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sábado, 19 de abril de 2014

Fátima e a Maçonaria (ii)

Escrito por Len Port





«Aldo Moro, historiador maçónico bastante rigoroso, sugere a iniciação de Paulo VI na Maçonaria. O mesmo corrobora o padre Malachi Martín no seu romance, Vatican [Editora Secker e Warburg], publicado em Nova Iorque em 1986, em que acusa Paulo VI de pertencer a uma loja secreta. Também encontramos referências semelhantes no livro All'ombra del Papa Inferno [2001], no qual é mencionada a existência de dois grupos muito diferentes no Vaticano: por um lado, o grupo "maçónico-curial", formado pelos prelados e pelos membros da Cúria afectos à Maçonaria e, por outro, os sacerdotes que pertencem ao Opus Dei. Ambos os grupos se movimentam numa luta permanente pelo poder no Vaticano. O referido livro faz referência à existência de uma organização chamada Loggia Ecclesia, que estaria activa no Vaticano desde 1971 e da qual fariam parte mais de cem pessoas, cardeais, prelados e monsenhores da Cúria. O livro pormenoriza inclusivamente que as reuniões se realizavam nas noites de quinta-feira, num sotão do Arquivo Secreto do Vaticano, e insinua que o cardeal Samore era o responsável por manter um contacto aberto com o Grão-Mestre da Grande Loja Unida de Inglaterra, o duque de Kent.

Em 1976 aparece uma lista [publicada pela Publia Gazette e pelo Bulletin de l'Occident Chrétien, de origem francesa, lista que Ricardo de la Cierva reproduz no seu livro La Masoneria Invisible, Editora Fénix, 2002] dos prelados que pertenciam à citada loja secreta do Vaticano. Perante esta situação, o cardeal Siri encarregou o general Mino de investigar a Cúria e a eventual infiltração da Maçonaria no Vaticano. O general Mino nunca chegou a entregar o resultado da sua investigação, porque morreu num estranho acidente rodoviário em 1977.

A citada lista que o grupo Cephas Ministry publica na Internet inclui os seguintes nomes:

BISPOS: Alberto Albondi, bispo de Livorno; Fiorenzo Angelini; Salvatore Baldassarri, bispo de Ravena; Luigi Bettazzi, bispo de Ivera; Gaetano Bonicelli, bispo de Albano; Michele Buro; Mario Ciarrocchi; Donate de Bous; Aldo Del Monte, bispo de Novara; Angelinin Fiorenzo; Antonio Mazza, bispo de Velia; Luigi Maverna, bispo de Chiavari; Marcello Morgante, bispo de Ascoli Oiceno; Francesco Salerno; Mario Schierano, bispo de Acrida e Dino Trabalzini, bispo de Rieti.

ARCEBISPOS: Mario Brini; Annibale Bugnini; Enzio D'Antonio; Alessandro Gottardi; Albino Mensa; Aurelio Sabbatini; Mario Giuseppe Sensi; Antonio Travia e Lino Zanini.

CARDEAIS: Augustin Bea; Sebastiano Baggio; Agostino Casaroli; Achille Liénart; Pasquale Macchi; Salvatore Pappalardo; Michele Pellegrino; Ugo Peletti; Leo Suenens e Jean Villot.

PRELADOS, NÚNCIOS E OUTROS: Ernesto Basadonna, prelado de Milão; Mario Bicarella, prelado de Vicenza; Luigi Dadagio, núncio do Papa em Espanha; Pio Laghi, núncio apostólico delegado na Argentina; Virgillio Levi, de L'Osservatore Romano; Paul Marcinkus; Dante Pasquinelli, conselheiro do núncio de Madrid; Roberto Tucci, director da Rádio Vaticano.

Vaticano


Actualmente alguns já faleceram e outros já não ocupam os cargos que constavam na lista da época. A lista publicada na Internet ascende a cento e dezasseis membros da cúria.

João Paulo I passou pelo Vaticano tão fugazmente como um meteorito. Foi eleito pela sua honestidade e pela sua sinceridade, era um homem coerente e franco, mas os seus detractores viam nele um populista que nunca entenderia os assuntos políticos da Santa Sé.

Era um homem de grande humildade, a tal ponto que não queria que os guardas suiços do Vaticano se ajoelhassem à sua passagem. Assim que tomou posse do trono do Vaticano iniciou algumas inovações teológicas que produziram profunda preocupação entre o clero conservador, que não estava disposto a tolerar mudanças relevantes. João Paulo I era partidário do controlo artificial da natalidade, pois estava consciente dos milhares de crianças que morriam de fome por esse mundo fora. Mas também - e isso originou ainda mais preocupação - se mostrou disposto a efectuar uma limpeza no Vaticano, visando especialmente os movimentos especulativos e financeiros. Provavelmente o seu erro foi antecipar-se aos factos, ao anunciar que algumas cabeças iriam rolar. Na lista figurava o cardeal secretário de Estado J. Villot, de quem se suspeitava pertencer à loja maçónica do Vaticano conhecida por Ecclesia. Outra cabeça que poderia rolar era a do bispo Marcinkus, devido às suas relações com os banqueiros da loja Propaganda Due, Calvi e Sidona. Também figurava entre os "sujos" o bispo Chicago, monsenhor Cody, que esbanjava os fundos da sua igreja com uma amiga que até o acompanhou a Roma, quando foi nomeado cardeal.

Com as suas novas ideias teológicas, e decidido à "limpeza" dos corruptos no Vaticano, João Paulo I assinou a sua sentença de morte.

Por volta de 23 de Setembro, o Papa possuía já bastante informação sobre as manobras financeiras do Vaticano. Inclusivamente, dispunha de referências sobre outra obscura personagem que se movia nas finanças do Vaticano, monsenhor Pavel Hnilica.

Este, fudador do Pro Fratibus, foi o responsável por tentar recuperar a mala que Roberto Calvi levava consigo antes de ser assassinado em Londres. Hnilica estava disposto a pagar milhões por aquela mala, onde supostamente Calvi levava informação valiosa e comprometedora.






O dia 28 de Setembro de 1978 foi o último dia da vida de João Paulo I. Aquele dia, tal como os outros, teve início com uma oração na sua capela privada, um pequeno-almoço frugal, enquanto ouvia as notícias da RAI e procedia ao habitual contacto com os seus secretários, John Magee e Diego Lorenzi. Depois seguiram-se as audiências com o cardeal Bernardin Ganti e o padre Riedmatten. Mais tarde almoçou com os cardeais Jean Villot e os padres Lorenzi e Magee. A seguir ao almoço passeou pelos jardins do Vaticano. Passou a tarde a estudar documentos e teve uma longa conversa com o cardeal Jean Villot, telefonou aos cardeais Giovanni Colombo, arcebispo de Milão e Benelli. Depois, como era seu costume, por volta das oito da noite, retirou-se para rezar o rosário na companhia de duas freiras e dos seus dois secretários. O jantar foi uma sopa de peixe, feijão-verde, queijo fresco e fruta. Seguidamente voltou a ver os noticiários na televisão. E, finalmente, retirou-se para o seu quarto, morrendo cerca das quatro horas da madrugada.

A sua morte foi encoberta desde o início com infindáveis mentiras e explicações confusas. O Vaticano disse que João Paulo I tinha morrido na cama, lendo A Imitação de Cristo, de Tomás de Kempis, uma das obras da literatura cristã mais divulgadas depois da Bíblia, no qual o autor apresenta a vida de Cristo como exemplo. No entanto, mais tarde presumiu-se que aquela versão não seria verdadeira. A madre Vicenza encontrou-o morto no seu escritório, supostamente enquanto examinava um documento secreto enviado pela Secretaria de Estado. E, se era verdade que na sua mesa-de-cabeceira tinha o livro A Imitação de Cristo, o facto é que a causa da morte de João Paulo I não foi esclarecida e o testamento que tinha redigido após a sua nomeação também desaparecera. O seu irmão, Eduardo, de setenta e quatro anos, tinha-o visitado três dias antes da sua morte e explicou: "Nunca nos tínhamos beijado nem abraçado, mas naquela tarde ele quis beijar-me e abraçar-me com força. Perguntei-lhe se estava bem e ele respondeu-me que sim. Mas parti com um estranho pressentimento". Eduardo conta que no decorrer da conversa que teve com o irmão este terá desabafado: "Até os bancos fundados pelos católicos, que deveriam dispor de gente de confiança, se apoiam em pessoas que de católicos nem o nome têm".

O abade Ducaud-Bourget diria acerca da morte de João Paulo I: "Com tantas criaturas do diabo a habitar no Vaticano, torna-se difícil acreditar que se tratou de uma morte natural". David A. Yallop investigou esta morte a fundo e recordou numa entrevista que nenhum médico da Cúria assumiu a responsabilidade de confirmar a sua morte, assinando a certidão de óbito. O seu médico de sempre, o doutor Antonio Da Ros, recusou a hipótese de o Papa sofrer do coração.






Mas estas não foram as únicas contradições suscitadas pela morte de João Paulo I. No seu livro La Santa Allianza, Eric Frattini explica que o termo do café que soror Vicenza levava todas as manhãs ao Pontífice estava intacto quando se descobriu o cadáver, tendo desaparecido depois sem deixar rasto. Também tinham sido substituídos os homens responsáveis pela vigilância habitual do Papa, sem qualquer explicação sobre quem havia dado tal ordem. Hans Roggan, oficial da guarda Suíça, afirmou mais tarde que, no momento em que informou Paul Marcinkus sobre a morte do Pontífice, este não mostrou qualquer admiração. Também ocorreram outros indícios suspeitos, como afirmarem que não tinha havido qualquer autópsia, quando na realidade foram feitas três. Os resultados das referidas autópsias nunca foram tornados públicos.

Relembremos finalmente que foi o padre Giovanni da Nicola quem informou o Sumo Pontífice dos desvios financeiros de Paul Marcinkus e dos seus sócios, através do IOR. Quatro dias depois da morte de João Paulo I, Giovanni da Nicola apareceu enforcado num parque de Roma muito frequentado por travestis e prostitutas. Havia vestígios de luta e tinha o pescoço rasgado, mas a polícia italiana encerrou o caso considerando-o suicídio. O homem que além de Papa mais sabia sobre os segredos do IOR e sobre Paul Marcinckus também tinha sido assassinado.

Para averiguar as causas da morte do Papa João Paulo I foi criada uma comissão de cardeais, dirigida por Silvio Oddi e Antonio Samore. A investigação concluiu que se tratou de "morte natural por enfarte", mas ainda ficavam muitas perguntas sem resposta e demasiados assuntos sem esclarecimento. A pasta da investigação foi classificada como "segredo pontifício", tal como ordenou João Paulo II, e foi arquivada numa obscura estante do Arquivo Secreto do Vaticano».

Jorge Blaschke («O Fim da Igreja e o Último Papa»).


«(...) Tendo enfrentado o tema com tanto atraso, depois de cinco papas seguidos terem de certa forma achado que era demasiado escaldante, o Vaticano deve ter pensado que a transferência de Lúcia para o seu local final de repouso poria fim à discussão do Terceiro Segredo. Não foi o que aconteceu. As teorias da conspiração continuam a lavrar. Uma chuva de artigos sensacionalistas, em orgãos de imprensa, blogues e livros fez como que muitos católicos médios se interrogassem também sobre se não haverá mais no Terceiro Segredo que a Igreja não tenha revelado.

Se mais havia, Lúcia levou o segredo para a tumba. Ou não terá levado?

Muito foi dito com base num artigo de um jornal italiano em que o jornalista Vitttorio Messori afirmava que a cela do convento de Lúcia tinha sido selada imediatamente após a sua morte por ordem do cardeal Ratzinger.







"O que lá estiver guardado passará agora pelo crivo de teólogos de confiança e monsenhores enviados, ao que se pensa, pelo próprio cardeal Ratzinger que, como guardião da ortodoxia, deve manter secretas quaisquer tentações da vidente que sempre aparecem nestes casos", escreveu Vittorio Messori no Corriere della Sera. Estava implícito que Lúcia podia ter deixado escondidos documentos reveladores - talvez diários ou cartas - que podiam embaraçar o Vaticano. Na verdade, diz-se que havia muitos documentos relevantes em português que nunca foram traduzidos nem publicados. O padre Jacinto Farias, dirigente de um painel de investigadores chamado Comissão Científica do Congresso de Fátima, apressou-se a afirmar que os escritos da "Irmã Lúcia não revelariam novos detalhes sobre as aparições de Fátima". Não haverá "grandes novidades" do ponto de vista teológico agora que a última testemunha morreu, disse a agência católica de notícias Zenit, citando-o.

Entre os ultratradicionalistas, persistia entretanto a ideia de que a Virgem Maria tinha previsto uma grave crise na Igreja e uma catástrofe para o mundo. Marian T. Horvat, da organização Tradição Americana em Acção, escreveu: "Podem dizer-nos mil vezes que Fátima acabou, que a consagração foi feita, que a Rússia se converteu, que não há crise na Igreja, que não haverá castigo divino. Um disparate dito várias vezes não é menos disparatado".

(...) A ideia de que elementos-chave do Terceiro Segredo tinham sido ocultados pelo Vaticano encontrou mais tarde grande expressão num livro intitulado O Quarto Segredo de Fátima, do jornalista católico italiano Antonio Socci. No início, o jornalista tinha aceite a explicação oficial do Terceiro Segredo. Depois de cuidadoso exame, no entanto, Socci decidiu que a descrição do Vaticano de um ataque a "um bispo vestido de branco" era autêntica, mas apenas um fragmento de toda a mensagem secreta. O restante tinha revelações horríveis sobre uma crise de fé, traições por parte de uma hierarquia e acontecimentos catastróficos em carteira para a Igreja e o Mundo. Socci baseava esta análise nos livros Atravessar o Limiar da Esperança, de João Paulo II, e O Relatório Ratzinger, além de homilias, discursos e outros documentos públicos da autoria dos dois pontífices.

Concluía que a versão censurada do Terceiro Segredo resultava de um compromisso entre João Paulo II e o Cardeal Ratzinger, que queriam revelar o segredo no seu todo, e o secretário de Estado do Vaticano, Cardeal Sodano, que se opunha à ideia.

No seu livro O Segredo ainda Guardado, Christopher Ferrara sustentava que existem duas partes do Terceiro Segredo, ambas manuscritas por Lúcia e colocadas em envelopes separados que, por ordem expressa da Virgem, não deviam ser abertos antes de 1960. Só uma parte do segredo foi publicada. A outra foi escandalosamente abafada. Contém a explicação da Virgem Maria da razão porque o Papa na visão é executado por soldados fora de uma cidade cheia de cadáveres.

Ferrara atribui a culpa da "burla" do Vaticano ao número dois do Papa, o cardeal Tarcisio Bertone. De acordo com o padre Nicholas Gruner: "As próprias declarações do Cardeal, incluindo um seu livro e emissões radiofónicas e televisivas em 2007, demonstram para além de quaisquer dúvidas que um texto do Segredo foi suprimido, evidentemente com base numa reserva mental injustificada de que o texto não é 'autêntico'".






Ao mesmo tempo que centenas de milhares de peregrinos se reuniam no santuário de Fátima a 13 de Maio de 2007 para comemorar o 90.º aniversário das aparições, o cardeal Bertone dizia aos repórteres em Roma que as alegações de que o Terceiro Segredo predizia acontecimentos catastróficos para o Mundo ou o colapso da Igreja Cristã são "pura fantasia".

No seu livro O Último Segredo, Bertone escreve: "Foi tudo publicado e interpretado correctamente". Não há nenhum quarto segredo, declarou, apenas "teses absurdas".

João Paulo II decidiu publicar o segredo para pôr fim à especulação desenfreada, mas os "fatimistas" mais inveterados como os que seguem o padre Nicholas Gruner e o seu A Cruzada de Fátima, continuam desapontados. Bertone reiterou que Lúcia tinha confirmado a versão oficial do conteúdo de Fátima. As reclamações tinham-na irritado, acrescentou.

Num prefácio ao livro de Bertone, o Papa Bento XVI escreveu que a publicação do Terceiro Segredo "foi um tempo de luz, não só porque a mensagem pôde ser conhecida por toda a gente, mas também porque revelava a verdade no meio de uma rede confusa de especulação e interpretações apocalípticas a circular na Igreja, que perturbava os fiéis em vez de lhes pedir orações e arrependimento".

Embora esta clara negação de qualquer acto menos próprio parecesse sincera e genuína aos olhos do católico médio, não satisfez os obsessivos "fatimistas". Para eles, Bento XVI não se limitava a "perturbar os fiéis". É o anticristo de serviço ao colapso programado da sua Igreja».

Len Port («O Fenómeno de Fátima»).


«(...) O Príncipe Bernardo dos Países Baixos aprovou a crença de que as crises enconómicas graves, como a Grande Depressão, se podem evitar se houver líderes responsáveis e influentes a gerir os acontecimentos mundiais por detrás da sua postura pública necessária. Por esta razão, pediram-lhe que organizasse a primeira reunião de representantes "homólogos" de todas as facetas dos domínios económico, político, industrial e militar em 1954. Reuniram-se no Hotel Bilderberg em Oosterbeek, na Holanda, de 29 a 31 de Maio. No final da Reunião, os participantes acordaram formar uma associação secreta.

A maioria dos relatórios alega que os membros originais chamaram à sua aliança Club Bilderberg por causa do hotel onde firmaram o seu pacto. O autor Gyeorgos C. Hatonn, porém, descobriu que o Príncipe Bernardo, nascido na Alemanha, foi oficial no Corpo de Cavaleiros das SS, em princípios dos anos 30, e que fazia parte da direcção de uma subsidiária da I.G., Farben Bilder. No seu livro, Rape of the Constitution; Death of Freedom, Hatonn defende que o Príncipe Bernardo se inspirou na sua história nazi de gestão empresarial para encorajar "o super-secreto grupo de legisladores" a dar pelo nome de Bilderberg, por causa de Farben Bilder; em memória da iniciativa dos executivos da Farben de organizar o "Círculo de Amigos" de Heinrich Himmler - líderes na produção de riqueza que recompensaram amplamente Himmler pela sua protecção ao abrigo de programas nacionais-socialistas, desde os primeiros tempos da popularidade de Hitler até à derrota da Alemanha nazi. A família real holandesa enterrou discretamente esta parte do passado do príncipe Bernardo quando, depois de guerra, este ascendeu a um alto cargo na Royal Dutch Shell, um conglomerado holandês e britânico. Hoje em dia, esta rica empresa petrolífera europeia faz parte do círculo mais íntimo da elite Bilderberg.






Na primeira reunião dos Bilderberg, os fundadores estabeleceram a sua missão e objectivos. Segundo um observador, continuaram na mesma linha: "A intenção subjacente a toda e qualquer reunião Bilderberg era criar uma "Aristocracia de finalidades" entre a Europa e os Estados Unidos, e chegar a acordo sobre questões políticas, económicas e estratégicas ao governar o mundo em conjunção. A aliança da NATO foi a base de operação e subversão crucial porque lhes dava um substracto para os seus planos de "guerra perpétua", ou pelo menos para a sua "política de 'chantagem nuclear'".

Irei ilustrar isto amplamente, à medida que formos retirando as camadas de sigilo e expondo as verdadeiras intenções dos Bilderberg que, a propósito, eram demasiado claras para o então Presidente francês, o General Charles de Gaulle.

Na sua newsletter de Outubro de 1967, Les Documents, Politiques, Diplomatiques et Financiers, o investigador político Roger Mennevee analisou a relaçaõ dos Bilderberg com De Gaulle. Começou o seu relatório com uma observação espantosa em como "todas as personalidades francesas que se associaram ao Club Bilderberg como, por exemplo, Georges Pompidou, Antoine Pinay e Guy Mollet, também eram os opositores mais denodados à política nuclear de Charles de Gaulle", conhecida como force de frappe. Pompidou era Primeiro-Ministro. Pinay e Mollet, ministros do governo francês.

Porquê esta aliança? Porque um dos principais objectivos do Clube era submeter a soberania das nações livres da Europa a um Governo Único Mundial britânico e americano, controlado pelos Bilderberg, mediante ameaça nuclear como aríete contra o resto do mundo pertinaz. Ora, para controlar a Europa, era vital eliminar o dissuasor nuclear francês, mesmo que esse dissuasor fosse vital para conter a ameaça nuclear soviética. Jean Lacouture, biógrafo do General de Gaulle, disse, "De Gaulle teve de marcar uma posição de força indisputável na Europa contra a orientação britânica de livre mercado para uma Nova Ordem Imperial Mundial. Por isso é que a França teve de ser um dos três pilares do mundo livre, ao contrário de uma das colunas do Templo Europeu".

Se analisarmos os pontos da ordem de trabalhos das reuniões Bilderberg desde 1954, o que mais se destaca é a tentativa de gerir e controlar diferenças de ideologia entre as aristocracias americanas e europeias, no que toca ao modo como estes dois grupos devem saquear o planeta. Por exemplo, na página sete do Relatório Geral da reunião Bilderberg de 1995, temos a "remoção de incompreensões e possíveis suspeitas entre os países da Europa Ocidental e os EUA perante perigos, que assolam o mundo".

Desde 1954, os Bilderberg têm representado a elite e a riqueza absoluta de todas as nações ocidentais - banqueiros, industriais, políticos, líderes empresariais de multinacionais, presidentes, primeiros-ministros, ministros das finanças, secretários de estado, representantes do Banco Mundial e do Fundo Monetário Internacional, presidentes de conglomerados de comunicação social mundial, e líderes militares.







Em Setembro de 2005, num gesto que visava contrariar acusações de conspiração por parte do Clube Bilderberg, e que abriria um precedente, o presidente do Clube, Visconde Étienne Davignon, de setenta e três anos, deu uma entrevista a Bill Hayton da BBC. Apresentou uma finalidade mais benigna para as reuniões privadas do grupo: "Parece-me simplesmente que são pessoas influentes interessadas em falar com outras pessoas influentes, num fórum que lhes permita falar livremente e examinar as suas diferenças de opinião sem críticas e debates públicos sobre as suas opiniões". Davignon negou que os Bilderberg quisessem estabelecer uma classe dirigente global, "porque não me parece que exista tal coisa, uma classe dirigente global". Em contrapartida, alegou que, "Os negócios influenciam a sociedade, e a política influencia a sociedade - trata-se de bom senso. Não é que os negócios contestem o direito de líderes democraticamente eleitos de liderar".

Têm-se travado guerras pela expansão do território, mas nesta nova era da globalização, em que os negócios e a política dependem um do outro para sobreviver, domina o controlo económico. Independentemente das alegações do presidente Bilderberg, não há dúvida de que o Clube exerce controlo económico sobre o comércio mundial. O facto é que o público não tem conhecimento das suas reuniões anuais. Encontram-se em segredo para debater estratégias globais e chegar a consenso sobre um vasto leque de assuntos. Tal sigilo é suspeito, e o meu objectivo é desvendar o segredo dos Bilderberg e demonstrar como este clube privado de líderes mundiais e agências interligadas continua a tentar subjugar todas as nações livres ao seu jugo mediante leis internacionais que manipulam e ordenam às Nações Unidas que administrem.

Os Bilderberg "mandam" nos bancos centrais e estão, por conseguinte, em posição de determinar taxas de desconto, níveis de disponibilidade de dinheiro, taxas de juro, o preço do ouro, bem como quais os países que recebem empréstimos. Ao manipularem o dinheiro acima e abaixo na cadeia empresarial, os Bilderberg criam milhões de dólares para si próprios. A ideologia de dinheiro e desejo de poder impele-os.

Todos os presidentes americanos desde Eisenhower pertencem ao Clube Bilderberg, embora nem todos tenham estado pessoalmente nas reuniões, mas todos mandaram representantes. Outro membro é o agora ex-Primeiro-Ministro Tony Blair, bem como a maioria dos principais membros do governo britânico. Até o anterior e prestigiado Primeiro-Ministro canadiano, Pierre Trudeau, foi membro. Dentre os anteriores convidados do Clube Bilderberg encontram-se Alan Greenspan, antigo presidente da Reserva Federal; Hilary e Bill Clinton; John Kerry; Melinda e Bill Gates; e Richard Perle.



Tony Blair



Outros membros são aqueles que controlam o que vemos e lemos - barões da comunicação social como David Rockefeller, Conrad Black (o agora caído em desgraça ex-proprietário de mais de 440 publicações periódicas em todo o mundo, do Jerusalém Post ao mais recente diário canadiano, The National Post), Edgar Bronfman, Rupert Murdoch e Sumner Redstone, CEO da Viacom, conglomerado de comunicação social internacional que toca praticamente em todos os principais segmentos da indústria. Protegeram o segredo desta sociedade secreta, e pode ser por isso que o nome "Bilderberg" é novo para o leitor.

Para onde quer que se olhe - governo, grandes empresas e qualquer outra instituição em busca do poder -, a chave do controlo é o segredo. Reuniões como, por exemplo, da Organização de Cooperação e de Desenvolvimento Económico (OCDE), G8, Organização Mundial de Comércio, Fórum Económico Mundial, Bancos Centrais, Conselho de Ministros da União Europeia e Comissão Europeia, cimeiras da UE, gabinetes de governo, inúmeros grupos de reflexão, etc., são sempre conduzidas à porta fechada. A única razão possível para isso é que "eles" não querem que nós saibamos de que falam. A desculpa esfarrapada para encobrir as coisas - "não é do interesse público" - significa na verdade que não é do interesse das instituições no poder que o público saiba o que debatem e decidem.

Além desta relutância em revelar os trâmites das reuniões, o princípio do segredo estende-se aos fóruns e às reuniões propriamente ditas; ou seja, e regra geral, nem sequer sabemos que as ditas reuniões se realizam, quanto mais o que se planeia e discute nelas. "Há o Fórum Económico Mundial em Davos em Janeiro/Fevereiro, as reuniões Bilderberg e G8 em Abril/Maio, e a conferência anual do Fundo Monetário Internacional/Banco Mundial em Setembro. Surge uma espécie de consenso internacional que passa de uma reunião a outra, mas não há ninguém a conduzi-lo. Este consenso torna-se no pano de fundo para os comunicados económicos do G8; passa a ser o que condiciona o Fundo Monetário Internacional quando este impõe um programa de ajuste à Argentina, e redunda naquilo que o Presidente americano propõe ao Congresso".

Segundo o projecto de documento Bilderberg de 1989, a primeira reunião "nasceu da preocupação, expressa por muitos cidadãos de topo em ambos os lados do Atlântico, de que a Europa Ocidental e a América do Norte não trabalhavam tão estreitamente quanto deveriam, em matérias de importância vital. Sentia-se que a existência de debates regulares e oficiosos ajudaria a criar um entendimento melhor das forças complexas e principais tendências que afectam as nações ocidentais no difícil período do pós-guerra".

Lord Rothschild e Laurence Rockefeller, membros fulcrais de duas das mais poderosas famílias do mundo, escolheram a dedo 100 pessoas da elite mundial para o objectivo secreto de regionalizar a Europa, segundo Giovanni Agnelli, falecido presidente da Fiat, que também disse, "A integração europeia é a nossa meta, e onde os políticos falharam, nós industriais contamos triunfar".

"Aqui não se faz política; são tudo conversas, algumas banais e vulgares", disse Will Hutton, editor londrino do Observer, que participou na reunião Bilderberg de 1997. "Mas o consenso alcançado é o cenário em que se faz política no mundo inteiro".







Segundo o fundador, Príncipe Bernardo da Holanda, citado na biografia autorizada de Alden Hatch, cada participante Bilderberg é "magicamente despojado do seu cargo" quando entra na reunião, e torna-se "um simples cidadão do seu país durante toda a conferência". O Príncipe Bernardo, que faleceu em 2004, era pai da Rainha Beatriz da Holanda e amigo íntimo e colega do Príncipe Filipe da Grã-Bretanha. "Quando estes representantes do establishment ocidental saem de uma reunião Bilderberg", disse ele, "levam o consenso do clube com eles. Os energéticos debates Bilderberg destinam-se a edificar a união por resolução das diferenças, e como tal certamente que têm influência nos participantes".

Deveras, desde o momento em que a Conferência Bilderberg é encerrada, o que parece acontecer - "quase por acaso" - é que o consenso a que se chegou em diversas áreas de discussão na reunião anual Bilderberg é denodadamente fomentado por esses interesses políticos e comerciais todo-poderosos, pela imprensa instituída, enquanto se tornam política comum para as forças internacionais governantes de sensibilidades aparentemente diferentes».

Daniel Estulin («Toda a Verdade sobre o Clube Bilderberg»).


«Actualmente o nexo financeiro global é organizado pelos bancos centrais em quase todos os países. Estes parecem estar a trabalhar independentemente, mas estão, na realidade, a trabalhar em conjunto, para o mesmo fim. O Banco de Inglaterra, controlado pelos Rothschild, estabelecido por Guilherme de Orange, da Nobreza Negra, em 1694, tem sido o principal manipulador nesta rede, e agora a privatizada Reserva Federal dos Estados Unidos, controlada pelos Rothschild, é um peão muito importante neste jogo. Ironicamente, a Reserva Federal não é federal nem tem reserva.

(...) A nota da Reserva Federal, conhecida como Ladrich Bill, foi emitida em 1913 e a dívida americana subiu desde então, tal como o programado. O Sistema da Reserva Mundial é um cartel de bancos privados, dos quais o Banco de Nova Iorque é o mais poderoso. O governo americano não é o dono da Fed, como se faz crer. Como expliquei, é dito ao presidente quem ele deve escolher como líder da Reserva Federal, como Paul Volcker (Comissão Trilateral, CFR e Grupo Bilderberg) e Alan Greenspan (Comissão Trilateral, CFR e Grupo Bilderberg). O Governo americano pede dinheiro emprestado, ou melhor, crédito à Fed, e os que pagam impostos pagam os juros o que aumenta os lucros dos bancos privados que constituem o Sistema da Reserva Federal. Se olharmos para uma nota americana, vemos que diz "Nota da Reserva Federal". Esta nota é considerada legal face às dívidas públicas e privadas. A Reserva Federal é um cartel de bancos privados, mas, no entanto, a moeda americana chama-se nota da Reserva Federal. A cabala dos Rothschild é dona do dólar, assim como da prata e de tudo o resto. De facto, esta moeda nada vale, não tem qualquer fundamento e nada mais significa do que o IOU ["I Owe You"].








(...) Em 1984, o desertor soviético da KGB, Anatoly Golitsyn, avisou que haveria uma falsa "libertação" da União Soviética e da Europa de Leste. Isso seria bem-vindo pelo Ocidente, disse ele, e levaria à fusão da Comunidade Europeia com os países da antiga URSS. Saiu exactamente como planeado. Numa visita ao Parlamento Europeu, em 2006, outro antigo dissidente soviético, Vladimir Bokovsky, referiu-se ao Politburo secreto e aos documentos do Comité Central sobre a União Europeia, que ele teve a oportunidade de ler em 1992. Ele disse que confirmavam a "conspiração" para transformar a Europa num Estado Totalitário. Ele chamou à UE um monstro e confirmou o que Anatoly Golitsyn tinha dito. Os documentos revelam que uma delegação da Comissão Trilateral se encontrou com o então Presidente Soviético, Mikkal Gorbachev, em Janeiro de 1989. A comissão era encabeçada por David Rockefeller (Grupo Bilderberg), Henry Kissinger (Grupo Bilderberg) e incluía também o antigo Presidente da França, Valéry Giscard d'Estaing (Grupo Bilderberg). Eles falavam da necessidade de Gorbachev integrar a União Soviética no acordo GATT de "livre comércio", no Fundo Monetário Internacional e no Banco Mundial, quando Giscard d'Estaing interviu. Ele disse:

"Sr. Presidente, não lhe posso precisar quando acontecerá - provavelmente dentro de quinze anos - mas a Europa será um Estado Federal e terá que se preparar para isso. Tem de trabalhar connosco e com os líderes Europeus, como reagirá a isso, como permitirá que outros países da Europa de Leste interajam com a Europa, ou como se tornará parte dela, terá que se preparar".

Ele falava três anos antes do Tratado de Maastricht ter transformado a Comunidade Europeia em União Europeia e adivinhe quem escreveu as linhas orientadoras da Constituição Europeia... Giscard d'Estaing. Se não fossem os votos negativos na França e na Holanda, essa Constituição teria tornado a Europa num Estado Federal, dezassete anos depois de ele ter previsto quinze para Gorbachev. E não existe conspiração? Anatoly Golitsyn diz que o Parlamento Europeu, que só tem força no nome, lhe fazia lembrar o Supremo Soviético, concebido para parecer "Supremo", quando o verdadeiro poder estava nas mãos dos burocratas do Politburo, que é exactamente o que Golitsyn diz da UE: "quando se olha para o tipo de corrupção da UE, é exactamente como a corrupção Soviética, de cima para baixo, em vez de baixo para cima". Ele disse:

"Se olharmos para as estruturas e características deste monstro Europeu emergente, veremos que cada vez mais se parece com a União Soviética... Não tem KGB, pelo menos por enquanto - mas é preciso estarmos atentos a estruturas como a Europol, por exemplo. Isso preocupa-me bastante, porque esta organização provavelmente terá poderes maiores que os da KGB. Terão imunidade diplomática. Conseguem imaginar uma KGB com imunidade diplomática? Eles terão de nos policiar em trinta e dois tipos de crimes - dois dos quais são particularmente preocupantes; um chama-se racismo e o outro xenofobia... É um novo crime e já fomos avisados. Alguém do Governo Britânico já disse que aqueles que se opuserem à imigração sem controlo dos países do Terceiro Mundo, serão considerados racistas e aqueles que se opuserem à continuação da integração na União Europeia serão considerados xenófobos..."».

David Icke («Guia da Conspiração Global e como acabar com ela»).







«(...) Se atenderem aos meus pedidos, a Rússia se converterá e terão paz. Se não, espalhará os seus erros pelo mundo, promovendo guerras e perseguições à Igreja. Os bons serão martirizados, o Santo Padre terá muito que sofrer, várias nações serão aniquiladas. Por fim, o meu Imaculado Coração triunfará. O Santo Padre consagrar-Me-á a Rússia, que se converterá, e será concedido ao mundo algum tempo de paz...».

Nossa Senhora de Fátima («Segunda parte do Segredo»).





Fátima e a Maçonaria (ii)


Leão XIII via a Maçonaria como um movimento subversivo de sociedades secretas no seio do «Reino de Satanás». Disse abundantes vezes que os católicos não podiam se maçons. «Como os nossos antecessores muitas vezes repetiram, que nenhum homem pense que pode por que razão for aderir à seita maçónica se os valores do seu nome católico e a sua salvação têm para ele algum valor», escreveu em Humanum Genus.

Se alguém tinha ainda dúvidas quanto à atitude oficial da Igreja, o pio-beneditino Código de Lei Canónica de 1917 dissipava-as de novo. O Código reiterava a posição original de 1738. Qualquer católico que se juntasse à Maçonaria, ou a outra organização semelhante que conspirasse contra a Igreja ou as autoridades civis legítimas, enfrentava a excomunhão imediata. O impasse manteve-se intacto até à chegada do Concílio Vaticano II, no início dos anos 60. Ambas as partes reconheceram então a possibilidade de suavizar as suas relações. Este facto acompanhava a nova política da Igreja de procurar a reconciliação com outros cristãos e outras fés. Não aconteceu depressa, claro está. A brecha a ser explorada era a crescente aceitação do facto de que muitas lojas maçónicas não conspiravam contra a Igreja Católica ou o Estado. A porta entreabria-se e foi escancarada com o aparecimento de uma carta da Sagrada Congregação para a Doutrina da Fé, em 1974. A missiva indicava que os católicos só seriam automaticamente excomungados se aderissem a lojas em áreas onde a política e a actividade da Maçonaria fosse reconhecidamente hostil à Igreja ou ao Estado. Alguns católicos tomaram isto como uma luz verde incondicional e avançaram para se tornarem maçons.

Papa João Paulo II recebe, a 22 de Março de 1984, uma delegação da maçonaria hebraica do B'nai B'rith.


De uma forma geral, os maçons estavam satisfeitos com o que parecia ser um pedido de tréguas. Então, subitamente, em 1981, as coisas voltaram à estaca zero. Com João Paulo II ao leme, em vez de Paulo VI, o gabinete de imprensa do Vaticano emitiu um comunicado lembrando aos católicos de que estavam proibidos, sob pena de excomunhão, de aderirem à Maçonaria ou outras sociedades secretas do género. A declaração de 1981 não teve grande publicidade e por isso a posição mais tolerante de 1974 persistiu. Para tornar as coisas ainda mais confusas, o Código Canónico de 1983, publicado por João Paulo II não mencionava a Maçonaria como uma sociedade secreta proibida. Uma declaração de esclarecimento subsequente indicava que a Igreja ainda se opunha à adesão, embora a pena tivesse sido reduzida, baixando da excomunhão automática. «O fiel que adira a organizações maçónicas encontra-se em estado de grave pecado e não pode receber a Sagrada Comunhão», declarava.

As mudanças de direcção erráticas do Vaticano sobre a Maçonaria, verificadas entre 1974 e 1983, podem ser explicadas por acontecimentos alarmantes bem perto de casa. Durante o seu breve papado, em 1978, o Papa João Paulo I recebeu uma lista de cento e vinte e um nomes, alguns deles de laicos, mas a maioria de padres, bispos e até cardeais.

Todos os elementos da lista eram membros da Maçonaria, ou pelo menos assim se dizia. Para João Paulo I era completamente inadmissível que um padre fosse maçon. E apesar disso aqui estava uma prova de que estava pessoalmente rodeado em Roma por membros da irmandade. A lista tinha à cabeça o seu próprio secretário de Estado, o cardeal Jean Villot, nome de loja Jeanni, número da loja 041/3, que se inscreveu na Loja de Zurique a 6 de Agosto de 1966.

Bem alto nesta lista estava o ministro dos Negócios Estrangeiros e antigo secretário de Estado Agostino Casaroli, o Cardeal Vigário de Roma, Ugo Poletti, o Prefeito da Sagrada Congregação dos Bispos e antigo secretário de Estado Cardeal Sebastiano Baggio e o presidente do Banco do Vaticano Arcebispo Paul Marcinkus.







Um dos colaboradores mais íntimos do Papa referidos na lista era o padre Pasquale Macchi. Tinha sido iniciado no rito maçon em 1958. Quando o Arcebispo de Milão, Giovanni Battista Montini, foi eleito como Papa Paulo VI em 1963, Macchi entrou para a corte mais próxima do Papa, parte da qual a Cúria em Roma chamava «a Máfia milanesa». Enquanto secretário pessoal de Paulo VI, o círculo de amigos próximos de Macchi incluía gente como Michele Sindona, o banqueiro italiano acusado de fraudes e ligações directas à verdadeira Máfia.

Outra figura próxima era Paul Marcinkus, que, enquanto presidente do Banco do Vaticano esteve profundamente envolvido em escândalos financeiros e disse um dia: «Não se pode governar a Igreja com Avé Marias». Diz-se que Macchi foi excomungado por heresia no tempo de Paulo VI mas foi readmitido pelo cardeal Jean Villot, seu companheiro na Maçonaria. Era secretário pessoal de João Paulo VI e fazia parte da lista de cento e vinte e um nomes que foi mostrada ao novo Papa uns quinzes dias depois de ser eleito.

A lista terá sido dada a João Paulo por Carmine «Mino» Peccorelli, um advogado italiano que enveredou pelo jornalismo com muitas fontes no seio do governo e das forças de segurança. Havia algumas dúvidas sobre a sua total correcção, mas aparentemente causou em João Paulo o efeito pretendido. Ficou chocado, mais a mais quando lhe disseram que uma lista semelhante tinha corrido no Vaticano mais de dois anos antes. A colecção heterogénea de católicos dados como maçons incluía gente tão notável como o Secretário de Estado de João XXIII e Paulo VI, o cardeal Augustin Bea; o Prelado de Milão, Ernesto Basadonna; um membro da Comissão Pontifícia para a Rússia, o arcebispo Mario Brini; o professor de Teologia Moral na Universidade de Florença, Enrico Chiavacc; o director adjunto do jornal oficial do Vaticano, L'Osservatore Romano, monsenhor Virgilio Levi (Levine); o Bispo de Lille e antigo líder das forças progressistas no Concílio Vaticano II, Achille Liénart; e Roberto Tucci, director-geral da Rádio Vaticano.

Papa João Paulo I


Se para um laico já era mau ser da Maçonaria, para um prelado do Vaticano, era simplesmente abominável. João Paulo I planeou uma purga da Maçonaria mas não teve tempo de a pôr em prática. Morreu quinze dias depois. Oficialmente, morreu de ataque cardíaco. Provas circunstanciais sugerem que foi assassinado com veneno, vítima da loja maçónica ilegal Propaganda Due, mais conhecida por P2. Pecorelli, um membro dissidente da P2, continuou a divulgar informação sensível sobre figuras proeminentes da Itália. No ano seguinte à morte de João Paulo I, Pecorelli foi encontrado morto dentro do seu carro, em Roma. Levou dois tiros na boca.

Embora fosse uma loja há muito estabelecida no Grande Oriente d'Italia, a P2 abandonou no fim dos anos 50, ou no início dos anos 60, os princípios da Maçonaria e tornou-se uma loja fora-da-lei ultra-secreta, com grandes ambições. Sob o comando do financeiro italiano neo-fascista Licio Gelli, a lista de membros da P2 acabou por incluir gente grada da estrutura de poder italiana, políticos, chefes militares, agentes do serviço de informações, banqueiros, industriais e patrões dos media. Gelli aliciou altos funcionários do Vaticano e recebeu-os na loja ao dar a P2 como garante contra o domínio comunista e, portanto, em prol da sobrevivência do Vaticano. A intenção de Gelli, para lá de um enorme interesse próprio, era criar um estado secreto dentro do Estado que mantivesse o controlo da extrema-direita em Itália.

O Grande Oriente d'Italia expulsou a P2 em 1976, mas Gelli continuou a dirigir a loja clandestina e ilegal até ao espectacular colapso do Banco Ambrosiano em 1981. Este banco, fundado em Milão, recebeu o nome de Sto. Ambrósio. Veio a descobrir-se que os seus negócios não tinham nada de católicos. Quando não foi capaz de dar contas de uma verba superior a mil milhões de dólares, o presidente do banco, Roberto Calvi, fugiu de Itália com um passaporte falso e foi mais tarde encontrado enforcado na ponte Blackfriars em Londres. O escândalo em torno da falência do banco fez com que a polícia fizesse uma rusga à casa de Gelli, onde apreendeu uma lista da P2, com novecentos e sessenta e dois nomes. Calvi fora um membro destacado da P2. A polícia também descobriu um «plano para o renascimento democrático». Continha uma estratégia pormenorizada para instalar um governo autoritário em Itália. Não era uma teoria da conspiração maçónica. Era mesmo real. Como Presidente do Banco do Vaticano, o bispo Paul Marcinkus viu-se envolvido no escândalo do Ambrosiano. O Banco do Vaticano detinha a maioria das acções do Banco agora falido e Marcinkus tinha sido director do Ambrosiano Ultramarino, sediado em Nassau nas Bahamas. Entre outros negócios nefandos, o Banco do Vaticano dirigido por Marcinkus é acusado de ter, em conluio com a CIA norte-americana, canalizado secretamente fundos para o Solidariedade na Polónia e para os rebeldes Contras da Nicarágua.

Roberto Calvi


Marcinkus trabalhou de perto com Calvi nas complexas operações de offshore. Ambos foram acusados de serem cúmplices na morte de João Paulo I.

Embora o alegado grau de infiltração da Maçonaria na Igreja tenha aparentemente chocado João Paulo I em 1978, num estádio anterior deve ter surpreendido o bispo Marcel-François Lefebvre. O fundador da Sociedade de S. Pio X, a maior organização católica tradicionalista provém da direita política e religiosa francesa. Quando abraçou o sacerdócio em 1929, Lefebvre não fazia ideia de que o bispo (mais tarde cardeal) que o ordenava, Achille Liénard era supostamente maçon. Liénard viria a ser uma das principais vozes liberais no Concílio do Vaticano II e um dos prelados que elegeu o Papa Paulo VI. Só depois da sua morte é que se soube que tinha atingido postos elevados na hierarquia maçónica.

Um dos conselheiros de maior confiança de João Paulo I, o cardeal Pericle Filici afirmou que Lefebvre pode ter encorajado a divulgação das listas de maçons católicos, que incluíam o nome de Liénart. Liénart continuou como bispo de Lille até se retirar em 1968. Entretanto, Lefebvre, que esteve profundamente envolvido nos trabalhos preparatórios do Vaticano II, desiludiu-se com a direcção que o Concílio estava a tomar. Acabou como um inimigo implacável da reunião, convencido de que os dignitários de topo da Igreja e os chefes maçónicos tinham chegado a um acordo secreto antes do Vaticano II. Levou as suas críticas tão longe que, aos oitenta e dois anos, foi excomungado por João Paulo II.

O caso contra Liénart nunca foi provado e outras teorias relacionando dirigentes católicos com sociedades secretas são igualmente questionáveis. Um antigo dirigente do Grande Oriente d'Italia afirmava que o futuro Papa João Paulo XXIII tinha sido iniciado numa loja maçónica rosa-cruz quando exercia em Paris as funções de encarregado de negócios do Vaticano, em 1935. Muito foi escrito também sobre fotografias que mostram apertos de mão entre Papas e dignitários, nas quais o polegar surge a pressionar o segundo nó do dedo. Antigos membros da Opus Dei em ruptura com a organização compararam-na à Maçonaria nas suas ambições secretas e afirmaram que a Opus Dei quer, ela mesma, tomar o poder na Igreja.






Abundam as especulações em torno de supostas encarnações modernas dos Illuminati, um grupo fundado na Baviera por um maçon desiludido, de educação jesuíta, Adam Weishaupt. Baseado nos princípios do iluminismo de ateísmo, racionalismo, materialismo e igualitarismo, os Illuminati originais destacaram-se da Maçonaria e cresceram depressa. Goethe e Mozart são dados como membros. A nova ordem mundial concebida por Weishaupt era uma em que, como ele explicava, «os príncipes e os povos desaparecerão sem violência da face da terra, a raça humana tornar-se-á uma família e o mundo, a moradia dos homens sensatos. Só a moralidade produzirá imperceptivelmente esta mudança». Outros autores leram mais nas intenções dos Illuminati e defendem que, entre outros episódios, a organização esteve por detrás da Revolução Francesa, do bolchevismo, do sionismo e, mais recentemente, do grupo de Bilderberg.

Uma teoria é a de que os Illuminati de Weishaupt mergulharam na clandestinidade e reencarnaram sob a capa da família de banqueiros Rothschild, que usou a organização para controlar a política externa dos Estados Unidos. Rothschild, Rockefeller e Kissinger estão entre os nomes dados como peças chave na conspiração dos Bilderbergers. Além do pequeno núcleo de organizadores, cerca de cento e trinta delegados são convidados paras as conferências anuais do grupo Bilderberg, cujos trabalhos são altamente confidenciais. As reuniões realizam-se em diversos locais rodeadas da maior segurança, o que não surpreende se tivermos em conta o calibre dos delegados. Além da realeza, chefes de Estado, políticos proeminentes, financeiros e homens de negócios, alguns altos representantes da imprensa e dos media são convidados na condição de não divulgarem nada do que lá se passa. Os teóricos da conspiração da Nova Ordem Mundial vêem tudo isto como profundamente sinistro e concluem que os Bilderbergers já puxam os cordelinhos da governação mundial.






No outro extremo do espectro, há ramos dos Illuminati que têm sido ligados aos anarquistas. Leon Czolgosz, o homem que matou o Presidente norte-americano William McKinley em 1901, foi classificado de anarquista. Na sequência da morte de MacKinley, o Papa Leão XIII afirmou que anarquismo, comunismo e Maçonaria eram uma e a mesma coisa. De facto, não há provas de que Czolgosz tenha alguma vez sido admitido por um grupo anarquista ou loja maçónica. Também não era comunista. Até tinha votado sempre no partido de McKinley, os republicanos. No julgamento de Czolgosz, que demorou apenas oito horas e meia, desde a escolha do júri até à leitura da sentença, não foi admitida uma alegação de insanidade mental. Numa revisão do caso, feita vinte anos depois, o Departamento de Higiene Mental de Massachusetts concluía que Czolgosz sofria de doença mental.

Talvez a maioria de nós sofra de doença mental. Talvez sejamos peões que sofreram uma lavagem de cérebro e sejamos controlados por uma irmandade dominada por uma elite moderna de Illuminati que ergue e opera aquilo a que o escritor britânico David Icke chama uma «pirâmide de manipulação». No topo dela estão humanóides reptilíneos da constelação Draco. Icke aponta como membros da clique governamental reptiliana a falecida rainha-mãe britânica, George W. Bush, Hillary Clinton, Tony Blair e todos os outros suspeitos do costume, juntamente com pessoas menos evidentes como Kris Kristofferson e Boxcar Willie. Ele diz que o mestre supremo é uma «consciência luciférica». Alguns críticos não só ridicularizaram esta teoria como sugeriram que, se alguém tem uma doença mental, é o próprio David Icke.



Cenários de uma Nova Ordem Mundial têm sido projectados por grupos e indivíduos que vão dos idealistas sonhadores aos alarmistas paranóicos. Mais ou menos a meio ficam as pessoas que se consideram pragmáticas. Os governos das principais nações do planeta estão mais preocupados com questões como as mudanças climáticas, a proliferação do nuclear, o aumento do terrorismo e da pobreza, do que com disputas religiosas intestinas. Os problemas globais só podem ser resolvidos com soluções globais, afirmam. Os teóricos da conspiração, porém, viram esta noção do avesso. Insistem em que os cépticos foram programados psicologicamente pela propaganda institucional e os media para aceitarem uma vasta e complexa rede de engano. Isto está a levar-nos para um Governo Mundial único todo-poderoso, no qual os estados individuais, para já não falar nos eleitores locais, não terão a palavra.

No meio da crescente globalização da humanidade, quer seja orquestrada por alienígenas demoníacos, quer seja por sociedades secretas ou organizações como as Nações Unidas e o Banco Mundial, os fundamentalistas cristãos, judeus e muçulmanos temem uma situação em que as suas religiões sejam subordinadas ou suprimidas mesmo em áreas onde hoje são fortes. A espécie de nova ordem mundial que mais preocupa os tradicionalistas é a que levaria ao «fim dos tempos» pressagiado na Bíblia, ou à perseguição da Igreja, ou à perda da fé, como anunciaram as Nossas Senhoras de Fátima e La Salette.

A Virgem Maria não falou numa nova ordem mundial. Não há registo de alguma vez ter proferido as palavras «comunista» ou «maçon», em todas as aparições de Fátima. A Revolução Russa pôs fim a todas as actividades da Maçonaria no país e forçou os irmãos ao exílio, ao mesmo tempo que esmagava o Cristianismo. Os comunistas russos odiavam tanto a Maçonaria, como a religião. Nada disto altera a insistência dos tradicionalistas de que o comunismo e a Maçonaria vivem no centro da nova ordem mundial que agora ameaça a existência da Igreja. Esta insistência baseia-se nos avisos de Nossa Senhora que emergiram com a passagem a escrito em 1941 do segundo segredo e a divulgação retardada do Terceiro Segredo em 2000.


Para os cépticos, a teoria da conspiração dos católicos tradicionalistas de direita pode parecer tão absurda quanto o Protocolo dos Sábios de Sião ou o domínio dos extraterrestres, mas é sincera e passa-se assim. A consagração da Rússia como foi pedida pela Virgem Maria e a divulgação a tempo do Terceiro Segredo teriam travado a conspiração que destrói gradualmente a Igreja a partir do Vaticano II. Em resposta à alegação de que a consagração não foi levada a cabo como devia ser, o Vaticano limita-se a fazer finca-pé e a negar as acusações. Os tradicionalistas acham que quando João Paulo II não pôde resistir mais às pressões do público para divulgar o Terceiro Segredo, com os seus mais próximos conselheiros, percebeu que tinham de o adaptar e criar uma cortina de fumo. Colocar o próprio João Paulo no centro do profético Terceiro Segredo era um truque conveniente. Ao interpretar oficialmente o simbolismo do segredo em 2000, o Vaticano insistia que devia ser visto no contexto de um atentado e não de algo mais preocupante. Isto era uma desculpa para contornar a explicação do verdadeiro conteúdo do Terceiro Segredo.

O novo ecumenismo introduzido pelo Vaticano II promove uma espécie de unidade pan-cristã que eclipsará o catolicismo, dizem os tradicionalistas. Os não-católicos ao abrigo da união não serão obrigados a converter-se à fé católica, a única fé verdadeira. O ecumenismo é um falso ideal, uma conspiração orquestrada pelas forças do mal, em contravenção directa com os ensinamentos da Bíblia e várias encíclicas marcantes como a Humani Generis de Pio XII. Era este falso negócio que Nossa Senhora de Fátima queria evitar.

Daniele é um dos que acreditam que, ao desenvolver esta farsa, os prelados hereges do Vaticano amordaçaram Lúcia. Enquanto monja em clausura, foi obrigada a aderir à sua campanha de propaganda revisionista. Para aumentar o crédito da sua versão do Terceiro Segredo, o Vaticano precisava de enfraquecer a ênfase colocada no ano de 1960. Lúcia ajudou-os, segundo os tradicionalistas. Entre a eleição de João XXIII em 1958 até à sua morte, Lúcia submeteu-se às instruções do Vaticano sobre o que deveria ou não dizer acerca do Terceiro Segredo.






Em todas as suas declarações anteriores a 1958, Lúcia referia-se a 1960 como o ano indicado por Nossa Senhora para o segredo ser revelado. Escreveu num envelope selado entregue ao Bispo de Leiria em 1944 que não devia ser aberto antes de 1960. Interrogada numa entrevista de 1946 sobre quando o Terceiro Segredo deveria ser revelado, Lúcia respondeu sem hesitar «em 1960». Quando lhe perguntaram porque é que o mundo precisava de esperar até 1960, tanto Lúcia como o Bispo de Leiria que a acompanhava responderam: «Porque a Virgem Santíssima assim o quer». Numa reunião em Coimbra em 1955, Lúcia disse a um alto funcionário do Vaticano, o cardeal Alfredo Ottaviani, que o Terceiro Segredo não era para ser revelado antes de 1960 «porque então será claro».

Os tradicionalistas insistem que muitas testemunhas, declarações e acontecimentos confirmam para lá de qualquer dúvida que foi Nossa Senhora quem estipulou o prazo de abertura do envelope.

Nada disto concorda com a transcrição do Vaticano da entrevista de Bertone com Lúcia em Coimbra em 2000. «Porquê só depois de 1960? Foi Nossa Senhora quem fixou essa data?», pergunta Bertone. Lúcia responde: «Não foi Nossa Senhora. Eu fixei essa data porque tive a intuição de que antes de 1960 o segredo não seria compreendido, mas que só depois seria compreendido. Agora pode ser compreendido. Escrevi aquilo que vi. No entanto não me compete interpretá-lo, mas sim ao Papa». Esta resposta levantou consideráveis dúvidas sobre a honestidade de Lúcia. Nunca tinha usado antes a palavra «intuição».






Daniele escreveu uma carta a Lúcia em 1987 na qual perguntava: «Como é que a Misericórdia Divina fez saber que o segredo era para ser revelado em 1960?». Ao que ela respondeu: «Não estou autorizada a dizer como é que isso foi comunicado. Mas deixe-nos recordar que a autorização para que a Igreja pudesse abrir a minha carta não era uma ordem para a publicar». Daniele achou o seu uso das palavras «intuição» e «autorização» particularmente incaracterístico. Concluiu que era impossível conciliar as declarações de Lúcia antes de 1958 com as palavras de resposta à sua carta de 1987 e a transcrição da conversa com Bertone, em 2000.

Daniele, como muitos outros tradicionalistas de direita, não tem dúvidas de que o Terceiro Segredo mostrava simbolicamente um exército (e não um assassino isolado) empenhado no massacre de um Papa (o Papado) e das testemunhas católicas à sua volta. «A lógica manda que, se era para ser divulgado por volta de 1960, o Terceiro Segredo deve corresponder a um acontecimento de tremenda importância para a Igreja ocorrido por essa altura. A supressão de um verdadeiro Papa (o Papado) abria caminho ao aparecimento de um novo poder pastoral e do novo Pentecostes do Vaticano II - uma assembleia que promulgou muitas heresias camufladas de ensinamentos católicos e fez em pedaços as defesas da Igreja de Cristo, que durante séculos se opôs com todo o vigor às filosofias revolucionárias anticristãs da Nova Ordem Mundial de inspiração maçónica», disse Daniele.

Daniele concluía: «A verdade submersa num mar de subterfúgios reflecte o espírito do Vaticano II e o seu novo Pentecostes, o qual desde 1960 praticamente asfixiou a Fé na Terra. A implausível alegação de que a Rússia foi convertida é feita por uma organização ínvia nascida de um espírito que anseia suprimir o Papado Católico e assim reduzir a Roma espiritual a uma cidade em ruínas» (op. cit., pp. 224-235).





quarta-feira, 16 de abril de 2014

Fátima e a Maçonaria (i)

Escrito por Len Port




Templo de Salomão


«Não é fácil traçar a história de uma organização como  a maçonaria que, no dizer do historiador maçon espanhol "Danton", "procura a sombra para poder avançar com mais rapidez". É complicado discernir a sombra. Os muitos maçons que se dedicaram a redigir essa história estão de acordo quanto à dificuldade da empresa. Identificar os marcos mais salientes da história da maçonaria é simples, mas já no que diz respeito às origens da irmandade, existe uma disparidade total entre os próprios maçons.

Dentro da maçonaria, há quem coloque o ponto de partida da Ordem no nascimento dos grémios de canteiros medievais que já se chamavam maçons; há quem o faça recuar à sobrevivência dos collegia romanos que agrupavam os construtores; há quem aponte na direcção do Egipto; outros pensam directamente na construção do Templo de Salomão, outros na Pérsia, outros na Índia... e não falta quem pense simplesmente que foi Adão o primeiro maçon e a origem da transmissão iniciática dos segredos da irmanadade. O doutor George Olivier (1782-1867) não teve pejo em escrever, nas suas Antiguidades da Franco-Maçonaria, que "a antiga tradição maçónica sustem - e eu sou inteiramente da mesma opinião - que a nossa Sociedade existia antes da criação deste globo terrestre, através dos diferentes sistemas solares".

A inteligente distinção do Grão-Mestre italiano Massimo della Campa, que separa a maçonaria instituição ou organização, por um lado, dos princípios maçónicos, por outro, simplifica a abordagem do problema histórico da maçonaria. A maior parte das dificuldades, na hora de determinar as origens da irmandade, resulta precisamente da confusão entre as duas realidades. Quando os autores maçónicos especulam sobre a génese da instituição, na realidade, estão a aventar hipóteses sobre a genealogia da doutrina maçónica: procuram as raízes dos princípios maçónicos. Neste sentido, o principal erro consiste em dar o salto lógico injustificado ao concluir que a organização maçónica também deve estar ligada com a origem intelectual. A falta de rigor histórico, somada a essa falha metodológica, propiciou que, em geral, a história maçónica ofereça um espectáculo de disparidade, desprovido de credibilidade. Em 1909, um membro do Conselho da Ordem do Grande Oriente de França e do Grande Colégio dos Ritos, Charles Bernardin, num exercício de auto-crítica carregado de ironia, escrevia que "entre as 206 obras [pretensamente históricas sobre a maçonaria, N.d.A.] que consultei e que tratam da origem da franco-maçonaria, encontrei (...) 39 opiniões diferentes" e, acto contínuo, desenvolvia a sua estatística. Realço alguns dados, extraídos das conclusões de Bernardin:

Egipto


"Vinte e oito autores atribuíram a origem da maçonaria aos pedreiros construtores do período gótico; cinco autores, aos Stuart; um, à China; um autor, ao Japão; cinco autores, aos jesuítas; sete, aos antigos rosa-cruzes; cinco, aos cruzados; doze, aos templários; um, aos albigenses; dois, à sociedade Nova Atlântida de Bacon; quatro, aos druidas; nove, à antiga Roma; dezoito, ao Egipto; seis, aos judeus; um, à ordem dos assassinos; um, aos maniqueus; dez, aos primeiros cristãos ou mesmo a Jesus Cristo; três, aos construtores do Templo de Salomão; um, aos da Torre de Babel; três, aos sobreviventes do Dilúvio Universal; para vinte autores, as origens da maçonaria perdem-se, simplesmente, na noite dos tempos, e quinze autores recuam até à Criação, sublinhando que no Paraíso terreal já existia a maçonaria".

Bernardin também cita, sem mencionar o nome, o assombroso caso de Olivier, para quem não havia dúvida que a maçonaria já existia antes da criação do mundo.

Ninguém demonstrou nunca que existe continuidade material entre algumas dessas supostas e discutíveis origens intelectuais e a maçonaria histórica, tal como a conhecemos, excepção feita para aqueles que afirmam, com razão, que a maçonaria moderna, ou especulativa, só tem continuidade material com a chamada maçonaria operativa, isto é, com os grémios de construtores da Idade Média tardia.

Pelo contrário, se se proceder à separação da história da organização maçónica da história dos princípios maçónicos, obtém-se uma maior clareza e claridade.

(...) No âmbito da maçonaria, não só se procurou o abrigo da sombra, como se tentou tirar partido propagandístico, dessa penumbra. Por um lado, como já salientava "Danton" (pseudónimo de um maçon espanhol desconhecido que elaborou uma monumental história da franco-maçonaria, nos anos 1882-83), para fazer recuar sem escrúpulos a origem da irmandade quanto mais atrás melhor; claro que a intenção era de, com isso, dotá-la de maior autoridade. Mas por outro lado, essa obscuridade em que se movimentou a maçonaria, também facilitou que se atribuísse, sem nenhuns escrúpulos, a condição de maçons a personagens extraordinárias com a mesma finalidade de engrandecer a auréola de excelência em torno da irmandade. Alec Mellor cita alguns Grão-Mestres fictícios e lendários que, por vezes, foram reivindicados pela maçonaria: Alexandre Magno; o Rei Artur; Cromwell; a Rainha Elfride de Inglaterra; Fo-Hi, imperador da China; Godofredo de Bouillon; Hugues de Payens; Jaime II de Inglaterra; Jacques de Molay; Jesus Cristo, Júlio César; Moisés; Noé; Numa; Ricardo Coração de Leão; Rómulo; O Rei Salomão; Santo Albano; São Miguel Arcanjo ou Tubam Caim.







A maçonaria moderna herdou esta mania de inventar uma história antiquíssima e repleta de membros egrégios, dos seus antepassados, os autênticos construtores medievais, cujos documentos transbordavam duma criatividade histórica exuberante. Mas se, no século XIV, essa opulência criativa era relativamente ingénua (as corporações de constutores reclamavam uma antiguidade remota para aumentar o prestígio social do grémio, e sem nenhum objectivo ideológico), a partir dos séculos XVII e XVIII, a elevação desse prestígio social transformava-se em lenda dourada para facilitar a difusão da nova doutrina maçónica... Ao dar-se conta desta realidade, o maçon Mellor mostra-se envergonhado:

"Os clérigos que, no século XIV, deram à franco-maçonaria operativa o manuscrito Regius ou o manuscrito Cooke, tinham a desculpa de serem hagiógrafos piedosos [Mellor tem um fraco conceito de hagiografia, como se vê. N.d.A.]. São menos desculpáveis as enormidades acumuladas por Anderson na parte histórica das suas Constituições. A um maçon de hoje entristece que, em pleno século XX, Ragon e Clavel [dois grandes historiadores maçons] sejam menos dignos de crédito do que São Gregório de Tours para a época merovíngia (...) Que, em plena época dos computadores, persistam as concepções oníricas em matéria de história ou de simbolismo, é um escândalo para a razão"».

José Antonio Ullate Fabo («O Segredo da Maçonaria Desvendado»).


«(...) De facto, não há mação que não deixe de perorar sobre a incompatibilidade entre a Ordem Maçónica e todo e qualquer regime ditatorial. Mas se assim é, por que razão o Grande Oriente Lusitano Unido ergueu, a 13 de Maio de 1934, uma estátua ao Marquês de Pombal no centro de Lisboa, considerando, para o efeito, tratar-se de um paladino da democracia e da tolerância religiosa? Valha-nos Deus! Como é possível tamanha falsificação da história para justificar a intolerância e o fanatismo maçónico contra todas as congregações religiosas, e, para além delas, contra a Igreja Católica?


Na verdade, o Marquês de Pombal expulsou os jesuítas a pontapé com vista a estatizar quer a sociedade civil quer a religiosa (12 de Janeiro de 1759); mandou, numa atmosfera de terror, tortura e interrogatório contumaz, encerrar todos os colégios e escolas sob orientação inaciana (1758); determinou o suplício, em Belém (13 de Janeiro de 1759), dos marqueses de Távora e de Alorna, do duque de Aveiro e seu criado, como ainda dos condes de Atouguia, de Óbidos e da Ribeira Grande; pôs em prática um plano sistemático de destruição da Nobreza, para a substituir por uma burguesia social e utilitária – caso dos Sobrais e dos Braamcamp; ordenou abolir e desterrar de "todas as escolas" a filosofia escolástica, acusando os jesuítas de serem criptosequazes da seita de Mafamede ou Mafoma; deu Aristóteles como abominável filósofo, além de corruptor da fé a esquecer nas lições de Coimbra; fez da Universidade o que ela é hoje: uma instituição sob as directrizes ideológicas do poder estatal e seus agentes infiltrados em todos os sectores públicos e privados da sociedade portuguesa; fomentou e concedeu privilégios a companhias monopolistas, como a Companhia do Grão Pará e Maranhão (1755), a Companhia Geral da Agricultura dos Vinhos do Alto Douro (1756), ou ainda, no mesmo ano, a Companhia da Pesca e da Baleia, mais a Companhia de Pernambuco e Paraíba (1759); liquidou, a par da ruína dos particulares, a estrutura financeira da administração pública, etc.

Em suma: a Maçonaria não é o que diz ou aparenta ser, tal como a estátua do maior tirano da história portuguesa comprova a todo o esclarecido transeunte que não se deixe embalar e enrolar pelos políticos, jornalistas e professores universitários da República maçónica triunfante».

Miguel Bruno Duarte («O véu levantado»).


«A obra da Revolução portuguesa é devida à Maçonaria exclusivamente».

Machado Santos


«(...) não foi por acaso que Machado Santos "sustentou, a propósito da proclamação da República Portuguesa, que "a Maçonaria tinha sido a verdadeira mãe das revoluções, porque os principais elementos do Carbonarismo estavam nela filiados". Com base numa tal relação, adianta Pinharanda Gomes:

"A Carbonária, introduzida [em 1822 ou 1823] pelo general italiano Pepe, surgiu como braço armado da Maçonaria, e as suas figuras de estilo são judaicas. Mantendo o estado de inocente e de tolerante, a Maçonaria utilizava a Carbonária como arma repressiva e coactiva. A Maçonaria nada fazia de mal; mas nada fazia para evitar o mal. Tinha as mãos lavadas, mesmo depois de as sujar.






A Carbonária – prossegue Pinharanda Gomes – apresentou um aspecto peculiar: os iniciados repartiam-se em quatro graus: rachadores, aspirantes, mestre e mestre sublime, numa estrutura paralela da maçónica. A unidade logística é constituída pelo Canteiro, composto por quatro rachadores, que apenas conhecem os três restantes, e um chefe. Quatro canteiros formam uma choça (tabernáculo?), quatro choças formam uma venda ou botica, e todas as vendas do país dependem da Venda Alta, ou Conselho da Ordem. A direcção suprema da Ordem é cometida à loja mística Jovem Portugal, cujos membros, os carbonários desconheciam. A botica fez a República, e ora se duvida que boticas e que boticários eram esses de que alguma novelística do século XIX se socorre, para descrever centros locais de cavaqueio – se a botica boticária, se a botica carbonária"».

Miguel Bruno Duarte («O véu levantado»).


«O seu interesse [do Bispo do Porto D. António Ferreira Gomes] pela associação entre a rosa e a cruz é insofismável, expresso finalmente na sua própria sepultura... a sensibilidade, a disposição de espírito e a relativa adesão aos rosacrucianos e, por esta via, ao ideário da maçonaria parecem indesmentíveis».


António Teixeira Fernandes («Igreja e Estado. À volta do contraditório Bispo do Porto»).


«Este livro [Minhas Memórias de Salazar] nasceu da revolta que me causou a revoada de infâmias disparada em Portugal e no estrangeiro acerca de Salazar após a revolução de 25 de Abril de 1974.

Não houve jornalista da esquerda (e os que o não eram calaram-se...) que não aproveitasse para denegrir Salazar falando sem conhecimento de causa mas repetindo invariavelmente os lugares-comuns postos a correr sobre ele na base da falsidade e da calúnia. O homem barrara durante quarenta anos o avanço do comunismo, não se conformara com abandonar as províncias do Ultramar português ao primeiro empurrão dos que as queriam transformar (como depois sucedeu) em trampolins de assalto ao chamado "Mundo ocidental", persistitu em sobrepor os interesses reais do povo que governava ao culto das abstracções ideológicas que vão infelicitando a Humanidade... Daí as iras, os ódios, os histerismos, as perfídias, os insultos que a sua figura e a sua acção provocaram em certos meios cada vez mais preponderantes na opinião que se publica.



Na crise de carácter em que soçobrou a sociedade portuguesa após o 25 de Abril de 1974 viu-se um espectáculo que, embora falho de ineditismo na História, não deixou de ser espantoso. Amigos da véspera apressaram-se a negar relações com os vencidos explicando a gaguejar que os contactos havidos tinham ocorrido mau grado deles, sem simpatia pelos chefes nem adesão às suas ideias. Discípulos fidelíssimos de outrora recusaram com vigor quaisquer vinculações aos que diziam antes serem seus mestres. Pessoas favorecidas por Salazar (que as houve e em grande número) clamaram contra a memória do benfeitor, declarando que tinha menosprezado méritos e serviços concedendo-lhes menos do que pretendiam, vítimas assim de tratamento injusto... Ninguém se atreveu - no ambiente das "mais amplas liberdades" em que toda a tolerância pelas ideias contrárias desapareceu - a arriscar uma palavra de tímida justiça no meio da torrente de odiosas mentiras jorrada sobre a memória do grande homem. Até para criticar os desmandos do presente era preciso começar por injuriar o passado. E ao verem o leão, não já moribundo, mas morto e bem morto, acorreram de toda a parte asnos, alguns que dantes orneavam de gozo ao receberem um complacente olhar dele, para despedirem seu par de coices bem puxado no inerte cadáver abandonado.

Fui amigo de Salazar e seu colaborador durante muitos anos. Num convívio tão demorado, com períodos de estreita colaboração, tivemos por vezes naturalíssimas divergências que não oculto, mas que por ele foram sempre aceites com tolerância e que mesmo quando o meu feitio assomadiço dos tempos da juventude lhe davam feição conflituosa nunca o levaram a atitudes radicais. O exemplo das nossas relações parece-me bem demonstrativo da personalidade de Salazar e por isso julgo útil dá-lo a conhecer sem ocultar aspectos que numa apologia talvez devessem ser silenciados. Porque o meu intento é revelar o homem tal como foi ou eu o vi e que, como todas as fraquezas inerentes à condição humana, é muito melhor do que surge na imagem deformada pelo ódio vesgo dos inimigos ou que a falta de informação das novas gerações e dos estrangeiros construiu sobre os lugares-comuns de uma campanha adversa.

Procuro também mostrar o estadista no seu tempo, inserido nas circunstâncias históricas a que teve de fazer face e rodeado pelos homens que com ele colaboraram e que seguiram, melhor ou pior, o seu pensamento e a sua acção ou para qualquer destas contribuíram.


Oliveira Salazar e Óscar Carmona



Nesse pensamento e nessa acção houve traços essenciais de doutrina e posições condicionadas pelas conjunturas em que tinham de se definir. Estas têm de ser avaliadas historicamente em função dos acontecimentos e oportunidades em que foram adoptadas. Mas aquilo a que chamei "pensamento essencial" constitui matéria de Filosofia Política e a sua validade não depende do tempo nem dos lugares. Os homens de hoje fariam bem em meditá-lo.

Porque começa a ser tempo de conhecer e de tentar compreender Salazar e a sua época antes de julgá-los. Por esse mundo criou-se a lenda do "ditador Salazar". E ao acoimar-se o governante português de ditador, logo aos olhos de muita gente com o cérebro lavado por uma propaganda insistente surge a imagem do tirano, indiferente às leis, absorvente de todos os poderes, espezinhador de todos os direitos, dispondo com arbítrio e arrogância de tudo e de todos numa constante afirmação de posso, quero e mando.

Assim se criou ao seu governo a reputação de um regime sinistro, sufocando o País onde as pessoas viviam oprimidas nos seus anseios, vigiadas nos seus passos, ameaçadas nos seus actos, amordaçadas na expressão dos seus sentimentos e opiniões, sujeitas a prisão por dá cá aquela palha com o risco de serem torturadas por uma polícia cruel.

Como era diferente a realidade! Poucos períodos da histórica política portuguesa decorreram sob tão grande preocupação da legalidade por parte dos governantes como os da vigência da Constituição de 1933. A experiência anterior demonstrara a tendência dos portugueses para confundirem liberdade com anarquia e a facilidade com que a vontade da maioria era manipulada por pequenos grupos e facções partidárias. Em 1926 existia um profundo e vigoroso anseio nacional de modificação das instituições e dos costumes governativos. E aceitava-se como verdade apodíctica que seria necessário limitar o exercício de algumas liberdades públicas interessando directamente a poucos para garantir a plenitude do gozo das outras que a generalidade das pessoas queria possuir e até aí não tinha. Porque destas dependia a segurança individual, a possibilidade do trabalho fecundo, o progresso real do País, a efectiva convivência cívica, a almejada paz social. E tudo isto Salazar garantiu durante quase meio século, com serenidade e com prudência, à sombra das leis e com o regular funcionamento das instituições, usando embora da autoridade.

Guerra Civil de Espanha (1936-1939).




Teria havido abusos da parte dos agentes da autoridade? Decerto que sim. Não conheço, porém, país ou regime que, no decorrer dos quarenta anos cobertos pelo governo de Salazar, anos de guerras quentes e frias, de revoluções, revoltas, conspirações e subversões, possa gabar-se de não ter conhecido abusos, e grandes, da autoridade ou da liberdade. Sim, também desmandos de liberdade, com avultada conta de vítimas e sequelas trágicas, como os da República espanhola - para não falar nas violências cometidas após a libertação de França ou com a queda do fascismo na Itália. O que se instaurou foi uma jurisprudência que perdoa e aplaude tudo quanto se passa desde que favoreça o que se julga ser a marcha progressista da História e condena em altos gritos, rasgando as vestes imaculadas da humanidade ofendida, aquilo que seja considerado ao arrepio do que convém.

Se não fosse o largo consenso em que se fundava o regime da Constituição de 1933, acaso teria sido possível mantê-lo durante quase meio século num pequeno País do extremo ocidente europeu, constantemente aberto à devassa indiscreta de todo o mundo e sujeito à influência das crises exteriores?

Quando após o 25 de Abril o atrevimento comunista quis impor-se ao País, o povo português soube repelir energicamente o totalitarismo marxista, mostrando com clareza que sabia o que queria. E era o mesmo povo que por diversas formas, incluindo o sufrágio livremente exercido, apoiara antes o regime cujo governo concebia a política como instrumento ao serviço do bem-estar da colectividade e não como jogo de egoísmos malabaristas em que, à sombra de bandeiras ideológicas alistadas em conluios internacionais, os partidos joguem aos dados as ambições de poderio.

Trata-se de um passado próximo. Mas que importa recordar, explicar, revivendo factos, ressuscitando personalidades, rectificando versões falsas ou tendenciosas. Porque esse passado está esquecido por muitos, é ignorado pela gente nova e está desfigurado, deturpado e vilipendiado pelo ódio de alguns».

Marcello Caetano («Minhas Memórias de Salazar»).





«Continuamos a gramar com uma das maiores falsificações jamais empreendidas em toda a história portuguesa, no âmbito da qual se procuram omitir os mais variados e hediondos crimes, traições e depredações perpetradas em nome da liberdade e do socialismo revolucionário. Referimo-nos, obviamente, ao 25 de Abril de 1974, na sequência do qual o povo português ficou definitivamente amordaçado por poderes e organizações internacionais apostadas na instauração da Nova Ordem Mundial. A campanha, já um tanto desesperada, recebe o apoio incondicional de escolas, fundações, universidades e de quase todos os meios de comunicação de massas em que se perpetua a enormidade vil e falaciosa de que devemos aos "capitães de Abril" a suposta liberdade e a nominal democracia que não vemos em lado nenhum.

Querem-nos, pois, fazer crer que a revolução comunista de 74 nem sequer chegou ao ponto de derramar sangue, salvo um ou outro episódio esporádico. E perante esta manobra de desinformação sustentada por praticamente toda a classe jornalística, política e universitária, fazem vista grossa das centenas de milhares de mortos em Angola, Moçambique e na Guiné Portuguesa, de que - verdade se diga - os tais capitães são tão criminosamente responsáveis que só um Tribunal de Guerra poderia ter feito justiça perante a barbárie e a selvajaria para as quais tão zelosamente contribuíram. Aliás, não há nada como ler a seguinte passagem sobre o primeiro êxodo na Província Ultramarina de Angola:

"Desde 4 de Fevereiro de 1961, a guerra em Angola causara 3 423 mortos - menos de metade dos quais em combate e, entre estes, a maioria por rebentamento de minas. Mas entre Maio e Agosto de 1974, morreram mais soldados portugueses do que durante todo o ano de 1973" (in Alexandra Marques, Segredos da Descolonização de Angola, D. Quixote, p. 49).

Ou pior ainda:

"(...) À Rádio Voz do Zaire [o] conselheiro da Revolução [Vítor Alves] referiu que 'o número de vítimas provocado desde Março pela violência em Angola já era superior ao causado pela guerra colonial naquela ex-colónia'. Ferreira de Macedo falara em 2.000 a 3.000 mortos, mas ter morrido durante três meses mais gente do que em 14 anos de guerra colonial era um termo de comparação pouco lisonjeiro para os nacionalistas" (ibidem, p. 320).

Segue-se ainda outro passo referente a Luanda:

"(...) Depois dos seus domínios serem invadidos por indivíduos armados à procura de armas, de serem despejados à força das suas casas, de serem ameaçados, agredidos ou mortos, no dia seguinte (1 de Maio de 1975) centenas de brancos protestaram junto ao Palácio, exigindo meios para deixar Angola. A multidão insultou a tropa por não os proteger: Derrubaram o gradeamento e os portões mas foram travados na porta pelo PM. [...] Queriam ir embora de Angola e gritavam: 'Estamos a ser mortos. Estão a violar as nossas mulheres'" (ibidem, p. 303).




Por fim, fiquemos com mais este passo de contornos dantescos e apocalípticos entre os demais:

"(...) Malange tornara-se um imenso cemitério a céu aberto: 'Milhares de pessoas mortas, na sua maioria africanos, que estavam ainda insepultas quando se abandonou a cidade. O Batalhão apenas conseguiu enterrar numa vala comum com cerca de 100 metros, cobrir de cal viva ou queimar no local onde se encontravam, umas escassas centenas de mortos'" (ibidem, p. 388).

De resto, e a par da impunidade relativa a todos os agentes criminosos implicados no 25 de Abril de 1974, o subterfúgio ardiloso mas rotundamente perverso e idiota tem passado pelo seguinte: a culpa é toda do ditador que não soube negociar, entregar ou vender a tempo o Ultramar Português. Pois claro: se Salazar, perante uma ofensiva mundial com vista a expulsar os Portugueses de África, enveredasse por um tal caminho, seria então fácil - e com razão - dizer que todo e qualquer descalabro tinha sido responsabilidade sua. Mas como o não fez, ou como, no seu zelo pelas populações de Além-Mar, quis salvaguardar a segurança, a prosperidade e a vida dessas mesmas populações - e com elas Portugal -, passa a ser retroactivamente culpado pelo acto de quem realmente se comprometeu numa escalada de violência - mais que prevista e antecipada -, conducente à total destruição do que fora património nacional adquirido com muito sacrifício ao longo de inúmeras gerações. 

Entretanto, a verdade continua a não ter pressa. Mas, como tudo na vida, virá sempre ao de cima. É apenas uma questão de tempo».

Miguel Bruno Duarte


«(...) O fascismo foi um movimento de raiz socialista - Mussolini é homem da segunda Internacional Operária - que preconiza a revolução política e social no quadro da Nação, aproveitando, para empolgar o povo e lhe dar consciência da existência de interesses colectivos superiores aos interesse individuais, a força moral do patriotismo que levara os homens ao combate na guerra mundial sob as cores das respectivas bandeiras.


Benito Mussolini e Adolf Hitler


Para fazer face ao comunismo tal como se revelara na Rússia só um movimento animado de ideal igualmente forte e sedutor e que soubesse usar as mesmas armas dos bolchevistas. Só um Estado que, como o destinado a realizar a ditadura do proletariado, permitisse a concentração de poderes, a autoridade, o vigor necessários para pôr em prática uma ditadura nacional. Na ideia de Nação estão reunidas solidariamente as classes, que é preciso fazer colaborar na realização de tarefas superiores a interesses particulares, unindo-as na mesma missão de, cada qual a seu modo mas com idêntico propósito, servir à colectividade nacional.

A Rússia comunista vê, pois, erguer-se na Europa, sobre as ruínas da guerra, a Itália fascista: duas experiências de Estado totalitário com muitos pontos formais de contacto, mas animadas de espírito diferente.

O após-guerra e a crise económica facilitaram a difusão do comunismo nos vários países europeus: mas em todos eles os antigos combatentes e a juventude se sentem seduzidos pelo fascismo, que além de uma filosofia e de uma ideologia, soube criar todo um ambiente sedutor das imaginações: a milícia, a farda, os hinos, o espírito de luta, a camaradagem dos grupos, o sabor da aventura, a renúncia da mentalidade burguesa.

(...) Neste panorama de experiências, procurando aplicar fórmulas mais válidas para fazer frente aos problemas novos ou de dimensões ampliadas que o século XX começou a revelar no governo das Nações, surge o Estado Novo Português. Nem comunista, nem fascista. Procurando o equilíbrio entre o que o passado tivesse de aproveitável e as exigências imperiosas do futuro... Buscando uma vez mais e tendo presentes as circunstâncias dos tempos, conciliar "a liberdade possível com a autoridade necessária". Como eu dizia em 1934: "tudo o que o liberalismo teve de verdadeiramente bom e humano, nós o salvaremos!" Era o nosso desejo e a nossa esperança.






O Estado-Novo de Salazar com a sua básica preocupação de ordem nas finanças e de administrar o País como uma boa dona de casa, parecia pouco atractivo para as mentes juvenis. Onde nos outros países aparecia o ditador fardado e de botas altas, a comandar o seu povo com acenos de impetuosa energia, estava em Portugal, segundo a imagem célebre do sociólogo brasileiro, um homem calmo, de pantufas, sentado em alto mocho e dobrado sobre a escrivaninha na atitude clássica do guarda-livros escriturando incansável e meticulosamente as contas do Estado. À oratória inflamada dos comícios dos outros, correspondia a lição serena do nosso mestre-escola. As exaltações pagãs da força e do êxito eram em Portugal substituídas pelo culto do esforço útil, pelo incitamento ao trabalho, por apelos à razão, por invocações da moral e pela preocupação de justiça.

O surto fascista não deixou, porém, de impressionar a juventude portuguesa. Os novos que tinham acolhido alvoroçadamente a ideia de uma Revolução Nacional não se satisfaziam com aquela moderada ditadura administrativa.

Aproveitando a impaciência juvenil surgiu então o movimento chamado "Nacional Sindicalismo". Podia considerar-se uma derivante do Integralismo Lusitano que no seu programa dava ênfase à organização sindical e ao papel que ela devia desempenhar no Estado Monárquico. E foi um dos mais jovens membros da Junta Central do Integralismo, o Dr. Francisco Rolão Preto, quem tomou o comando da nova força revolucionária.

(...) Teve a esperança de desempenhar um papel político na Ditadura Militar, que se desvaneceu com a queda de Gomes da Costa. E foi dos que não levaram a bem o sucesso de Salazar e discordaram dos seus métodos serenos e reflectidos.

General Gomes da Costa e suas tropas desfilam vitoriosos em Lisboa (6 de Junho de 1926).


Ao despontar entre a juventude, com impressionante espontaneidade, o Nacional-Sindicalismo, logo aproveitou a onda e ei-lo de camisa verde, com cinturão e talabarte, armado em condottiere a fazer discursos inflamados com muita demagogia à mistura.

Não há dúvida de que nos anos de 1932 e 1933 o Nacional-Sindicalismo se propagou como um rastilho a arder, sobretudo entre a mocidade das universidades e dos liceus. A sua doutrina e o estilo que preconizava tinham vibração revolucionária e eram traduzidos em slogans de fácil expansão, como aquele que ficou célebre: "É preciso que os ricos sejam menos ricos para que os pobres fiquem menos pobres".

Muitos espíritos perturbados pelo comunismo e por outras ideologias então dominantes na República Espanhola encontram nesse movimento um sucedâneo que satisfaz as suas ansiedades e inquietações. Multiplicam-se concentrações, comícios, desfiles marciais. E muitos dos mais dedicados amigos de Salazar não resistem ao fascínio dessa nova corrente que tem as simpatias juvenis e se manifesta numa imprensa viva e combativa onde alguns estudantes de talento terçam as primeiras armas do jornalismo em que mais tarde se iriam revelar mestres: foi o caso de António Lepierre Tinoco, o futuro fundador do Diário Popular.

Sendo como era o Nacional-Sindicalismo a facção mais dinâmica de entre as que apoiavam a nova ordem de coisas e contando como contava com numerosas simpatias entre os tenentes que a defendiam, tudo parecia indicar que a Ditadura portuguesa, em 1933, iria adoptar rumo semelhante ao Fascismo Italiano.

Salazar, porém, permanece sereno e firme. Considera o movimento um desvio ideológico. Não transige com ele. Indiferente ao procedimento e às opiniões dos amigos que vão na corrente, Salazar recusa-se a aceitar a legitimidade do Nacional-Sindicalismo, até mesmo sob a sua chefia, como lhe foi oferecido. E em face da sua atitude o movimento começa a desagregar-se, cinde-se e acabará por se extinguir, deixando em muitos dos seus sequazes um rasto de mágoa e ressentimento, enquanto outros vieram a ser fiéis colaboradores do regime.


Legião Portuguesa





(...) Salazar, efectivamente, resistiu  sempre a aceitar o totalitarismo de Estado: toda a Constituição de 1933, onde se proclama a limitação da soberania pela Moral e pelo Direito, está cheia das afirmações dos direitos, não só individuais como da família, das corporações morais, culturais e económicas, das próprias instituições locais. E se transigiu com certas manifestações exteriores do estilo fascista foi num ambiente internacional em que sob um signo ou outro, elas eram práticas correntes. Ao lado, na República Espanhola, os comícios da frente popular, como já também sucedia na França, mostravam multidões erguendo os braços com os punhos cerrados e não admira por isso que os das frentes nacionais lhes opusessem a saudação romana com as mãos abertas e estendidas. A guerra civil no país irmão encheu de angústia os portugueses com as notícias das barbaridades cometidas e a tensão criada pela marcha das operações em que de ambos os lados os homens de batiam com fé e valentia mas com crueldade. A proximidade do perigo desperta as vontades e cria a preocupação da resistência: surge, como fruto de uma ansiedade geral após a tentativa de sublevação nos barcos de guerra, a Legião Portuguesa que arregimenta os anticomunistas dispostos a colaborar com o Estado na defesa do regime. Mas a Legião nunca teve o carácter de tropa de um partido e, desde o início, enquadrada por oficiais das Forças Armadas, ficou vinculada ao Estado, como organização de defesa civil e força de segunda linha de que as autoridades militares podiam dispor.

A guerra mundial virá acentuar este carácter e dar às formações legionárias maior relevo e importância na preparação da população civil contra qualquer ataque de surpresa, por terra ou pelo ar. E ao mesmo tempo ligou-as ainda mais às Forças Armadas».

Marcello Caetano («Minhas Memórias de Salazar»).





Fátima e a Maçonaria (i)



«A escolha que temos não é entre mais revolução e mais ou menos conservadorismo reaccionário, mas sim entre prosseguir na organização do processo de mudança tendente a produzir uma nova ordem mundial, ou sofrer um total e talvez irreparável colapso».

H. G. Wells



A ideia de um Anticristo, uma entidade que se assemelha a Cristo, mas que é de facto o seu oposto, foi dada na Bíblia e tem sido muitas vezes referida pelos mais diversos comentadores nos tempos modernos. «Roma perderá a sua fé e tornar-se-á o trono do Anticristo», disse Nossa Senhora de La Salette às duas crianças que viram uma aparição da Virgem Maria, numa pastagem perto de Grenoble, em 1846. Os Adventistas do Sétimo Dia e vários ramos da Igreja luterana defendem que o Anticristo reside no Vaticano. Deputado europeu e líder da Igreja Presbiteriana Livre do Ulster, Ian Paisley ficou famoso por denunciar João Paulo II como o anticristo em Estrasburgo. Mas a denúncia mais forte, mais atendida e mais duradoura veio de dentro da própria Igreja Católica, especialmente do movimento sedevacantista.

O sedevacantismo é um movimento fragmentado, feito de muitos pequenos grupos. O número total de pessoas que se auto-qualificam sedevacantistas é de talvez uns duzentos mil. Vivem sobretudo nos Estados Unidos, Canadá, Brasil, Reino Unido, Austrália, França e Itália. Embora a sua mensagem seja extremista, os sedevacantistas não vão geralmente para a luta nos púlpitos. São católicos tradicionais devotos que acreditam no papado e na infalibilidade do Papa, mas estão profundamente convictos da ideia teológica segundo a qual o actual Papa, como os quatro que o antecederam, não devem ser reconhecidos como membros legítimos da Igreja, muito menos sucessores de S. Pedro.

Aria Daniele, um piloto de aviões reformado, natural do Brasil, que viveu em Aljustrel, Fátima, a partir de 1988, articulou de forma erudita a visão sedevacantista da perspectiva de Fátima. Considera os acontecimentos de Fátima em 1917 os mais maravilhosos e mal-entendidos da era moderna do Cristianismo. «Quando o mundo entrou no catastrófico período das duas guerras e da atroz carnificina do comunismo, cobrando dezenas de milhões de vítimas, Deus todo-Poderoso na Sua misericórdia realizou um grande milagre e ofereceu-se para realizar a conversão de um poderoso império de forma a poupar a humanidade do processo de auto-destruição». Escreveu Daniele numa obra intitulada Entre Fátima e o Abismo.





«A oferta de ajuda divina foi resposta às orações da Igreja pedidas pelo Papa Bento XV, o Vigário de Cristo, que carrega a responsabilidade de garantir a fé católica, que é na sua essência uma fé na intervenção divina na Terra. Ainda assim, esta oferta foi recusada. Hoje, passado esse período de violência catastrófica, vivemos no meio de uma imundície moral e religiosa causada pelo trágico desprezo do mundo pela Fé; uma fé que está ela mesma ameaçada de aniquilação às mãos dos inimigos materialistas e modernistas. O Segredo de Fátima, como profecia da paz e da salvação para os nossos tempos, é um apelo constante a esta fé e um alerta daquilo que podemos esperar em consequência de uma cegueira espiritual que recusa o seu único remédio: a conversão às regras e ao amor de Deus», escreveu Daniele.

Da sua casa em Aljustrel em 2009, Daniele resumia assim os seus pensamentos sobre o estado da Igreja Católica no pós-Concílio Vaticano II: «Em todo o mundo, a fé Católica tornou-se a mais odiada e atacada de todas as religiões. É desprezada por aqueles que ocuparam a antes sagrada Cidade do Vaticano. O Vaticano tornou-se porta-voz de um falso ecumenismo determinado em obliterar a Verdade revelada de Jesus Cristo. Tais heresias são propostas por pastores que vendem uma nova religião sob o disfarce do catolicismo. Não admira que nos nossos tempos, o mundo, contaminado pelos fumos do sincretismo, esteja profundamente confuso por uma avassaladora degradação mental e moral».

Deve-se notar que o desmantelamento da Igreja Católica começou em força no início dos anos 60. Tanto os ensinamentos da Igreja como as mensagens de Fátima foram classificados como fora de moda e supérfluas face às necessidades do mundo moderno. Prevaleceu a ideia de que a Igreja Católica deve pôr-se a par do "progresso" da nova ordem mundial ou desaparecer». Os itálicos são de Daniele.

A sua opinião é partilhada por muitos católicos que não se qualificam de sedevacantistas ou parte de qualquer movimento, mas discordam fortemente dos desenvolvimentos no seio da Igreja introduzidos pelo Vaticano II. Dão a Maçonaria como raiz da mentira sobre o Terceiro Segredo. A causa da potencial calamidade que o mundo e a Igreja Católica pode sofrer foi apelidada de «revolução maçónica».







Deixando para já de parte as teorias da conspiração, vejamos o que é factualmente bem conhecido acerca da Maçonaria. A Irmandade, como se tornou conhecida, esteve sempre mergulhada em segredo e ofuscação, impossibilitando ou dificultando muito a separação dos factos da fantasia. Mesmo as suas origens estão envoltas em mistério. É provavelmente um movimento muito antigo. Existem registos na Escócia pelo menos do século XVI, mas os historiadores da Maçonaria concordam, geralmente, que a instituição moderna pode ser encontrada com precisão a partir de 24 de Junho de 1717. Era dia de S. João. Membros das quatro lojas de Londres encontraram-se na cervejaria Goose And Gridiron, junto à Catedral de S. Paulo. Concordaram unir-se numa Grande Loja, a primeira do mundo. A partir desta decisão histórica, as Grandes Lojas proliferaram, na Irlanda em 1725 e em França em 1733, no mesmo ano em que a Maçonaria pôs pé pela primeira vez nos Estados Unidos, onde é hoje numericamente a mais forte do mundo. Actualmente, a fraternidade de cerca de cinco milhões de membros está espalhada por muitas lojas locais, cada uma com a sua agenda própria, mas partilhando os princípios das Grandes Lojas nacionais, estatais ou regionais. A actual Maçonaria cresceu a partir da Idade das Luzes quando a liberdade de raciocinar através da filosofia e da ciência foi promovida como preferível à fé irracional e ao dogma religioso. Atraídos em muitos casos pela promessa de um conhecimento secreto e muita promoção pessoal, os maçons partilhavam um sentimento de camaradagem, alta rectidão moral e caridade. Era uma boa desculpa para os homens se reunirem, a comer, beber e falar. Revestiam a sua fraternidade em alegorias e símbolos associados ao trabalho dos pedreiros que construíram o templo do Rei Salomão.

Tudo isto, juntamente com rituais clandestinos, palavras-passe furtivas e gestos sub-reptícios ajudaram a ligar os iniciados, mas semearam a desconfiança entre os de fora. A única qualificação para membro, muito incompreendida pelos não-membros, era a crença num Criador ou Ser Supremo. A natureza ou filiação religiosa desta divindade única não importa. A Irmandade acolhia pessoas de todas as raças e credos. O «Grande Arquitecto do Universo» da Maçonaria representava o todo-Poderoso, independentemente da escolha pessoal de cada membro.

Em 1877, os franceses deixaram cair a obrigação de que os membros acreditassem num Ser Supremo. Assim, permitiram que os ateus aderissem ao Grande Oriente de França (GOdF). Esta separação radical da norma estabelecida entre os anglófanos espalhou-se a outros países europeus, incluindo Portugal.

A Maçonaria Continental ou Latina separou-se, portanto, das Grandes Lojas anglófonas. O cisma mantém-se nos nossos dias.







Os mercadores britânicos em Lisboa, provavelmente protestantes, criaram a primeira loja em Portugal no ano de 1727. Oito anos depois, já uma segunda loja tinha sido criada com diferente tipo de membros, que incluía mercadores irlandeses, mercenários estrangeiros do exército português, marinheiros, médicos e um padre dominicano. Esta segunda loja dissolveu-se em 1738 quando o Papa Clemente XII lançou uma proclamação proibindo os católicos de pertencerem a lojas ou tomarem parte nas suas actividades. «Ordenamos aos fiéis que se abstenham de ter relações com tais sociedades... de forma a evitar a excomunhão, que será o castigo imposto àqueles que não cumprirem esta nossa ordem. Ninguém, excepto às portas da morte, pode ser absolvido deste pecado senão por nós ou pelo então Pontífice de Roma», declarava a Bula Papal de Clemente In Eminent Apostolatur Speculatae. Dava também ordem aos agentes da Inquisição para perseguirem os maçons.

John Coustos, um suíço naturalizado britânico, criou uma terceira loja em Lisboa em 1741. Tinha sido iniciado numa loja em Londres em 1730 e mais tarde graduou-se em Grão-Mestre numa loja em Paris. Em Lisboa, trabalhava como lapidador de diamantes. Diz-se que o seu êxito financeiro levou a mulher de outro lapidador a denunciar Coustos à Inquisição. O suíço, juntamente com outros maçons, foi preso e brutalmente torturado em 1744. A igreja de um convento serviu de cenário ao seu julgamento.

Acusado de ser protestante, um herege e de ofender os católicos montando uma loja maçon, Coustos enfrentava a pena de morte. Esta foi comutada em cinco anos de trabalhos forçados nas galés, na condição de ele não revelar a brutalidade que sofreu na prisão. Lord Charles Compton, embaixador de Inglaterra em Portugal à época, intercedeu. Uma carta pessoal do rei Jorge II de Inglaterra ao rei D. João de Portugal conseguiu clemência para o condenado. Coustos partiu para a Inglaterra a bordo de um navio muito apropriadamente chamado The Diamond, O Diamante. Ignorando o seu compromisso com o tribunal da Inquisição, escreveu um livro acerca das suas experiências nas mãos dos carrascos. Entretanto, três dos seus co-réus foram mesmo para as galés.

A Maçonaria, a Igreja Anglicana e a família real britânica tiveram sempre boas relações entre si.

Um período semelhante de bom clima existiu em Portugal na década de 60 do século XVIII. O crescimento da Maçonaria neste período, particularmente entre o exército, a aristocracia e os intelectuais, coincidiu com a expulsão dos imensamente ricos jesuítas que controlavam o ensino católico. O poderoso Marquês de Pombal conduzia o país, mas depois da sua queda em desgraça os maçons foram de novo calados. A actividade maçónica era vista com muita desconfiança pelos monarcas absolutos, bem como pela Igreja Católica devido às suas preocupações com as ideias liberais e actividades subversivas. A Maçonaria em Portugal sobreviveu, mas apenas sob um estrito véu de secretismo.






Ao contrário da Maçonaria no Reino Unido e nos Estados Unidos onde a discussão política sempre foi oficialmente proibida nas lojas, o ramo continental envolveu-se determinadamente, ainda que de forma clandestina, na política. A Grande Loja de Inglaterra retirou o seu reconhecimento às lojas portuguesas quando estas alinharam com o Grande Oriente de França. Em 1877, no mesmo ano em que a Maçonaria Continental retirou a Bíblia das lojas e passou a admitir ateus, Pio IX disse a peregrinos portugueses: «Vocês têm um inimigo terrível e poderoso. É a impetuosa Maçonaria que pretende destruir entre vós todos os vestígios do catolicismo». O Papa Leão XIII lançou este alerta contra a Maçonaria em 1884: «A seita declara abertamente que, em segredo entre eles, têm há muito vindo a conspirar para que o sagrado poder dos pontífices seja abolido e que o próprio Pontificado, fundado no direito divino, seja por fim destruído».

A Maçonaria em Portugal fez o seu grande regresso nos primeiros anos do século XX. Historiadores como Oliveira Marques e o Grão-Mestre A. M. Gonçalves reconheceram que houve um envolvimento considerável dos maçons na revolução que derrubou a monarquia em 1910. Os católicos tradicionalistas vão mais longe e chamam «Revolução maçónica» ao golpe que trouxe a «República maçónica» com o seu governo feito de «todos os principais maçons». É provavelmente mais rigoroso do ponto de vista histórico dizer-se que o derrube da monarquia e subsequente ataque às instituições da Igreja Católica foram obra de ardentes republicanos ligados a uma sociedade secreta paramilitar, com quarenta mil membros, conhecida por carbonária. Ambos os grupos incluíam, sem dúvida, e eram grandemente apoiados por maçons.

Ser membro da fraternidade era agora vantajoso para quem pretendia fazer carreira nas armas ou na diplomacia. O primeiro-ministro, o ministro do Interior e o ministro da Justiça nos primeiros governos da República eram todos eles maçons. O número de membros das lojas duplicou para quatro mil entre 1910 e 1926 e a proporção de ministros maçónicos no goverrno manteve-se nos cinquenta por cento durante toda a Primeira República.

A Maçonaria em Portugal estava assim no auge da sua força política nos anos que rodeiam a criação e ulterior desenvolvimento do culto de Fátima.

As dissenções internas em breve criaram divisões na mais antiga obediência maçónica em Portugal, o Grande Oriente Lusitano Unido, que coincidiam com as divisões crescentes que destruiriam o movimento republicano, O tumulto em que viviam abriu caminho fácil ao golpe de estado de 1926 que conduziu à ditadura de Salazar. No clima de repressão que o fascismo do «Estado Novo» instalou, a Maçonaria voltou a tornar-se um alvo prioritário. A Irmandade foi obrigada a regressar, de novo, à clandestinidade. Um grande grupo de maçons portugueses escolheu o exílio.

José Cabral é o primeiro da esquerda nesta foto de 24 de Outubro de 1936. Oliveira Salazar está ao centro.


Depois de meio século na clandestinidade, a história de altos e baixos da Maçonaria portuguesa voltou a iniciar uma fase de subida com a revolução anti-ditatorial que devolveu a democracia ao país em Abril de 1974. Segundo as últimas contas havia sete «Obediências» distintas, ou ramos, sendo o maior o Grande Oriente Lusitano com mil e cem membros e a Grande Loja Legal de Portugal com novecentos membros. Havia até um ramo para as mulheres, com a Grande Loja Feminina de Portugal, com trezentos membros e um ramo misto, o Direito Humano, com duzentos.

Historicamente, os maçons portugueses viam a Igreja Católica juntamente com as monarquias absolutas como opressores, como os pilares que se erguiam no caminho para a meta tão querida do liberalismo de espírito aberto. Pela sua parte, a Igreja Católica tinha boas razões para estar vigilante face à Maçonaria e aos seus objectivos anticatólicos na Europa Continental, se não também na Grã-Bretanha. Isso explica por que, desde 1738 até há muito pouco tempo, o Vaticano proibiu inequivocamente os católicos de aderirem à Irmandade. Vários papas fizeram ecos das palavras de Clemente XII e condenaram a Maçonaria antes de Leão XIII se focar no problema na sua encíclica Humanum Genus, de 1884. Em resposta às afirmações da Maçonaria de que o movimento era mal compreendido e injustamente condenado, Leão XIII urgia os bispos a «arrancar a máscara» e denunciar a Maçonaria como uma «praga fatal».

No seu longo e vigoroso ataque, Leão XIII escrevia: «Como forma conveniente de encobrimento, assumem as personagens de homens de letras e académicos associados no propósito do ensino. Falam do seu zelo por um refinamento da cultura e no seu amor aos pobres; e declaram que o seu único desejo é melhorar as condições de vida das massas e partilhar com o maior número possível de pessoas todos os benefícios da vida civil. Mais, para serem alistados, é necessário que os candidatos prometam e se empenhem em obedecer estritamente aos seus líderes e mestres com a mais rigorosa submissão e fidelidade, e para estarem prontos a executar os seus deveres à mais pequena expressão da sua vontade; ou, se desobedientes, submeter-se às mais drásticas punições e à própria morte. De facto, quem for considerado de traição às actividades da seita ou de resistir às ordens dadas, recebe castigo certo e com tanta audácia e habilidade que o assassino muitas vezes escapa à detecção e castigo pelo crime» (in O Fenómeno de Fátima, Guerra e Paz, 2010, pp. 217-224).



Arcanjo S. Miguel calcando o Demónio



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