, estivessem a falar a sério quanto à erradicação do negócio da droga, elaboravam leis que exigissem seguir meticulosamente o percurso do anidrido acético e de outros produtos químicos essenciais. Contudo, tal acção unilateral e decisiva desagradaria enormemente aos construtores do império (in ob. cit., pp. 145-151).
Notas:
(8) Michael Ruppert, op. cit.
(9) Ibid.
(10) Christian de Brie, «Thick as Thieves», Le Monde Diplomatique, 5 de Abril de 2001.
(11) Michael Ruppert, op. cit.
(12) Christian de Brie, op. cit.
Daniel Estulin cumprimenta e dedica os seus livros ao terrorista Fidel Castro. Ver aqui |
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