quarta-feira, 31 de dezembro de 2025

Sobre a vida de Miyamoto Musashi

Escrito por Victor Harris



3 folhas de malva num círculo (Tokugawa).

«A educação dos filhos dos xóguns Tokugawa era ministrada através da aprendizagem dos clássicos chineses e de exercícios de manejo da espada. Enquanto um ocidental poderia afirmar: “A caneta é mais poderosa que a espada”, os japoneses diriam: “Bunbu ichi”, ou “A caneta e a espada estão em harmonia”».

(«Introdução: o Japão na época de Musashi», in O Livro dos Cinco Anéis, Chancela Marcador, Impresso na China, 1.ª edição, Lisboa, 2005).


«No quadro de um Japão recuperando os seus valores, só pode ser o mais perfeito dos homens, primeiro teoricamente identificado e depois realmente aceite, o bushi, o guerreiro, logo o gesto último destinado a exprimir a perfeição e a cultura, será o de fazer da morte uma obra de arte, em conformidade com o miyabi, da “Beleza aristocrática”. Mas esta “Beleza mortal” não se pode exercer senão sobre uma “Beleza corporal” sob pena de cair na indecência, um corpo são que, chegado à perfeição formal, será submetido à prova da morte, tal como a flor de cerejeira que, em pleno desabrochar, se solta do seu suporte e morre na plenitude da sua beleza. A natureza passageira da perfeição e a consciência aguda da morte, ideias directamente provenientes da mentalidade dos samurai, são centrais no pensamento metapolítico e cultural de Mishima, que esclarece:

“O que no fundo poupa a carne ao ridículo, é o elemento de morte que reside num corpo vigoroso, inteiramente são: eu entendia que isto era o que mantinha a dignidade da carne”. (O Sol e o Aço).

Mas esta “louca morte” aplicada a um corpo belo não teria qualquer sentido para Mishima se não estivesse inscrita num determinado objectivo: o de suprimir a ruptura operada pelo Japão depois de 1945 entre a estética e a ética, o intelecto e a acção, o que o autor designava por o crisântemo e a Espada.



Kiku: Flor de Crisântemo (selo imperial).

(...) Mishima passou os seus últimos anos a bater-se por um reequilíbrio destes dois dados essenciais da cultura nipónica, afirmando ser daqueles

“[...] que incarnam a tradição japonesa do Belo” e preconizando mesmo “regras [...] para a criação de um Estado estético”. (Manifesto contra-revolucionário no Tate no kai).

Ao fazê-lo, o escritor reatava com um ideal “arcaico”, mítico e analógico, daquele do bunburyodo, a “dupla via” da Pena e do Sabre, da elegância requintada e do heroísmo total, em que todos os actos, inevitavelmente culturais pela sua demarcação para com o estado natural, estavam ligados por uma visão totalizante do mundo. A perfeição desta “dupla via” atingiu o seu apogeu na época dos Tokugawa. Mas Mishima sabia que as suas ideias teriam pouco efeito se não fossem acompanhadas por um acto significativo, sangrento e estético, que provocasse uma catarse no seio de um povo esquecido do seu passado e dos seus valores. Daí, o acto de Novembro de 1970, suicídio simultaneamente do tipo munebara, suicídio de ressentimento ou de protesto contra o estado de coisas que denunciava, e junshi, suicídio sacrificial de acompanhamento na morte de uma cultura defunta. O Acto de Mishima, de certo modo a sua Grande Obra, pela sua estética, a sua teatralidade e a sua publicidade – pequeno toque moderno num combate tradicional no restante -, semeou a emoção no povo nipónico, que se sentiu tocado na sua carne e no seu intelecto. A semente de Mishima, ao purificar e iluminar a visão turvada que os japoneses tinham dos diversos aspectos da sua cultura, nomeadamente a relativa à morte, contribuiu para lançar um raio de luz vivo e breve sobre a beleza intrínseca desta cultura e reconciliou, talvez por um curto momento, o Crisântemo com a Espada. Ainda que só por esse breve instante, o sacrifício de Yukio Mishima não foi em vão.»

(«O primeiro dos escritores nipónicos e o último dos samurai: Yukio Mishima», nota adicional em Bernard Marillier, Samurai). 






Hana wa sakura gi

hito wa bushi

Entre todas as flores, a flor de cerejeira;

entre todos os homens, o guerreiro.


Sakura (Cerejeira em flor). Ao fundo: Monte Fuji-san.


SOBRE A VIDA DE MIYAMOTO MUSASHI

Shinmen Musashi no Kami Fujiwara no Genshin, mais conhecido como Miyamoto Musashi, nasceu numa aldeia chamada Miyamoto, na província de Mimasaka, em 1584. «Musashi» é o nome de uma região a sudoeste de Tóquio e a designação no Kami significa pessoa nobre dessa região, enquanto «Fujiwara» é o nome da família nobre mais importante do Japão há mais de mil anos.

Os antepassados de Musashi pertenciam a um dos ramos do poderoso clã Harima de Kyushu, a ilha do sul do Japão. O seu avô, Hirada Shokan, era um dos guardiões de Shinmen Iga no Kami Sudeshige, o senhor do castelo de Takeyama. O seu amo tinha uma grande estima por Hirada Shokan, que acabou por se casar com a filha do seu amo.

Quando Musashi tinha sete anos, o pai, Munisai, morreu ou abandonou o filho. Como a mãe também havia falecido, Musashi foi entregue aos cuidados de um tio do lado materno, um sacerdote. E assim sabemos que Musashi era orfão durante as campanhas de unificação de Hideyoshi, filho de um samurai numa terra violenta e infeliz.

Toyotomi Hideyoshi


Emblema do Clã Toyotomi 


Réplica da armadura de Toyotomi Hideyoshi

                                                     UM TEMPERAMENTO AGRESSIVO

Em jovem era violento, determinado e fisicamente corpulento para a idade. Desconhece-se se foi incentivado pelo tio a praticar Kendo ou se a sua natureza agressiva o levou a fazê-lo, mas há registos de que matou um homem num combate individual quando tinha apenas treze anos.

O adversário era Arima Kiheu, um samurai da escola de artes militares de Shinto-ryu, exímio no manejo da espada e da lança. O rapaz atirou o homem ao chão e bateu-lhe na cabeça com um pau quando este tentou levantar-se. Kihei morreu a vomitar sangue.

O combate seguinte de Musashi teve lugar aos dezasseis anos, quando derrotou Tadashima Akiyama. Por esta altura, saiu de casa para participar na «Peregrinação do Guerreiro», que o levou a vencer dezenas de competições e o conduziu à guerra seis vezes, até que finalmente assentou aos cinquenta anos, tendo chegado ao fim da sua demanda pela razão. Deve ter havido inúmeros ronin a viajar pelo país em expedições semelhantes, alguns sozinhos, como Musashi, e outros com patrocínios, embora não à escala da peregrinação do famoso mestre da espada Tsukahara Bokuden, que viajou com um séquito de mais de cem homens no século anterior.

Esta fase da vida de Musashi foi passada à margem da sociedade, enquanto se dedicava com uma feroz determinação à busca da iluminação através do Caminho da Espada. Preocupado apenas em aperfeiçoar as suas capacidades, viveu como os homens não precisam viver, vagueando pelo Japão, açoitado pelos ventos frios do Inverno, de cabelo desgrenhado, sem contrair matrimónio, nem seguir profissão além do seu estudo. Diz-se que nunca entrava numa banheira temendo ser apanhado desprevenido sem uma arma, e que o seu aspecto era desleixado e miserável.

Na Batalha de Sekigahara, que resultou na sucessão de Ieyasu sobre Hideyoshi como xógum do Japão, Musashi juntou-se às fileiras do exército Ashikaga para lutar contra Ieyasu. Suportou os terríveis três dias durante os quais morreram setenta mil pessoas, e sobreviveu à caça e ao massacre do exército derrotado. Com vinte e um anos, dirigiu-se para a capital, Quioto. Foi então que deu início à sua vingança contra a família Yoshioka. Os Yoshiokas eram instrutores de esgrima da casa Ashikaga havia várias gerações. Posteriormente, foram proibidos de ensinar Kendo pelo Lorde Tokugawa e tornaram-se tintureiros, sendo ainda hoje essa a sua actividade. Munisai, o pai de Musashi, fora convidado para ir a Quioto alguns anos antes pelo xógum, Ashikaga Yoshiaka. Munisai era um espadachim competente e exímio com o jitte, uma espécie de bastão de ferro com uma lingueta para agarrar as lâminas das espadas. Reza a história que Munisai lutou contra três dos Yoshiokas, vencendo dois dos duelos, e talvez este facto tenha alguma relação com a atitude de Musashi para com essa família. 

Jitte








Batalha de Sekigahara

Teppo: arcabuzes japoneses da Era Edo.

ARTE DE MANEJAR A ESPADA

Yoshitaka Seijiro, o chefe da família, foi o primeiro a lutar contra Musashi, numa charneca nos arredores da cidade. Seijiro estava armado com uma espada verdadeira e Musashi com uma espada de madeira. Musashi deitou Seijiro ao chão com um ataque feroz e bateu-lhe selvaticamente enquanto este jazia por terra. Os criados levaram o seu senhor para casa numa caleche, onde, por vergonha, ele cortou o seu carrapito de samurai.

Musashi permaneceu na capital, e a sua presença constante irritou ainda mais os Yoshiokas. O segundo irmão, Denshichiro, desafiou Musashi para um duelo. Recorrendo a uma estratégia militar, Musashi atrasou-se no dia marcado e, segundos após o início do combate, partiu o crânio do adversário com um golpe da sua espada de madeira, matando de imediato Denshichiro.


Ichijoli Sagarimatsu, lugar onde se deu a disputa entre Musashi e a Escola Yoshioka.

A família propôs uma nova disputa com Hanshichiro, o jovem filho de Seijiro, no papel de campeão. Hanshichiro era apenas um rapaz que ainda não tinha entrado na adolescência. A competição deveria ter lugar junto a um pinheiro situado perto de campos de arroz. Musashi chegou ao local de encontro muito antes da hora marcada e aguardou, escondido, pelo seu rival. O jovem chegou vestido formalmente em trajes de guerra, com um grupo de lacaios bem armados, determinados a eliminar Musashi. Musashi esperou, oculto por entre as sombras; quando julgaram que aquele tinha pensado melhor e decidido abandonar Quioto, Musashi irrompeu por entre eles e matou o rapaz. De seguida, desembainhando as duas espadas, abriu caminho por entre o séquito e fugiu.

Após esse terrível episódio, Musashi vagueou pelo Japão, tornando-se uma lenda do seu tempo. Há referências ao seu nome e histórias sobre as suas proezas em registos, diários e monumentos, na memória popular, de Tóquio a Kyushu. Antes dos vinte e nove anos, participou em mais de sessenta combates e venceu-os todos. O relato mais recente desses combates consta no Niten Ki, ou «Crónica dos Dois Céus», um registo compilado pelos seus alunos uma geração após a sua morte.


Musashi vs. Inshun

Em 1605, no ano do incidente com os Yoshiokas, visitou o templo Hozoin, no sul da capital. Aí teve uma disputa com Oku Hozoin, o aluno da seita Nichiren do monge zen, Hoin Inei. O monge era lanceiro e não estava à altura de Musashi, que o derrotou duas vezes com a sua espada curta de madeira. Musashi permaneceu no templo durante algum tempo, estudando técnicas de combate e desfrutando de conversas com os monges. Subsiste nos dias de hoje uma forma tradicional de luta com lança, praticada pelos monges de Hozoin. É interessante notar que, nos tempos antigos, o termo osho, que actualmente significa sacerdote, significava «professor de luta com lanças». Hoin Inei foi aluno de Izumi Musashi no Kami, um mestre de Shinto Kendo. O monge utilizava lanças com lâminas em forma de cruz que eram guardadas no exterior do templo, sob o beiral, caso necessitasse delas para qualquer urgência.

Quando Musashi se encontrava na província de Iga, encontrou um exímio lutador de correntes e foices chamado Shishido Baikin. Enquanto Shishido fazia rodar a sua corrente, Musashi desembainhou um punhal e trespassou-lhe o peito, avançando para o matar. Os alunos que observavam atacaram Musashi, mas ele afugentou-os em quatro direcções.

Em Edo, um guerreiro chamado Muso Gonosuke visitou Musashi desafiando-o para um duelo. Naquele momento, Musashi estava a cortar madeira para fazer um arco e, atendendo ao pedido de Gonosuke, levantou-se, com o objectivo de se servir do fino bastão que estava a cortar como espada. Gonosuke atacou-o com fúria, mas Musashi avançou e bateu-lhe na cabeça. Gonosuke desistiu.

Ao passar pela província de Izumu, Musashi visitou o Mestre Matsudaira e pediu-lhe permissão para lutar com o seu guerreiro mais forte. Havia muitos bons estrategas em Izumo. A permissão foi concedida contra um homem que usava uma vara de madeira hexagonal de 2,4 m de comprimento.

A luta teve lugar no jardim da biblioteca do mestre. Musashi usou duas espadas de madeira. Perseguiu o samurai pelos dois degraus de madeira da varanda da biblioteca, atingiu-lhe o rosto no segundo degrau e bateu-lhe em ambos os braços quando ele se esquivou. Para surpresa dos servos reunidos, o Mestre Matsudaira pediu a Musashi que lutasse com ele. Musashi impeliu o mestre a subir os degraus da biblioteca como antes e, quando este tentou adoptar uma posição determinada de esgrima, Musashi golpeou-lhe a espada, proferindo as palavras «o fogo e as pedras cortam», partindo-a em duas. O senhor fez uma vénia em sinal de derrota e Musashi permaneceu durante algum tempo como seu professor.




Duelo entre Musashi e Sasaki Kojiro

«CORTE DA ANDORINHA»

O duelo mais célebre de Musashi teve lugar no décimo sétimo ano de Keicho, em 1612, quando se encontrava em Ogura, na província de Bunzen. O seu adversário era Sasaki Kojiro, um jovem que tinha desenvolvido uma forte técnica de esgrima conhecida como Tsubame-gaeshi ou «corte da andorinha», inspirada no movimento da cauda de uma andorinha em voo. Kojiro foi mantido ao serviço do senhor da província, Hosokawa Tadaoki. Através dos contactos de Nagaoka Sato Okinaga, um dos guardiões de Hosokawa que fora aluno do pai de Musashi, este pediu autorização a Tadaoki para combater contra Kojiro. A permissão foi concedida para que o combate se realizasse às oito horas da manhã seguinte, e o local seria uma ilha a alguns quilómetros de Ogura. Nessa noite, Musashi deixou o seu alojamento e mudou-se para a casa de Kobayashi Tare Zaemon. Este facto deu origem a um rumor de que a admiração pela técnica subtil de Kojiro tinha levado Musashi a fugir, temendo pela sua vida.

No dia seguinte, às oito horas, Musashi ainda dormia, e foi preciso que um dos emissários reunidos na ilha fosse buscá-lo. Levantou-se, bebeu a água que lhe haviam levado para se lavar e dirigiu-se directamente para a costa. Enquanto Sato remava para a ilha, Musashi fez um cordel de papel para atar as mangas do seu quimono e cortou uma espada de madeira do remo que sobrara. Depois de ter feito isto, deitou-se e descansou.



O barco aproximou-se do local do combate; Kojiro e os funcionários que o aguardavam ficaram estupefactos ao verem a estranha figura de Musashi, com o seu cabelo despenteado amarrado a uma toalha, a saltar do barco empunhando o longo remo de madeira e a correr através das ondas até à praia em direcção ao seu adversário. Kojiro desembainhou a sua espada longa, uma fina espada de Nagamitsu de Bizen, e deitou fora a bainha. «Não precisas de nada disso», disse Musashi enquanto corria com a espada de lado. Kojiro foi provocado a dar o primeiro golpe e Musashi avançou com a sua espada, batendo com o remo na cabeça de Kojiro. Musashi apercebeu-se do estado de Kojiro e fez uma vénia aos funcionários estupefactos antes de regressar a correr para o barco. Isso deu origem a boatos de que, depois de matar Kojiro, Musashi atirou o remo ao chão e, dando rapidamente um salto para trás, desembainhou as duas espadas e brandiu-as com um grito contra o adversário derrotado.

Em 1614, e novamente em 1615, teve a oportunidade de voltar a participar em guerras e cercos. Ieyasu cercou o castelo de Osaka, onde os apoiantes da família Ashikaga se insurgiam. Musashi juntou-se às forças Tokugawa nas campanhas de Inverno e de Verão, lutando agora contra aqueles por quem tinha lutado quando era jovem em Sekigahara.

De acordo com os seus próprios relatos, apenas veio a compreender a estratégia em 1634, com cinquenta ou cinquenta e um anos. Nesse ano, estabeleceu-se em Ogura com o seu filho adoptivo, Lori, um orfão que encontrara na província de Dewa durante as suas viagens. Musashi nunca mais voltou a sair da ilha de Kyushu. O castelo de Kumamoto, sede da província de Higo, tinha sido confiado à casa Hosokawa e o novo senhor de Bunzen era um Ogasawara.

Lori conseguiu um emprego sob o comando de Ogasawara Tadazane e, na qualidade de capitão do seu exército, lutou contra os cristãos na revolta de Shimabara de 1638. Os senhores das províncias do sul foram sempre hostis aos Tokugawas e fomentavam intrigas com potências estrangeiras e com cristãos japoneses. Musashi era membro da força militar em Shimabara, onde os cristãos foram massacrados. Após este episódio, Ieyasu fechou os portos do Japão ao comércio externo, tendo permanecido fechados durante mais de duzentos anos.

Após seis anos em Ogura, Musashi foi convidado a residir como hóspede em casa de Churi, o senhor feudal Hosokawa, do castelo de Kumamoto. Ficou alguns anos com o senhor feudal Churi e dedicou o seu tempo ao ensino e à pintura. Em 1643, retirou-se para uma caverna chamada Reigendo, onde passou a viver em reclusão. Foi aí que escreveu O Livro dos Cinco Anéis, destinado ao seu aluno Teruo Nobuyuki, poucas semanas antes da sua morte, a 19 de Maio de 1645.

Castelo de Kumamoto

Musashi é conhecido pelos japoneses como Kensei, ou seja, «o santo da espada». O Livro dos Cinco Anéis é único na literatura sobre artes marciais e figura no topo de qualquer bibliografia sobre o Kendo. Aborda a estratégia de guerra e os métodos de combate individual exactamente da mesma forma. É, segundo as palavras de Musashi, «um guia para os homens que querem aprender estratégia», e é o último testamento de Musashi, a chave para o caminho que ele percorreu. Quando, aos vinte e oito ou vinte e nove anos, se tornou um forte guerreiro, não se acomodou e construiu uma escola, recheada de sucessos, mas dedicou-se ao estudo em dobro. Até nos seus últimos anos de vida, desprezou a vida de conforto com o senhor Hosokawa e viveu dois anos sozinho numa gruta na montanha, em profunda contemplação.

Musashi escreveu: «Quando alcançar o Caminho da Estratégia, não haverá mais nada que não possa compreender» e «Verá o Caminho em tudo».

Pintura de Miyamoto Musashi em biombo, feita a pedido da família Hosokawa.

Também produziu obras-primas de pinturas com tinta, trabalhos em metal e fundou uma escola de fabricantes de guardas de espada. As suas pinturas apresentam por vezes o seu selo, «Musashi», ou o seu pseudónimo «Nitten». Nitten significa «Dois Céus», o que, de acordo com alguns relatos, faz alusão à sua atitude de combate, com uma espada em cada mão, empunhadas acima da cabeça.



Também escreveu «Estuda os Caminhos de todos os ofícios» e é evidente que foi isso mesmo que fez. Procurou não só os grandes esgrimistas, como também monges, estrategas, artistas e artesãos, desejoso de alargar os seus conhecimentos.

Musashi escreve sobre os vários aspectos do Kendo de tal forma que é possível ao principiante estudar no nível principiante e aos mestres de Kendo estudar as mesmas palavras num nível mais elevado. E isso aplica-se não só à estratégia militar, mas também a qualquer situação em que se utilizem planos e tácticas. Os homens de negócios japoneses usam hoje O Livro dos Cinco Anéis como um guia para a prática comercial, transformando campanhas de vendas em operações militares, empregando os mesmos métodos enérgicos.

Castelo Hirosake

O estudo da vida de Musashi é, desta forma, tão relevante no século XX como o foi no campo de batalha medieval e não se aplica apenas ao Japão, mas a todas as nações. Suponho que se poderia resumir a sua fonte de inspiração como «humildade e trabalho árduo».

(«Sobre a vida de Miyamoto Musashi», in O Livro dos Cinco Anéis, Chancela Marcador, Impresso na China, 1.ª edição, Lisboa, 2005, pp. 23-37).







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