«"Tudo me leva a crer que os planos da Administração para a Rússia irão receber o maior apoio do Congresso, bem como a plena aprovação da opinião pública nos Estados Unidos". Numa palavra, William Franklin Sands, na qualidade de secretário executivo de uma empresa cujos directores detinham o maior prestígio em Wall Street, apoiou enfaticamente os bolcheviques e a sua Revolução já depois de esta ter começado. E enquanto director do Banco da Reserva Federal de Nova Iorque, Sands contribuiu justamente com 1 milhão de dólares para os bolcheviques…
(…) O ouro foi praticamente o único meio pelo qual a União Soviética podia pagar as suas aquisições no exterior, e cujo embarque os banqueiros internacionais puderam facilitar. A exportação do ouro russo, na forma inicial de moedas de oiro imperiais, começara desde logo em 1920 para a Noruega e a Suécia. Tais moedas foram, por sua vez, transportadas para a Holanda e a Alemanha com vista a novos destinos, incluindo os Estados Unidos».
Antony Sutton («Wall Street e a Revolução Bolchevique»).
«Com a passagem do tempo, o roubo das grandes empresas, o escândalo da crueldade e das mentiras absurdas que nos contam graças à dieta noticiosa que nos alimenta todos os dias, só podem aumentar à medida que os recursos financeiros diminuem. No mundo pós-Guerra Fria, o papel da Rússia tem sido fundamental. Quem obtiver os recursos deste país fica com a chave da supremacia global. Assim, destabilizar o estado russo tornou-se o objectivo dos Senhores das Sombras, após o colapso da União Soviética em Dezembro de 1991.
Os EUA empreenderam um enorme esforço para ajudarem a antiga União Soviética a fazer a transição para o capitalismo. Acabou por se revelar que o esforço tinha como intenção retirar grandes quantidades de riqueza do país. Segundo um memorando interno do FBI, escrito pelo agente especial do Tesouro, Philip Wainwright, mas assinado apenas como "Mr. X", o objectivo na Rússia era bastante simples: "Havia a possibilidade de uma jihad económica ocidental e privada estar organizada no sentido de acabar com os poderes dos dirigentes comunistas destruindo o instável rublo".
Por outras palavras, a União Soviética - que possui a maior riqueza mineral do mundo, enormes reservas de ouro e pedras preciosas, a maior reserva de petróleo do planeta, quantidades incontáveis de níquel, platina e paládio, e mais madeira do que a Amazónia, já para não falar de uma imensa acumulação de armas da era soviética - ia ser destituída dos seus bens. A estratégia consistia em mergulhar o país na anarquia, ao ponto de a Rússia não conseguir opor-se às operações militares dos EUA, destinadas a garantir o domínio das reservas de petróleo e gás natural na Ásia Central. O plano desenvolvido, tal como fez ressoar o antigo Conselheiro de Segurança Nacional durante a presidência de Jimmy Carter, fazia parte do golpe criminoso mais espectacular alguma vez engendrado contado por Zbigniew Brzezinski, no seu livro de 1997, The Grand Chessboard: American Primacy and Its Geostrategic Imperatives.
No período que levou ao seu colapso, saíram grandes quantidades de riqueza da URSS através de camiões carregados de rublos. Muitas dessas riquezas foram utilizadas em complexas operações de trocas, em que milhares de milhões de narco-dólares eram branqueados a favor da máfia da Calábria, Ndrangheta. Um grande número de bancos ocidentais importantes, como o US Treasury, Harvard Endowment, Bank of New York, Goldman Sachs, os gigantes bancários de Massachusetts, Fleet Financial e Bank of Boston, pilharam até 500 mil milhões de dólares. Outro participante foi a CIA, cujo objectivo principal consistia em destruir a moeda soviética. Ndrangheta, uma das organizações criminosas mais temidas do mundo, tem fortes ligações financeiras com os negócios de tráfico de drogas de cartéis criminosos colombianos e mexicanos. Desde o desmembramento da União Soviética, a máfia russa juntou-se às operações calabresas, proporcionando uma raiz oriental ao já lucrativo negócio da cocaína e da heroína.
(...) A máfia russa, conhecida como Vorovskoi Mir, ou "Mundo dos Ladrões", uma federação informal de mafiosos soviéticos, percebeu de imediato que a "retirada" do comunismo anunciava um glorioso mundo novo de ordem criminosa que a favorecia.
Um ano após a saída de Mikhail Gorbatchov, tinham surgido mais de 2 600 "clãs do crime" (mais de três milhões de criminosos no total) que se tinham espalhado rapidamente por todo o antigo império soviético, de acordo com um relatório de investigação escrito por um grupo de membros do prestigiado Instituto Hoover. Quarenta deles igualavam ou ultrapassavam a dimensão das máfias tanto siciliana como americana. Em conjunto, constituem o empreendimento criminoso mais poderoso do planeta.
Com efeito, a directiva secreta do PCUS enfatizava a necessidade de forjar uma ligação com a mafiya através dos vastos recursos do antigo KGB. Isso aconteceu no início da década de 1990. Os primórdios do reinado de Ieltsin.
Em 1997, a União Soviética estava morta há seis anos. Emergira um novo mundo em que só os EUA tinham a categoria de superpotência. Porém, a Rússia ainda permanecia uma ameaça - um potencial bloqueio à completa imposição da vontade económica e militar dos EUA. Em The Grand Chessboard de Zbigniew Brzezinski, publicado em 1997, a "Rússia" e as "vitais reservas de energia" são referidas mais amiúde do que qualquer outro país ou assunto.
Uma vez mais, os imperativos da energia e o domínio geopolítico iriam desempenhar um papel primordial na vida de centenas de milhares de pessoas.
Foi no "quintal" da Rússia, as repúblicas da Ásia Central da antiga União Soviética, que Brzezinski reparou que seria necessário agir para monopolizar as reservas de energia do mundo. A História da humanidade tem revelado, desde sempre, que o domínio do centro da Eurásia é a chave para dominar o globo. O Azerbeijão, que contém as riquezas da Bacia do Mar Cáspio e da Ásia Central, é determinante. A independência dos estados da Ásia Central pode ser praticamente insignificante desde que o Azerbaijão fique sob controlo total de Moscovo.
Zbigniew Brzezinski |
Daniel Estulin («Os Senhores da Sombra»).
A URSS e os capitais estrangeiros
Já em 1929 W. Fisher escrevia: «A industrialização da URSS visa limitar o número dos concessionários e arrefecer o interesse dos investidores de capitais. O trust do Azerbaijão, a bacia do Donetz ou a cidade de Moscovo são empresas poderosamente ricas, remuneradoras e solváveis que, se operassem fora do país, poderiam facilmente emprestar a Londres, a Nova-Iorque, a Amesterdão, etc. Mas, em caso de desfalecimento, de falência ou de insolvência, nenhum banco americano, britânico ou holandês, poderia apropriar-se dessas empresas de Bacú, de Sacti ou de Moscovo, que são propriedade do Estado e que os comunistas nunca permitirão que sejam alienados aos capitalistas estrangeiros. A preocupação capital da política bolchevique foi sempre repelir toda e qualquer cooperação com os Estados burgueses que pudesse tomar «a forma de dominação económica». Já em 1922 Tchitcherine empregou o mesmo argumento perante o Komintern para rejeitar o estabelecimento em Moscovo de um poderoso banco europeu: O Consórcio - disse ele a tal respeito - poria a República em perigo.
A partir de 1929, a velocidade extremamente rápida do seu desenvolvimento levou a URSS a prosseguir na sua expansão económica por meio dos seus próprios recursos. Com efeito, o monopólio do comércio externo é fundamental para o sistema económico e social da Rússia comunista. Esse monopólio torna o governo no único exportador e importador de todo o país».
A este respeito o jornalista inglês Negley Farson escreveu no Daily Mail em 1 de Outubro de 1943:
«Houve um período - de 1921 a 1936, pouco mais ou menos - em que os russos precisaram de créditos. E obtiveram-nos apesar da política. Hoje, porém, já não precisam disso, e, se bem examinarmos todos os factores em jogo, estão provavelmente em situação de, se assim desejarem, nunca mais comprarem mercadorias a crédito. O motivo principal deste estado de coisas é, bem entendido, a sua absoluta independência em matéria de exportações e de importações. Deve também entrar-se em conta com o facto da Rússia ser a maior fonte de aprisionamento de ouro do mundo. Quando os russos precisarem de qualquer coisa, pagá-la-ão - e nós ficaremos muito contentes por lha vendermos. Isso suprime a principal arma da diplomacia britânica de antes-da-guerra: "Os checos lutam com dificuldades? Emprestemos-lhes 15 milhões de libras esterlinas. Os gregos lutam com dificuldades? Pois bem, emprestemos-lhes 5 milhões de libras". O sabre de madeira expedido com cada uniforme de embaixador - era esse o mal fundamental da diplomacia britânica. Mas o sabre de madeira partiu-se. Não é possível empregar o crédito contra a Rússia vermelha». E o autor concluía: «"A Rússia é a a única das quatro grandes nações aliadas que talvez possa tornar-se isolacionista com toda a segurança"».
A URSS, potência do ouro
A URSS possui as maiores reservas de ouro do mundo, tanto em areias auríferas como em minas. A parte mais rica em ouro é o leste do país: a Sibéria, os Urais, o Altai, o Extremo Oriente. Na taiga polar há inúmeros jazigos. Cada ano trás novos descobrimentos e a produção de ouro da URSS desenvolve-se rapidamente.Foi no Verão de 1927 que, pouco disposto a aceitar os ensinamentos de Marx e de Lenine a respeito do metal precioso, Estaline decidiu criar a indústria soviética do ouro. «O descobrimento do ouro - dizia - abriu o oeste dos Estados Unidos à agricultura e à indústria... Vede o que se passou na Califórnia. O mesmo processo deve aplicar-se aos nossos mercados. Começaremos por apetrechar as minas de ouro, e depois, gradualmente, passaremos a explorar e a tratar outros minérios, carvão, ferro, cobre, etc. E simultaneamente desenvolveremos a agricultura».
Assim, segundo o testemunho do americano J. Littlepage, o trust do ouro - criado, entre outras razões, para fomentar o estabelecimento de colonos na Sibéria - saiu da imaginação de Estaline. O chefe da URSS queria ouro porque sabia quanto poderia ser útil ao governo e dar solidez à economia da Rússia; mas é facto que considerou este problema também como «construtor de império». E o prodigioso desenvolvimento da Sibéria durante os últimos quinze anos deve-se à corrida soviética para o ouro - «a mais ordenada da história».
Os sovietes ocupam hoje o segundo lugar entre os produtores mundiais de ouro. «Vi-os - disse Littlepage - elevarem-se a essa posição em poucos anos, ultrapassando os Estados Unidos e o Canadá e colocando-se logo abaixo da África do Sul. E não vejo qualquer motivo que possa impedi-los de ocuparem indefinidamente esse lugar. Sei, pelas minhas próprias observações, que os sovietes poderiam aumentar muito substancialmente a produção de ouro, num futuro próximo, se quisessem».
«Os sovietes, que são em potência os maiores vendedores de ouro do mundo, têm tanto interesse em manter o seu preço como a Inglaterra e os Estados Unidos - os dois principais compradores desse metal -, porque a produção de ouro tornou-se extremamente importante na economia soviética, permitindo a Moscovo comprar no Ocidente objectos que doutra forma teria de pagar com produtos de maior utilidade social, a menos que preferisse passar sem eles.
Os sovietes investiram somas colossais e fizeram esforços gigantescos na sua indústria do ouro de 1928, e foi essa uma das razões porque milhões de homens, de mulheres e de crianças soviéticas tiveram de passar fome, de andar mal vestidos e de sofrer toda a espécie de privações, porque as máquinas, o apetrechamento industrial e os serviços de técnicos estrangeiros foram pagos, durante certo tempo, com produtos agrícolas e lacticínios de que as populações russas tinham de privar-se.
Estaline e os seus colaboradores calcularam, aparentemente, que todos esses sacrifícios valiam a pena, não só pelas compras que o ouro permitiria efectuar no estrangeiro, mas também pela sua utilidade potencial, em caso de guerra.
Durante anos, os chefes da Rússia basearam os seus cálculos na convicção de que seriam arrastados em breve para uma guerra. É por isso muito verosímil que tenham feito grandes reservas de ouro para fortalecer a sua posição militar». («La Recherche des Mines d'Or de Sibérie», Paris, 1939, pp. 241-244).
Grandes produtores de ouro, os sovietes promoverão necessariamente uma política monetária fundada sobre o estalão-ouro. Assim, esse Estado socialista e proletário dispõe-se a desempenhar o papel da grande potência capitalista que é de facto.
Uma delegação de cinquenta e dois peritos financeiros soviéticos, presidida pelo vice-presidente do Banco do Estado, foi em 1943 a Washington para dar apoio efectivo aos planos de moeda-ouro dos Estados Unidos.
O professor Varga, conselheiro financeiro da Comissão Central para a planificação económica da União Soviética, esclareceu que Moscovo não queria nem participar numa regulamentação monetária internacional nem introduzir a moeda-ouro nos territórios da União. Os sovietes mantêm-se fiéis ao princípio do monopólio do comércio externo e rejeitam todo e qualquer projecto que limite a sua independência comercial e monetária. Mas o Kremlin veria com bons olhos «os outros Estados voltarem tanto quanto possível à moeda-ouro» - o que quer dizer que a União Soviética «anti-capitalista», está interessada em que o ouro mantenha o seu poder internacional de pagamento.
O «regresso ao ouro» apresenta ainda outro interesse para Moscovo: tendo o ministro dos Negócios Estrangeiros dos Estados Unidos, Cordell Hull, prometido o apoio da América para a reconstrução da Rússia, Estaline assegurou que os sovietes «reembolsariam escrupulosamente» os créditos que a esse título lhes fossem abertos. Portanto, se os Estados Unidos vierem a exportar para a Rússia Soviética, esta, nos termos do standard-ouro, não pagará em mercadorias mas sim com o metal acumulado. E paralelamente, custeará as importações necessárias com a sua forte produção periódica de ouro «sem ter de se prender politicamente nem de fazer concessões especiais aos Estados capitalistas»» (in «A Nova Rússia», Livraria Tavares Martins, Porto, 1945, pp. 250-256).
Continua
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