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sábado, 23 de fevereiro de 2013

ONU, maçonaria e comunismo internacional (iii)

Escrito por Alejandro Botzàris








«Houve quem quisesse ver a marca da Maçonaria noutras sociedades supranacionais como a (...) Sociedade das Nações, as Nações Unidas, a Conferência de Paz de Haia e mesmo no lançamento e organização dos Jogos Olímpicos. Do que não há dúvida é da importante participação de alguns maçons na Conferência de Paz de Haia e na criação da Sociedade das Nações (...). Já não poderemos dizer o mesmo relativamente a outras sociedades e organismos internacionais como a Organização das Nações Unidas ou a ressurreição dos Jogos Olímpicos. Seja como for, todas elas não fizeram mais do que proclamar de novo o modelo defendido pela Maçonaria Universal, isto é, a prevalência da fraternidade entre os povos sem distinção de raças, nacionalidades ou convicções religiosas».

Miguel Martín-Albo («A Maçonaria Universal»).


«Os dois únicos países que lograram manter a integridade dos seus impérios coloniais, Bélgica e Portugal, conseguiram-no porque não permitiram a intromissão de ideologias ou dos organismos internacionais nas suas colónias. Portugal teve o acerto de proclamar as suas colónias "províncias do Ultramar", estendendo assim às mesmas as leis e os princípios que inspiram a defesa do Estado e, ao mesmo tempo, pondo a salvo as suas colónias da descabelada imiscuição da ONU - que tantos danos tem causado nas colónias britânicas, francesas e holandesas.

Esta situação criou um terreno favorável à situação comunista. Pode-se dizer, inclusivamente, que, se Lenine e Estaline criaram uma estratégia comunista colonial, as potências coloniais facilitaram, pela sua falta de política coordenada, de solidariedade e de continuidade no domínio colonial, um terreno muito propício para a realização dos seus propósitos. Por outro lado, o democratismo e o propetismo, semeado pela Maçonaria mundial nos países ocidentais, contribuíram também para a formação de uma opinião "anticolonialista" nas mesmas metrópoles, acelerando assim o processo de decomposição colonial. É característico, neste domínio, o exemplo do império colonial francês, no qual a democracia serviu de introdutora do comunismo. A opinião pública francesa exigiu o armistício da Indochina e a Conferência de Genebra foi somente a conformação de uma derrota, que se realizou no espírito dos franceses e definiu nas mesas das chancelarias.

Assim, a União Soviética e o comunismo internacional, verdadeiros culpados da onda de anticolonialismo desencadeada desde o final da segunda guerra mundial, têm cúmplices no próprio bloco ocidental. Consciente e inconscientemente, diferentes forças militam a favor do desenvolvimento antticolonialista, cuja beneficiária é a União Soviética».

Alejandro Botzàris («África e o Comunismo»).







«Os mações, como qualquer outro cidadão, podem ter e divulgar as ideias políticas que preferirem, inclusivamente independentistas, desde que o façam de modo pacífico e sem atropelar quer os direitos dos outros, quer as exigências do bem comum. Mas a leitura dos documentos maçónicos e o conhecimento da história, em mais de uma ocasião, torturam a imaginação com uma interrogação-chave nesta questão: terão os mações da maçonaria regular ou inglesa corrido o risco de facilitar informação ao Governo inglês, estando ao serviço do império britânico em detrimento do espanhol? Note-se que, na maçonaria regular, a chefia política e a maçónica concentram-se na mesma pessoa, o rei de Inglaterra, e que os interesses dos Governos espanhol e inglês se sobrepuseram em não poucas circunstâncias e níveis. A mesma dúvida e a mesma interrogação surgem acerca da maçonaria irregular ou francesa, já desde os mações "afrancesados" de séculos passados: "É importante mencionar que, da mesma forma que Napoleão utilizou as lojas maçónicas existentes para controlar o seu império, assim também a Grã-Bretanha as utilizou para controlar a Commonwealth". Não penso que seja dar um tiro no escuro supor que em mais de uma ocasião se valeram ou, pelo menos, tentaram instrumentalizar as lojas maçónicas espanholas ao serviço dos seus interesses político-económicos, ainda que estes não coincidissem com os da Espanha.

Sem dúvida alguma,"«a maçonaria estendeu-se entre os países árabes e na África subsariana principalmente através da colonização francesa... Na América, na Índia e na Austrália foram as lojas militares dos regimentos do exército colonial inglês que se encarregaram disso... No mundo árabe, a maçonaria foi igualmente introduzida pelos franceses em e a partir da Argélia. A primeira loja foi militar e instalou-se em Argel em 1832. Vinte anos mais tarde, foram contabilizados 850 mações na Argélia". Aparentemente, o primeiro muçulmano mação foi Sidi Hamed (1839, Argélia). O  emir Abd el-Kader figura como o primeiro árabe de alguma notoriedade a ingressar na maçonaria (em 1864, na loja As Pirâmides de Alexandria). Lutou contra a colonização francesa da Argélia até ser obrigado a render-se em 1847».

Manuel Guerra («A Trama Maçónica»).


«Poeta de renome, o Presidente da República do Senegal foi paladino de uma nova realidade geopolítica (a Euráfrica), mostrava orgulho na sua ancestralidade lusíada (Senghor é a derivação nativa da palavra “senhor”) e defendia uma convergência de tipo confederal, envolvendo Portugal (na sua dimensão pluricontinental) e o Brasil. Senghor era também um membro da Maçonaria dependente do Grande Oriente de França. Um membro do clandestino Grande Oriente Lusitano diz que a “luz verde” para uma mudança de atitude dos maçons portugueses quanto à independência dos territórios de África foi dada pelo Grande Oriente de França: “Repare, por exemplo, nas posições tímidas que a CEUD defendia, em 1969, acerca do dramático problema africano. A viragem deu-se efectivamente a partir das novas directrizes do Grande Oriente de França. Era então Grão-Mestre Fred Zeller”. A teia multinacional da Maçonaria explica também o maior intervencionismo de Senghor, que começou por incitar as autoridades do Brasil a impulsionarem a projecção da comunidade luso-afro-brasileira».

José Freire Antunes («Nixon e Caetano»).



Onde nos aproximamos da verdadeira fonte do chamado «anticolonialismo americano» é quando o Time menciona o programa do presidente Wilson, com o seu princípio sobre «o direito dos povos de governarem-se a si mesmos», um dos treze pontos apresentados pelo presidente na Conferência de Versalhes de 1918.

O véu levanta-se completamente quando se aborda o tema das influências ocultas, mas nem por isso menos decisivas, que inspiram a política oficial da quase totalidade dos Estados ocidentais chamados «democráticos», assim como o «anticolonialismo» da ONU.

Na nossa época, quase não se fala da Maçonaria, e o silêncio sobre este tema é uma lei não escrita em todos os países democráticos. Parece ter desaparecido da política. As polémicas que se poderiam ouvir ou ler acerca do problema maçónico noutros tempos acabaram. Inclusivamente, a imprensa católica, nos países ocidentais, já não fala da Maçonaria. De vez em quando, somente, numa pequena folha de tiragem muito limitada, aparece um artigo que passa despercebido a um público indiferente. «A maior vitória da Maçonaria é ter persuadido o mundo de que não existe...» - disse alguém, com muita razão.

Há pouco tempo apareceu em França um livro que volta a falar do problema maçónico: Os Mistérios da Maçonaria, de George Olivier (ed. de La Librairie Française, Paris, 1958). No princípio deste livro, o autor faz constar que não somente a Maçonaria não desapareceu, como também está mais forte do que nunca, sobretudo porque conseguiu fazer o silêncio em torno de si:

«A Franco-Maçonaria não é uma sociedade secreta somente porque se ignora o seu objectivo; é secreta em todos os seus domínios: porque se ignora quais são os seus métodos, qual é o carácter da sua obra levada a cabo até agora por ela mesma, qual é a sua organização. Oculta tudo isto não somente dos profanos, mas também dos próprios membros, do mesmo modo que lhes oculta o seu próprio fim.

Salientaremos finalmente que, quando se estuda a sua organização, chega-se à conclusão de que a Maçonaria é mais do que uma sociedade secreta, porque é um verdadeiro edifício de associações secretas umas para as outras, de maneira que os "iniciados" sejam iniciados somente em coisas do rito, de raciocínio, mas não na essência própria da Maçonaria, de tal modo que entre esta série de sociedades cada vez mais ocultas existe uma que seria impossível de se constituir à luz do dia, perante o olhar do mundo "profano", completamente secreta esta, no sentido de que todos, salvo os que fazem parte dela, ignorem tudo acerca da mesma, inclusivamente a sua própria existência».






Há um domínio, em todo o caso, no qual o mundo pode perceber claramente a acção maçónica: é o da campanha anticolonialista que fomenta a desintegração das grandes construções históricas multirraciais que tinham afiançado a influência da civilização europeia e cristã sobre o mundo dos mais diferentes povos. O mencionado livro esclarece as razões profundas da evolução anticolonialista num dos maiores impérios coloniais: o francês.

No capítulo que dedica à história política da Maçonaria, George Olivier cita uma decisão do convénio de 1928 da Ordem Maçónica Mista Internacional «O Direito Humano», uma das três grandes «Obediências» maçónicas francesas, com o Grande Oriente e a Grande Loja, cujas posições sobre a questão colonial são, além do mais, idênticas:

«É urgente inaugurar o estudo imediato dos meios próprios para levar a cabo o desaparecimento completo do regime colonial e para desencadear uma campanha anticolonial pelos grupos parlamentares. Temos de trabalhar pelo desaparecimento deste regime e pela extensão às raças de cor do direito de os povos disporem de si mesmos».

O leitor notará a continuidade do princípio entre esta directriz da poderosa organização maçónica e o princípio enunciado pelo presidente norte-americano Woodrow Wilson (mação do 33.º grau) dez anos antes da Conferência de Versalhes.

No mesmo convénio da mencionada Ordem Maçónica «O Direito Humano» tinha sido votada uma resolução anticolonialista, cujo texto começava pelo parágrafo seguinte:

«... O regime colonial, nascido da violência e do Imperialismo Económico e contrário ao ideal de paz e de liberdade que propagam os homens justos...».

Não é de estranhar, pois, que esta campanha maçónica tenha feito perder à França grande parte do seu império colonial (Síria, Líbano, Indonésia, Marrocos, Tunísia, Guiné) até agora e prossiga trabalhando para separar o que dele resta da metrópole.

Contudo, é necessário recordar que o homem que iniciou o movimento anticolonial ocidental foi um mação do mais alto grau, o presidente Roosevelt, dos Estados Unidos da América, que, ao findar a segunda guerra mundial, empreendeu uma ampla acção anticolonialista, prometendo a «liberdade» às colónias europeias, como um dos resultados da vitória democrática. Falando da actuação de Roosevelt, um notável mação francês, Groussier, declarou no Congresso das Lojas do Leste, em Maio de 1939: «A nossa acção é muitas vezes discreta e é necessário que assim seja. A Maçonaria é a inspiradora das mensagens do Irmão Roosevelt.

Para voltar à França, citaremos o exemplo de Gaston de Monnerville, presidente do Conselho da República desde 1947 e deputado da Guiana Francesa no Parlamento da IV República, subsecretário de Estado das Colónias, mas ao mesmo tempo mação de alto grau do Rito Escocês «Cavaleiro Kadosh» desde 1939, membro das Lojas Maçónicas «França Equinocial», «A Providência», «Os Amigos da Ordem», etc.

Outro notável político francês, Albert Saurrat, que foi governador-geral da Indochina (1911-1914), ministro das Colónias (1920-1924), ministro para a África do Norte (1937-1938), etc., era membro do Grande Oriente de França.






Na lista dos parlamentares franceses membros das diferentes organizações maçónicas, encontramos também Paul Alduy, que foi governador-geral da Argélia em 1947 e 1948, vários deputados argelinos, como Mohamed Ben Hadja Bengana, deputado por Constantina, Ali Ben Lakdar Brahimi, deputado por Argel, e Abdel Kader Cadi, deputado por Constantina; Henri Caillavet, secretário de Estado do Ministério do Ultramar (1953), Georges Condat-Mahamam, deputado da Nigéria Francesa...

A lista que nos proporciona o escritor francês Pierre-Charles, no seu livro A Franco-Maçonaria no Parlamento (editado em Paris, em 1956), poderia ser, apesar de tudo, mais longa, visto que o mencionado livro contém os nomes de várias centenas de parlamentares franceses que aderiram à Maçonaria. Entre eles encontram-se numerosos políticos da República Francesa que desempenham um papel decisivo na administração colonial, como os atrás mencionados à maneira de exemplo. Todavia, há a salientar o facto de quase a totalidade dos presidentes dos governos franceses dos últimos decénios terem sido mações, começando pelo socialista Léon Blum e acabando pelo radical-socialista Mendès-France.

A acção da Maçonaria na desintegração do império colonial francês faz-se sentir na monopolização da representação parlamentar dos territórios franceses do ultramar. No ano de 1939, em vésperas da segunda guerra mundial, a situação neste domínio era a seguinte:

Guadalupe estava representada em França por um senador e dois deputados, os três mações; Martinica, por um senador e dois deputados, os dois últimos mações; Guiana, por um deputado mação; Senegal, por um deputado mação; as ilhas de Reunião, por um senador e dois deputados, os três maçãos.

Todos os anos se reunia em Paris, sob a presidência do Irmão Jules Zivy, venerável da Loja «Estrela Polar», de Paris, e filiado da Loja Egípcia «As Pirâmides do Egipto», de Alexandria, um convénio dos representantes maçónicos dos territórios do ultramar para discutir os problemas das ditas regiões. Não resta dúvida de que as decisões tomadas nestes convénios, que inspiravam a acção dos representantes parlamentares referidos, se encaixavam perfeitamente na directiva da Ordem Maçónica «O Direito Humano», atrás citada.

O livro salienta o facto de que a maioria dos governadores-gerais e residentes, nomeados pelos sucessivos governos da III República nos territórios coloniais franceses, eram maçãos. Os seus nomes encontram-se numa impressionante lista publicada na revista Os Documentos Maçónicos, de Janeiro de 1943.

General De Gaulle


Ao terminar a guerra, o Governo do general De Gaulle devolveu à Maçonaria este monopólio de administração e representação parlamentar no império colonial francês. Este facto explica, melhor do que qualquer outro, a facilidade com que o comunismo pôde infiltrar-se nos organismos administrativos e sindicais das colónias francesas e estabelecer em cada uma delas uma «festa de ponte» para Moscovo. O papel dos socialistas franceses, os quais, como partido político, formavam uma parte integrante de todas as maiorias governamentais do após-guerra e tinham monopolizado os postos-chaves na administração colonial, consistiu principalmente em facilitar aos comunistas esta infiltração. Contudo, socialistas e comunistas combatiam-se encarniçadamente no cenário político francês, enquanto colaboravam no domínio colonial. Esta paradoxa situação encontra a sua explicação lógica quando se sabe que a quase totalidade dos dirigentes políticos socialistas franceses são membros das lojas maçónicas.

Mas onde se evidencia com maior claridade a desintegradora influência da Maçonaria como força anticolonialista é na actuação do dirigente político francês Mendès-France, o qual pôs o fim à guerra da Indochina entregando todo o Vietname do Norte ao comunismo. Como presidente do Governo, teve uma influência preponderante não somente no caso da Indochina, mas também no da independência de Marrocos e da Tunísia.

Em Julho de 1954, a revista francesa Rivarol publicava a fotocópia das fichas de diferentes lojas maçónicas que demonstram que Mendès-France é mação do 33.º grau.

Limitámo-nos (...) a ver certos apontamentos sobre o papel da Maçonaria na desintegração do império colonial francês. É mais provável que a misteriosa organização internacional haja tido uma influência semelhante em outros países que tenham visto desmembrar-se os seus impérios, sobretudo a Holanda e a Jugoslávia. Deixamos aos historiadores a tarefa de investigar este capítulo da história política contemporânea, visto que o nosso tema é outro... (in ob. cit., pp. 176-180).









quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

ONU, maçonaria e comunismo internacional (ii)

Escrito por Alejandro Botzàris




Nações Unidas (Nova Iorque).


«Nova Iorque, 22 de Julho [1963] - Falei de manhã com Adlai Stevenson, que em síntese me diz: os africanos querem que o Conselho de Segurança vote contra Portugal uma "pequena sanção"; concorda em que nós não estamos ameaçando a paz e a segurança, mas os africanos estão realmente pondo em perigo uma coisa e outra; e entende que não nos devemos embrenhar numa declaração de princípio quanto à autodeterminação porque é "caminho escorregadio em que não poderemos parar". Avisto-me depois com Benhima, embaixador de Marrocos, e que neste mês preside ao Conselho. Conheço-o dos meus anos de Londres, e a conversa foi fácil. Assegura-me que procurará conduzir os debates com moderação; deseja que façamos "apenas" um "gesto"; e a distinção que os afro-asiáticos fazem entre nós e a África do Sul é favorável a Portugal. De tarde iniciam-se as sessões do Conselho. Presentes em força todos os membros efectivos; convidados para a mesa do Conselho os ministros africanos e eu, com as respectivas delegações; toda a vasta sala está atravancada pelos delegados dos demais membros da ONU; não há um lugar vago nas galerias do público. Jornalistas, correspondentes internacionais acreditados, fotógrafos, operadores de televisão, circulam em todos os sentidos. Atmosfera de drama, ambiente dos grandes dias, como em vésperas de uma tragédia que se avizinha. Debate iniciado pela Libéria. Seguem-se-lhe a Tunísia, Madagáscar. Serra Leoa. Temas do ataque à política portuguesa em África: não cumprimos a Carta da ONU e as resoluções da Assembleia; territórios portugueses são vítimas de opressão; ameaçamos a paz e a segurança do Mundo. Para delegados afro-asiáticos, até há que considerar moderado o tom que usaram. Depois, interveio Ghana, que é membro do Conselho. Começou: "O Conselho está a proceder à liquidação do Império Português". A seguir, União Soviética: atacou-nos, decerto, mas sobretudo atirou ferroadas duras à NATO, ao Mercado Comum, e aos monopólios capitalistas internacionais. Benhima suspendeu os trabalhos e marcou nova sessão para além de amanhã.

Nova Iorque, 24 de Julho - Sessão do Conselho praticamente dedicada à minha réplica. Uma hora e vinte minutos. Respondi às críticas, sublinhei as contradições, refutei as acusações; e propus conversas luso-africanas sobre problemas comuns na África Austral. E digo que os territórios estão abertos a todos, à observação de boa-fé, para verem que no plano africano são dos mais desenvolvidos. Para que o façam, convido os quatro ministros africanos. Comenta Stevenson, em privado: você foi demasiado convincente e eficaz (too effective) na sua alegação e defesa: e os afro-asiáticos sentem a necessidade psicológica de reagir para não ficarem, perante os demais delegados e a imprensa internacional, numa situação de inferioridade. Comento por meu turno para Stevenson e para mim: então eu devia ter sido frouxo, e fraco, e ineficaz?

Seguem-se os membros efectivos do Conselho. Brasil: discurso muito antiportuguês, nada de positivo, salvo que se oporia a sanções contra Portugal. China: muito corajosa na sua compreensão, atendendo a que depende dos votos afro-asiáticos para se manter na ONU. Venezuela mais moderada que o Brasil; Noruega, simultaneamente com o primarismo e o pedantismo arrogante dos nórdicos (procurou dar-nos o seu "advice" sobre como resolver os problemas de África), falou de uma subscrição internacional para nos compensar; e Filipinas, muito demagógica e péssima. França, excelente, absolutamente cartesiana, e declara que nos termos da Carta não se pode interferir nos negócios internos de nenhum país, e que Portugal não constitui ameaça à paz do Mundo. Inglaterra pronuncia-se em linhas parecidas, mas com menos nitidez.






Depois, embora dentro do regimento do Conselho, é a troca de argumentos, de perguntas e respostas, de diz-tu, direi-eu. Africanos sabem tudo, têm razão em tudo, podem fazer tudo, e recusam tudo: conversas, explicações, convites. E Ghana apresenta uma resolução condenando Portugal. Em nome do governo, rejeito-a sem mais. Mas é aprovada pelo Conselho, com abstenção de Inglaterra, França e Estados Unidos. Isto significa o limite político além do qual os ocidentais não consentirão que caminhem os afro-asiáticos; se estes quiserem ir além, ficam notificados de que os três grandes lhes oporão o seu veto. E pronto, foi assim. Esmagado pelo ambiente, diz a Vasco Garin, no final, o delegado britânico, Sir Patrick Dean: não creio que vocês durem na África um ano. Num dos intervalos dos debates, procura-me o ministro da Serra Leoa, Karefa-Smart, e pergunta-me quantos militares temos em Angola. Vinte ou trinta mil, digo. E ele torna: "Não podem vocês mandar mais? É que nós não queremos que vocês saiam de Angola para não se instalarem lá os russos ou os americanos". Este é o mesmo homem que nos criticou asperamente à mesa do Conselho. Admirável. É edificante, penso eu».

Franco Nogueira («Um Político Confessa-se»).


«Nós conhecemos, por contacto directo de longa tradição, o nível e as possibilidades de certas elites africanas e não duvidamos por isso da sua capacidade como elementos dirigentes que, no caso português, o são e têm sido através da História. Mas não julgamos, e a experiência vem confirmando a nossa convicção, que essas elites sejam numericamente suficientes em todos os domínios e em todos os escalões, quer da administração quer da actividade privada - sem a qual aquela não teria objecto nem sentido - para assumir inteiramente sós as complexas funções de um Estado moderno. Que assim é parece provado pela circunstância de, em certos casos, se estar fazendo uma experiência que a nós se nos afigura contrariar a independência real dos povos: enquanto o governo é entregue aos elementos locais, as empresas e iniciativas de valor económico básico continuam - e é esta a melhor hipótese - a cargo dos que, embora nacionais da antiga potência soberana, passaram agora a ser estrangeiros no país onde servem. Quer-nos parecer, quando despidas das aparências e reduzidas as coisas à sua essência, que estes novos Estados se arriscam a criar por este processo sujeições mais graves do que aquelas de que pretendem ter-se libertado. Mas por outro lado, onde tal experiência não esteja sendo executada, temos assistido, e receio que viremos a assistir com maior frequência, a retrocessos da vida económica e social e ao retorno de certas práticas incompatíveis com a prosperidade e progresso desejados.







De ter-se como incontroverso que tais inconvenientes não resultam da vontade dos nossos dirigentes africanos; e se, como se faz crer, esses são, em todos os casos, os mais habilitados, também não deve provir tal estado de coisas da deficiência das suas qualificações. A justificação, parece-nos, residirá na falta de elementos de apoio com que essas elites contam. E é natural que assim seja, porque um Estado não é constituído apenas por governantes. Um Ministro da Economia, por exemplo, não poderá governar, se não tiver, ao nível dos serviços públicos, os engenheiros, os economistas, os agrónomos, os veterinários, os funcionários de carteira e de campo; e, tendo-os, nada terá a dirigir se lhe faltarem os chefes de empresa, os técnicos, os comercialistas e os operários especializados, que na esfera privada mantêm em funcionamento as actividades económicas, isto é, os homens que organizam e dirigem o trabalho. A existência de todas estas camadas populacionais não foi considerada essencial para a formação das novas nações africanas; nós entendemos, porém, que será indispensável para o seu funcionamento e para a sua independência. E como uma economia nacional não se inventa nem improvisa e a preparação profissional é extremamente morosa (como estão a reconhecer mesmo os países economicamente fortes relativamente aos seus planos de desenvolvimento) parece que aos povos considerados se indicou um caminho pelo qual não conseguirão progredir a ritmo compatível com o resto do mundo e, assim, radicarão o seu atraso e comprometerão a sua independência nacional.

A independência das nações africanas tem-se processado, na generalidade dos casos, sobre dois erros que as prejudicarão: o racismo contra o branco e a suposta unidade dos seus povos naquele continente. Esta última suposição tenderá a subordinar o negro ao árabe; o racismo negro tenderá a prescindir de tudo quanto o branco mais progressivo pode levar-lhe em capital, trabalho e cultura. Seria mais assisado substituir o exclusivismo rácico pela colaboração que vimos ser imprescindível. É por isso que nós entendemos que o progresso económico, social e político daqueles territórios só será possível numa base multirracial em que as responsabilidade de direcção em todos os domínios caibam aos mais qualificados e não aos desta ou daquela cor.

Sei sermos acusados de, com esta doutrina, estarmos tentando assegurar o predomínio da raça branca em África, com base, sobretudo, no facto de o nosso multirracialismo não ter ainda reflexo bastante lato na distribuição de responsabilidades nas províncias ultramarinas de África. É certo que estamos ainda longe de atingir o ponto em que poderíamos estar plenamente satisfeitos com as nossas realizações. Mas não pode negar-se que não só é o mais seguro o caminho que trilhamos como o progresso dos territórios tende a cobrir a totalidade das respectivas populações, e não sectores privilegiados. Esse progresso é impossível negá-lo, pois que as realizações podem comparar-se, e com vantagem em muitos pontos, às dos outros países africanos. E se os nossos críticos estão seguros de que não é assim, mal se compreende que não tenham aceite a ideia de ser feito um estudo por individualidades de relevo internacional, e sob a égide da Organização das Nações Unidas. Foram infelizmente preferidos os discursos ao exame desapaixonado das realidades em debate, que tinha o nosso apoio.



Uma palavra sobre Angola. Estamos sendo vítimas ali de ataques que a princípio pretenderam acobertar-se sob a capa de sublevação das populações ansiosas por não continuarem integradas na Nação Portuguesa. O entusiasmo dos libertadores africanos porém não permitiu ocultar senão por pouco tempo a sua intervenção no recrutamento, financiamento e treino de elementos estrangeiros que através de Estados limítrofes penetram em Angola. De modo que hoje não pode já afirmar-se que há ali uma revolta de carácter mais ou menos nacionalista, mas que uma guerra é conduzida por vários Estados contra Portugal, num dos seus territórios ultramarinos. Ora, duas coisas se devem ter por certas: a primeira é que, ao atacar-se Angola, não se ataca só Portugal, mas se está pretendendo enfraquecer as posições, e não só estratégicas, de todo o mundo ocidental; a segunda é que os que atacam, os que apoiam, os que ajudam com a sua indiferença, estão a agir contra os verdadeiros interesses das populações de Angola, só com retardar-lhes o desenvolvimento pacífico e com levar ali a semente do antagonismo racial que não existia e é hoje, pelo que acima disse, o principal obstáculo ao progresso e bem-estar do continente africano».

Oliveira Salazar («Realidades da Política Portuguesa»).



«A responsabilidade de Washington pelos problemas de Angola criou uma situação desconfortável a Elbrick e ao resto do country team americano. Logo a seguir ao 15 de Março, o chefe do posto da CIA forneceu a Viana de Lemos uma lista de jornalistas da confiança da Administração Kennedy. Fred Hubbard sugeria que esses jornalistas fossem autorizados a reportar em Angola as atrocidades da UPA - o que auxiliaria Portugal a defender-se nas Nações Unidas. Botelho Moniz entregou a lista a Salazar, mas este rejeitou a sugestão: "Para quê? São os próprios americanos que nos andam a tramar em Angola..."».

José Freire Antunes («Kennedy e Salazar: o leão e a raposa»).



«Em relação aos que nos trouxeram a guerra e nela continuam empenhados, pareceu que não havia muitos modos diferentes de os tratar, e o valor, dedicação e mérito de todos os portugueses que se encontram na frente de combate - militares ou civis - têm assegurado tudo o que deles se espera e que é, afinal, tudo o que se pode fazer. Isto implica, só por si, a iniludível necessidade de incessantemente apetrechar as forças que temos nas diversas missões de segurança, pois não nos sofreria o ânimo o saber em favor de outras necessidades (por mais prementes ou urgentes que pareçam) se diminuíssem os meios necessários para a defesa da vida dos que a empregam no bom combate. Convém, talvez, mencionar aqui quão errónea e perigosa se nos afigura a fácil generalização da ideia de que um bem orientado esforço das tarefas de paz seria contribuição, se não bastante, ao menos de excepcional valor para a diminuição dos gastos da guerra. A esse propósito, apenas parece justo lembrar que não nos defrontamos com qualquer revolta interna que tivesse origem em fundados descontentamentos, mas sim com uma agressão vinda do exterior, com objectivos bem definidos, que não incluem, de qualquer modo, o bem-estar das nossas populações.







Outros se poderão convencer - ou fingir que se convencem - com a falsa generosidade que, de quando em quando, aflora nos programas e declarações dos nossos inimigos e que tanto toca o coração dos dirigentes de certas não menos piedosas organizações nacionais ou internacionais, mas nós temos o saber de experiência feito que nos aconselha a apreciá-la segundo o seu justo valor.

Se, realmente, não estivéssemos prevenidos, por muitas e variadas razões, dos propósitos que se escondem por detrás da campanha contra nós movida, poderíamos surpreender-nos, e até confundir-nos, com a súbita preocupação que merecem no momento os interesses dos outros a quem sempre se nos apresentara cuidando exclusivamente dos próprios. Na farsa assim montada tudo se pode encontrar: governantes e nacionais de países onde a miséria é regra distraem a maior parte da sua preciosa atenção com o bem-estar dos outros povos; governantes e nacionais de países onde se pratica a mais dura segregação despendem muito do seu tempo a verberar qualquer hipótese discriminatória; governantes e nacionais de países onde se eliminaram tribos inteiras e se acantonaram outras em reservas pugnam acaloradamente pelos direitos de outros aborígenes; governantes e nacionais de países onde se conserva a escravatura como prática oficial batem-se ardorosamente pela liberdade; e quando consideramos - dentro do quadro assim esboçado - a longa teoria de críticas e recriminações, um pouco por toda a parte, que contra nós se levantam, podemos facilmente perceber quanto de subversão nelas se contém».

João da Costa Freitas




O anticolonialismo norte-americano

No conjunto geral dos acontecimentos desenrolados, no decurso da metade do século, no domínio colonial, ou, melhor, no processo que, de facto, representa o desmembramento dos impérios coloniais, os Estados Unidos da America desempenharam um importante papel.

Nascidos eles mesmos da sublevação anticolonialista, os Estados Unidos da América destacaram o «anticolonialismo» como um dos elementos dominantes entre princípios da nação. Seria uma larga história a participação norte-americana nos movimentos anticolonialistas, desde a ajuda proporcionada aos movimentos revolucionários na Hispano-América, dirigidos contra a Espanha até à política actual norte-americana neste domínio. Todos os movimentos hispano-americanos dirigidos contra a Espanha e a sua presença no continente americano, gozaram de apoio oficial norte-americano, bem como da ajuda de personalidades de entidades privadas do dito país.

Monte Rushmore em Keystone, Dakota do Sul nos Estados Unidos da América, onde estão esculpidos os rostos de quatro presidentes dos Estados Unidos: George Washington, Thomas Jefferson, Theodore Roosevelt e Abraham Lincoln. A "escultura", feita com dinamite, foi realizada por Gutzon Borglum.


Este anticolonialismo norte-americano está oficialmente inspirado por razões e sentimentos justificados com uma argumentação muito humanitária e altruísta, mas a realidade demonstrou que, por detrás desta fachada demagógica, existem razões mais materialistas e egoístas. Um dos factos dominantes da história mundial na primeira metade do século actual é a rápida ascensão dos Estados Unidos da América ao posto de primeira potência do mundo ocidental. Potência política e económica, os Estados Unidos criaram um império económico e para isso tiveram de minar a potência económica de outros impérios. A expansão económica norte-americana e o rápido desenvolvimento da sua produção industrial impuseram a necessidade de procurar novos mercados e novas fontes de matérias-primas. Quando se sabe que a nação americana, cuja população representa 6% da população total mundial, produz quase 50% das riquezas industriais do mundo, é muito compreensível este afã de expansão económica.

Todavia, na actual situação, e com a ofensiva desencadeada pelo mundo comunista para conseguir a dissolução dos impérios coloniais e, através disso, debilitar o mundo ocidental e, sobretudo, a Europa, privando-a do seu apoio económico, o anticolonialismo norte-americano, compreendendo idêntico fim, ainda que com diferentes propósitos, representa, de facto, uma contribuição para o esforço comunista neste campo. Daqui, é natural que surja a situação de uma aliança «objectiva» entre os Estados Unidos da América e o mundo comunista com relação à política colonial.

Esta conclusão não escapou a certos círculos norte-americanos que demonstraram ultimamente por ela os seus reparos e inquietações. Em Março de 1958, a conhecida revista norte-americana Time fazia-se eco deste estado de espírito e publicava um artigo sob a significativa epígrafe: «O colonialismo e os Estados Unidos: conflito do ideal e da realidade». O autor do mesmo lamenta-se de que o anticolonialismo norte-americano não seja suficientemente apreciado nos países do regime colonial ou protector a que os tinham submetido as potências europeias. Em alguns destes países - diz o artigo - existe um forte ressentimento e receio pelos Estados Unidos. Na indonésia, o presidente Bourguiba acusa-os de cúmplices da França porque esta não poderia continuar a sua guerra de repressão na Argélia sem a ajuda financeira dos Estados Unidos. A mentalidade dos americanos na questão de Chipre incita os gregos. Em todos os lados pensa-se que pouco ou nada fizeram pela liberdade dos países. O citado semanário exibe o que poderíamos chamar a «folha de serviços» dos Estados Unidos, que demonstra o papel decisivo que exerceram na «descolonização» do mundo: serviços que, no juízo dos outros, são desmeritórios porque a eles se deve atribuir certa parte da actual situação do mundo, que não seria tão confusa nem perigosa se à grande questão do comunismo russo e anticomunismo ocidental não se tivesse unido a efervescência antieuropeia que reina, como diz o Time, desde as extensões arenosas do Norte de África até às selvas do seu Sudoeste asiático.

Franklin Roosevelt


«Até ao final da primeira guerra mundial - começa o Time - a direcção dos Estados Unidos na luta contra o colonialismo era reconhecida universalmente. Woodrow Wilson, chefe da primeira colónia que alcançou a sua independência da Europa, nos tempos modernos, proclamou o direito de os povos se governarem a si  mesmos, como um estandarte sob o qual podiam acolher-se os caudilhos dos povos nativos de toda a parte. Na segunda guerra mundial, o presidente Franklin Roosevelt acusa de tal maneira Churchill sobre as possessões coloniais da Inglaterra que, durante uma conferência, Churchill exclamou: "Sr. Presidente: eu creio que está a tentar desfazer o Império Britânico". Em 1942, quando Sir Stafford Cripps tentava inutilmente chegar a um acordo com os nacionalistas da Índia, um representante dos Estados Unidos tomou parte nas negociações - um passo que, unido ao constante aguilhoar de Roosevelt sobre os ingleses, estimulou Gandhi e Nehru na sua luta, acelerando-se, desse modo, a independência da Índia e do Paquistão.

Em 1945, Roosevelt declarou que apoiaria os sírios e os libaneses na sua luta contra a França, por todos os meios, excepto a força. E, na conferência de Casablanca, Roosevelt impulsionou a completa independência de Marrocos nas suas conversações com o sultão, hoje Mohamed V. Depois da guerra, os Estados Unidos concederam a independência das Filipinas. Na Indochina, ainda que apoiando o esforço militar da França contra o imperialismo comunista no Sudeste da Ásia, exerceram sobre ela constante pressão para que concedesse a independência do Vietname do Sul, Laos e Camboja. Quando a Holanda intentou reconquistar a Indonésia, o Senado dos Estados Unidos «mostrou o seu jogo com um projecto de lei que suspendia a ajuda económica a toda a nação cuja conduta não se ajustasse com a Carta das Nações Unidas. Estas ameaças e a diplomacia de Merle Cochran obrigaram os holandeses a entrar em negociações das quais resultou a independência da Indonésia. Dulles disse que a República Indonésia existe, em grande parte, como resultado do interesse dos Estados Unidos.

Quando os egípcios, em 1951, iniciaram uma campanha de terrorismo para expulsar os ingleses da zona do canal de Suez, os Estados Unidos demonstraram claramente que as suas simpatias estavam com o Egipto. Depois que os ingleses acederam, em 1954, às reclamações egípcias, Sir Anthony Eden queixou-se de as negociações se terem complicado pelo facto de, enquanto se desenhava um acordo, o embaixador dos Estados Unidos, Jefferson Caffery, excitar o Egipto a pedir melhores concessões. Dois anos mais tarde, quando a Inglaterra e a França tratavam de voltar a ocupar a zona do canal de Suez pela força, os Estados Unidos condenaram publicamente os seus mais antigos e mais íntimos aliados, numa demonstração, por certo única na história, de fidelidade de princípios».

Depois desta citação, os Estados Unidos não podem negar a sua responsabilidade na actual situação do mundo. Mas os norte-americanos surpreendem-se de que, apesar de todo o apoio à independência dos países afro-asiáticos, a recompensa seja a ingratidão. Na opinião do Time, as causas são várias, mas podem reduzir-se a uma: que as novas nações saídas do regime colonial irritam-se porque os Estados Unidos não apoiam todas as suas aspirações, por mais irrealistas que sejam.




«Muitos esperavam que a independência os levaria ao bem-estar material que sempre lhes faltou e acusam os Estados Unidos quando a independência se mostra incapaz de subministrá-lo». Confessa o Time alguns erros. Por exemplo: «A julgar pelo caos que agora reina na Indonésia, acaso os Estados Unidos terão posto o seu peso na balança da independência?». Mas não se refere às complicações actuais no Médio Oriente, derivadas em grande parte da política norte-americana no Egipto e no conflito do Suez. Há motivo para se perguntar se com outra política se teria formado a República Árabe Unida e o rei Saud - o mais estreitamente ligado aos Estados Unidos - não teria sido forçado a delegar os seus poderes no emir Feisal.

Reconhece o Time que, se há dez anos os cidadãos dos Estados Unidos podiam compartilhar do conceito norte-americano do colonialismo como opressão e exploração, hoje os dirigentes dos Estados Unidos dão-se conta de que o colonialismo foi amiúde um instrumento do progresso e que os problemas do mundo não se podem resolver tomando uma posição anticolonial em todas as circunstâncias.

Mas há outra questão mais importante. Em muitas partes «o idealismo dos Estados Unidos enfrentou uma amarga verdade com o objectivo supremo deste país de defender o mundo livre contra a agressão comunista; tanto o bom senso como a conveniência levam a deixar aquela para segundo plano». Talvez já se tenha posto tanto em primeiro, que hoje seja demasiado tarde para conter «a onda de comunismo» que sobe misturada com a do nacionalismo, estimulado, como temos visto, pelos Estados Unidos.

O erro essencial não é nenhum dos que citam o Time, mas antes a crença optimista de que os nacionalistas seriam agradecidos. Parece, no entanto, condição natural dos nacionalistas o serem ingratos.

Quem os favorecer, confiado na sua gratidão, receberá a mesma paga que hoje amargura os Estados Unidos.

É de deplorar que o mencionado artigo fique somente a metade do caminho, deixando a outra metade na sombra. Com efeito, ao longo de toda a página do Time não há nem uma só alusão à «aliança objectiva» entre os Estados Unidos e a URSS no que se refere a esta política anticolonialista. Tão-pouco existe uma visão realista da situação. Ao fim e ao cabo, o anticolonialismo dos Estados Unidos da América actua somente num sentido ou, melhor, no que se refere aos mesmos Estados Unidos. Certas terras consideradas actualmente como Estados norte-americanos são fundo de uma política de colonização por parte da grande nação americana, ainda que com sentido bem mais político e, poderíamos dizer (com o perigo de utilizarmos o vocabulário comunista), «imperialista». De facto, que são Porto Rico, Alasca e as ilhas Havai (sem falarmos das «zonas» americanas do canal do Panamá e das distantes ilhas de Guam e Okinawa)? Colónias que, além do mais, não foram colonizadas pelos americanos, mas sim por outras nações, e conquistadas pelos Estados Unidos, como aliás foram conquistadas à Espanha as amplas regiões da parte meridional do território norte-americano, países donde o norte-americano não varreu as raízes hispânicas, tal como de outras regiões dos Estados Unidos não foram ainda varridas as raízes da civilização britânica ou francesa... (in ob. cit., pp. 171-176).






Continua


domingo, 17 de fevereiro de 2013

ONU, maçonaria e comunismo internacional (i)

Escrito por Alejandro Botzàris







«Aos olhos dos egípcios e dos afegãs, dos sírios ou dos indianos, os altos fornos e as chaminés das fábricas, os tractores e as debulhadoras são o elemento principal que domina a paisagem soviética. As cercas dos campos de concentração, os presos comuns com os seus milhares de cadáveres, as execuções rápidas nos subterrâneos das "chekas", a "lavagem ao cérebro", instaurada pelo sinistro Béria, a rígida e desumana máquina do Partido Comunista - tudo isso desaparece ante as assombrosas estatísticas dos planos quinquenais. O africano e o asiático sonham ver esses altos fornos e essas chaminés dominarem as suas cidades e os tractores e debulhadoras nos seus campos. A propaganda comunista, espalhada pelas ondas de Rádio Moscovo e Rádio Praga; o insinuante labor das entidades comunistas disfarçadas de "democráticas" e "nacionalistas"; a astuta infiltração dos agentes comunistas nas organizações políticas, sindicais, estudantis, culturais, etc., proporcionam os últimos retoques nesta idílica imagem de um mundo em que cada cidadão tem satisfeitas todas as suas necessidades económicas.

O labor, inspirado, coordenado e financiado por Moscovo, não tem por propósito, por agora, instaurar regimes comunistas nestes países. O seu propósito, provisório, é separá-los como fonte de matérias-primas, como mercados de produtos manufacturados e como zonas de influência política e cultural do mundo chamado "capitalista".

Lenine já tinha dito que "o caminho de Paris passa por Pequim". E, desde 1950, Pequim está nas mãos do comunismo e esta parte do axioma leninista foi realizada. Falta apenas chegar a Paris».

Alejandro Botzàris («África e o Comunismo»).


«Durante décadas, os fumos das unidades industriais gigantescas de Magnitogorsk assombraram os que acreditavam no futuro radioso do comunismo e que viam na União Soviética o farol da humanidade conquistadora. Quantas vezes não se ouviu, leu, aqui e ali, durante os anos 50 e 60, que Moscovo em breve apanharia Washington, produzindo uma prova definitiva da superioridade do sistema soviético? Hoje podemos brincar com essa propaganda, perante a extensão de ruínas revelada aos mais crédulos pela queda do Muro de Berlim em 1989. Agricultura, indústria, comércio: a falência era geral, a ponto de, um quarto de século mais tarde, nenhum dos antigos países comunistas se ter ainda reerguido. Nestas regiões, o balanço da ditadura do proletariado foi em todos os aspectos negativo. Porque haveria de ser a China, que se manteve fiel a esses ideais, uma excepção?






Os campos chineses estão salpicados de edifícios e de fábricas ao abandono. Três quartos do equipamento industrial encontram-se obsoletos, a maior parte das máquinas e das instalações datam dos anos 60 e 70 e nunca foram renovadas, nem modernizadas no aspecto técnico. Tim Clissold, que percorreu o país de trás para diante nos anos 90 à procura de oportunidades de investimento por conta dos fundos de pensões americanos, visitou centenas de fábricas degradadas, umas mais que outras: "Na maioria dos casos, a anarquia reina nas oficinas gigantescas", testemunha. "Homens de chinelos de pano deitam o metal fundido em moldes colocados no chão, mulheres acocoradas munidas de limas ferrugentas desbarbam as peças de alumínio, os contabilistas acumulam caixas de sapatos cheias de facturas ilegíveis. Seriam necessários milhões de dólares para reabilitar estas empresas arruinadas e todas as suas máquinas decrépitas". Construídas longe das cidades, por vezes no cimo de montanhas, no fim de uma estrada de terra, as fábricas visitadas não dispunham de quaisquer infra-estruturas.

O país está a pagar o preço de uma paranóia comunista que, receando um conflito militar, tinha mandado construir, por ordem de Mao, um grande número de fábricas de indústria pesada no interior de regiões de difícil acesso. Assim que começavam a laborar já estavam antiquadas, porque eram decalcadas da velha tecnologia soviética dos anos 50. Hoje torna-se necessário reconverter estas empresas, o que implica um custo social tanto maior quanto a sua localização em zonas muito pobres faz depender delas toda a economia regional. Por razões de segurança, mais uma vez, a indústria chinesa foi durante muitos anos constituída por unidades autárquicas, independentes umas das outras, que deviam ser auto-suficientes. Reproduzidas por todo o território, a partir de então foram incapazes de formar um tecido industrial. A consequência: os grandes grupos industriais estão fragmentados. O sector do aço dispõe de vinte e duas companhias, das quais as cinco mais importantes garantem apenas um terço da produção nacional; idêntico quadro no petróleo e na petroquímica, com catorze empresas diferentes; na indústria farmacêutica, em que se contam mais de cinco mil fabricantes locais, os sessenta mais importantes detêm apenas um terço do mercado; nos fabricantes de telefones, cinquenta e seis marcas apresentam mais de setecentos modelos...

Na área das infra-estruturas, o balanço não é de modo nenhum mais brilhante: estado deplorável das estradas no interior do país, onde as autoridades locais não têm recursos para trabalhos de conservação; portos atafulhados de mercadorias por falta de comboios, ou devido a uma rede ferroviária sobrecarregada; centrais eléctricas que funcionam abaixo da sua capacidade porque o abastecimento de carvão não é feito a tempo. Por todas estas razões, os custos logísticos tornam-se rapidadmente enormes. Esta China nada tem a ver com aquela que a propaganda nos vende e em que nós acabámos por acreditar. Haverá por detrás das belas vitrinas de Xangai, de Cantão ou de outro local, uma realidade diferente, uma China Potemkine que esconde um país real? Existem, em todo o caso, duas economias, a macro e a micro, que pouco têm a ver entre si. A macro anuncia aos quatro ventos índices sedutores, a micro revela um tecido industrial bastante miserável e um desenvolvimento humano digno dos países do Sul. Em termos de rendimento per capita a China está próxima de Marrocos, quanto a poder de compra ao nível da Argélia, e no que respeita ao indicador de desenvolvimento humano em pé de igualdade com a Tunísia».

Tierry Wolton («O Grande Bluff Chinês: como Pequim nos vende a sua "Revolução" capitalista»).



«Descolonização e autodeterminação são expressões políticas que tanto o grupo de Nações ocidentais como o das que alinham com a Rússia proclamam por sinónimos de libertação de todos os povos e Estados oprimidos pela força imperialista das Nações colonizadoras. Posta assim a questão, não há homem bem formado nem país civilizado que não adira logo à beleza do princípio e à justiça dos seus objectivos. Mas como tanto do lado da Rússia como entre certas nações ocidentais há práticas e factos que desmentem, na realidade e em absoluto, conforme atrás dissemos, a exactidão dos princípios, segue-se que temos de procurar, para além das aparências ilusórias, o fio condutor das realidades dolorosas. E essas conduzem-nos à conclusão de que a descolonização e autodeterminação são apenas a cínica e hipócrita cobertura doutrinária do pavoroso colonialismo materialista e económico, que se propõe partilhar o Mundo à sombra da bomba atómica...

Toda a gente sabe que a Europa e a África constituem, do ponto de vista económico e estratégico, um todo cuja separação radical tornaria este velho continente indefensável e indigente. Trata-se, portanto, de assegurar, para uma política universal, o domínio do continente africano que ninguém ignora, seja em que campo for, estar incapaz de se governar e desenvolver por si próprio, na medida das exigências da economia universal».

Costa Brochado («Teoria da Unidade Nacional e realidades da África Portuguesa»).





ONU, maçonaria e comunismo internacional


O grande escritor inglês Ruyard Kypling afirmou em certa ocasião: «O Este é o Este, o Oeste é o Oeste. Nunca se encontrarão».

É provável que Kypling tenha razão no que se refere à maneira de pensar destes dois mundos, mas, politicamente, eles encontram-se na ONU. A importância do mundo árabe na ONU mede-se pela quantidade de votos que representa na Assembleia Geral: mais de 20%.

O anticolonialismo representa a base da política dos países árabes na ONU, como representa também toda a acção do bloco árabe e a política geral da Liga Árabe. Para eles, os problemas coloniais não representam somente um conjunto de problemas teóricos. O árabe tem em conta que grande parte da população colonial é árabe e muçulmana. A actuação dos franceses na África do Norte é tomada como uma ofensa para a dignidade e o sentimento de solidariedade do mundo árabe. Se a polícia francesa detém, condena e fuzila um comunista, autor de crimes, atentados e sabotagens em Argel, todo o mundo árabe esquece que se trata de um comunista, vendo apenas que ele é um árabe. Além disso, o árabe, quer seja persa, tunisino, paquistânico ou marroquino, egípcio ou indonésio, é muçulmano. Todas as suas acções são inspiradas por um código religioso social estabelecido há mais de treze séculos. O Corão representa para eles uma coisa muito mais importante que as cores das suas bandeiras nacionais.






Há em todo o mundo uns 400 milhões de muçulmanos, espalhados pela Indonésia, Rússia, China, Filipinas, Jugoslávia, Albânia, Grécia, Senegal, Paquistão, Congo, União Sul-Africana, incluindo a América Hispânica e os Estados Unidos. Com os árabes do Próximo e Médio Oriente, com os do Egipto, Somália, Jordânia, Líbia, Tunísia, Argélia e Marrocos, os maometanos representam um dos mais fortes blocos do mundo. Fanatizados pelo sentimento religioso podem constituir uma ameaça considerável para os países coloniais. Este facto foi compreendido pela União Soviética muito bem. Tanto mais que o Islão despertou da sua secular modorra. Os muçulmanos aparecem solidários da resistência civil na União Sul-Africana, sublevam-se em Marrocos e na Tunísia, organizam atentados na Argélia, combatem os interesses britânicos no Irão, atacam as tropas inglesas no canal de Suez, desalojam os holandeses da Indonésia... Mas aceitam a «ajuda soviética»...

Mas não são estas as manifestações mais eloquentes da força nascente do bloco muçulmano. É nas Nações Unidas onde essa força se manifesta com maior espetaculosidade. Na famosa sessão da ONU em que foram discutidos os problemas de Marrocos e da Tunísia, os árabes dominavam na Assembleia quase todos os debates. A Liga Árabe reuniu os votos aos dos dois países hispano-americanos, obtendo assim a maioria. A aliança de ambos os blocos nesta sessão resultará a coisa mais natural se considerarmos que um dos maiores êxitos da propaganda moscovita tem sido sobrelevar a dependência económica dos Estados hispano-americanos dos Estados Unidos da América. Graças à dialéctica comunista, o conceito de «dependência económica» transformou-se rapidamente no equivalente a «semicolonialismo». Para o orgulho hispano-americano, pois, esta definição supõe o que a muleta é para o touro, e é lógico que, ao encontrarem-se os países árabes em idêntica situação de dependência económica, a ajuda económica de que gozam os países europeus por parte do Tio Sam seja uma razão para despertar os zelos tanto dos hispano-americanos como dos árabes.

Todavia, o apoio hispano-americano foi apenas ocasional. A União Soviética e os seus satélites comunistas ficaram encantados ao achar a ocasião de oferecer o seu «apoio» à Liga Árabe e fazer outra vez o papel de «defensores dos débeis e explorados», ganhando ao mesmo tempo aliados valiosos para futuras acções.







Dentro das Nações Unidas, os blocos árabe e hispano-americano desempenham o importante papel de árbitro entre os dois grandes antagonistas do cenário político actual: a União Soviética e os seus satélites, por um lado, e os ocidentais, por outro. Para ambos os grupos enfrentados, os votos árabes e hispano-americanos são realmente preciosos e, por conseguinte, não regateiam os meios para os atrair à sua esfera.

Que podem oferecer as potências ocidentais aos árabes para os satisfazer? Que lhes oferecem, por seu lado, os comunistas para os afastar daquelas?

Os árabes consideram um crime o colonialismo ocidental e exigem o aniquilamento total do regime nos países de população árabe. Não é pois fácil estabelecer o equilíbrio entre as exigências  árabes e as possibilidades de concessão dos ocidentais. Conceder a independência total às colónias representaria um novo enfraquecimento do campo ocidental frente à URSS. Ao contrário, não a concedendo, seria igualmente empurrar os árabes para os braços de Kruschef.

No quadro dos problemas coloniais, a União soviética tem uma posição invejável, visto que que não tem mais que fazer do que falar, e é inegável que sabe muito bem aproveitar esta situação. Os árabes, porta-vozes da propaganda soviética, expressam-se com palavras de grande amizade e compreensão para com os países coloniais, embora os próprios árabes saibam que só se trata de hipócritas manobras de propaganda, mas, como necessitam de um aliado, aceitam-nas tal como são, pensando que, uma vez conseguida a libertação das colónias, arrumarão facilmente as contas com o seu perigoso aliado.

É na ONU, pois, que se manifesta, mais do que em qualquer outro sítio, a inimizade entre os Estados Unidos e a União Soviética. Esta inimizade tem uma larga história cujo primeiro capítulo se desenrolou em Yalta e S. Francisco. Começou com a utilização do direito de «veto» e desenvolveu-se e piorou durante os anos seguintes.

Graças ao «veto», a União Soviética ri-se do bloco maioritário que apoia a política norte-americana na Assembleia. Por outro lado, a URSS não vê nas Nações Unidas um organismo regulador das relações entre os Estados, mas antes uma tribuna para a sua propaganda. O Kremlin sabe muito bem que todos os jornais e emissoras recolhem e reproduzem os discursos pronunciados na ONU. Deste modo, o cidadão americano que não lê o Pravda, de Moscovo, nem o Daily Mirror, comunista, de Nova Iorque, lê os discursos de Gromyko no New York Times ou escuta-os na emissora de radiodifusão norte-americana. Que importa que no Egipto estejam proibidos os jornais comunistas se os diários governamentais reproduzem nas suas colunas os discursos soviéticos? O mesmo ocorre em todos os países do mundo e é aqui que, graças à ONU, as palavras de Moscovo chegam a todos os recantos.






Por outro lado, o direito de «veto» é uma arma poderosíssima nas mãos dos soviéticos, os quais, até agora, o utilizaram mais de oitenta vezes, enquanto que os restantes membros da ONU apenas o exerceram umas quinze.

Neste duelo soviético-americano na ONU (somente na questão do Suez votavam juntos), as questões coloniais representam uma valiosa carta nas mãos soviéticas. Se se acrescentarem aos votos comunistas os dos blocos árabe e hispano-americano, o resultado seria uma grande frente ao bloco ocidental.

A formação de tal bloco é o fim tentado pela União Soviética e ainda até agora não o conseguiu, mas temos de reconhecer que, desenrolando-se como até aqui os assuntos coloniais, acabará por consegui-lo um dia.

Este breve resumo abarca somente alguns aspectos - os mais importantes - dos problemas coloniais na ONU. Mas, não obstante no que se refere às colónias, representa um grave perigo para o mundo.

As potências coloniais consideram a ONU como um perigo ou, pelo menos, um impedimento para a sua política colonialista, a tal ponto que se criou um certo sentimento de inveja para com Portugal, país que, não fazendo parte da ONU, não tem problemas nas suas colónias.

Mas esta incapacidade da ONU para dar solução correcta aos problemas coloniais não impede o facto de que estes existam. Ninguém pode negar a necessidade de uma solução pacífica, realista, política e acertada: no momento em que os países livres, perante a ameaça comunista, dedicam a  maior parte dos seus esforços para formar alianças políticas que integram a maior quantidade possível de homens, territórios, meios económicos e riquezas naturais num só bloco, as colónias representam para eles uma importante contribuição. Não se trata já do interesse da França ou da Grã-Bretanha como potências coloniais, não se trata dos «direitos democráticos» dos indígenas da Argélia, nem sequer do sentimento de solidariedade dos povos muçulmanos. Não resta dúvida de que tudo isso existe e há que tê-lo em conta; mas são particularidades e pormenores que perdem valor e importância perante o tremendo perigo que ameaça o mundo: o comunismo. Se este conseguisse uma vitória sobre o mundo livre, já não haveria franceses, nem argelinos, nem muçulmanos, nem sequer uma ONU para cada qual falar dos seus interesses, dos seus direitos ou de qualquer outra coisa.

Então, sim, desapareceriam os problemas coloniais. E desapareceriam pela muito simples razão de que o mundo inteiro não seria mais do que uma enorme e única colónia: a de Moscovo (in África e o Comunismo, Junta de Investigações do Ultramar, 27, Lisboa, 1959, Vol. I, pp. 168-171).

Continua