terça-feira, 23 de março de 2021

A Conspiração do Silêncio (i)

Escrito por Miguel Bruno Duarte




 

O colectivismo oligárquico

O incremento exponencial da concentração de riqueza e do poder oligárquico no mundo hodierno, equivalente ao controlo centralizado sem precedentes sobre a economia e a política financeira globais, exige, pois, como ponto de partida indispensável, o indagar de uma rede deveras complexa de empresas de propriedade interligada, e, portanto, de poderosas entidades estratégicas cujo alto rendimento e produção possuam colectivamente, por meio de suas acções, a maioria das grandes empresas mundiais. Porém, isso só não chega. É também preciso determinar quais as relações sociais, familiares, comerciais e de implicação secreta ou até de eventual parentesco genético ou hereditário particularmente assentes entre empresários, accionistas e plutocratas.

Poderão decerto os mais cépticos, em sua reiterada suspicácia, alegar que um tal consórcio apenas se resume a mais uma “teoria da conspiração”. Ora, por um lado, a palavra conspiração vem do latim conspirare, cuja etimologia significa “respirar em conjunto”, pelo que nesse sentido surge como uma palavra relativamente neutra. Por outro, essa palavra passou a ganhar um sentido assaz pejorativo mercê da expressão “teoria da conspiração”, inicialmente usada pela CIA de modo a operacionalizar uma campanha de desinformação psicológica contra qualquer pessoa, grupo ou entidade que ousasse questionar a Comissão Warren e, nessa medida, a versão oficial do governo americano quanto ao assassínio de J. F. Kennedy.

No fundo, a guerra como as pesquisas tecnológicas mais secretas no campo militar ou policial inclusive, tendem quase sempre a ser profundamente utilizadas na limitação da liberdade humana quer ao nível da existência elementar mais particularmente vivida, quer ao nível de qualquer possibilidade de pensamento individual independente. Por conseguinte, duas ordens de objectivos abusivamente se impõem num dado momento do super-desenvolvimento tecnológico: a primeira consiste em antecipar o que um dado ser humano pensa ou virá eventualmente a pensar num futuro próximo; a segunda em conseguir matar dezenas ou centenas de milhões de seres humanos sem aviso prévio, seja a um ritmo lento e gradual, seja numa questão de segundos. Não chega a ser hoje muito difícil prevermos um tal processo de controlo absoluto e selecção artificial, se para tanto pensarmos na emergente mensuração das expressões faciais, dos gestos e das inflexões de voz no âmbito da vigilância electrónica e da recolha e tratamento de dados biométricos, ou ainda na aplicação das drogas psicotrópicas, das terapias de choque, da hipnose e até da tortura física e psicológica, já para não falar no planeamento logístico de guerras futuras, nas armas de impulso electromagnético como na alteração e refracção dos raios solares através de lentes suspensas no espaço, a milhares de quilómetros de altitude, além do desencadear artificial de terramotos e maremotos com consequências desastrosas para certas populações e regiões do globo.

Por maior que seja, regra geral, o acréscimo de riqueza e de progresso material ao longo da História, constitui, sem dúvida, um facto de que nenhuma reforma, nenhum abrandamento dos costumes e mesmo nenhuma revolução fizeram recuar substancialmente a desigualdade entre os homens, até porque não obstante as mudanças históricas elas pouco mais representam, em strictu sensu, do que a mudança do nome dos sucessivos líderes, chefes ou classes dominantes nas sociedades políticas bem ou mal organizadas. Certo é, porém, que muitas revoluções têm sido realizadas sob a bandeira da igualdade, se bem que, logo à primeira oportunidade, procurem instaurar novas tiranias mais implacáveis e terrivelmente opressoras. O socialismo, em sua teoria e práxis, é, aliás, um exemplo significativo disso mesmo, pois, embora preconize constituir desde o século XIX o último elo de uma cadeia de pensamento revolucionário que remonta às rebeliões de escravos da Antiguidade, mais não tem feito, por entre as tendências díspares que o configuram, senão proclamar utopicamente a liberdade e a igualdade a fim de conquistar o poder para assim exercer a mais execrável das tiranias que o mundo tem infelizmente conhecido até hoje.

É também um dado adquirido que a revolta das massas haja sido alguma vez produzida por iniciativa própria, além de que dificilmente as massas se revoltam em razão da opressão de que são alvo. Na verdade, nem geralmente se apercebem de que são sequer objecto de opressão uma vez que normalmente ignoram os factos, os factores e os indicadores necessários para assim correctamente avaliarem e saberem em que situação realmente se encontram. Sabemos, de resto, que as novas teorias de índole socialista somente viram a luz do dia em função da progressiva acumulação, sentido e sistematização de um certo tipo de narrativa historiográfica que até ao século XIX ainda mal existia.

Não podemos entretanto esquecer que, sem embargo da pressuposta defesa dos direitos do homem, da liberdade de expressão e da igualdade perante a lei mais directa ou indirectamente protagonizada pelos próceres das revoluções francesa, inglesa e norte-americana, já quase todas as correntes de pensamento político se tinham tornado autoritárias durante o segundo quartel do século XX, se não mesmo propensas à predominante constituição de regimes democidas já oportunamente caracterizados por Rudolph Joseph Rummel como regimes determinados a cometer o genocídio ou o assassínio em massa. E daí também se explique que a nova aristocracia emergente fosse, na sua maioria, essencialmente composta por técnicos e cientistas, eugenistas, burocratas, dirigentes sindicalistas, sociólogos, professores universitários, jornalistas e agentes políticos profissionais que estariam assim destinados a constituir o tipo de gente que um tanto aparentemente dominaria o mundo. Ora, essa maioria certamente provinha como ainda provém essencialmente da classe média assalariada, hoje tendencialmente recrutada para sectores e domínios onde se impõe cada vez mais a constante vigilância dos cidadãos progressivamente destituídos dos seus direitos e liberdades fundamentais.



Nunca como na actualidade os grupos dominantes e dominadores pesaram tanto na sociedade em termos de controlo total e absoluto dos cidadãos inermes, a ponto de podermos inclusivamente dizer que a Igreja Católica foi, para os padrões actuais, historicamente mais tolerante não obstante episódios controversos relativamente à repressão de movimentos heréticos ou à questão inquisitorial propriamente dita. Poder-se-ia igualmente dizer que com a televisão toda a vida privada nunca mais foi a mesma, o que é ainda mais verdadeiro para as actuais redes e plataformas digitais que implicam por si mesmas a possibilidade de rastrear, mapear e monitorizar a vida pessoal de qualquer indivíduo ou grupo de indivíduos, bem como a de consolidar a quase absoluta padronização da opinião pública publicada e não-publicada. Em suma: não há hoje praticamente ninguém que não possa ser totalmente vigiado e mantido vinte e quatro horas debaixo do olhar perscrutador das autoridades policiais e outras agências ou entidades totalmente desconhecidas para o cidadão comum.

Seja como for, no cerne deste sistema global de vigilância e controlo psicossocial encontra-se o já designado colectivismo oligárquico. Uma vez instaurado, a propriedade de facto e de direito transita progressivamente para a concentração da propriedade num menor número de mãos, não obstante Nelson Rockefeller haver ocasionalmente dito que o segredo do sucesso é não possuir nada, pese embora controlar tudo. Por outras palavras, a diferença reside mais propriamente em os novos proprietários constituírem basicamente um conjunto alargado de corporações estritamente conexas, em vez de um simples aglomerado de indivíduos singulares.

Também é verdade que a continuidade da oligarquia num sistema planetário colectivista não precisa de necessariamente assentar numa tipologia hereditária, ou de simplesmente residir na transmissão de pai para filho segundo uma certa visão e organização do mundo já antecipadamente preconizadas numa determinada linha de poder que os mortos impõem aos vivos. Além disso, a autoridade espiritual da Igreja Católica também, por sinal, tem vindo a perpetuar-se à luz da Revelação Divina e do Magistério Eclesiástico para que, à revelia da transmissão hereditária, a Tradição Sagrada flua e se transmita duradoiramente através dos séculos e dos milénios sem fim. Daí, pois, estarmos aqui perante uma aristocracia do espírito e não simplesmente de uma aristocracia do sangue.  

De facto, os objectivos fundamentais do colectivismo predominante assentam sobretudo na abolição da propriedade e na progressiva e por fim definitiva eliminação dos estados-nação, após o que advirá a supressão da religião organizada e a subsequente crença globalizada de que, à semelhança do culto maçónico, a “iluminação” emana essencialmente do "Ser Supremo". Tal pressupõe ademais a cuidada elaboração de um poder temporal que já conduziu à infiltração do internacionalismo social e político nos orgãos de decisão e controlo de cada nação teoricamente soberana, e, desse modo, apto a canalizar todo o poder financeiro e económico no estabelecido sentido de uma arquitectura supranacional única. De nada, pois, poderão valer as múltiplas definições, direitos, ideais, crenças ou interpretações do foro nacional e individual por quedar somente admissível uma espécie de cidadania global guiada pela mais cabal e estrita obediência, silêncio imposto e absoluta submissão à nova ordem internacional.

Se bem que a história económica propenda a situar o eclodir do moderno sistema bancário em instituições financeiras italianas e judaicas, não podemos descartar ter sido porventura a Ordem dos Pobres Cavaleiros de Cristo e do Templo de Salomão a predecessora do sistema de crédito e administração de fundos fiduciários privados desenvolvido por poderosas dinastias bancárias como a dos Rothschilds[1] e a dos influentes Médicis italianos. Contudo, se o dinheiro, tal como já previamente estabelecera Aristóteles, tem de ser uma mercadoria com poder universal de troca em qualquer momento e em qualquer lugar, acabou, não obstante, cada vez mais desinvestido do seu real poder aquisitivo para dar progressivamente lugar ao valor arbitrário da moeda e, no lance, decair em mero sinal convencional criado do nada ou simplesmente traduzido na nota de banco que empola a quantia representativa. E assim inclusivamente se compreende o carácter intrínseco a par do aquisitivo no espaço e no tempo da moeda antiga, com sua figuração simbólica em que amiúde se destacava a efígie de um soberano, de uma divindade ou de um herói com uma legenda a ligá-la à sua origem, quando não porventura a seus mistérios a desvendar.

Contudo, essa realidade mudaria significativamente durante os séculos XIX e XX, sobretudo devido à actuação de banqueiros, advogados e homens da finança que já decerto procurariam, nos termos de uma unificação mundial inédita, consolidar ainda mais, a partir de 1918, o establishment anglo-americano mediante a formação embrionária do Council on Foreign Relations (CFR), só depois oficialmente constituído a 21 de Julho de 1921. Entre os banqueiros e os homens da finança desse tempo, destacam-se, a título de exemplo, John D. Rockefeller, J. P. Morgan, Bernard Baruch, Jacob Schiff, Otto Kahn e Paul Warburg. Porém, diga-se ainda de passagem que o ulterior financiamento do CFR prosseguiria a cargo de um conjunto de empresas que subsistem fundamentalmente no centro da América corporativa, ou que já o mesmo é dizer sob o estrito domínio do socialismo corporativo, a saber: General Motors, Xerox, Bristol-Meyers Squibb, Texaco, outras mais. De resto, não esqueçamos o papel igualmente importante das várias fundações na actual comparticipação financeira do Conselho das Relações Externas, entre as quais se encontram a Ford Foundation, Mcknight Foundation, Andrew W. Mellon Foundation e Starr Foundation.






Há, na verdade, uma rede relativamente complexa de instituições, organizações, clubes e comissões que, delegando a sua esfera de influência ao nível já mais complexo das sub-agências do poder económico, financeiro e político menos visível, tudo apostam numa espécie de interligação global mediante a realização periódica, mormente anual de reuniões e discussões supostamente informais, embora, na realidade, extremamente efectivas para o avanço subreptício da nova arquitectura económica mundial imposta aos governos políticos dos estados-nação a um ritmo financeiro tão imperceptível no seu início, como galopante no presente estádio do processo em curso. É isto, aliás, o que explica a existência de organizações tão influentes e poderosas como seja o já aludido Conselho das Relações Externas, a que se veio finalmente coligar o Clube de Bilderberg e a célebre Comissão Trilateral, surgidos respectivamente em 1954 e 1973, o primeiro aquando de um encontro no Hotel Bilderberg, na Holanda, do qual recebeu o nome, a segunda aquando de uma reunião do comité executivo em Tóquio – a Comissão Trilateral fora já inclusivamente projectada numa reunião do grupo Bilderberg na pequena cidade de Knokkle, em 1972, na Bélgica. Nisto, dir-se-ia ainda que a já referida informalidade consiste não propriamente num secretismo tout court, mas antes e, acima de tudo, na diligente capacidade de selecção e aprovação dos mais promissores agentes do mundo político, empresarial e académico para o vital desempenho de cargos fundamentais para o avanço da nova ordem económico-financeira internacional.

À construção duma comunidade global não é estranha a ideia de um governo sombra largamente assente no impacto esmagador da tecnologia intrusiva, principalmente no domínio do processamento e armazenamento de dados em grande escala, bem como no célere impulso da comunicação digital que já praticamente se encontra na origem compulsiva do teletrabalho, da telescola e da telemedicina. Um tal domínio configura, pois, o domínio mundial propriamente dito, à sombra do qual as soberanias nacionais já só simplesmente se explicam como uma coisa do passado, e, nessa medida, o que passa então a reger a vida das populações sem qualquer identidade ou fisionomia espiritual são as entidades bancárias e as grandes corporações internacionais que assim actuam à margem dos ditos parlamentos nacionais gradualmente transformados em centros de poder à escala regional e local, e, portanto, globalmente dirigidos sob um conjunto indelével de normas e “recomendações” que amiúde se traduzem numa série infindável de sucessivas regulamentações que em nada, absolutamente nada respeitam a proclamada independência e autodeterminação dos povos. A tão vicioso quão deplorável estado de coisas, onde predominam, sem dúvida, os poderes e as forças antiamericanas que não pouparão decerto os EUA como nação soberana e independente, corresponderá, segundo o ex-senador republicano Barry Goldwater, a consolidação exclusiva de quatro centros de poder doravante indisputáveis na arena internacional: o poder político, monetário, intelectual e eclesiástico.


A agenda mundialista para a educação, ciência e cultura da UNESCO

Abordando a superpopulação e a super-organização ao modo de vastas forças impessoais susceptíveis de perigar a liberdade e a democracia, Aldous Huxley é peremptório quanto ao emergente problema da centralização da riqueza e do poder económico numa sociedade espiritualmente empobrecida, a saber:

«Sabemos que é perigoso deixar que o poder seja concentrado nas mãos de uma oligarquia dirigente; todavia, o poder está de facto a ser concentrado em um número cada vez menor de mãos. (...) Sabemos que numa sociedade muito vasta e muito complexa, a democracia não tem qualquer sentido senão em função de grupos autónomos de dimensões manejáveis – e todavia, uma parte cada vez mais importante dos negócios de uma nação é gerida pelos burocratas dos Grandes Governos e do Alto Negócio.»[2]

E, no lance, põe a questão crucial:

«Considerará a maioria da população que vale a pena fazer esforços bastantes consideráveis com a finalidade de parar e, se possível, inverter a tendência actual para o controlo totalitário integral?»[3]

A primeira tentativa para criar uma instituição mundial com funções governamentais foi lançada pelo então vigésimo oitavo Presidente dos Estados Unidos, Woodrow Wilson. O "plano americano" contemplava assim uma organização internacional que entraria em vigor depois da Grande Guerra, nomeadamente a futura Liga das Nações cuja agenda internacionalista estaria destinada ao fracasso[4] já durante o período eufórico dos anos 20. Aliás, quem na realidade desempenhou um papel determinante na projecção e consequente fundação dessa organização apostada numa nova ordem mundial foi, de facto, Edward Mandell House[5], o «principal conselheiro do Presidente Woodrow Wilson e alegada eminência parda da administração Wilson, de 1913 a 1921»[6]. E, nessa óptica, prossegue Daniel Estulin:

«É irónico que House fosse marxista convicto. Idealizava o Socialismo, e no seu tempo na Casa Branca, fez pressão para haver um banco central controlado pelo estado e com poderes para fazer dinheiro americano. Em 1913, o Congresso dos Estados Unidos ainda controlava a moeda do país mas, nesse ano, a Lei da Reserva Federal transferiu o poder do Congresso para um banco central privado. House também propôs a 16ª emenda à Constituição dos Estados Unidos, que introduziu o imposto progressivo sobre o rendimento, mais uma ideia que tirou de Karl Marx.

House também escreveu o plano para a Liga das Nações, a estimada proposta do Presidente Wilson à Conferência de Paz de Paris de 1919. Charles Seymour, o biógrafo oficial de House, disse que Wilson “aprovou o projecto de House quase na totalidade, e a reformulação que fez dele resumiu-se praticamente à fraseologia”.

No fim do mandado de Wilson, em 1921, House e simpatizantes criaram o Council on Foreign Relations. Desde o princípio, o compromisso para formar um governo mundial com base num sistema de financiamento global e centralizado atraiu a mescla mais estranha de capitalistas e socialistas oportunistas e idealistas. Entre o pot-pourri de elitistas americanos na primeira reunião estavam os ricos e famosos.




No espaço de um ano, as Fundações Rockefeller e Carnegie acordaram em financiar a agenda e o crescimento do CFR. O Presidente Franklin Roosevelt é o responsável por encher o Departamento de Estado com membros do CFR em 1940, e as gerações subsequentes de funcionários colocados pelo CFR têm-no gerido desde então.»[7]

Entretanto, uma nova tentativa para avançar no sentido de uma nova ordem internacional tornou-se patente aquando da Grande Depressão, já que Franklin Delano Roosevelt, o futuro trigésimo segundo Presidente dos Estados Unidos, não desperdiçou uma boa oportunidade para, numa situação de crise económico-financeira mundial[8]fazer avançar uma agenda internacionalista visando a implementação, entre 1933 e 1939, de um empreendimento socialista no domínio do investimento maciço em obras públicas, também universalmente conhecido por “New Deal”[9]. No mais, FDR, estando especialmente interessado em privilégios executivos particularmente viáveis no contexto da Segunda Guerra Mundial, viu opor-se-lhe pouca resistência quando se dispôs a lançar os fundamentos de uma nova Liga das Nações[10], futuramente conhecida como a Organização das Nações Unidas. Estava assim projectada uma organização intergovernamental que, a par das suas ramificações – o Banco Mundial e a Organização Mundial de Saúde (OMS) – procuraria doravante levar os países de todo o mundo a adoptar progressivamente os objectivos de cooperação internacional anunciados aquando da sua fundação em 24 de Outubro de 1945. Todavia, a declaração suasiva de tais objectivos supostamente promotores da “paz e segurança internacionais” com o intuito de “desenvolver relações amigáveis entre as nações”, bem como suscitar o “progresso social, melhores condições de vida e os direitos humanos”, trazia sobretudo implícita uma agenda não declarada com vista ao governo mundial constituído por poderes executivos que, totalmente alheios à promoção da liberdade, do livre-comércio e da solidariedade entre os povos, tratariam de impor, mais cedo ou mais tarde, uma sociedade mundialista intervencionada através do controlo total proveniente de organismos educacionais, científicos e culturais internacionalistas. Tudo, porém, se tornaria perfeitamente evidente com a criação da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), fundada a 16 de Novembro de 1945.

O primeiro director-geral da UNESCO[11] foi o biólogo evolucionista britânico Sir Julian Sorell Huxley, o irmão do autor do romance distópico Admirável Mundo Novo, Aldous Huxley, romance esse, aliás, particularmente votado à tecnologia reprodutiva, à hipnopedia e ao condicionamento psicológico das massas. Além disso, Julian Huxley destacara-se ainda como um estrénuo defensor do internacionalismo, assim como um membro-fundador do World Wildlife Fund[12] e membro proeminente da British Eugenics Society[13], de que fora vice-presidente entre 1937-1944, e presidente entre 1959-1962.

Segundo Julian Huxley, os objectivos e métodos da instituição internacionalista que liderava traduziam-se no progresso evolucionista da humanidade para, no ínterim, pôr necessariamente um ponto final na liberdade económica, posto que, a seu ver, os sistemas económicos baseados no laisser-faire e na organização capitalista somente se haviam transformado ao longo do tempo em instrumentos intoleráveis de maldade e desespero para a existência humana. A solução estaria, por contrapartida, no aparecimento singular de uma cultura mundial emergente mediante o concurso indispensável da grande media e dos sistemas educacionais susceptíveis de congregar a esperada unidade política global. No fundo, tudo isso significava apenas uma coisa: familiarizar todos os povos do mundo nas implicações assentes na transferência de toda e qualquer soberania nacional para uma organização mundial única.

Contudo, não fora de todo estranho a Julian Huxley o inevitável problema com que de antemão havia de se confrontar no âmbito da cultura unificada, nomeadamente o directamente relacionado com o da opção de escolha entre o critério da qualidade sobre o da quantidade no domínio de uma instituição mundial como é o da UNESCO, pois até onde pode e deve crescer uma instituição para, à semelhança de um organismo biológico, ser realmente viável em termos de organização educacional, científica e cultural, era uma questão à qual se impunha sem dúvida responder. Ou seja: como garantir, num contexto que se afirmava e queria essencialmente internacionalista, a diversidade cultural na unidade dum mundo tendencialmente dominado pelo conjunto das áreas, domínios e disciplinas submetidas ao paradigma do conhecimento técnico-científico?

Tendo desenvolvido no início da sua vida académica um particular interesse pela zoologia, ornitologia e embriologia, Julian Huxley apostou essencialmente no propósito determinante da UNESCO na promoção de um “humanismo científico” à escala global, desse modo prevendo e preconizando a engenharia genética com vista ao aperfeiçoamento da raça humana. E tendo ademais referido o materialismo dialéctico como a primeira tentativa radical no âmbito de uma filosofia evolucionista, o primeiro director-geral da UNESCO lamentou, porém, o seu fracasso inevitável na transformação da sociedade por, no seu ideário, carecer da componente biológica indispensável para alcançar um tal objectivo[14]. Assim, a proclamada necessidade que doravante se impunha, na esfera de acção da UNESCO, de fazer valer uma “biologia evolutiva”[15] no sentido de uma “eugenia social” que estivesse estreitamente associada ao estrito controlo demográfico da população, significava acima de tudo o projectar, ainda que sob a forma de um novo “humanismo científico”, de uma visão do mundo assente na selecção e aperfeiçoamento genético da humanidade tal qual o geralmente teorizado no século XIX e largamente propagado no primeiro quartel do século XX[16].

De facto, Julian Huxley tornara então claro que a diversidade humana não era extensível a toda a humanidade. Na sua perspectiva eugenista, não só os tolos, os frouxos e retardados, em sua lata variedade, estariam moralmente incapacitados para uma educação superior, como também os que, havendo padecido na sua juventude de alguma deficiência física ou desordem mental disgénica, deveriam ser excluídos de todos os grandes esforços empreendidos no qualitativo avanço do património genético humano[17]. Daí que, no seu entender, fosse preciso trazer a eugenia para dentro das fronteiras da ciência, de modo a, num futuro não muito distante, se poder efectivamente aprimorar o desenvolvimento mediano do ser humano.


















Reconheceu, todavia, Julian Huxley que, em 1945, o programa eugénico com vista à redução da população mundial era algo que seria muito dificilmente aceite numa época para mais saída do flagelo da Segunda Guerra Mundial, pelo que seria preciso esperar que um tal programa fosse cuidadosamente examinado e progressivamente divulgado ao público para que o que até então constituíra o impensável se tornasse finalmente susceptível de materializar no porvir. E se, de facto, a UNESCO teria a desempenhar nessa matéria um papel fundamental de modo a que o impensável se tornasse numa realidade concreta, a verdade é que o passo decisivo para uma transformação global radical no sentido do controlo populacional seria dado no âmbito do Clube de Roma, fundado, em 1968, em Itália, oficialmente na Academia Nacional dos Linces[18]. Incumbido a juntar chefes de Estado e de governo, diplomatas, cientistas, economistas e homens de negócios de todo o mundo, o Clube de Roma publicou, em 1972, o seu primeiro relatório intitulado Os Limites ao Crescimento, o qual, representando uma equipa de 17 investigadores, aparecia sob a co-autoria de Donella H. Meadows, Dennis L. Meadows, Jørgen Randers e William W. Behrens III. Resumido, o seu conteúdo consiste, na base de uma simulação de computador, em sugerir, senão afirmar taxativamente que o rápido crescimento económico não mais poderia continuar indefinidamente sem comprometer seriamente os recursos naturais do planeta[19].

Doravante, os membros do Clube de Roma passaram a identificar e a listar o novo inimigo nos termos de uma propaganda global incessantemente renovada, tais como: poluição, “aquecimento global”, escassez de água, fome, esgotamento dos recursos naturais e, como fonte de todo o mal, a população humana[20] tendo como urgente condição subjacente a sua diminuição compulsiva a pretexto da salvação do planeta[21]. E no seguimento disso viriam ainda, nos anos 90 do século passado, as várias iniciativas para se levar a cabo, sob a tutela da ONU, um sistema de controlo global mediante a Agenda 21, ocorrida no Brasil, Rio de Janeiro, em 1992, e a Agenda 2030, acordada em Setembro de 2015 por 193 países, no sentido de adoptarem os chamados 17 Objectivos Globais para o Desenvolvimento Sustentável. Ora, aqui o conceito-chave do “desenvolvimento sustentável” significa precisamente o contrário daquilo que ele parece enunciar, ou seja: o controlo sistémico da população mundial como um mecanismo crucial de planeamento exaustivo de toda e qualquer actividade humana universalmente considerada: poder político, economia, organização social, saúde, educação, “igualdade de género”, água, saneamento, energia, urbanização, comércio, meio ambiente e indústria alimentar.

O impensável, em 1945, já não é de todo uma realidade impossível nos dias de hoje. Antes pelo contrário: pois acontece que as agências especializadas da ONU fundadas naquele ano, como a Organização Mundial de Saúde (OMS) e o Fundo Monetário Internacional (FMI), ganharam entretanto um poder de tal ordem desmedido que, ao fim ao cabo, lhes permitiu fazer-se obedecer por vários governos do mundo inteiro, ora mediante a concessão de empréstimos dependentes das habituais restrições financeiras, ora por meio de um conjunto rigidamente regulamentado de regras, especialmente ao nível das políticas públicas de saúde e vigilância sanitária, doravante impostas por “recomendações” internacionais oriundas de organizações supranacionais, como é actualmente o caso paradigmático da já referida Organização Mundial de Saúde (OMS)[22]. E com o predomínio absoluto destas agências especializadas da ONU, configuradoras da nova ordem internacional, será dado, alfim, um passo definitivo na premeditada consolidação do transhumanismo e dos programas eugénicos que lhe estão profundamente associados. Não é, aliás, por acaso que a “plandemia” covidesca foi, de facto, previamente simulada para transformar radicalmente a economia e a sociedade mundiais através de mecanismos globais de poder e controlo governamentais baseados presumidamente em evidências científicas. É, bem entendido, a tirania global pura e dura sob a disfarçada bandeira de uma autocracia benevolente que se arroga no direito indiscutível de garantir o bem comum em nome dos “direitos humanos” e da “saúde pública universal”. Numa palavra: o “humanismo científico”, consoante previra e projectara Julian Huxley.



[1] Niall Ferguson, no seu livro The World’s Banker: The History of the House of Rothschild, pôde ocasionalmente mostrar o alcance do enorme poder e riqueza adquiridos por esta dinastia ultra-secreta nos últimos dois séculos, muito particularmente no que toca ao desfecho das Guerras Napoleónicas: “The Rothschilds had decided the outcome of the Napoleonic Wars by putting their financial weight behind Britain”. Profundamente envolvidos no esquema global dos bancos centrais, os Rothschilds exercem, de facto, ainda hoje uma poderosa influência político-financeira em domínios de que são eles próprios, directa ou indirectamente, os possuidores ou os controladores, tais como: serviços financeiros, mercado imobiliário, mineração, energia, agricultura, vinicultura, outros mais. A dinastia Rothschild tem, aliás, sido largamente responsável pela construção de fortunas que estão na origem de outras dinastias com enorme poder financeiro à escala planetária, seja por exemplo a dos Rockefellers ou a de George Soros.

[2] Aldous Huxley, Regresso ao Admirável Mundo Novo, Edição «Livros do Brasil», p. 240. E daí a ilusão decorrente de mais um dos mecanismos puramente formais da democracia: «Ora, consideremos o direito de voto. Em princípio, é um grande privilégio. Na prática, como a história contemporânea tem mostrado repetidamente, o direito a voto, por si próprio, não é garantia de liberdade. Portanto, se quereis evitar a ditadura por plebiscito, quebrai as vastas colectividades, semelhantes a maquinismos, da sociedade moderna, em grupos autónomos, voluntariamente cooperantes, capazes de funcionarem fora dos sistemas burocráticos do Alto Negócio e do Grande Governo» (ibidem, p. 237).

[3] Idem, ibidem, p. 241. A propósito do cativeiro ou do constrangimento psicológico da população geralmente considerada, Aldous Huxley é mais uma vez peremptório ao afirmar nos seguintes termos: «A natureza da compulsão psicológica é tal que aqueles que agem sob constrangimento permanecem sob a impressão de que estão agindo por sua iniciativa própria. A vítima da manipulação do espírito não sabe que é vítima. Para ela, são invisíveis os muros da sua prisão, e julga-se a si própria livre. Que não está livre é visível apenas para as outras pessoas. A sua servidão é estritamente objectiva» (ibidem, p. 229).




[4] Fracasso que se traduzira também na não-participação dos Estados Unidos na Liga das Nações para não comprometer a sua soberania e independência políticas.

[5] A ideia de um governo mundial foi particularmente defendida pelo sociólogo e eugenista americano Harry Hamilton Laughlin, dela chegando a tomar partido proeminentes internacionalistas, incluindo Edward M. House. O ideário mundialista de Laughlin era tendencialmente a favor de uma representação anglo-americana dominante, de modo a viabilizar um governo planetário cujo principal desígnio estaria em promover um movimento eugénico global que obstasse a que as diferentes raças se misturassem entre si. Compreende-se assim que por entre os interesses cimeiros de Laughlin tivesse estado a proliferação de uma legislação de esterilização compulsiva nos Estados Unidos, presumivelmente destinada a esterilizar os elementos “inaptos” da população. Ele próprio chegou a redigir um modelo legislativo intitulado Model Eugenical Sterilization Law, dando, de facto, a conhecer a sua proposta, em 1922, num estudo vindo a lume sob o título Eugenical Sterilization in the United States, com a chancela do Psychopathic Laboratory of the Municipal Court of Chicago. Refira-se, aliás, que esse mesmo estudo continha, na forma de um capítulo, o modelo legislativo supracitado, para além de discriminar os possíveis candidatos à esterilização eugénica, tais como: os imbecis, os loucos, os criminosos, os epilépticos, os alcoólicos, os cegos, os surdos, os deformados e os indigentes.

Ao fim ao cabo, dezoito estados aprovaram leis baseadas no modelo legislativo de Laughlin, incluindo o Estado da Virgínia mediante a respectiva lei de esterilização em 1924, que doravante esterilizou mais de 7.000 indivíduos até 1979. No todo, mais de 60.000 pessoas foram esterilizadas nos Estados Unidos. Laughlin apoiou, ademais, a aprovação, na Assembleia-Geral da Virgínia, em 1924, do Racial Integrity Act, destinado a promover a segregação racial ao proibir o casamento interracial, classificando o indivíduo de raça branca como destituído de qualquer traço ou sangue não-caucasiano. Além disso, o modelo eugénico proposto por Laughlin também influenciou a Alemanha nazi na “Lei da Esterilização” (Gesetz zur Verhütung erbkranken Nachwuchses), promulgada em 14 de Julho de 1933, chegando o próprio a ser galardoado, em 1936, com um grau honorário pela Universidade de Heidelberga, devido à sua actividade em prol da “ciência da purificação racial”.

[6] Cf. Daniel Estulin, O Clube Bilderberg, Publicações Europa-América, 2008, p. 97.

[7] Idem, ibidem, pp. 97-98. Sobre as origens do socialismo corporativo, aponta, bem a propósito, Antony C. Sutton: «Old John D. Rockefeller and his 19th century fellow-capitalists were convinced of one absolute truth: that no great monetary wealth could be accumulated under the impartial rules of a competitive laissez-faire society. The only sure road to the acquisition of massive wealth was monopoly: drive out your competitors, reduce competition, eliminate laissez-faire, and above all get protection for your industry through compliant politicians and government regulation. This last avenue yields a legal monopoly, and a legal monopoly always leads to wealth.

This robber baron schema is also, under different labels, the socialist plan. The difference between a corporate state monopoly and a socialist state monopoly is essentially only the identity of the group controlling the power structure. The essence of socialism is monopoly control by the state using hired planners and academic sponges. On the other hand, Rockefeller, Morgan, and their corporate friends aimed to acquire and control their monopoly and to maximize its profits through influence in the state political apparatus; this, while it still needs hired planners and academic sponges, is a discreet and far more subtle process than outright state ownership under socialism. Success for the Rockefeller gambit has depended particularly upon focusing public attention upon largely irrelevant and superficial historical creations, such as the myth of a struggle between capitalists and communists, and careful cultivation of political forces by big business. We call this phenomenon of corporate legal monopoly – market control acquired by using political influence – by the name of corporate socialism.

The most lucid and frank description of corporate socialism and its mores and objectives is to be found in a 1906 booklet by Frederick Clemson Howe, Confessions of a Monopolist.

Frederick Howe’s role in the 1917 Bolshevik Revolution and its aftermath was described in Wall Street and the Bolshevik Revolution. Howe also emerges in Roosevelt’s New Deal as consumer counsel in the Agriculture Adjustment Administration. So Howe’s interest in society and its problems spans the early 20th century, from his association with Newton D. Baker, later Secretary of War, to communist Lincoln Steffens. As a special U.S. Commissioner, Howe made studies of municipal ownership of public utilities in England and in 1914 was appointed by President Wilson as U.S. Commissioner of Immigration.

What is the secret of making great wealth? Howe answers the question as follows: “Mr. Rockefeller may think he made his hundreds of millions by economy, by saving on his gas bills, but he didn’t. He managed to get people of the globe to work for him…”

In brief, corporate socialism is intimately related to making society work for the few» (Anthony C. Sutton, Wall Street and FDR, Buccaneer Books, pp. 72-73).

[8] A Grande Depressão de 1929/31, a par de outras componentes históricas contemporâneas, como o desaparecimento, nos anos 30, do livre-cambismo e do padrão-ouro, ou a tragédia da Segunda Guerra Mundial e o flagelo da inflação, «deveriam – segundo Orlando Vitorino – ser mais do que suficientes para condenar de vez o intervencionismo. Mas conseguiu ele salvar a face fazendo impor, através das  “culturas oficiais” transmitidas pelos meios académicos, universitários e jornalísticos, falsas interpretações dos seus resultados dando-lhes por causa a liberdade económica». E exemplificando, anota o mesmo autor: «Um exemplo destas falsas interpretações é o da depressão de 1929/31. Foi preciso esperar pela publicação, em 1968, do livro de M. Friedman e Anna J. Schwartz, "A Monetary History of the United States, 1867-1960", para ver desfeita a versão, durante tantos anos aceite sem qualquer crítica, de que ela fora consequência da liberdade económica e só pudera ser vencida com o controlo da economia estabelecido pelo “new deal” de Roosevelt. Naquele livro notável, os seus autores demonstram, em todas as minúcias, como a depressão se deveu à intervenção do Estado, ou suas agências, sem a qual ela nunca teria atingido as proporções que atingiu e não teria passado de uma das cíclicas e transitórias crises a que economia está periodicamente sujeita. Já antes de Friedman, L. Von Mises enunciara esta explicação e F. Hayek, então jovem economista, notabilizara-se por ter previsto, em 1927, a crise de 1929.

Outro exemplo, é o da Segunda Guerra Mundial, que foi uma guerra do socialismo. Com efeito, ninguém pode ignorar ter ela começado por uma aliança entre o governo socialista alemão e o governo socialista russo, entre o nacional-socialismo e o internacional-socialismo. Ninguém pode também ignorar que o final da guerra foi selado com o Tratado de Ialta, onde se registou o entendimento entre o socialismo totalitário russo e o intervencionismo estatizante iniciado por Roosevelt nos EUA. O terceiro parceiro do Tratado, a Inglaterra, vivia então num regime estabelecido, para o tempo de guerra e logo prolongado no socialismo do Partido Trabalhista, pelo Plano Beveridge que F. Hayek, aliás seu colaborador técnico, mostra, no livro “O Caminho para a Servidão”, seguir as vias do nacional-socialismo acabado de ser vencido militarmente» (Orlando Vitorino, Exaltação da Filosofia Derrotada, Guimarães Editores, 1983, pp. 42-42).



[9] A economia intervencionada preconizada pelo “New Deal” equivalia praticamente à mesma política económica aplicada na Alemanha nazi pelo banqueiro e economista Hjalmar Schacht, e dalgum modo teorizada pelo economista britânico John Maynard Keynes na Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda (1936). Aliás, sobre os antecedentes históricos que, em grande medida, estão na base das linhas comuns dos sistemas económicos adoptados na Rússia de Estaline, na Itália de Mussolini, na Alemanha de Hitler e na América de Roosevelt, Antony C. Sutton traça-nos, pois, uma sinopse digna de registo:

«In 1841 FDR´s distant cousin, Assemlyman Clinton Roosevelt of New York, proposed a scheme resembling the New Deal for economic planning and control of society by the few. Under President Woodrow Wilson in 1918 Bernard Baruch, corporate socialist par excellence, followed the broad outline of the Roosevelt scheme, almost certainly unknowingly and probably attributable to some unconscious parallelism of action, when he established the War Industries Board, the organizational forerunner of the 1933 National Recovery Administration. Some of the 1918 WIB corporate élite appointed by Baruch – Hugh Johnson, for example – found administrative niches in Roosevelt’s NRA. In 1922 then-Secretary of commerce Herbert Hoover and up-and-coming Wall Street Franklin D. Roosevelt joined forces to promote trade associations, implementing Bernard Baruch’s postwar economic planning proposals. Shortly, thereafter, former socialist editor Benito Mussolini marched on Rome and established – with liberal help from the J. P. Morgan Company – the Italian corporate state whose organizational structure is distinctly reminiscent of Roosevelt´s NRA. In the United States glorification of Mussolini and his Italian achievements was promoted by the ever-present financiers Thomas Lamont, Otto Kahn, and others. We will mention only briefly Wall Street involvement with both Bolshevik Russia and Hitler’s Germany – both totalitarian states governed by a self-appointed élite – as full treatment of these aspects is covered in other volumes. [For Wall Street and the early Bolsheviks see Sutton, Bolshevik Revolution, op. cit. Wall Street involvement with the rise of Hitler and German Nazism is the topic of a forthcoming book]. In brief, construction of the FDR’s National Recovery Administration was but one facet of a wider historical process – construction of economic systems where the few could profit at the expense of the many, the citizen-taxpayer-in-the-street – and all of course promoted under the guise of the public good, whether it was Stalin’s Russia, Mussolini’s Italy, Hitler’s Germany, or Roosevelt’s New Deal» (Anthony C. Sutton, op. cit., pp. 84-85).

[10] Sob a liderança de Roosevelt, Churchill e Estaline, 26 nações acordaram, aquando da assinatura da Carta do Atlântico, a 1 de Janeiro de 1942, na iniciativa de estabelecer a United Nations Organization (UNO).

[11] Esta agência especializada da ONU oficialmente vocacionada para a cooperação internacional nos domínios da educação, da ciência e da cultura encontra eventualmente as suas raízes embrionárias na Liga das Nações, mais particularmente na resolução de 21 de Setembro de 1921, na base da qual foi eleito o International Committee on Intellectual Cooperation (ICIC), criado em 1922 e de que fizeram parte figuras de renome mundial, tais como: Henri Bergson, Albert Einstein, Marie Curie, Robert A. Millika, Gonzage de Reynold, outros mais. Não obstante essa comissão estar essencialmente centrada na Europa Ocidental, seguiu-se entretanto a criação, a 9 de Agosto de 1925, em Paris, do International Institute for Intellectual Cooperation (IIIC) enquanto agência executiva do ICIC, cuja acção fora largamente interrompida com o início da Segunda Guerra Mundial.

[12] Actualmente sob a designação de World Wide Fund for Nature (WWF), esta organização internacional teve como co-fundadores, além de Huxley, o Príncipe Bernardo de Lippe-Biesterfeld, o príncipe Filipe Mountbatten, Duque de Edimburgo, Max Nicholson, Peter Scott, Guy Mountfort e Godfrey A. Rockefeller.

[13] Esta sociedade foi fundada, em 1907, por Sybil Gotto, sob a designação de Eugenics Education Society. Tornou-se a Eugenics Society em 1924, também referida como a British Eugenics Society, para a distinguir de outras sociedades homónimas. Não obstante, esta sociedade foi, em 1989, novamente nomeada por Galton Institute, situado em Wandsworth, Londres.

[14] Julian Huxley, numa clara crítica à União Soviética, escreveu nas suas Memórias: «O marxismo-leninismo tornou-se numa religião dogmática... e assim como todas as religiões dogmáticas, da reforma passou à perseguição». Sabemos, de resto, que segundo Huxley não existe uma clivagem entre ciência e religião, como nem sequer existe um domínio do sobrenatural distinto do processo de evolução naturalista. A questão passaria então por reorganizar radicalmente o pensamento religioso, considerado ideologicamente antiquado, no sentido de permitir um novo modelo centrado num único processo de evolução englobando todos os fenómenos naturais, perfazendo assim uma espécie de “naturalismo religioso”.

[15] Inspirado na selecção natural, o humanismo secular preconizado por Julian Huxley reflecte, dalguma forma, muitos aspectos das suas pesquisas sobre a etologia, a genética, a zoologia experimental, a antropologia e a biologia celular nos infantes, o que já si também explica que tenha recebido, em 1956, a Medalha Darwin concedida pela Royal Society, além da Medalha Darwin-Wallace outorgada, em 1958, pela Linnaean Society of London. Contudo, admitia Huxley que o progresso evolucionário, no caso do homem, ultrapassa largamente o processo de selecção natural como agente de mudança, já que a linguagem representa o ponto culminante da evolução humana, e, portanto, só o homem logrou desenvolver um novo método evolutivo, qual seja a tradição enquanto transmissão da experiência organizada. E daí, entretanto, haver o biólogo evolucionista inglês propugnado por uma “ética evolucionista”, fundando inclusivamente com John Dewey, Albert Enstein e Thomas Mann o conselho consultivo da First Humanist Society of New York.

[16] O movimento eugénico foi lançado na América pela Fundação Rockefeller nos inícios do século XX, tendo sido encarado nos decénios seguintes como um empreendimento científico legítimo, chegando mesmo a invadir os currículos escolares e a tornar-se uma presença assídua nas Feiras Mundiais ou grandes exposições públicas realizadas em diferentes partes do mundo. As metas para a redução populacional eram fundamentalmente baseadas em critérios étnicos, se bem que também no grau de proficiência mental e até no estatuto económico. Nisto, o Instituto Canergie chegou inclusivamente a criar o “Eugenics Records Office”, também denominado, em 1904, como o Cold Springs Harbor Laboratory, essencialmente destinado a coligir informação genética sobre milhões de americanos e suas famílias para, consequentemente, controlar o seu número e suprimir certos traços característicos da população americana. De resto, o Cold Springs Harbor Laboratory ainda existe nos dias de hoje, arvorando-se como uma espécie de empreendimento filantrópico no objectivo declarado de fazer progredir a humanidade.

Em termos ideológicos, o movimento eugénico preconiza que menos de 4% da população está naturalmente destinada à liderança e que as elites representam convenientemente a puridade genética dessa pequena percentagem. É sabido, aliás, que os programas eugénicos nos Estados Unidos foram apenas um balão de ensaio até ao momento em que, em 1930, o clã Rockefeller transferiu tais programas para o Terceiro Reich, enquanto que, por outro lado, iam sendo igualmente fornecidos produtos petrolíferos para que a Alemanha de Hitler se militarizasse para um novo conflito mundial. Neste aspecto, averba Antony C. Sutton: «The Standard Oil group of companies, in which the Rockefeller family owned a one-quarter (and controlling) interest, was of critical assistance in helping Nazi Germany prepare for World War II. This assistance in military preparation came about because Germany’s relatively insignificant supplies of crude petroleum were quite insufficient for modern mechanized warfare; in 1934 for instance about 85 percent of German finished petroleum products were imported. The solution adopted by Nazi Germany was to manufacture synthetic gasoline from its plentiful domestic coal supplies. It was the hydrogenation process of producing synthetic gasoline and iso-octane properties in gasoline that enabled Germany to go to war in 1940 – and this hydrogenation process was developed and financed by the Standard Oil laboratories in the United States in partnership with I.G. Farben» (in Wall Street and the Rise of Hitler, Clairview, 2010, p. 67).



Exemplos de figuras relevantes que no século XX se ocuparam da eugenia e a promoveram, a par do controlo populacional, estão o economista britânico John Maynard Keynes, o escritor britânico Herbert George Wells, o romancista irlandês George Bernard Shaw, o vigésimo sexto Presidente dos Estados Unidos Theodore Roosevelt, o primeiro-ministro britânico Winston Churchill, assim como o economista estadunidense Irving Fisher, a escritora, activista e sexóloga norte-americana Margaret Sanger e William H. Gates, o pai do magnata americano Bill Gates.

[17] Julian Huxley chegara mesmo a preconizar, nos termos de uma política social científica, medidas de esterilização e controlo da reprodução humana com o fito de regular e reduzir os estratos mais baixos da sociedade segundo um planeamento socioeconómico centralizado secundado em valores anti-industriais. E assim nele se explica a correspondente necessidade de estabelecer programas educacionais ao nível da alimentação dietética, das actividades recreativas e do exercício físico a fim de promover as qualidades genéticas indispensáveis a uma sociedade civilizada por contrapartida a uma deterioração etno-biológica susceptível de uma decadência irreversível. Mais: Julian Huxley foi também quem, em 1951, porventura criou o termo transhumanismo sob o ponto de vista do aperfeiçoamento humano através da ciência bio-tecnológica e do desenvolvimento da cultura social ambientalista.

[18] O Clube de Roma foi oficiosamente fundado, em Abril de 1968, por membros do grupo Morgenthau durante um encontro numa residência particular dos Rockefellers, em Bellagio, Itália. O encontro informal foi organizado por Aurelio Peccei, um industrial italiano com estreitas relações com a Fiat e a Olivetti Corporation, que aí preconizou ter soluções para a prosperidade e a paz mundial, somente alcançável através de uma nova ordem internacional.

[19] Note-se curiosamente que um membro do Clube de Roma, Howard Odum, um biologista marinho da Universidade da Flórida, afirmou sem mais o seguinte, segundo a revista Fusion, na edição de Agosto de 1980: «É necessário que os Estados Unidos reduzam a sua população em dois terços nos próximos 50 anos». Aliás, durante a presidência de Jimmy Carter, foi criada uma task force para expandir o relatório de Roma, também conhecido como o Relatório de Meadows, e, em 24 de Julho de 1980, foi dado a lume um relatório composto por dois volumes, intitulado Global 2000 Report, da autoria do ex-secretário de Estado  Cyrus R. Vance. O relatório, além de dar por adquirido o não existirem recursos necessários no planeta para sustentarem aquele que seria o previsível aumento dramático da população mundial, põe igualmente preto no branco que a população estadunidente deveria ser reduzida em 100 milhões de pessoas até ao ano de 2050. E cerca de meio ano depois, o Council on Environmental Quality fez também recomendações baseadas num novo documento intitulado Global Future: A Time to Act, entre as quais se destacam as relativas a um plano deveras agressivo de controlo da população através da contracepção, do aborto e da esterilização. Tudo isto, enfim, reflecte sobremodo os sinistros objectivos do Clube de Roma em utilizar o genocídio para eliminar uma parte considerável da população mundial inclusivamente referida como “comedores inúteis”.

[20] Em 1991, o Clube de Roma deu azo a um livro que tem por título The First Global Revolution, da autoria de Alexander King e Bertrand Schneider, no qual reza o seguinte: “In searching for a common enemy against whom we can unite, we came up with the idea that pollution, the threat of global warming, water shortages, famine and the like, would fit the bill. In their totality and their interactions these phenomena do constitute a common threat which must be confronted by everyone together. But in designating these dangers as the enemy, we fall into the trap, which we have already warned readers about, namely mistaking symptoms for causes. All these dangers are caused by human intervention in natural processes. and it is only through changed attitudes and behaviour that they can be overcome. The real enemy then is humanity itself”.

Por outro lado, o Clube de Roma e a Organização das Nações Unidas têm estado estreitamente conectados entre si. Desta forma, enquanto vinha a lume The First Global Revolution, Robert Muller, também conhecido pelo “filósofo das Nações Unidas”, publicava o seu manifesto “Good Morning World”, onde preconiza que um governo mundial deve ser alcançado tendo por objectivo subjacente a “protecção da Terra” e a preservação do meio-ambiente enquanto elementos-chave aptos a convencer e atemorizar o público em geral quanto a um provável cenário de catástrofe apocalíptica caso não se constitua atempadamente um governo único à escala planetária. É, aliás, num escrito intitulado Proper Earth Government: A Framework And Ways To Create It, que Robert Muller dá a conhecer o seu plano integral de como a “mudança climática” pode ser efectivamente utilizada para levar o público a aceitar a inevitabilidade de uma autoridade mundial incontestável, assim como a introdução de uma nova “religião global” e os respectivos mecanismos de controlo da população mundial.

[21] Salvar o planeta tem sido, sem dúvida, a palavra de ordem dos activistas da chamada “economia verde”. O propagado “aquecimento global” tem sido, nos últimos decénios, a principal ferramenta política sistematicamente usada por esses mesmos activistas para desde logo influir e finalmente cooptar o discurso público dominante. E assim têm ganho cada vez mais terreno os grupos anticapitalistas até ao ponto de igualmente obterem influência dominante nos media, na educação e no sistema judicial, tornando-se, para o efeito, grandes jogadores na arena política internacional, quanto mais não seja por, mormente na Europa, os denominados “partidos verdes” exigirem a transformação da economia e da sociedade globais de acordo com o seu extremismo ecológico profundamente ligado à nova agenda tecnocrática emergente.

[22] É importante notar que o primeiro financiador da OMS em 2020 foi, na verdade, a Fundação Bill e Melinda Gates, que já, aliás, havia provido a OMS em aproximadamente 531 milhões de dólares no âmbito do respectivo orçamento bienal para 2018-2019, ou seja, quase 12% da totalidade do mesmo.




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