quinta-feira, 28 de fevereiro de 2019

Poderá alguém estar ao mesmo tempo vivo e morto?

Escrito por Santo Agostinho




Santo Agostinho, retrato de Philippe de Champaigne, no séc. XVII.



Se é absurdo dizer que o homem antes de chegar à morte já lá está (como é que dela se irá aproximando durante a vida se já lá estava?), sobretudo porque é muito estranho considerá-lo ao mesmo tempo vivo e a morrer, sendo certo que não se pode simultaneamente dormir e estar acordado, - põe-se a questão: quando é que está a morrer? É que, na verdade, antes de a morte chegar, não se está a morrer mas a viver; depois de a morte ter chegado, o homem estará morto e não a morrer. Num caso está ainda «antes» da morte, no outro caso está «depois» da morte. Então quando é que se está «na» morte? É quando se diz que se está a morrer; pois a estes três momentos - «antes», «em» e «depois» - correspondem estes três estados: vivo, a morrer e morto. Quando estará, pois, o homem a morrer ou na morte - de maneira que não esteja nem vivo, isto é, «antes da morte», nem morto, isto é, «depois da morte», mas a morrer, isto é, «na morte»? Realmente, o homem, formado de corpo e alma, está, sem a menor dúvida, vivo: está ainda «antes de morto» e não «na morte». Mas quando a alma se separar, retirando ao corpo toda a sensibilidade, o homem estará «depois da morte» e dir-se-á que está morto. Perece, pois, entre o momento em que está a morrer e o momento de «estar na morte» - porque, se vive ainda, está «antes da morte»; se deixou de viver, está já «depois da morte»; nunca, portanto, se está a morrer, isto é, «na morte».

Da mesma forma, no decorrer do tempo procura-se o presente sem que seja possível encontrá-lo, porque a passagem do futuro ao passado é sem duração (1). Não parece que, depois deste raciocínio, se tem de negar a morte corporal?  Se há morte - onde é que ela está que em ninguém pode ela estar e ninguém nela pode estar? Se se vive - ela ainda lá não está; se se está antes da morte, não se está na morte; se se deixou de viver - já lá não está porque se está «depois da morte» e não «na morte». Mas se não há morte nem «antes» nem «depois», a que propósito dizer «antes da morte» e «depois da morte»? Se não há morte, tudo o que se está a dizer é falho de sentido. Oxalá tivéssemos vivido bem no Paraíso para que morte não houvesse realmente! Mas no presente não somente ela existe mas até é ela tão penosa que ninguém a pode explicar com palavras nem com raciocínio algum se pode evitar!

Temos, portanto, de falar como é costume falar-se (não podemos fazê-lo de outra maneira) e digamos «antes da morte» no sentido de «antes que a morte aconteça», como está escrito:


Não louves ninguém antes da sua morte (2).


Digamos também, quando ela aparecer: «Depois da morte deste ou daquele, aconteceu isto ou aquilo». Falemos também do tempo presente como nos for possível, por exemplo: «Este moribundo fez o seu testamento», «o moribundo deixou isto ou aquilo a este ou àquele», se bem que não o poderia fazer sem estar vivo e o fez «antes» e não «na» morte. Falemos ainda como fala a Sagrada Escritura que não hesita em declarar que os mortos, também eles, não estão «depois» mas «na» morte. Daí o seguinte:


Porque não há ninguém na morte que se recorde de ti (3).


De facto, até que revivam, com razão se diz que estão na morte, como se diz que se está no sono até que se acorde. Embora chamemos adormecidos aos que estão no sono, não podemos, porém, chamar moribundos aos que já estão mortos. Não estão, claro está, a morrer (da morte corporal, que é da que estamos a tratar) os que já estão separados dos corpos. Mas é isso, como já se disse, que nenhuma linguagem pode explicar: como é que se pode dizer que os moribundos vivem ou os que estão já mortos, «depois» da morte estão «na» morte? Efectivamente, como é que eles estão «depois» da morte se estão «na» morte? Sobretudo não podendo chamar-se-lhes moribundos como chamamos adormecidos aos que estão no sono e enfermos aos que estão na dor, vivos aos que estão na vida. Mas dizemos que os mortos antes da ressurreição estão na morte, sem, todavia, lhes chamarmos moribundos.

Julgo que surgiu com oportuna conveniência (e não devido a habilidade humana, mas a disposição divina) a impossibilidade em que se vêem os gramáticos de conjugarem em latim o verbo morior (morro) conforme as regras por que se conjugam outros que tais. Assim, da palavra oritur (nasce) vem o pretérito ortus est (nasceu), e todos os verbos semelhantes se conjugam da mesma maneira com particípios pretéritos. Mas a respeito de moritur (morre), se se perguntar pelo pretérito, é costume responder-se mortuus (morreu), dobrando o u. E diz-se mortuus (morto), como se diz fatuus (fátuo), arduus, (árduo), conspicuus (conspícuo) e outras palavras semelhantes que não indicam tempo passado mas, como nomes que são, se declinam sem indicarem tempo. Mas, no caso presente, para conjugar, digamos assim, o que se não pode conjugar, usa-se de um nome como particípio pretérito. Bom é que se não possa conjugar este verbo tal como também não pode conjugar-se a acção que ele significa. Todavia, ajudados pela graça do nosso Redentor, podemos, no que respeita à segunda morte, pelo menos decliná-la (4). Mais temível que a primeira, é ela o pior de todos os males porque não consiste na separação da alma e do corpo mas antes na união de ambos para a pena eterna. Aí, pelo contrário, os homens não estarão nem «antes» nem «depois» da morte, mas sempre «na» morte - e isto nunca «a viver», nunca já mortos, mas sempre «a morrer». Nunca, na verdade, haverá para o homem pior desgraça na morte do que chegar onde a própria morte não será morte!

(In A Cidade de Deus, Fundação Calouste Gulbenkian, 1993, Vol. II, pp. 1179-1182).


Notas:

(1) Confissões, LXI, Cap. XVI, 18-20.

(2) Ante mortem ne laudus hominem quemquam. Écles., XI, 30.

(3) Quoniam non est in morte qui menor sit tui. Salmo VI, 6.

(4) Com certeza que o leitor já se apercebeu de que Santo Agostinho joga com o duplo sentido (que também em português se verifica) do verbo declinare: declinar no sentido de flexão nominal, e declinar no sentido de evitar.



A Consagração de Santo Agostinho, por Jaume Huguet.



segunda-feira, 25 de fevereiro de 2019

At “World Government Summit,” Globalists Push UN Agenda 2030

Written by Alex Newman



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Top globalists are coming out of the closet. Thousands of leading globalists, communists, Islamists and others from around the world converged on the Arabian Peninsula this month for the World Government Summit. Their goal: promote technocratic globalism and plot the future of what they often call their “New World Order.” Senior officials from the United Nations, the World Bank, the International Monetary Fund, the European Union, Communist China, central banks, and even the Trump administration showed up to mingle with heads of state and advocates of Islamic Sharia law from across the region. Even Pope Francis delivered a message. As usual, despite top U.S. media outlets partnering with the summit, the establishment press in the United States largely failed to inform Americans about it.

News releases promoting the World Government Summit — yes, it is really called the World Government Summit — boasted that the event “is setting the agenda for the next generation of governments.” And one of the key goals of the summit was advancing the implementation of the UN Sustainable Development Goals (SDGs), often referred to as UN Agenda 2030. UN Deputy-Secretary General Amina Mohammed opened the summit by demanding that the radical UN scheme be implemented to avoid “life-threatening consequences for billions of people.” UN “High Commissioner for the 2030 Agenda” Cristina Gallach echoed the hysteria. And throughout the summit, more than a few speakers touted the controversial UN agenda as if it were the key to saving humanity from every problem under the sun.

The UN goals, as this magazine has documented, include national and global wealth redistribution, government control over the economy, globalist indoctrination of all children, surrendering more sovereignty to global institutions, and much more. They are essentially a “master plan for humanity,” as UN bosses put it, to build a global technocratic government that would dominate every facet of human existence. Unsurprisingly, the mass-murdering Communist dictatorship enslaving China boasted that it played a “crucial role” in developing the UN agenda. And dictators from around the world celebrated the plan as well. The World Government Summit formally launched its SDG's in Action @ WGS platform in 2016 in partnership with the UN, the World Bank, and other outfits.

And the line-up of speakers was universally supportive of the agenda. In an address delivered to the World Government Summit after signing a controversial agreement with a top Sunni Muslim imam, Pope Francis, a fervent advocate of UN Agenda 2030, offered his “best wishes” for the work of summit attendees. Urging cooperation to address the “problems of each person in the global village,” the pope called for more environmentalism while using leftist rhetoric to drive a wedge between “people” and “capital and economic interests.”

Pope Francis also specifically promoted sustainable development, which is the ideology underpinning the UN Agenda 2030 Sustainable Development Goals that seeks to limit the human population and fundamentally transform civilization under the guise of saving the planet. “We cannot really speak of sustainable development without solidarity,” he said, using a buzzword that, along with “fraternity,” has become a staple for the pope and has raised alarm even among Catholic scholars. “We could even say that the good, if it is not the common good, is not actually good....I hope that your efforts at the service of the common good may bear fruit.”

The pope's blessing of the World Government Summit was especially bizarre considering that in 2017, the event took place under the shadow of a replica of the Roman arch in front of the pagan Temple of Ba'al. The monument to the demonic idol, who is frequently referenced in the Bible, originally stood in Palmyra, Syria, a city known in the Bible as Tadmore. Among other concerns, this false pagan god demanded child sacrifices and other horrors that outraged the God of the Bible. While a number of replicas were planned, the very first was prominently displayed at the 2017 World Government Summit, attracting fierce criticism and deep concern among religious scholars — especially in light of the “World Government” motif.









































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As in previous years, some celebrities showed up to lecture humanity about the alleged need to submit to global governance and sustainable development to supposedly save the planet from humanity. Actor Harrison Ford (shown), for instance, went on a tirade against “nationalism” and “isolationism” after a bizarre segment in which he pretended to speak for “nature.” “I could give a damn with or without humans, I’m the ocean,” Ford said, pretending to be “nature” while speaking in a strange voice. “I covered this entire planet once, and I can always cover it again.” It was not clear whether he intended to refer to the biblical flood of Noah's time or some other period during which he believes the oceans may have covered the entire planet.

Ford, a lifelong Democrat, also slammed President Donald Trump for allegedly denying “science” on climate change. “Around the world, elements of leadership including in my own country to preserve their state and the status quo, deny or denigrate science,” Ford said as whistleblowers and scientists from the UN continued to expose the UN's lies and pseudo-science. “They are on the wrong side of history.” According to UN Intergovernmental Panel on Climate Change sea-level reviewer Dr. Nils-Axel Morner, however, who resigned in disgust when the UN IPCC refused to correct its false information, the lies underpinning the man-made global-warming hypothesis will inevitably be exposed.

Globalists were everywhere at the event. IMF boss Christine Lagarde, who suggested the IMF might be moved from Washington to Beijing, was a key speaker. Other leading globalist managers speaking at the summit included the scandal-plagued chief of UN WIPO Francis Gurry, who has come under fire for retaliating against whistleblowers and trying to have a reporter prosecuted. UN Educational, Scientific, and Cultural Organization (UNESCO) chief Audrey Azoulay, a socialist working to standardize the indoctrination of children worldwide, spoke as well. UN Development Program (UNDP) boss Achim Steiner, UNICEF boss Henrietta Fore, UN General Assembly President Maria Espinoza, World Food Programme chief David Beasley, totalitarian-minded UN SDG peddler Jeffery Sachs, World Economic Forum (WEF) boss Klaus Schwab, and numerous other globalist leaders spoke there, too.

Among the prominent “media partners” of the World Government Summit listed on the website were The New York Times, the Financial Times, Bloomberg, CNBC, the “fake news” kingpins at CNN, Sky News (owned by the owner of Fox News), and many others. It was not clear how they were expected to maintain impartiality about the agenda while also sponsoring the summit. Arianna Huffington of the fringe left-wing website Huffington Post and CNN International anchor Becky Anderson even spoke there, along with other media personalities. But as usual, there was very little coverage of the event in American media, perhaps because top globalists tend to openly promote globalism in a way that would alarm the U.S. public and jeopardize the agenda.

Consider, for instance, the speech delivered by Rwandan President Paul Kagame, who spent much of his time promoting the subversion of sovereignty via “regional and continental integration,” as he put it, to create a united African continent. “We will only realize our full promise, by joining together our historically fragmented markets, and making it easier for people, goods, and services to move across our continent,” he said, boasting of efforts by the globalist African Union (AU) to smash nation-states. “That is why the African Union adopted the African Continental Free Trade Area, which is due to enter into force later this year. We have also adopted a Protocol on the Free Movement of People.”

Of course, as leading globalist luminaries such as former U.S. Secretary of State Henry Kissinger have explained, regional governments such as the EU, the AU, and more are a critical component of the globalist vision for the “New World Order.” That is why the EU, the U.S. government, and the Communist Chinese government have been pouring money into the AU and other emerging regional governments. Even Russian strongman Vladimir Putin is in the process of building a “Eurasian Union,” as globalists in the United States pursue deeper integration of “North America” via NAFTA and the USMCA.

Also attending the World Government Summit was Pakistani Prime Minister Imran Khan, who urged investors to invest in Pakistan even while boasting about the glories of a welfare state. “I am really against this neo-liberal economics where you have 62 people owning as much wealth as 3 billion people on this Earth,” he told the audience, arguing that governments must take responsibility for taking care of poor people. Former Colombian President Juan Santos, who tried to hand his country over the Marxist terrorists with help from key globalists, spoke as well.

Aside from the major media outlets, Big Business partnered with the World Government Summit were Mastercard, KPMG, Deloitte, McKinsey & Company, and many other Big Business affiliates. A broad array of “global governance” institutions partnered with the World Government peddlers, too, including the UN, the IMF, the World Health Organization, the World Bank, the Organization for Economic Cooperation and Development (OECD), the World Trade Organization, the UN World Intellectual Property Organization (WIPO), and more.

Among the more than 4,000 participants from 140 countries were a number of high-profile Americans. Among those who spoke on stage was U.S. Energy Secretary Rick Perry, a Bilderberg attendee, who announced a robotics competition from the stage. Daniel Kaniewski, the deputy administrator of the Federal Emergency Management Agency (FEMA), was also there. Disgraced EPA boss Lisa Jackson from the Obama administration, who still serves on the disgraced Clinton Foundation board, was at the globalist summit as well. And former Trump Secretary of State Rex Tillerson's chief of staff Margaret Peterlin spoke, too.

While the establishment media keep Americans divided and distracted with deception and frivolity, ignoring real news such as the “World Government Summit,” globalists are dropping the mask and coming out of the closet for all to see. It seems everyone is welcome in the emerging New World Order — globalists, communists, Islamists, technocrats, Big Business, and more — except patriotic Americans and Christian conservatives. Liberty-loving Americans must expose the subversive globalist agenda before it snuffs out liberty, prosperity, and Western Christian civilization worldwide. (in The New American, 22 February 2019).












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sexta-feira, 22 de fevereiro de 2019

A Lança do Destino

Escrito por Trevor Ravenscroft




Lança, fresco de Fra Angélico



A Lança Sagrada em Echmiadzin















«En Thulé convergent donc deux traditions esotériques qui, au reste, ne diffèrent qu'au regard des profanes: un courant venant de la Thulé hyperboréenne, et une tradition d'Asie centrale. Ces deux courants ayant le même symbole: le savastika.

Thulé n'est d'ailleurs que la manifestation actuelle du germanisme souterrain dont nous avons décelé la source dans l'Ordre Teutonique. Germanisme constant, secret, agissant, chiliaste [ou millénariste], qui sait habilement s'adapter aux contingences historiques et qui ne s'occulte sous la pression de circonstances contraíres que pour reparaître dès que la conjoncture redevient propice».

Werner Gerson («Le Nazisme: société secrète»).


«O homem moderno é mais consciente quando está acordado no mundo dos sentidos, e vive uma total eliminação da autoconsciência durante o sono. Mas os atlantes viviam uma diminuição da consciência durante o dia, enquanto trabalhavam no mundo dos sentidos. À noite, viviam uma grande intensificação da consciência, na qual tinham uma visão consciente directa das hierarquias celestiais no Macrocosmo, com as quais tinham meios de comunicação mágicos.

A era Atlante passou por sete épocas, nas quais se desenvolveram em sucessão sete sub-raças, cada uma mantendo-se enquanto as outras se desenvolviam paralelamente. Segundo a Doutrina Secreta, essas sete sub-raças da Atlântida chamam-se rmoahals, tlavatli, toltecas, turanianos, arianos, acadianos e mongóis».

Trevor Ravenscroft («A Lança do Destino»).


«Os "iniciados" do grupo Tule estavam persuadidos de que [os] emigrados do Gobi compunham a raça fundamental da humanidade, a cepa ariana. Haushofer apregoava a necessidade de um regresso às origens", quer dizer, a necessidade de conquistar toda a Europa oriental, o Turquestão, o Pamir, o Gobi e o Tibete. A seu ver, esses países constituíam a "região-centro", e quem controlar essa região controla o globo».

Louis Pawels e Jacques Bergier («O Despertar dos Mágicos»).


«Na realidade, uma "autêntica doutrina oculta do nacional-socialismo" no verdadeiro sentido, com "corpus" orgânico, provavelmente nunca foi completamente elaborada. Existe pelo contrário uma componente cultural baseada na história esotérica, na cosmogonia esotérica e nas leis ocultas que o guiaram. O grupo de intelectuais que transforma a Thule em partido acredita nisso. E a escolha do símbolo é, neste sentido, importante, pelas interpretações que lhe estão ligadas, ainda que a forma dextrógira ou levógira não "implique necessariamente" versões diferentes ou opostas. Esta discussão tem sentido nas escolas ocultistas. Porém, o facto de Hitler ter sido o árbitro para escolher o símbolo é indicativo da sua influência.

Todas as versões oficiais, nazis e pós-nazis, apologéticas ou críticas, não esclarecem de onde possa derivar. Não da precedente actividade política, inexistente. Não de uma ordem do exército. Mayr e Röhm, pelos quais Hitler é obrigado a responder, são oficiais subalternos, o primeiro não deixa pistas, o segundo depressa fugirá para a Bolívia, por não ter expectativas na Alemanha e tornar-se-á homem de primeiro plano só anos depois e como chefe das SA. As pequenas seitas estão notoriamente apinhadas de personalidades que se consideram importantes, que querem distinguir-se e também a história alemã deste período o demonstra. E agora como é possível que um homem sem história, recentemente entrado no partido, logo seja chamado como dirigente, dele elabore o programa, dele escolha o símbolo cheio de significado?

A resposta é que Hitler é já conhecido num microcosmo que parte de Lanz e passa por Hess e Haushofer e talvez também por Ludendorff, o grande condutor de homens. É por esta via que Hitler é acreditado e, em breve Drexler e Feder serão também postos de lado para lhe deixarem a direcção do partido. Ele falará dos seus dotes - incontestáveis - de orador e de organizador, mas que se manifestarão depois e não antes».

Giorgio Galli («Hitler e o Nazismo Mágico. As Componentes Esotéricas do III Reich»).







«Sobretudo nos métodos actuais de ensinar História tem de se proceder a uma modificação radical. Poucos povos têm tanta necessidade de aprender História quanto o povo alemão; poucos povos a utilizam tão mal quanto o nosso. A nossa educação histórica deve ser orientada pela nossa experiência política. Não nos devemos irritar com os miseráveis resultados da direcção da coisa pública se não estivermos resolvidos a cuidar de uma melhor educação política. Em noventa e nove por cento dos casos, as consequências do nosso actual sistema de ensinar História são as mais deploráveis. Algumas datas e nomes, eis o que, habitualmente, fica do estudo da História. Não constam do mesmo as linhas gerais e claras da evolução. Tudo que é essencial, de importância, não é ensinado. Deixa-se ao maior ou menor talento dos indivíduos a descoberta da significação do dilúvio de datas e da sucessão dos acontecimentos. Por mais arrepiante que seja essa verificação, ela mantém-se incontestável. Basta, para prova disso, que se leiam com atenção os discursos dos nossos parlamentos, mesmo numa só sessão sobre os problemas políticos, até dos da política externa. Pense-se em que, ao menos pela importância da sua posição, esses parlamentares representam a elite nacional, e que eles, em grande parte, frequentaram as escolas secundárias e alguns até as superiores, e compreender-se-á como é insuficiente a cultura histórica desses homens. Teria sido muito melhor e mais útil à nação se eles nunca tivessem estudado História mas possuíssem intuições sadias.

Principalmente no ensino da História é que se deve tomar em consideração uma reeducação nos programas. A parte mais importante é o conhecimento das linhas gerais da evolução. Quanto mais se restringir o ensino a esse ponto de vista, tanto mais é de esperar que os indivíduos tirem proveito dos seus conhecimentos, o que é também de vantagem para a colectividade.

Não se estude História somente para saber o que aconteceu, mas para que ela possa orientar o futuro da nação.

Essa é a finalidade, o ensino da História é apenas um meio. Não se argumente que o estudo dessas datas referentes a indivíduos seja necessário a um fundamental estudo da História, a fim de que se possa encontrar a base para as linhas gerais da evolução. Essa missão compete ao especialista. O indivíduo normal não é, porém, um professor. Para aquele o estudo da História deve, em primeiro lugar, consistir em proporcionar-lhe as noções necessárias para que possa tomar atitude em face dos acontecimentos políticos da nação. Quem desejar ser professor que se aprofunde mais tarde nesses estudos. Esse, sim, terá que se ocupar com todos os pormenores, mesmos os mais insignificantes.

Sob todos os aspectos, o ensino actual da História é deficiente, pois para a maioria dos indivíduos é demasiado extenso e para os especialistas muito limitado.

(…) A educação geral, destinada a todos, deve ser obrigatória. O resto deve ficar ao arbítrio dos indivíduos.

A redução dos programas e das horas de estudo que assim se obteria seria aproveitada em benefício da cultura física, do carácter, da vontade, do poder de decisão.

A pouca importância que as nossas escolas, sobretudo as secundárias, hoje dão às exigências profissionais na vida pós-escolar é evidenciada pelo facto de homens saídos de três escolas diferentes poderem abraçar a mesma profissão. Daí se conclui que o importante é a educação geral e não a especial. Quando se trata de casos em que um verdadeiro conhecimento especializado se torna necessário, os programas das nossas escolas secundárias parecem deficientes.

A segunda modificação que se impõe aos nossos programas de ensino é a seguinte:

Nos tempos de materialismo de hoje, há preferência para que a nossa educação intelectual se oriente cada vez mais no sentido de especializações técnicas, como Matemática, Física, Química, etc. Por mais que isso seja necessário numa época em que domina a técnica, que se apresenta, pelo menos aparentemente, como constituindo as grandes características dos nossos dias, não se deve esquecer nunca o perigo que resulta para o povo uma tal orientação. A educação deve sempre e cada vez mais atender às exigências profissionais, fornecendo apenas as bases para futuras especializações.

Se não for assim, desperdiçar-se-ão forças que para a conservação do povo são muito mais importantes do que todos os conhecimentos especializados.

Não se deve afastar o estudo da história antiga, pois a história romana, bem apreciada nas suas linhas gerais, é e será sempre a melhor mestra, não só para o presente como para o futuro. O ideal da cultura helénica, na sua típica beleza, deve ser aproveitado. Não se deve destruir a grande comunidade racial pelas diferenciações entre os vários povos. A luta que hoje se agita tem o grande objectivo de, ligando a sua existência ao passado milenar, unificar o mundo greco-romano com o germânico.

Deve ser estabelecida uma diferença clara entre a educação geral e a especializada.

Uma vez que a última ameaça pôr-se ao serviço dos argentários, a educação geral, pelo menos na sua concepção ideal, deve continuar a servir de contrapeso àquela tendência.

É indispensável que estejamos aferrados à convicção de que a indústria, a ciência técnica e o comércio só podem florescer numa sociedade que oferece, pelos seus elevados ideais, as condições indispensáveis para aquele progresso. Esses ideais não consistem em egoísmo material, mas em capacidade de sacrifício e prazer de renúncia».

Adolf Hitler («Meín Kampf»).


«Perguntei-lhe como é que as pessoas atraíam um espírito. Ele disse-me que as pessoas se esforçavam primeiro por descobrir onde o espírito teria probabilidades de aparecer e depois punham armas no seu caminho, na esperança de que eles tocassem nas armas, porque se sabe que os espíritos gostam de parafernálias de guerra».

Carlos Castaneda («Conversas com D. Juan. Para Além da Realidade»).



No Palácio Imperial de Hofburg, Viena, Áustria.



A Lança do Destino


"Podem ser chamados de heróis, no sentido em que colhem o seu objectivo e a sua vocação, não do curso regular das coisas, sancionado pela ordem estabelecida; mas desse Espírito interior, ainda escondido sob a superfície, que colide contra o mundo exterior, como se fosse uma concha, e o desfaz em pedaços".

Filosofia da História
Georg Wilhelm Friedrich Hegel


Adolf Hitler sabia orientar-se entre as estantes da famosa Biblioteca tão bem como qualquer estudante universitário, pois passara a maior parte de um ano a estudar avidamente no calor e no sossego da sua enorme e bem mobilada sala de leitura.

"Os livros eram o seu mundo. Em Viena, usava a Biblioteca Hof tão diligentemente que uma vez lhe perguntei, muito seriamente, se tencionava ler toda a biblioteca, o que, claro está, provocou alguns comentários ríspidos. Um dia ele levou-me à biblioteca e mostrou-me a sala de leitura. Fiquei quase esmagado pelas enormes quantidades de livros, e perguntei-lhe como conseguia encontrar aquilo que queria. Ele começou a explicar-me o uso dos vários catálogos, o que me confundiu ainda mais". (1)

Na manhã seguinte à sua descoberta da Lança do Destino, Adolf Hitler não viera consultar, como era seu costume, uma selecção aleatória de livros para dar substância e apoio a um precário castelo de sonhos. Desta vez, entrou na sala de leitura com passos calculados e um único objectivo - seguir a história da Lança do Reich que se encontrava na Schatzkammer do Hofburg, através dos séculos, até antes de ser mencionada abertamente na História, durante o reinado do imperador alemão Otto, o Grande.

Não demorou muito até que um uso hábil dos catálogos e das várias obras, de referência histórica, lhe revelassem a existência de várias Lanças sobre as quais se afirmara, com mais ou menos bases, em algum período da História, serem a Lança que perfurara o lado de Jesus Cristo na Crucificação.

Adolf Hitler rapidamente ultrapassou a sua consternação perante esta inesperada reviravolta dos acontecimentos. Tinha a certeza de que uma busca diligente em breve revelaria qual era a verdadeira Lança de Longino. Sempre fora um apaixonado por História, a única disciplina em que brilhara na escola. Sentia apenas desprezo por todos os seus professores, excepto por um - "Eles não tinham qualquer compreensão para com os jovens; o seu único objectivo era encher-nos os cérebros e transformar-nos em macacos eruditos. Se algum aluno mostrava o mais pequeno vestígio de originalidade, era implacavelmente perseguido". (2)

Apenas o seu professor de História, dr. Leopold Potsche, um fervoroso nacionalista alemão, que Hitler afirmou ter sido um profundo efeito nos seus anos de formação, estava imune a estas críticas contundentes: "Ali estávamos nós, muitas vezes inflamados de entusiasmo, por vezes mesmo comovidos até às lágrimas… O fervor nacional que sentíamos, na nossa pequena escola, era usado por ele como instrumento de educação. Foi por ter tido um professor assim que a História se tornou a minha disciplina preferida". (3)

O jovem e sério Adolf Hitler, que mais tarde afirmaria que "Um homem sem sentido de história é um homem sem olhos nem ouvidos", (4) teve pouca dificuldade em separar os méritos das várias supostas lanças do centurião romano Longino que estavam espalhadas pelos palácios, museus, catedrais e igrejas da Europa.

Uma dessas lanças (ou, pelo menos parte dela, a haste), estava pendurada no grande salão do Vaticano, mas a Igreja Católica Romana não fazia qualquer reivindicação séria quanto à sua autenticidade. Outra lança encontrava-se em Cracóvia, na Polónia, mas Adolf Hitler rapidamente descobriu que se tratava de uma réplica exacta da Lança do Hofburg (sem o prego inserido), copiada por ordem de Otto III como presente para Boleslav, o Bravo, por ocasião de uma peregrinação cristã. Ainda outra lança, em relação à qual as reivindicações tinham mais substância, fora associada com o antigo padre cristão João Crisóstomo. Esta lança, que muitos acreditavam ser a lança forjada pelo antigo profeta hebreu Fineas, fora trazida de Constantinopla para Paris, no século XIII, pelo rei Luís, o Santo, no seu regresso das Cruzadas. Dizia-se que tinha atraído o interesse do grande escolástico dominicano Tomás de Aquino. Adolf Hitler ficou excitado por encontrar uma lança que parecia ter estado associada a uma lenda de destino mundial ao longo de toda a sua história. Esta lança, que remontava ao século III, fora aparentemente seguida por muitos historiadores até ao século X, ao reino do rei saxão Henrique I, o Passarinheiro, onde é mencionada pela última vez nas suas mãos, na famosa batalha de Unstrut, na qual a cavalaria saxã conquistou os saqueadores magiares. Depois desta batalha, a lança desapareceu misteriosamente da História, pois não estava presente na morte de Henrique, em Quedlinburg, nem na coroação do seu igualmente ilustre filho, Otto, o Grande, o primeiro detentor registado da Lança do Reich que se encontrava na Casa do Tesouro dos Habsburgos.






A Lança de Hofburg tem a sua primeira menção registada na antiga crónica saxónica da batalha de Leck (perto de Viena), onde Otto obteve uma vitória retumbante sobre as hordas mongóis, cujos formidáveis montados tinham levado a devastação até ao coração da Europa. A menção seguinte a esta Lança, também investida de poderes lendários, foi quando Otto se ajoelhou em Roma perante o Papa João XII, para ser tocado por ela no ombro, num ritual sagrado que estabelecia a sua reivindicação como sacro imperador romano.

Adolf Hitler, na altura já muito desdenhoso da incapacidade de intelectuais e eruditos com longos títulos, estava convencido de que as suas próprias pesquisas cobririam a lacuna e determinariam que fora esta Lança idêntica que passara, sem que houvesse registos, de pai para filho, ambos grandes heróis saxões. (5)

Seguindo o trajecto desta Lança através dos séculos e estudando as vidas ilustres e dinastias de poder da cadeia de homens que a possuíram e afirmaram dominar os seus poderes, Hitler ficou excitado ao descobrir que, século após século, a espantosa lenda da Lança fora cumprida, para o bem ou para o mal.

Maurício, o comandante da Legião Tebana, segurava a Lança nas mãos enquanto dava o seu último suspiro, quando fora martirizado pelo tirano Maximiano por se recusar a venerar os deuses pagãos de Roma. A Legião Tebana fora chamada do Egipto por ordem de Diocleciano, para comparecer numa assembleia maciça dos exércitos romanos em Le Valais (285 d. C.), onde teve lugar um festival pagão de sacrifícios para renovar o fervor decrescente das Legiões pelo Panteão dos deuses romanos.

Maurício, um cristão maniqueísta, protestara contra a ameaça de Maximiano de dizimar a sua legião por causa da sua fé cristã e, como último gesto de resistência passiva, ajoelhara-se em frente das fileiras dos seus próprios soldados, oferecendo-se para ser decapitado em vez deles. As suas últimas palavras registadas foram: "In Christo Morimur".

Os veteranos da Legião Tebana, inspirados por este exemplo de resistência passiva, preferiram morrer com o seu líder do que venerar os deuses romanos nos quais já não acreditavam. Nem mesmo a decapitação de um em cada dez homens conseguiu levá-los a mudar de ideais. No total 6.666 legionários - a força mais disciplinada da história militar romana - foram despojados das suas armas e ajoelharam-se para oferecer o pescoço à lâmina. Maximiano tomou a terrível decisão de massacrar toda a legião como uma oferta sacrificial aos seus deuses - o mais pavoroso ritual de sacrifício humano da História do mundo antigo. (6)

O martírio da Legião Tebana tinha tornado mais vulneráveis os pontos fracos do mundo pagão e aberto caminho à carreira meteórica de Constantino, o Grande, e à conversão do Império Romano ao cristianismo.

Constantino, o Grande, uma das figuras mais enigmáticas do mundo, afirmou ser guiado pela Providência quando segurou a Lança de Longino na batalha que marcou uma época, a batalha da Ponte Milvian, às portas de Roma. Esta batalha decidiu a liderança do Império Romano e conduziu directamente à proclamação do cristianismo como religião oficial de Roma.

Mais tarde, o astucioso Constantino usou os poderes "serpente" da Lança para derrotar a resistência passiva da "pomba", de modo a subjugar a nova religião, em subserviência às suas próprias ambições pessoais, de perpetuar o espírito marcial da Roma de Rómulo. Apertou contra o peito o sagrado talismã de poder e revelação, perante os Pais da Igreja reunidos no I Conselho Ecuménico de sempre, no qual, como "décimo terceiro apóstolo", vestido com a púrpura imperial, ele próprio teve a audácia de promulgar o dogma da Trindade e de o impor à Igreja. Na sua velhice, durante a construção da nova Roma em Constantinopla - um bastião que suportaria todos os ataques durante mil anos -, Constantino levou a Lança à sua frente quando percorreu os limites da localização da nova cidade, dizendo: "Sigo nos passos d'Aquele que vejo caminhar à minha frente".

A Lança desempenhara um papel notável ao longo dos séculos no gradual declínio do Império Romano, tanto na resistência às invasões do Norte e do Leste como na conversão dos Bárbaros à nova fé e à causa romana.

Hitler ficou impressionado com a forma como a Lança mudara de mãos geração após geração, passando de mão em mão numa cadeia de reclamantes que a detinham com motivos variáveis. Homens como Teodósio, que dominou os Godos com ela (385 d.C.), Alarico, o Audaz, o selvagem convertido ao cristianismo que reclamou a Lança depois de ter saqueado Roma (410 d.C.), e Aétius, "o último dos romanos" e o poderoso visigodo Teodorico, que atacou a Gália com a Lança para vencer as hordas bárbaras em Troyes e rechaçar o feroz Átila, o Huno (452 d.C.).








Justiniano, o fanático absolutista e eclesiástico, que reconquistou os territórios do antigo Império Romano e deu ao seu povo o famoso "Codex Juris", depositara na Lança a confiança no seu grande destino. Ergueu a Lança quando ordenou o encerramento das Escolas de Atenas, exilando os grandes sábios gregos do seu reino. Foi uma decisão fatal, que despojou a Europa medieval do pensamento, mitologia e arte gregos, e lhe conferiu essa qualidade especial de escuridão e preconceito, que foi rompida mil anos mais tarde na luz brilhante da Renascença italiana.

Nos séculos VIII e IX a Lança continuara a ser o próprio eixo do processo histórico. Por exemplo, o talismã mítico tornara-se uma verdadeira arma nas mãos do general franco Carlos Martel, (7) o Martelo, quando conduziu o seu exército numa miraculosa vitória sobre as forças congregadas dos Árabes em Poitiers (732 d.C.). A derrota teria significado que toda a Europa Ocidental teria sucumbido ao governo e religião do Islão.

Carlos Magno (800 d.C.), o primeiro sacro imperador romano, fundara a sua dinastia sobre a possessão da Lança e a sua lenda de destino histórico-mundial - uma lenda que atraiu os maiores sábios da Europa para prestarem serviço ao poder civilizador da causa franca. Carlos Magno travara quarenta e sete campanhas com a garantia dos seus poderes vitoriosos. E, mais do que isso, a Lança fora associada às suas fenomenais capacidades de clarividência, através das quais descobriu o sepulcro de São Jaime em Espanha, e aos seus misteriosos poderes de antecipar eventos futuros, que lhe tinham conferido uma aura de santidade e sabedoria. Ao longo da sua vida, este fabuloso imperador vivera e dormira sempre com o seu adorado talismã ao alcance da mão; só quando o deixou cair das mãos, no regresso da sua última campanha vitoriosa, os seus súbditos viram nisso, acertadamente, um augúrio de tragédia e da sua morte iminente.

Hitler ficou totalmente fascinado pela passagem da Lança pela época na qual tinham vivido todos os seus heróis de infância. Descobriu, para sua surpresa e encanto, que as grandes figuras alemãs que tinham preenchido os seus sonhos de juventude haviam possuído a Lança como aspiração sagrada das suas ambições, como talismã de poder.

No total, quarenta e cinco imperadores tinham reclamado a Lança do Destino como sua, entre a coroação de Carlos Magno, em Roma e a queda do Império Germânico, exactamente mil anos mais tarde. E que desfile de poder e galantaria! A Lança passara pelos milénios, como o próprio dedo do destino, sempre criando novos padrões de destino que, uma vez e outra, alteraram o curso da História da Europa.

Os cinco imperadores saxões que sucederam aos carolíngios na posse deste talismã de poder, homens como Otto, o Grande, tinham vivido vidas ilustres de significado histórico mundial.

No entanto, quem mais excitava a imaginação de Adolf Hitler eram os sete incríveis Hohenstauffens da Suábia, incluindo o lendário Frederico I, Barba-Roxa, e Frederico II, seu neto.

Aqui, de facto, estavam alemães de incomparável grandeza! Frederico I, Barba-Roxa (1152-90), que unira no seu sangue os inimigos Welfs e suábios, tinha as qualidades de um monarca que Hitler podia verdadeiramente admirar… cavalheirismo, coragem, energia ilimitada, grande alegria na batalha, amor pela aventura, uma iniciativa surpreendente e, acima de tudo, uma certa brusquidão que lhe dava ao mesmo tempo a capacidade de assustar e seduzir. Frederico I, Barba-Roxa, que julgava poder restabelecer o Império Romano sem as legiões romanas, conquistara toda a Itália, provando ser supremo até mesmo sobre o Pontífice Romano; derrotando Roma e conduzindo o ataque vitorioso ao Vaticano para expulsar o Papa para o exílio. Mais tarde, ajoelhara-se em Veneza com a Lança nas mãos e beijara os pés do Papa que em tempos derrotara, mas apenas como ardil para ganhar tempo para a reconquista da Itália. Finalmente Frederico I, Barba-Roxa morrera ao atravessar um curso de água na Sicília e a Lança caíra-lhe das mãos no instante preciso da sua morte. (8)

Eclipsando até mesmo o magnífico Barba-Roxa, havia ainda Frederico II Hohenstauffen (1212-50), que se erguera como um cometa brilhante na História europeia e a abalara até às suas fundações. Um homem de personalidade carismática, génio raro e lendários poderes ocultos, fluente em seis línguas, um Cavaleiro galante e poeta lírico, que inspirou os seus minnensingers a cantarem sobre o Santo Graal. O incomparável Frederico era também um mecenas das artes, um comandante capaz e corajoso no campo de batalha, um estadista de infinita subtileza e uma alma enigmática, em parte santo e em parte demónio. Criado na Sicília (que na altura fazia parte do extenso Império Germânico), este príncipe de sangue suábio falava árabe com os seus soldados sarracenos, mantinha um grande harém, redigiu a primeira tese científica (sobre falcoaria), acreditava na astrologia e praticava alquimia. Estimando a posse da Lança acima de todas as coisas, fez dela o ponto fulcral de toda a sua vida - recorrendo especialmente aos seus poderes durante as Cruzadas (nas quais Francisco de Assis uma vez transportou a Lança, numa incumbência de misericórdia) e ao longo das suas batalhas com os estados italianos e os exércitos papais. (9)



Brasão da Ordem dos Cavaleiros Teutónicos de Santa Maria de Jerusalém




Reino Teutónico entre 1309 e 1410



Ruínas do Castelo de Montfort (Israel).



Ruínas do Castelo Amouda (Turquia).




Selo Teutónico do século XIV



Moeda da Ordem Teutónica



Bandeira Teutónica



A mais importante descoberta de todas, para o jovem Hitler, enquanto reconstituía a história da Lança do Destino, não tinha a ver com imperadores nem com as suas dinastias de poder. Era a descoberta de que a Lança fora a inspiração para a fundação dos Cavaleiros Teutónicos, cujos actos cavalheirescos e corajosos, e cujos votos irreversíveis e disciplinas ascéticas, tinham sido a própria substância dos seus sonhos de infância.

Adolf Hitler passou três dias nas suas primeiras pesquisas hesitantes sobre a história da Lança de Longino. Talvez tenha sentido um arrepio na espinha enquanto caminhava pela biblioteca, para retirar das prateleiras as obras do grande filósofo alemão Georg Wilhelm Frederick Hegel, pois pensava Hitler que os homens que tinham reclamado a Lança ao longo da História e cumprido a sua lenda encaixavam na descrição de Hegel de Heróis Históricos Mundiais - "Heróis que cumprirão a Vontade do Espírito Mundial, o próprio plano da Providência".

"Podem ser chamados de heróis, no sentido em que colhem o seu objectivo e a sua vocação, não do curso das coisas, sancionado pela ordem estabelecida; mas de uma fonte oculta, desse Espírito interior, ainda escondido sob a superfície, que colide contra o mundo exterior, como se fosse uma concha, e o desfaz em pedaços.

… Mas ao mesmo tempo foram homens pensadores, que tinham uma visão das exigências do Tempo - que estava maduro para desenvolvimento. Esta era a verdade da sua era para o seu tempo.

… Eles sabiam este princípio nascente, o passo necessário e directamente sequencial no progresso que o seu mundo aceitaria; dele fizeram o seu objectivo, e gastaram a sua energia a promovê-lo. Os homens históricos - os heróis da época - devem portanto ser reconhecidos como os clarividentes: as suas acções são as melhores da sua época".

A filosofia de Hegel estava um pouco para além das capacidades do jovem Hitler, que não teria conseguido apreciar as distinções subtis, como os conceitos de Ser e Existência. Mas uma coisa em Hegel apelava-lhe, e essa era o facto de todo o sentido de moralidade parecer dissolver-se da alma do filósofo quando meditava sobre aquilo a que chamava "Heróis Históricos Mundiais".

"A História mundial ocupa uma posição mais elevada do que aquela onde tem lugar a moralidade, que é no carácter pessoal e na consciência dos indivíduos. As reivindicações morais, que são irrelevantes não devem ser trazidas à colisão com os feitos históricos e a sua realização. A litania de virtudes privadas - modéstia, humildade, filantropia e paciência - não deve ser erguida contra eles".

A ideia de Hegel, de que estes heróis tinham completa justificação para esmagar em pó tudo o que se atravessasse no seu caminho e os pudesse impedir de cumprirem o seu grande destino, apelava imenso ao grandioso sentido de missão no pensamento de Hitler.

Todo o cinismo em relação a si próprio, todo o cepticismo sobre a genuinidade da sua primeira e arrepiante experiência perante a antiga Lança de Hofburg, desvaneciam-se agora, enquanto lia de novo, com respiração suspensa, estas palavras de Hegel, que pareciam confirmar o papel desempenhado pela longa série de reclamantes da Lança do Destino. O seu sentido de missão estava agora inflamado ao ponto da dor. A Lança na Casa do Tesouro guardava a chave do Poder! A chave para o seu próprio destino histórico mundial!

De alguma forma, ele tinha de desvendar os seus segredos e dominar os seus poderes, para concretizar as suas próprias ambições pessoais para o povo alemão. Não poderia ser ele o imortal Siegfried, destinado a despertar os homens de sangue germânico do longo sono que se seguira ao Götterdämmerung? O herói do sol destinado a erguer os olhos de todos os alemães para a grandeza da sua herança espiritual?

A tarde ia já adiantada quando Hitler entrou na Schatzkammer, com respeito e medo no coração, para olhar pela segunda vez para a "Heilige Lance". Nos três anos seguintes ele faria incontáveis vezes esta mesma peregrinação, para inspecionar a antiga arma e partilhar dos seus segredos.

Mais uma vez, a sua experiência imediata foi de total estupefacção. Conseguia sentir algo estranho e poderoso emanar da ponta de ferro, algo que não conseguia identificar de imediato. Ficou ali parado muito tempo, perplexo pelo seu enigma impenetrável: "Estudando minuciosamente cada detalhe físico da sua forma, cor e substância, tentando ao mesmo tempo manter-se aberto à sua mensagem".

"Lentamente, apercebi-me de uma presença poderosa à sua volta - a mesma presença impressionante que sentira interiormente, nas raras ocasiões da minha vida em que sentira que um grande destino me aguardava".





Estandarte pessoal de Adolf Hitler



Aguarela pintada por Adolf Hitler, em 1914.







E agora ele começava a compreender o significado da Lança e a origem da sua lenda, pois sentia intuitivamente que era um veículo de revelação - "uma ponte entre o mundo dos sentidos e o mundo do espírito 'Geistliche Welt'."

Adolf Hitler afirmaria mais tarde que foi nesta ocasião, quando estava perante a Lança, que "Abriu-se perante mim uma janela para o futuro, através da qual vi, num único clarão de luz, um evento futuro pelo qual soube, para além de qualquer dúvida, que o sangue nas minhas veias se tornaria um dia o vaso do espírito popular do meu povo".

Adolf Hitler deixou a Casa do Tesouro do Hofburg com a convicção inabalável de que ele próprio avançaria um dia para reclamar a Lança do Destino para si, e que com ela cumpriria um papel histórico mundial.

O homem que, um dia, se tornaria Führer indisputado do Terceiro Reich, nunca contou o que viu naquele breve momento em que a Schatzkammer se dissolveu e foi transportado, num clarão de luz, para o futuro.

Talvez fosse uma visão de si próprio de pé, triunfantemente, em frente do Hofburg, proclamando às fileiras congregadas de nazis austríacos, na Heldenplatz, e às multidões de populares confusos e infelizes apinhados na Praça: "A Providência encarregou-me da missão de reunir os povos germânicos… da missão de restaurar a minha pátria ao Reich germânico. Acreditei nesta missão. Vivi para ela e acredito que a realizei agora". (10)

"Os eventos futuros lançam a sombra à sua frente", diz Goethe, o famoso poeta e transcendentalista alemão. Assim, talvez a previsão do jovem Hitler nessa tarde, vinte e quatro anos antes de ter chegado ao poder, tenha sido de natureza sinistra!

Fosse qual fosse a cena, triunfante ou sinistra, que se abrira perante ele, ela mudou garantidamente toda a sua atitude para com a vida. "Cheguei a esta cidade ainda meio rapaz, e deixei-a homem, tornado silencioso e grave", diz Hitler em Mein Kampf. A partir desse momento ele nunca mais desejou o conforto da amizade humana. Nessa mesma noite fez os preparativos para se mudar dos alojamentos que partilhara com August Kubizek. Agora era um homem que caminhava sozinho - um homem com um terrível e grandioso destino a cumprir.

"O que poderia ter levado Adolf Hitler a deixar-me sem uma palavra ou sinal?", queixou-se Gustl, quando regressou de férias e encontrou um quarto vazio em Stumpergrasse. (11)

(in Trevor Ravenscroft, A Lança do Destino, Editora Livros do Brasil, 2005, pp. 32-43).


Notas:

(1) Young Hitler, August Kubizek

(2) Mein Kampf

(3) Ibidem.

(4) "Um homem sem sentido de História - declarou Hitler - é um homem sem olhos nem ouvidos". Ele próprio afirmava ter um interesse apaixonado por História desde os seus dias de escola, e demonstrava uma familiaridade considerável com o curso da História europeia. As suas conversas eram salpicadas de referências e paralelos históricos. Mais do que isso: toda a disposição mental de Hitler era histórica, e o seu sentido de missão derivava do seu sentido de história.

(5) Heinrich Himmler, reichsführer-SS de Hitler, atribuiu aos melhores estudiosos da Alemanha, que se encontravam ao serviço da Divisão Nazi do Oculto, a tarefa de cobrir esta lacuna na história da Lança. Eles não tiveram sucesso. O dr. Walter Stein, através de um método singular de pesquisa histórica, envolvendo "expansão da mente", descobriu que Henrique I enviou a Lança para o rei inglês Athelstan, e que a mesma esteve presente na batalha de Malemesbury, na qual os dinamarqueses foram derrotados. A Lança foi oferecida a Otto, o Grande, por altura do seu casamento com a irmã de Athelstan, Eadgita. A condição imposta juntamente com a Lança como dote, era que as cidades de guarnição da Europa nunca fossem transformadas em cidades de comércio. Otto, o Grande, ficou conhecido como O Fundador de Cidades e, através dele, a nova economia da Europa emergiu da Idade Média.

(6) O espectáculo sangrento do martírio da Legião Tebana foi ultrapassado mil anos mais tarde pelo massacre monstruoso efectuado pela Inquisição Católica Romana dos cátaros e dos maniqueus albigenses, em Toulouse, onde 60.000 resistentes passivos - homens, mulheres e crianças - foram queimados ou passados a fio de espada num único dia. Só as câmaras de gás de Auschwitz e Mauthausen viriam a ultrapassar esta acção em crueldade bestial e intenção demoníaca.



Carlos Martel






Carlos Martel vencendo os árabes em Poitiers





Cruz Carolíngia





(7) Hitler, nesta altura, considerava Carlos Martel um dos seus grandes heróis. Mais tarde amaldiçoaria este líder franco: "Só no Império Romano e na Espanha, sob domínio árabe, foi a cultura um factor poderoso. Sob os Árabes, o padrão alcançado foi verdadeiramente admirável; para Espanha convergiam os maiores cientistas, pensadores, astrónomos e matemáticos do mundo, e lado a lado floresceu um espírito de doce tolerância humana e sentido de cortesia purista. Depois, com o advento da cristandade, vieram os Bárbaros. Se Carlos Martel não tivesse saído vitorioso em Poitiers - já aí se vê que o mundo caíra nas mãos dos judeus, tão cobarde era a Cristandade! -, muito provavelmente todos teríamos sido convertidos ao maometismo, o culto que glorifica o heroísmo e que abre o "Sétimo Paraíso" apenas ao guerreiro audaz. Então as raças germânicas teriam conquistado o mundo. Apenas a cristandade as impediu de o fazerem". - Hitler's Table Talk: 28 de Agosto de 1942.

(8) Adolf Hitler baptizou o seu refúgio montanhoso no baluarte do Ober Salzburg de "Barba-Roxa". Foi também o nome que deu ao ataque à Rússia - Operação Barba-Roxa.

(9) Adolf Hitler deu ordem para que as suas tropas travassem uma sangrenta acção de retaguarda enquanto os engenheiros removiam a Pedra Memorativa de Frederico II Hohenstauffen do campo de batalha, em Itália. A Pedra Memorativa foi depois levada para a Alemanha.

(10) Discurso de Hitler na Anschluss, depois da Operação Otto ter conquistado a Áustria para o Reich alemão (14 de Março de 1938).

(11) August Kubizek, Young Hitler - The Story of Our Friendship.