A
componente de inteligência cibernético-militar do Estado-Vigilância
A plandemia
de Covid-19
logrou estabelecer uma psicose de tal
ordem e magnitude na população mundial que esta, não obstante algumas excepções,
tem de facto acatado gradualmente a monitorização e o rastreamento de
todos os seus passos e
movimentos no domínio político, socieconómico e cultural por forma a inibi-la de qualquer comportamento atentatório das
novas regras e padrões de controlo governamental estrito.
Além do mais, a sedução tecnológica exercida sobre grande parte dos habitantes
do planeta é já um factor extremamente propício ao acelerado aumento
da vigilância social mediante novas e emergentes modalidades de software projectadas para o
teletrabalho, bem como para as invasivas aplicações de “contact-tracing” que tanto podem
servir para pressupostamente detectar casos de Covid-19,
como para darem azo a intempestivas investigações no domínio criminal e outras actividades
mais próximas ou remotamente afins. Estamos, no fundo, perante uma inusitada
gama de tecnologias de apertado controlo social em
que grandes e poderosas companhias se baseiam num modelo de negócio
particularmente assente na vigilância em massa, coligindo, minerando e vendendo
dados particulares de terceiros a agentes e empresas publicitárias numa escala sem
precedentes, posto inclusive todo e qualquer dispositivo móvel (smartphone, tablet e notebook)
potenciar a localização ou a georeferenciação do seu utilizador e, nessa
medida, permitir que correctores de dados e
outros prestadores em linha possam assim contribuir para um omnipresente sistema
em rede digital atreito a observar toda a acção individual ou colectiva,
ler tudo o que alguém redige ou escreve, ouvir na íntegra o que fulano, sicrano
ou beltrano diz, e sobretudo monitorar qualquer transacção comercial ou
financeira que seja.
Estamos, além do mais, na
iminência de sermos minuciosamente sondados à escala molecular, mercê de uma
potente combinação de hardware, software e uma contínua recolha de dados
que permitem medir, verificar e digitalizar todo o nosso perfil biométrico – íris, rosto, voz, identidade genética e a forma própria de locomoção – para ser finalmente
processado através de programas computacionais e escrupulosamente analisado por
sistemas de identificação única que vão posteriormente predispor e potenciar o
seu respectivo uso pelos mais variegados governos e corporações na sua ilimitada
ânsia de poder e domínio transnacionais. E só assim se há-de efectivamente
explicar que a denominada “internet das coisas”, uma espécie de fusão do “mundo
real” com o “mundo digital”, já esteja de facto a preparar a “internet das pessoas”, que, por sua vez, é uma forma altamente sofisticada de canalização de dados
aptos a visualizar, extrair e validar informação detalhada da nossa actividade
corporal interna – sendo já esse o caso dos chamados “relógios inteligentes” (smartwatches) capazes de monitorizar a
pressão sanguínea, ou ainda o caso dos “telefones inteligentes” (smartphones) sem cuja funcionalidade será,
mais dia menos dia, praticamente impossível comprar qualquer produto
segundo a aplicação digitalizada das nossas impressões digitais, quando não até mesmo
por via da detecção e do rastreamento do anel colorido ou da camada
intermediária do globo ocular (íris). Eis, então, o súbito irromper de um novo
mundo de
tal forma opressivo e intimidante que não mais haverá como fugir e passar-se despercebido em lugar algum do planeta.
Imagine-se igualmente até onde agentes e
operacionais governamentais poderão ir com o recurso à tecnologia de impressão
e reconhecimento de voz, basicamente entendida como uma forma dinâmica de
biometria, ao invés da impressão digital que é estática por definição, e, por
isso mesmo, mais fácil de copiar e reproduzir digitalmente do que a voz. Já
actualmente descrita como uma tecnologia de primeira linha no âmbito dos
sistemas de vigilância pública, o registo de impressões vocais é decerto uma
indústria em pleno crescimento quanto mais não seja por simultaneamente
permitir às grandes corporações e às agências governamentais o uso da biometria da voz como forma de obter
mais rapidamente a identidade, as
características biológicas e comportamentais de um indivíduo e, desse modo,
validar toda a informação com vista ao respectivo perfil, já para não falar na
possibilidade adicional que uma tal tecnologia pode efectivamente proporcionar
para localizar e identificar com precisão qualquer pessoa num certo espaço e
num tempo determinado. Neste sentido, quase todos somos, de dia para dia,
vítimas inconscientes de uma rede tecnologicamente interligada que se expande
como uma teia de indefinida extensão e sem qualquer espécie de procuração, como
se de um enredo ou pesadelo kafkiano se tratasse, sobretudo pela forma como uma
sociedade ultra-tecnológica, uma vez firmada em bancos de dados de ADN,
tecnologia pré-cognitiva, rastreamento de contactos e sensores e terminais
biométricos, tem o poder discricionário de acusar uma pessoa de uma quantidade
infindável de crimes sem que ela saiba de antemão de como e do que é que está a
ser exactamente acusada.
Não obstante o facto da espionagem,
intercepção e descodificação de dados não obstar a um número significativo de ataques
terroristas nos dias de hoje, governos sempre existem que, fora do escrutínio
público, continuam a operar no âmbito de programas domésticos de espionagem
aptos a levar a cabo sofisticadas operações de vigilância em massa dos seus
próprios cidadãos, podendo, vendo e conhecendo tudo na base de uma perigosa
fusão entre ciência, tecnologia e dirigismo estatal burocrático centralizador.
Chamadas telefónicas, posts no Facebook, emails
e mensagens de texto, para além de outros processos de comunicação afins, são,
ao fim ao cabo, particularmente susceptíveis de serem, no todo ou em parte,
interceptados e monitorizados por qualquer governo munido dos recursos
técnico-científicos e dos respectivos serviços de inteligência capazes de, caso
assim o determinem, operar fora do alcance de qualquer sistema adequado de
freios e contrapesos na esfera dos poderes legislativo, executivo e judicial. Corria
aliás o ano de 1952 quando o presidente Harry S. Truman emitira uma ordem
executiva secreta estabelecendo a Agência de Segurança Nacional (NSA) cuja criação fora durante largo tempo negada pelo governo americano , ao ponto de não prestar, de facto, quaisquer contas ao Congresso sobre as respectivas actividades e operações de vigilância
secreta. De resto, foi só quando, em 1969, a NSA viu aumentar exponencialmente os
seus agentes operativos para cerca de 90.000 funcionários, dando porventura
lugar à maior agência de inteligência do mundo com uma significativa
operabilidade fora de Washington, D.C., que se tornou praticamente impossível
continuar a negar a sua existência.
Seja como for, o Senado americano
também chegou a realizar em 1975, na sequência do escândalo Watergate, sessões
de averiguação e esclarecimento sob a tutela e supervisão da Comissão Church a
fim de rigorosamente determinar qual o tipo de actividades ilícitas em que os
serviços de informação americanos estariam envolvidos sob a direcção do
presidente Richard Nixon, pelo que então seria nesse especial contexto que a
Agência Nacional de Segurança viria a ser pela primeira vez objecto de
escrutínio público desde a sua criação em 4 de Novembro de 1952.
Vieram assim à luz do dia sofisticadas operações e programas de vigilância em
massa que punham directamente em causa os direitos consagrados na Constituição
americana, sendo esse o caso do Projecto SHAMROCK mediante o qual a NSA
espionara telegramas de e para os Estados Unidos, além da correspondência de
cidadãos norte-americanos. Ainda no âmbito do projecto MINARET, a NSA logrou
igualmente monitorar as comunicações dos líderes dos direitos civis, bem como
as dos opositores à Guerra do Vietname, tais como Martin Luther King, Jr., Mohammed
Ali, “Hanoi Jane” Fonda e tutti quanti.
Sendo ademais particularmente verdade que a Agência de Segurança Nacional
chegou a implementar em 1967 um programa destinado a vigiar suspeitos de
terrorismo e traficantes de droga, é também caso para assinalar que essa mesma
agência subordinada ao Departamento de Defesa dos Estados Unidos tem sido
frequentemente usada por sucessivos presidentes norte-americanos para rastrear
todo o tipo de opositores, inimigos e dissidentes políticos.
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Sede NSA |
O senador Frank Church ficara assim
perfeitamente ciente do enorme perigo inerente ao abuso dos poderes de
vigilância do governo norte-americano para alegados fins de segurança nacional,
visto poder virá-los, efectivamente, contra o próprio povo mediante a devassa
da vida privada não obstante toda a protecção dispensada e consagrada nos
termos da lei constitucional. Ora, segundo o próprio, era, pois, necessário que
o Congresso e os respectivos círculos eleitorais pudessem, enfim, garantir uma
supervisão adequada dos meios de vigilância tecnológica detidos pelas agências
de investigação e segurança nacionais, no claro propósito de evitar que o
público americano ficasse completamente inerme ou à mercê de um sistema
arbitrário de controle e vigilância próprio de um regime tipicamente tirânico,
e, dessa forma, manifestamente contrário aos princípios fundadores de uma
verdadeira república constitucional. Daí, aliás, resultou a criação, em 1978,
da Lei de Vigilância de Inteligência Estrangeira,
que é, por definição, uma lei federal dos Estados Unidos que prevê
procedimentos para a vigilância física e electrónica, bem como a obtenção e
recolha de "informações de inteligência no exterior" entre
"potências estrangeiras" e "agentes de potências
estrangeiras", podendo ademais incluir cidadãos americanos e residentes
permanentes suspeitos de espionagem ou terrorismo. No entanto, a lei não se
aplica fora dos Estados Unidos, muito embora a obtenção e recolha de informações no exterior não esteja por si só vinculada aos procedimentos estabelecidos pela FISA.
Com os atentados terroristas de 11 de
Setembro de 2001 ao complexo empresarial do World Trade Center, na cidade de
Nova Iorque, entrou-se definitivamente numa nova era especialmente dominada por
uma crescente série de actividades governamentais ilegais no âmbito da
vigilância, tortura, fiscalizações e revistas policiais, assim como de
incursões de unidades de polícia altamente especializada, as SWAT
teams, comummente destinadas a salvaguardar e proteger as cidades mais
populosas dos Estados Unidos. Na sequência daqueles atentados, teria sido
inclusivamente dada autorização secreta por George W. Bush para que a Agência
Nacional de Segurança (NSA) lograsse, sem a prévia existência de qualquer
mandado, montar e conduzir operações de vigilância às comunicações telefónicas
e de email de cidadãos americanos,
operações essas que supostamente terminariam em 2007 já depois de o New York Times ter desencadeado uma
generalizada indignação ao torná-las objecto de conhecimento público. Na
verdade, nada disso mudaria durante a presidência de Barack Obama, tendo até a
vigilância ilegal sido ainda mais intensificada ao ponto de a NSA coligir
secretamente dados telefónicos e online
de milhões de americanos, além de informações relativas a governos estrangeiros
conforme, aliás, vieram confirmar as revelações de Edward Snowden em 2013, uma
vez mais deixando o povo americano perfeitamente ciente de quão tinha sido
novamente traído pelo seu próprio governo.
Contudo, o sector da vigilância é apenas
uma pequena parte do ininterrupto governo sombra constituído, no essencial, por
burocratas não-eleitos que acertam frequentemente o passo com as grandes
corporações lucrativas que, na realidade, gerem e dirigem Washington, D.C., com o
objectivo de controlar e ter debaixo de olho o cidadão comum. Assim, não é de
admirar que a Google venha, pois, colaborando abertamente com a Agência
Nacional de Segurança, ou que a Amazon tenha já providenciado para a CIA uma
imensa base de dados de inteligência no valor de 600 milhões de dólares,
enquanto a indústria de telecomunicações se tem entrementes limitado a lucrar
desmedidamente no aturado exercício da espionagem para o governo norte-americano.
Por outro lado, a Administração Biden deu já a entender estar francamente aberta
para concertar esforços com empresas não-governamentais para monitorizar
ilegalmente cidadãos online,
recorrendo para isso à subcontratação de entidades privadas aptas a reunir uma
vasta quantidade de informação digital devido ao facto de se encontrarem numa
melhor posição para, sem entraves de maior, procederem à recolha, intercâmbio e
partilha de quaisquer dados pessoais.
Deste modo, eis como a América
corporativa tem seguramente obtido consideráveis lucros mediante o conivente
auxílio prestado ao governo nos seus esforços para levar a cabo a vigilância
doméstica militarizada.
Dir-se-ia, nisto, estarmos até perante o impante surgimento de uma nova classe
dominante nos Estados Unidos, particularmente assente na inteligência
cibernética, posto que exclusivamente constituída por agentes ou “profissionais
de inteligência” especialmente encarregues da pesquisa analítica sob a
jurisdição da Agência de Segurança Nacional (NSA),
além de outras agências a cargo do governo secreto americano. De referir fica
ainda o facto de, no último vinténio, milhares de ex-operativos e altos
oficiais dos serviços secretos norte-americanos terem abandonado os respectivos
postos governamentais para alcançarem posições de destaque em empresas
militares, consultorias e escritórios de advocacia, bem como em sociedades de
participações privadas não abertas à subscrição pública. Ou seja: uma vez
instalados nas suas novas ocupações, aqueles ex-operativos e altos oficiais dos
serviços de inteligência americana limitam-se, ao fim ao cabo, a replicar o seu
modus operandi tal qual o agenciado
nas suas pregressas actividades governamentais, se bem que, desta vez,
motivados por razões estritamente financeiras.
Em suma: o Estado-Vigilância, com a
secreta componente militarizada e de inteligência cibernética que lhe anda
estreitamente associada, alarga-se progressivamente a todo o mundo cada vez
mais globalizado no sentido de perscrutar, numa escala sem precedentes, o que a
cada indivíduo é dado proferir, ler, escrever, aonde vai ou deixa de ir, com
quem comunica ou se relaciona, enfim, tudo isso será constantemente
monitorizado, registado, armazenado e catalogado a fim de ser oportunamente usado
por todo o regime despótico contra o tão aclamado quão abstracto cidadão do
mundo totalmente inerme e doravante destituído da mais elementar liberdade, singularidade,
dignidade e valor próprios.
O ataque farmacológico da elite
tecnocrática mundialista
O
transnacionalismo converteu-se, de
facto, no novo ethos a partir do qual
as instituições multilaterais investem
com tudo o que têm no poder global pronto a censurar qualquer tipo de objecção,
por mais justificada que seja, perante a alegada necessidade de uma
transformação radical da quotidiana existência humana no arregimentado concerto
do próprio sistema internacional. E assim melhor se explica que a Organização
das Nações Unidas haja sido propositadamente criada para que os Estados
soberanos lhe entregassem por fim todo o seu poder com vista a unificar toda a humanidade segundo um sistema supranacional de supergoverno
para, mediante mecanismos de controle e planeamento centralizador,
determinar ao mais fino pormenor todas as dimensões da vida, do pensamento e da
actividade humana.
Trata-se, portanto, de um estratagema
globocrata erguido na aparência de uma comunidade internacional constituída
por falsos dirigentes e governantes dos
vários países do mundo inteiramente vergados às organizações supranacionais às
quais sempre respondem contra os reais interesses dos povos que supostamente
representam, assim os traindo, arruinando e
matando
através de insistentes operações de vil, tortuosa e mendaz propaganda para que
finalmente aceitem, em nome da “consciência social” e do “bem da humanidade”, o
transnacionalismo mundialista tido por algo sumamente responsável,
protector e salvador do planeta.
Por conseguinte, é doravante proibido
questionar a “verdade oficial”, consoante afere Cristina M. Jiménez:
«Como estamos a ver, o plano previsto é
instaurar e estabelecer uma autoridade global em cada um dos âmbitos da vida no
planeta. Uma autoridade única para a saúde, o comércio, a religião, o turismo,
as energias, a habitação, a água, o espaço, a educação... Uma autoridade única
saída da rede do poder filantrópico e globalista, que se estende pelo mundo
para depois confluir no mesmo ponto de origem. Uma voz única que não possa ser
questionada e que imponha as normas que apenas convêm a uns poucos. Desde que a
OMS declarou a pandemia, é proibido
pensarmos e expressarmo-nos com liberdade, sob pena de prisão ou multa, e
inclusivamente sob risco de ser desterrado da nova cidade global que estão a
construir. Se nos portarmos bem e cumprirmos como bons cidadãos globais,
conceder-nos-ão um “passaporte de imunidade”, como lhe chamou a OMS. Se não o
tivermos, não poderemos viajar de avião nem de comboio nem de metro, não
poderemos sequer ir à padaria da esquina. Seremos proibidos de sair de casa.
Caso nos atrevamos a divergir ou a criticar a verdade oficial, viveremos fora
dos muros, em ostracismo. Seremos considerados uns bárbaros sem “consciência social”
e castigados a não participar da civilização domesticada e inumana da sua nova
normalidade.»
Entretanto, é um dado adquirido de que
estamos hoje sob a periclitante ameaça sem precedentes de uma deriva
totalitária no domínio farmacológico, em que potências como a China e os
Estados Unidos indiciam ser senão aliados porventura cúmplices no domínio da
pesquisa virológica e até mais particularmente zoonótica. Naquele domínio, a
previsão de uma possível quão perigosa deriva totalitária fora devidamente projectada por Aldous Huxley, sem bem que o manancial duma revolução farmacológica também
lhe aprouvesse como altamente promissor no campo da experiência
transcendental, conforme a breve trecho nos relata um seu prefaciador:
«Ciente dos perigos totalitários do
“ataque farmacológico” possibilitado pela tecnologia moderna, nem por isso
Huxley excluía que a via química pudesse levar à elevação espiritual. A sua
curiosidade na matéria fora despertada em 1931 ao ler Phantastica, um tratado do farmacólogo alemão Louis Ludwig Lewin
sobre as substâncias visionárias usadas ritualmente desde o alvorecer da
humanidade, hoje considerado a primeira obra de etnobotânica: “[A] história da
ingestão de drogas constitui um dos capítulos mais curiosos e creio que também
mais significativos da história natural dos seres humanos”,
considerou Huxley após ter lido o tratado “de ponta a ponta com um apaixonado e
crescente interesse”».
Por relativa contrapartida ao raciocínio
sistemático que em momento algum correspondeu de todo em todo à aristotélica
distinção psicodinâmica entre intelecto
passivo e intelecto activo como
via aberta para o estudo fenomenológico do que verdadeiramente seja o
pensamento no homem capaz de intelecção mediante as apuradas noções de acto e potência, Aldous Huxley não se poupou efectivamente a esforços para
levar a cabo uma experiência meta-verbal para justamente procurar alcançar a
percepção directa dum infinito inacessível a todo o entendimento intelectualmente
condicionado por abstractas categorias previamente delimitadas ou adquiridas ao
longo de experiências parcelares semi-opacas e de alcance particularmente
unilateral. No mais, trata-se de uma experiência que sendo caracteristicamente
farmacológica vale por isso mesmo como um estímulo de profundas possibilidades
espirituais quando sobretudo comparada com programas e estudos científicos a
que não serão decerto estranhos a genética, a embriologia, a anatomia
comparada, a hereditariedade, o transformismo e o evolucionismo. E se bem que
as ciências de observação possam de facto, na melhor tradição aristotélica,
confirmar a ascensão do homem pela escala zoológica num movimento de
transformação criatriz da existência actual em essência possível, Aldous Huxley
traça-nos, em contraciclo, uma artificiosa forma de franquear as portas da
percepção rumo ao mistério do Insondável:
«Reflectindo sobre a minha experiência,
dei por mim a concordar com o Dr. C. D. Broad, eminente filósofo de Cambridge,
quando escreveu que “deveríamos considerar com muito mais seriedade que até então o
tipo de teoria que Bergson propôs relativamente à memória e à percepção pelos
sentidos. O que sugere é que a função do cérebro, do sistema nervoso e dos
orgãos dos sentidos é de uma maneira geral eliminativa e não produtiva. Cada
pessoa é a cada momento capaz de recordar tudo o que lhe aconteceu e de
apreender tudo o que acontece em qualquer parte do universo. A função do
cérebro e do sistema nervoso consiste em proteger-nos de sermos esmagados e
confundidos por este amontoado de informações em grande parte inúteis e
irrelevantes, excluindo grande parte do que de outro modo apreenderíamos ou
recordaríamos a todo o momento, e deixando somente essa selecção muito reduzida
e especial do que poderá ter utilidade prática”.
De acordo com tal teoria, cada um de nós é potencialmente detentor de uma Mente sem
Limites (Mind at Large). Porém, na
medida em que somos animais, o nosso objectivo é sobreviver a todo o custo. Para
tornar a sobrevivência biológica possível, a Mente sem Limites tem de ser
obrigada a passar através da válvula redutora do cérebro e do sistema nervoso.
O que sai do outro lado é uma mísera gota do tipo de consciência que nos vai
ajudar a permanecer vivos à superfície deste planeta em concreto. Para formular
e expressar o conteúdo desta consciência reduzida, o homem inventou e elaborou
infindavelmente os sistemas de símbolos de filosofias implícitas a que chamamos
línguas. Cada indivíduo é ao mesmo tempo o beneficiário e a vítima da tradição
linguística em que nasceu – beneficiário na medida em que a língua dá acesso
aos registos acumulados da experiência de outras pessoas, vítima na medida em
que confirma a sua crença de que a consciência reduzida é a única consciência
possível, e em que confunde o seu sentido da realidade, tornando-se
lamentavelmente propenso a tomar os seus conceitos como dados e as suas
palavras como coisas reais. Aquilo a que na linguagem da religião se chama
“este mundo” é o universo da consciência reduzida, expresso e como que
petrificado pela língua. Os vários “outros mundos” com que erraticamente os
seres humanos tomam contacto são outros tantos elementos na totalidade da
consciência que pertence à Mente sem Limites. A maior parte do tempo a maioria
das pessoas só estão cientes do que sai da válvula redutora e é consagrado como
genuinamente real pela língua local. No entanto, algumas parecem ter nascido
com uma espécie de desvio que contorna a válvula redutora. Nas outras, os
desvios temporários podem ser adquiridos quer espontaneamente quer como
resultado de “exercícios espirituais” deliberados, pela hipnose ou por meio de
drogas. Através destes desvios permanentes ou temporários flui não exactamente
a percepção de “tudo o que acontece em qualquer parte do universo” (pois o
desvio não anula a válvula redutora, que ainda exclui o conteúdo total da Mente
sem Limites), mas algo de adicional e acima de tudo diferente do material
utilitário cuidadosamente seleccionado que as nossas mentes individuais
estreitadas consideram como uma imagem da realidade completa ou pelo menos
suficiente.
O cérebro está equipado com uma série de
sistemas enzimáticos que servem para coordenar as suas operações. Algumas
destas enzimas regulam o fornecimento de glucose às células do cérebro. A
mescalina inibe a sua produção, reduzindo assim a porção de glucose disponível
para um orgão permanentemente necessitado de açúcar. O que acontece quando a
mescalina reduz a dose normal de açúcar do cérebro? Até agora só foi observado
um número diminuto de casos, não sendo ainda possível dar uma resposta global,
mas o que acontece à maioria das poucas pessoas que ingeriram mescalina sob
supervisão pode resumir-se como se segue:
(1) A
capacidade de recordar e de pensar com clareza é pouco ou nada reduzida (ao
ouvir as gravações da minha conversa sob a influência da droga não pude
constatar que estivesse mais embrutecido do que em ocasiões normais).
(2) As
impressões visuais são extremamente intensificadas e o olho recupera alguma da
inocência perceptiva da infância, quando o dado dos sentidos não era imediata e
automaticamente subordinado ao conceito. O interesse pelo espaço diminui e o
interesse pelo tempo é quase nulo.
(3) Muito
embora o intelecto permaneça intacto e a percepção fique extremamente
melhorada, a vontade sofre uma alteração profunda para pior. A pessoa que
ingere mescalina não vê razão alguma para fazer o que quer que seja em
particular, e considera a maioria das causas que em ocasiões normais a levariam
a agir e a que se submeteria profundamente desinteressantes. Não pode por elas
ser perturbada pela boa razão de que tem melhores coisas em que pensar.
(4) Pode-se
ter a experiência destas melhores coisas (como eu tive) “lá fora”, “cá dentro”
ou em ambos os mundos, interior e exterior, simultânea ou sucessivamente. Que
são melhores parece inquestionável a todas as pessoas que ingerem mescalina com
um fígado saudável e uma mente tranquila.
Estes efeitos da mescalina são o tipo de
efeitos que se poderia esperar resultassem da administração de uma droga com o
poder de diminuir a eficácia da válvula reguladora do cérebro. Quando o cérebro
fica privado de açúcar, o ego subnutrido enfraquece, não lhe sendo possível
encarregar-se das rotinas necessárias, e perde todo o interesse pelas relações
espaciais e temporais que tanto significam para um organismo determinado a
vingar no mundo. Assim que a Mente sem Limites passa através da válvula já não
estanque, todo o tipo de coisas biologicamente inúteis começam a acontecer. Em
alguns casos podem ocorrer percepções extra-sensoriais, noutros as pessoas
descobrem um mundo de beleza visionária, noutros ainda é-lhes revelada a
glória, o valor infinito e a plenitude de significado da pura existência, do
acontecimento real e não conceptualizado. Na fase final do estado de ausência
de ego, há um “conhecimento obscuro” de que Tudo está em tudo – de que na
realidade Tudo é cada qual. Entendo que isto é o mais próximo que uma mente
finita poderá alguma vez estar de “apreender tudo o que acontece em qualquer
parte do universo”.
Neste contexto, quão significante é a
enorme intensificação da percepção da cor sob o efeito da mescalina! Para
certos animais é biologicamente muito importante ser capaz de distinguir
determinados matizes, mas além dos limites do seu espectro utilitário, a
maioria das criaturas são completamente daltónicas. As abelhas, por exemplo,
passam a maior parte do seu tempo a “desflorar as virgens imaculadas da
Primavera”,
mas como Von Frish demonstrou, só são capazes de reconhecer um número muito
limitado de cores. O sentido cromático extremamente desenvolvido do homem é um
luxo biológico – inestimavelmente preciso para si enquanto intelectual e ser
espiritual, mas desnecessário para a sua sobrevivência enquanto animal. A
julgar pelos adjectivos que Homero põe nas suas bocas, os heróis da Guerra de
Troia dificilmente ultrapassavam as abelhas na capacidade de distinguir as
cores. Pelo menos a este título, o progresso da humanidade foi prodigioso.
A mescalina aviva todas as cores e torna
aquele que as percepciona consciente das inúmeras e ínfimas gradações de
diferença a que é completamente cego em circunstâncias normais. Poderia parecer
que para a Mente sem Limites as chamadas características secundárias das coisas
são primordiais. Contrariamente a Locke, é evidente que sente que as cores são
mais importantes, mais merecedoras de atenção do que as massas, posições e
dimensões. À semelhança das pessoas que ingerem mescalina, muitos místicos
percepcionam cores sobrenaturalmente luminosas não somente com o olho interno
mas mesmo no mundo objectivo que os rodeia. Relatos semelhantes são feitos por
videntes e por pessoas dotadas de poderes psíquicos, e para certos médios a
breve revelação dos que experimentam a mescalina é uma experiência de longa
duração, ocupando várias horas por dia.»
Curiosamente, os efeitos psicotrópicos
do mescalito encontram-se igualmente
presentes na obra de Carlos Castaneda, desde logo no âmbito da sua recolha de
informações sobre plantas medicinais a ponto de, inesperadamente, o levar a uma
experiência transfigurante durante largos anos sob a aprendizagem misteriosa de
um brujo índio yaqui (don Juan Matus)
cujos conhecimentos remontavam às tradições iniciáticas milenares dos Toltecas.
Há, aliás, um manifesto paralelismo, se assim o podemos dizer, entre a “válvula
reguladora do cérebro” em Aldous Huxley e o “ponto de conjunção” contido nos
ensinamentos de don Juan a Carlos Castaneda,
conforme permitem adivinhar os sucessivos e diferentes estados de consciência intensificada ocasionalmente
experienciados e devidamente relatados pelo investigador académico de
antropologia da Universidade da Califórnia. Saliente-se, pois, por entre
aqueles estados correspondentes ao mundo da realidade não-ordinária o que por
ora mais directamente importa antolhar:
«Resumidamente, [don Juan] delineou as
verdades sobre a consciência, que tinha discutido: que não existe mundo
objectivo, mas apenas um universo de campos de energia, a que os videntes
chamam emanações da Águia. Os seres humanos são feitos das emanações da águia e
são, essencialmente, bolhas de energia luminosa; cada um de nós está envolto
num casulo que encerra uma pequena parte destas emanações. A consciência é
adquirida pela constante pressão que as emanações do exterior do nosso casulo,
que se chamam emanações livres, exercem sobre as do interior dos nossos
casulos. Essa consciência dá origem à percepção, que acontece quando as
emanações do interior dos nossos casulos se alinham com as correspondentes
emanações livres.
Repetiu isto várias vezes, dando-me
tempo para o entender. Depois, disse-me que, para corroborar as verdades sobre
a consciência, eu precisava de energia.
(...) Don Juan explicou-me que, para a
nossa primeira atenção colocar em foco o mundo que nós percebemos, tinha de
enfatizar certa emanações seleccionadas na faixa onde se localiza a consciência
do homem. As emanações descartadas, continuam ao nosso alcance, mas permanecem
inactivas, desconhecidas para nós, para toda a nossa vida.
Os novos videntes chamavam às emanações
enfatizadas, o lado direito, a consciência normal, o timbre, este mundo, o
conhecido, a primeira atenção. O homem comum chama-lhes realidade,
racionalidade, senso comum.
As emanações enfatizadas compõem uma
larga faixa de consciência do homem, mas uma parte muito pequena do espectro
total das emanações presentes no interior do casulo do homem. As emanações
menosprezadas na faixa humana, são consideradas como uma espécie de preâmbulo
ao desconhecido, e o próprio desconhecido consiste numa massa de emanações, que
não fazem parte da faixa humana e que nunca são enfatizadas. Os videntes
chamam-lhes lado esquerdo da consciência, os naguais chamam-lhes o outro mundo,
o desconhecido, a segunda atenção.
– Este processo de enfatizar certas
emanações – continuou don Juan, – foi descoberto e praticado pelos antigos
videntes. Eles concluíram, que um homem nagual, ou uma mulher nagual, pelo
facto de terem uma força extra, podem afastar a ênfase das emanações usuais e
fazê-la passar para as emanações mais próximas. Esse afastamento é conhecido
como o golpe do nagual.
(...) Explicou-me que os seres humanos
escolhiam, repetidamente, as mesmas emanações para perceber, por duas razões.
Primeira, e a mais importante, porque fomos ensinados que essas emanações são
perceptíveis: segundo, porque o nosso ponto de conjunção selecciona e prepara
essas emanações para serem usadas.
– Todos os seres vivos têm um ponto de
conjunção – continuou, – que selecciona emanações para enfatizar. Os videntes
podem ver se os outros seres sensíveis
partilham a mesma visão do mundo, vendo
se as emanações que os seus pontos de conjunção seleccionaram são as mesmas.
Afirmou que uma das mais importantes
conquistas dos novos videntes, foi descobrir que a zona onde esse ponto se
localiza no casulo de todos os seres vivos, não é uma característica
permanente, mas se estabelece naquela zona específica, por hábito. Daí, a
tremenda importância que os novos videntes dão às novas acções, às novas
práticas. Querem, desesperadamente, chegar a novos costumes, novos hábitos.
– O golpe do nagual é de extrema
importância – continuou ele, – porque faz deslocar esse ponto. Altera a sua
localização. Por vezes, até cria uma abertura permanente, nesse sítio. O ponto
de conjunção é totalmente desalojado e a consciência muda drasticamente. Mas o
que é um facto de maior importância, é a própria compreensão das verdades sobre
a consciência, de forma a perceber que esse ponto pode ser deslocado a partir
do interior. A infeliz verdade é que os seres humanos perdem sempre por
omissão. Simplesmente, desconhecem por omissão.»
Em suma: o domínio da consciência
encontra-se profundamente ligado à posição do ponto de conjunção, como se
poderá novamente aferir à luz das explicações de don Juan a Carlos Castaneda:
« – O ponto de conjunção dos outros
organismos também é treinado para aparecer onde aparece? – perguntei.
– Todos os organismos recém-nascidos são
treinados, de uma forma ou de outra – replicou. – Podemos não compreender como
se processa o treino, afinal, nem sequer percebemos como se processa em nós,
mas os videntes vêem que os
recém-nascidos são coagidos a fazer o que a sua espécie faz. É precisamente o
que acontece com as crianças humanas: os videntes vêem os seus pontos de reunião mudarem para todos os lados e,
depois, vêem como a presença dos
adultos prende cada ponto na sua área. Acontece o mesmo com todos os outros
organismos.
Don Juan pareceu reflectir por um
momento e, então, acrescentou que, de facto, havia um efeito único que o ponto
de conjunção do homem tem. Apontou para uma árvore lá fora.
– Quando nós, como seres humanos adultos
e sérios, olhamos para aquela árvore – disse ele, – os nossos pontos de reunião
alinham um número infinito de emanações e alcança um milagre. Os nossos pontos
de conjunção fazem-nos perceber um grupo de emanações a que chamamos árvore.
Explicou que o ponto de conjunção não
afecta somente o alinhamento necessário para a percepção, como também impede o
alinhamento de certas emanações, de forma a chegar a um maior refinamento da
percepção, uma depuração, uma engenhosa construção humana, sem paralelo.
Disse que os novos videntes tinham
observado que só os seres humanos eram capazes de agrupar, novamente, os grupos
de emanações. Usou a palavra espanhola “desnate”, para descrever o acto de
separar a nata mais saborosa da superfície de uma vasilha de leite fervido,
depois de arrefecer. Do mesmo modo, em termos de percepção, o ponto de
conjunção do homem fica com uma parte das emanações já seleccionadas para
alinhamento e faz com elas uma construção mais agradável.
– As desnatações do homem – continuou
don Juan, – são mais reais do que aquilo que as outras criaturas percebem. Essa
é a nossa armadilha. São tão reais para nós, que nos esquecemos que as
construímos, ordenando os nossos pontos de conjunção que apareçam onde
aparecem. Esquecemos que são reais para nós, só porque a nossa ordem é
percebê-las como reais. Temos o poder de desnatar o melhor dos alinhamentos,
mas não temos o poder de nos protegermos das nossas próprias ordens. Isso tem
de ser aprendido. Dar total liberdade às nossas desnatações, como nós damos, é
um erro de julgamento, que pagamos tão caro quanto os antigos videntes pagaram
pelos seus.»
Posto isto, vejamos agora como na
passagem para o terceiro milénio a tendência tecnotrónica já previamente
direccionada para o domínio inorgânico
do ciberespaço ganharia cada vez mais novos desenvolvimentos que se tornariam,
por seu turno, potencialmente determinantes para a corrente armadilha da “transição digital e climática” suscitada pela actual
elite tecnocrática mundialista. Para
o efeito, tiremos particular proveito do que nos oferece, bem a propósito, a
seguinte transcrição da autoria de Luís Torres Fontes:
«A associação do psicadelismo a
mundivisões “alternativas” obscurece porém o papel crucial que drogas como o
LSD assumiram na génese do mundo contemporâneo. Relativamente à sociedade da
informação, logo em 1969 Marshall MacLuhan, o teorizador dos média, assinalou
que “o LSD consiste numa forma de emular o mundo electrónico invisível;
três décadas mais tarde, Jaron Lanier, pioneiro da realidade virtual, garantia
que “quase todos os fundadores da indústria dos computadores pessoais eram hippies do tipo psicadélico”.
Quanto ao ciberespaço, o próprio termo foi popularizado por John Perry Barlow,
letrista da banda psicadélica arquetípica Grateful
Dead e co-fundador da Electronic Frontier Foundation, organização dedicada
a proteger a liberdade de expressão na Internet. Dizendo-se inspirado a ligar o
mundo em rede pela visão do universo que lhe fora revelada pelo LSD, Barlow
comentou a propósito dos muitos acidheads
anónimos que partilham a sua missão: “É como se o futuro estivesse a ser
criado por um culto secreto”.
Por outro lado, soube-se recentemente
que o LSD está associado à descoberta mais importante do século XX a par da
fissão nuclear: o biólogo britânico Francis Crick “estava sob a influência de
LSD quando deduziu a estrutura da dupla hélice do ADN há quase 50 anos”.
(Esta descoberta, feita em colaboração com James Watson, valeu-lhe o Prémio
Nobel e o epíteto de “o homem que descobriu o segredo da vida”). O despacho
noticioso contendo a revelação surgiu apenas 10 dias após a morte de Crick,
ocorrida a 29 de Julho de 2004, informando ainda que o cientista obrigara os
seus próximos a fazerem completo segredo do facto. A notícia adianta que Crick
era “um entusiasta do romancista Aldous Huxley”,
tendo sido um dos fundadores de um grupo britânico para a legalização da canábis
chamado Soma, no final dos anos 60.
Sendo raras as personalidades que
ousam assumir em vida o efeito positivo das substâncias psico-activas nas
faculdades mentais, o seu número vem porém aumentando. Uma delas é o biólogo
norte-americano Kary Mullis. Prémio Nobel da Química em 1993 pela invenção do
PCR (Polymerase Chain Reaction, “reacção em cadeia da polimerase”), uma técnica
de amplificação exponencial do ADN que abriu caminho à revolução
biotecnológica, Mullis afirmou numa entrevista à BBC ter dúvidas de que teria
feito a descoberta se não tivesse tomado LSD, cujo uso, garantiu, o tornara mais
inteligente.
Outro exemplo: Mark Pesce, co-inventor da linguagem de programação de realidade
virtual VRML, não esconde o facto desta descoberta ter sido “especificamente
catalisada numa experiência psicadélica”.
Em Tecnognose,
Erik Davis assinala um aspecto menos aparente da influência dos psicadélicos no
mundo actual, “a integração de certas técnicas contraculturais de êxtase no tecido
da sociedade da informação”:
“Um dos grandes boatos paranóicos dos anos 60 era o de que os freaks tencionavam despejar LSD na rede
de abastecimento de água; pode vir a acontecer que os dispositivos digitais e a
máquina dos média acabem por drogar a população, infundindo um modo de cognição
inegavelmente psicadélico na cultura em geral. Os modems desatarraxam a ‘válvula redutora’ mental de Huxey e deixam
entrar a Mente sem Limites (Mind at Large)
ligada em rede. (...) Os computadores e os média electrónicos estão a ‘ligar’
todas as pessoas e o ciberespaço a tomar forma enquanto paisagem virtual
mutável da mente colectiva fundida. As energias libertadoras do êxtase,
definido como a expansão explosiva do eu para o exterior das suas fronteiras quotidianas
e incensadas pelos ideólogos da contracultura dos anos 60, são hoje um facto
tecnológico”».
A realidade virtual de uma mente
colectiva fundida constitui, curiosamente, a explicação levada a cabo pelo
britânico David Icke para, na base de uma analogia, tentar ilustrar como o
alinhamento da percepção se processa na humanidade em geral. Para tal,
refere-se a uma espécie de «internet holográfica» no pressuposto de que a
«Matriz» ou a «Consciência Infinita» se projecta como um “super holograma” cuja
interacção com o nosso cérebro potencia a ilusão
do nosso corpo e do mundo físico envolvente como se de um mundo sólido realmente
se tratasse. Neste prisma, os nossos cinco sentidos são apenas a expressão
“física” descodificada de uma variedade multímoda de campos energéticos
projectados pela «Consciência Infinita multidimensional, em que designadamente
os «olhos transformam a luz (energia, campos de frequências) em sinais
eléctricos que o cérebro interpreta, através do seu córtex visual, como a
aparente realidade tridimensional».
A partir daqui, o já célebre “conspiracionista”,
versado na copiosa trama do globalismo invasor, pormenoriza, sob a marcante influência de Carlos Castaneda,
como o desconhecimento da «Consciência Infinita» pode efectivamente contribuir
para a consciência fechada ou para a prisão da percepção,
sobretudo quando está em jogo o cerrado controlo e condicionamento político,
socioeconómico e espiritual de cada pessoa em particular e da humanidade em
geral, conquanto são, em última instância, puramente ilimitados em sua plena infinitude
de consciência. Ora, se bem que aqui a analogia proposta por David Icke permita
sublimar a existência de um mundo
inobjectivável, até pela forma como recorre ao domínio da física quântica
para assinalar a ilusão do mundo
físico mediante os respectivos níveis de realidade subatómica,
a verdade é que a alegada descodificação da já denominada «Matriz» nos termos
de uma «realidade holográfica ilusória tridimensional», desde
logo nos remete para uma descodificação que por definição é estritamente matemática.
Por outras palavras, a alegada descodificação de matriz informática não deixa
de ser mais uma desqualificante pese
embora prodigiosa representação do
mundo tal como se nos oferece espectacularmente espelhado na natureza e na vida
orgânica onde as essências são
decerto pela existência que as revela
e realiza, sem dela própria jamais quedarem cindidas como se de uma irrealidade ou pura fantasmagoria se
tratassem.
Quer isto, pois, justamente dizer que a
subjugação da humanidade a uma rede cibernética interligada sob a forma de uma
mente colectiva virtualmente fundida, é, no fundo, o triunfo do engenhoso
espírito de contradição estritamente separado da criação divina. Como tal, o intrusivo
quão exclusivo predomínio da chamada “inteligência artificial” é, por
contrapartida ao psicodinamismo
subjacente à existência natural do mundo orgânico, a unilateral projecção de um
processo inteiramente destituído de qualquer forma inteligente de vida para, no induzido domínio da aprendizagem
algorítmica e da digitalização avatárica,
fornecer apenas a vazia ilusão de uma actividade inteligente aparentemente
autónoma porque a montante inevitavelmente dependente de uma certa e
determinada programação previamente definida. Não há, por isso, nenhuma espécie
de actividade criadora propriamente dita no reino artificial do inorgânico, nem
sequer lugar para a expressão autêntica da ciência antropológica tradicionalmente
considerada do ponto de vista do composto humano tripartido em espírito, alma e
corpo, conforme, aliás, desenvolve esclarecidamente o autor português d’A Razão Animada:
«A antropologia é, essencialmente, a
ciência que estuda o homem. Se admitirmos por conveniência dedutiva que o homem
é um composto de espírito, alma e corpo, admitiremos também que ao estudo do
primeiro elemento conceda a filosofia uma extensão comparável à que outrora foi
atribuída à psicologia racional. As relações da razão com a alma, especialmente
durante a reflexão da palavra na consciência, justificam só por si tão amplo
tratamento da antropologia no quadro das ciências filosóficas.
Ao preceito socrático da autognose, da
distinção entre o eu e o não-eu no espelho da consciência, devemos religar a
tese de Protágoras, segundo o qual o
homem é a medida de todas as coisas, e deste modo postular uma
interpretação humanista do universo, para termo de verificação e comparação com
todos os outros sistemas filosóficos. A alma humana assume assim a alta virtude
mediatriz que lhe é atribuída na Psicologia
de Aristóteles. Esta doutrina perdurou até ao fim da Idade Média; mas depois,
sob pretexto de regresso à sabedoria da Antiguidade, a investigação
antropológica dirigiu-se para o estudo do corpo humano, segundo o método
analítico da anatomia, da fisiologia e da cirurgia.
A decadência da antropologia
aristotélica teve o efeito de prender a ciência ao estudo da sensitividade
animal, mas a sensitividade humana, que não é mera passividade estimulada por
objectos exteriores à consciência, logo exige a relação com uma actividade, e a
investigação de causas sensíveis ou insensíveis. A fisiologia da percepção
tende a estabelecer correspondências entre os sensos humanos, que não são
apenas os cinco da cartilha, e as forças naturais, que não são apenas as mencionadas no compêndio, correspondência que exige nomenclatura matemática
para se explicitar em movimentos, velocidades, acelerações. Ao falarmos de
velocidade da luz, de velocidade do som, etc., com aparente linguagem de
objectividade, demonstramos, afinal, que nos é muito difícil, que nos será
talvez impossível, constituir uma física para além da subjectividade humana.
A exteriorização das causas e, portanto,
a sua espacialização, só pode induzir em erro o pensador que não haja sido
habilitado a ascender da técnica para a ciência. Caracteriza-se o técnico por
ser um homem que não sabe o que faz,
um homo faber. Apto a realizar um
trabalho perfeito, e portanto a prestar um útil serviço social, o
técnico terá de estudar a respectiva ciência quando pretender adquirir a
liberdade.
Se a sensação é a actividade dos
sensos, e não a sua passividade, diremos que as forças designadas pela física
são sentidos que representam efeitos, o que é verdadeiro, porque as causas
permanecem ocultas, porque a relação de causalidade está longe de ser a
consecução temporal de antecedente para consequente. A hipótese gnósica de que
existe um sexto senso, ainda mal estudado, favorece a tese de que a evolução do
corpo humano tende para a transfiguração do mundo. Esta relatividade humanista,
dependente da noção de experiência, e de leis bem conhecidas pelos médicos,
confirma portanto a doutrina de Protágoras que está implícita na filosofia de
Aristóteles.
Quanto mais se afasta do aristotelismo,
tanto mais a antropologia deixa de ser efectivamente uma ciência filosófica.
Curioso é notar, a este propósito, a significação do livro de Alexis Carrel,
intitulado o Homem, Esse Desconhecido.
A falência da antropologia no estudo do composto humano seria explicável pela
inversão que a cultura moderna operou na ordem tradicional dos elementos
conservados na doutrina de Aristóteles.»
Posto isto, mais facilmente se explica
que, na era tecnotrónica actual, as raízes substancialmente antropológicas e,
por extensão, biológicas que estão no cerne da evolução criatriz da humanidade,
estejam a ser profundamente ameaçadas com o aberrante avanço da transgeneridade por força de uma tecnologia transgénica assente na
alteração do ADN
dos seres vivos para potenciar artificialmente determinadas características
genéticas induzidas à margem da própria natureza. Trata-se, infelizmente, de
uma forma antinatural de tecnologia especialmente destinada a preparar a
humanidade dolorida para um tétrico desfecho transhumanista, onde se fará propositadamente sentir a imposição
legal da aviltante e deformadora mudança de sexo numa dimensão a todos os
títulos impensável ou sequer mesmo inimaginável para a própria civilização
humana, a que também aliás acresce a produção de embriões feitos com material
genético humano e animal que estarão assim na base de quimeras ou de seres
híbridos particularmente aberrantes. E eis, então, o concomitante surgimento do
novo e recorrente estatuto de alegada “personalidade” atribuída pelos ideólogos
do transhumanismo aos subprodutos resultantes quer das manipulações da
engenharia genética, quer das tecnologias de reprodução baseadas na construção
de “úteros artificiais” (octogénese) em franco detrimento da gravidez natural,
quer ainda ao nível dos prementes avanços e desenvolvimentos obtidos no âmbito
centralizador da estratégia global de gestão, vigilância e identificação viabilizada pela inteligência artificial.
Por outro lado, é um facto de que a
Organização das Nações Unidas (ONU) tem fortemente apostado na centralização tecnológica com o ardiloso
pretexto de obter a sua respectiva regulação com base na vigilância, recolha e
armazenamento de dados em massa susceptíveis de, à partida, garantir e promover o “desenvolvimento
sustentável” consoante os objectivos globais traçados pela Agenda 2030. A
regulação em causa significa, na verdade, a administração
centralizada de todo o processo de compilação, registo e apuramento de
dados que permita teoricamente
assegurar a privacidade dos seus titulares e do bem comum perante o seu mau uso
por parte de corporações alheias à cultura de confidencialidade, integridade e
protecção de toda e qualquer informação pessoal disponibilizada. Acontece,
porém, que muitas dessas corporações, mormente dirigidas por globalistas, não
se encontram numa relação de estrita oposição para que efectivamente se proceda a
um novo paradigma de regulação global de dados pessoais em grandes plataformas
globalizadas, como as que vão sendo decerto incentivadas nos eventos anuais do
Fórum Económico Mundial a propósito dos avanços e vantagens da inteligência
artificial em pleno curso.
Endgame:
There’s no returning to normal
É
óbvio de que os globalistas e os agentes políticos que os servem não estão
minimamente interessados no bem-estar, saúde e prosperidade das populações que
tão encarecidamente dizem servir, nem sequer nas chamadas questões ambientais
em nome das quais tudo apostam afincadamente a fim de obterem a microgestão do planeta. Resumindo e concluindo, «Klaus Schwab, the head of the
World Economic Forum, and many other globalist leaders have said the same
thing: There’s no returning to normal. So citizens in the West can expect to
see a continuity of plans to make this happen: increased money printing and
inflation to make people willing to switch to a world currency, increasingly
open borders to add to economic and cultural strife, huge dollars spent on
supposed “green” initiatives and the targeting of many non-green industries and
jobs in the West, efforts to enable vote fraud so that globalists/socialists
get “elected,” efforts to squash free speech and increase the number of actions
prosecuted as “hate crimes,” increased unemployment in the West to increase
reliance on government, lots more gun-control laws, and the continued stifling
of religious belief and action.»