sábado, 14 de abril de 2012

Humanum Genus (iii)

Escrito por Leão XIII





«A tolerância é, como diz Giantulli, "uma táctica habilidosa, frequentemente bem sucedida, para iludir a realidade aos superficiais. É verdade que a maçonaria mostra a máxima condescendência com as mais variadas doutrinas filosóficas e com as formas de pensamento mais estranhas. Mas o que não tolera de maneira nenhuma é que o maçon "possa mostrar-se débil" perante a Verdade revelada. Deste modo, sob o pretexto de ensinar a liberdade e a ausência de preconceitos, edifica uma cilada permanente contra a fé dos inscritos, particularmente a católica"».

José Antonio Ullate Fabo («O Segredo da Maçonaria Desvendado»).


«Um cristão católico não pode viver a sua relação com Deus segundo uma dupla modalidade, nem manter dois tipos de relação simbólicas com Deus. Um cristão católico não pode, simultaneamente, participar plenamente na comunhão fraterna cristã e ver o seu irmão, a partir da perspectiva maçónica, como um profano».


Dominique Rey («Pode um Cristão ser Maçon?»).


«[As organizações-fachada da maçonaria] são organizações sem uma relação visível com a maçonaria, mas totalmente dependentes do seu pensamento e das suas directrizes. Os seus directores ou são mações, geralmente desconhecidos como tal, ou não-mações de comprovada docilidade em relação às inclinações e aos projectos da maçonaria. A táctica e o segredo maçónicos impedem, ou pelo menos dificultam em grande medida, que se conheça com certeza quais são estas organizações, sobretudo enquanto se mantêm em funcionamento e com uma viva influência.

(…) Chamam-se [lojas encobertas] as lojas cuja existência só é conhecida pelos mações que a elas pertencem e pelos dos graus superiores (30-33). Os seus membros costumam ser personalidades dos âmbitos político, literário, militar, judicial, empresarial e dos meios de comunicação social que dessa forma introduzem mais fácil e eficazmente a concepção maçónica no seu meio sociocultural. As lojas encobertas são como que a espinha dorsal da maçonaria, pela sua influência, tão eficaz quanto invisível, nos organismos sociopolíticos, culturais e ético-morais; os seus membros mais representativos e influentes estão ocultos e dispostos a avançar em obediência a uma ordem. A descoberta de um esconderijo de droga numa loja da Calábria, em Itália, permitiu "descobrir 26 lojas maçónicas. Destas, só quatro eram conhecidas; as restantes eram lojas encobertas" (Civiltà Cattolica, 2 de Abril de 1994, pp. 75-76).

(…) As obediências maçónicas costumam ter lojas encobertas. Em Espanha, a loja Europa (Barcelona), integrada na Grande Loja, ou maçonaria regular, é constituída sobretudo por políticos, sobretudo do PSOE. Os mações camuflados da CiU pertencem principalmente à loja encoberta da Grande Loja Simbólica, ou maçonaria irregular. No ano de 2002, um mação pertencente a um dos graus mais elevados perguntou-me: "Por que razão fala no seu Diccionario de lojas encobertas tanto do PSOE (Partido Socialista Obrero Español, sobretudo na sua dependência catalã, o PSC) como da CiU, mas nada diz do PP (Partido Popular)?" Indique-me nomes, e a sua loja constará da próxima edição. Agora já sei que a loja P3 é constituída por políticos do PP, ao que parece de forma exclusiva. Pertenciam à P3 alguns dos dirigentes da Junta Gallega quando Manuel Fraga Iribarne era seu presidente, mas ele não é mação, porque recusou o convite. A P3 tem ressonâncias da P2 (Propaganda Due), pelo menos quanto ao nome, mas, segundo parece, também por admitir um grande número de membros, muitíssimo maior do que o da P2. Ultimamente, aumentou significativamente o número de membros da P3.











De la Cierva fala da loja P2, de Licio Gelli, da loja encoberta do Grande Oriente (maçonaria irregular) e até apresenta uma lista (com nome, profissão, etc.) de 922 membros (pp. 213-238). Entre eles figura Silvio Berlusconi (antigo chefe do Governo italiano), Giacomo Agnesi, Aldo Alasia (director da Olivetti), Roberto Calvi (presidente do Banco Ambrosiano), o banqueiro Michele Sindona, Federico Barttfeld (embaixador argentino de Bucareste), Luis Alberto Betti e Oswaldo Brana (embaixadores argentinos), Franco di Bella (director de Il Corriere della Sera), Lodovico Bevilacqua e Giovanni Fabbri (editores), Artemo Franchi (presidente da Federação Italiana de Futebol), Pasquale Longo (presidente do Rotary), José López Rega (ministro do Governo argentino), Giampiero Orsello (vice-presidente da RAI-TV), Vittorio Emmanuele di Saboia (pretendente ao trono como Vittorio Emmanuele IV), entre outros. Quando a P2 foi descoberta pela polícia italiana, entre os filiados figuravam três membros do Governo italiano, 43 do parlamento, 54 altos funcionários, 183 altos oficiais do Exército, da Marinha e da Força Aérea, 19 juízes, 58 professores universitários e vários proprietários de jornais. Mas não dedica um apartado às lojas encobertas – um vazio muito difícil, para não dizer impossível, de preencher, dada a sua natureza».

Manuel Guerra («A Trama Maçónica»).






ERROS E PERIGOS

24. Por conseguinte, aquilo que a seita dos Maçons é, e qual o fim que se propõe atingir, está exposto de maneira bastante clara no breve resumo que Nós acabamos de traçar. Os seus dogmas principais estão tão manifesta e grandemente dissociados da razão que não pode haver perversão maior. Querer destruir a religião e a Igreja que o Próprio Deus criou, e cuja perpetuidade Ele assegura pela Sua própria protecção, e trazer de volta, depois dum lapso de dezoito séculos, os usos e costumes dos pagãos, é um erro gritante e duma impiedade audaciosa. Não é menos horrível nem mais aceitável que eles queiram rejeitar benefícios que Jesus Cristo tão piedosamente alcançou, não só para as pessoas, como também para a família e para a sociedade civil, benefícios esses que, até no juízo e testemunho dos inimigos da Cristandade, são enormes. Neste esforço insano e maléfico, Nós podemos vislumbrar o ódio implacável e o espírito de vingança com que o próprio Satanás está inflamado contra Jesus Cristo. O mesmo se pode dizer do esforço persistente dos Maçons para destruir as traves mestras da justiça e da probidade, e para colaborar com aqueles que gostariam, como se fossem simples animais, de fazer tudo o que lhes dá prazer, o que conduz inevitavelmente à ruína ignominiosa e à desgraça da raça humana.

O mal também é agravado pelos perigos que ameaçam a sociedade, tanto a civil como a doméstica. Tal como Nós mostrámos noutro passo (14), o casamento, no sentir de quase todos os povos, tem algo de sagrado e religioso; e a lei de Deus determina que os casamentos não devem ser dissolvidos. Se eles forem privados do seu carácter sagrado, e se tornarem passíveis de dissolução, o resultado será que a perturbação e a confusão se instalam na família, a mulher será privada da sua dignidade e as crianças ficarão sem protecção, tanto nos seus interesses como no seu bem-estar. Descurar a religião nos assuntos oficiais, e na organização e administração pública, ignorar Deus como se Ele não existisse, é uma precipitação desconhecida até dos pagãos; porque, no seu coração e na sua alma, a noção de divindade e a necessidade de uma religião oficial estavam tão profundamente enraizadas que eles achariam que era mais fácil existir uma cidade sem terra do que uma cidade sem Deus. A sociedade humana, da qual, por natureza somos parte integrante, foi constituída por Deus, o Autor da natureza; e d’Ele, princípio e fonte, emanam com vigor perene os benefícios incontáveis em que a sociedade abunda. Como a própria voz da natureza nos ensina que devemos prestar culto a Deus pela piedade e pela santidade, como origem da vida e de todo o seu bem, é também por essa razão que os povos e os Estados se unem para louvá-lo; e portanto, aqueles que pretendem isentar a sociedade de qualquer obrigação religiosa, agem, não só injustamente, mas também com insensatez e ignorância.

25. Como os homens, pela vontade de Deus, nasceram para se unirem através da sociedade civil, e como a autoridade para governar é um vínculo tão necessário para unir a sociedade que, quando desaparece, a sociedade desmorona-se, resulta que é d’Ele, que é o Autor da sociedade, que é recebida a autoridade para governar; portanto, qualquer que seja o governante, é um ministro de Deus. Assim, decorre do fim e da natureza da sociedade humana, que é lícito obedecer às ordens justas da autoridade legítima, tal como é lícito obedecer a Deus senhor de todas as coisas; e é um grande equívoco pretender que os povos podem eximir-se ao seu dever de obediência quando assim o entenderem.


26. Do mesmo modo, ninguém duvida que os homens são todos iguais entre si, tanto no que diz respeito à sua origem e natureza comum, como no que se refere ao fim último que cada um deve atingir ou aos direitos e obrigações que daí derivam. Mas as aptidões não são iguais em todos, tal como as pessoas diferem umas das outras nas capacidades da mente ou do corpo, e como existem muitas diferenças de feitio, de personalidade e de carácter, repugna à razão a tentativa de medir todos pela mesma bitola, e de estender uma igualdade cega às instituições da vida civil. Tal como a perfeita condição do corpo depende da conjunção e da composição dos seus diferentes membros, os quais, embora difiram na forma e na função, formam, pela sua união e pela colocação nos lugares adequados, uma composição bonita de contemplar, firme na resistência, e indispensável ao uso; também, numa nação, existe uma enorme infinidade de homens diferentes que formam parte do todo. Se eles devessem ser todos iguais, e cada um procedesse à sua vontade, iria surgir um Estado muito deformado; mas se, com a diferença dos graus de dignidade, de vocação e de empregos, todos concorrerem adequadamente para o bem comum, eles darão a imagem de um Estado bem constituído no respeito pela natureza.

27. Hoje, devemos temer os maiores perigos dos erros preocupantes que Nós descrevemos. Porque, afastado o respeito por Deus e pelas leis divinas, desprezada a autoridade dos governantes, a sedição permitida e encorajada, e os ânimos populares exaltados até à ilegalidade, tendo por única restrição o castigo, seguir-se-ão uma mudança e um volta-face de todas as coisas. Claro, esta mudança e este volta-face foram planeados deliberadamente e postos em marcha por muitas associações de comunistas e socialistas; e a seita dos Maçons não é hostil aos seus pressupostos, até favorece os seus desígnios, e comunga dos mesmos princípios básicos. E se estes homens não exteriorizam duma vez por todas e universalmente as suas posições exageradas, não é por sensatez ou por falta de vontade, mas porque a religião divina não pode ser destruída, mas também porque uma parte significativa dos homens, ao recusar-se a ser escravizado pelas sociedade secretas, resiste vigorosamente às suas investidas tresloucadas.

28. Oxalá todos pudessem avaliar a árvore que produziu tais frutos, tivessem consciência da semente donde nasceram os males que nos oprimem, e dos perigos que nos ameaçam! Nós temos que lidar com um inimigo manhoso e astuto, que, bajulando os ouvidos dos povos e dos príncipes, os cativou com discursos meigos e com elogios. Insinuando-se junto dos governantes com uma pretensa amizade, os Maçons esforçam-se para os tornar seus aliados, e colaboradores na destruição do Cristianismo; e para os conduzir mais facilmente a isso, forjaram uma calúnia, acusando falsamente a Igreja de competir com os governantes em assuntos relacionados com a autoridade e poder soberano destes. Tendo, com estes artifícios, assegurado a sua própria segurança e impunidade, começaram a ter um peso significativo no governo dos Estados: não obstante, estão preparados para abalar os alicerces dos impérios, perturbando os governantes do Estado, e até acusá-los ou derrubá-los se considerarem que governam duma forma contrária aos seus anseios. Desta maneira, conseguiram enganar o povo por meio da bajulação. Proclamando em voz alta, liberdade e prosperidade, conquistaram as massas, e entusiasmando-as com uma sede de novidade, incitaram-nas a combater contra a Igreja e o poder civil. No entanto, os benefícios esperados ficaram muito aquém das promessas; de facto, as pessoas humildes, mais oprimidas do que outrora, não beneficiam na sua miséria da consolação que, numa sociedade Cristã, teriam tido com facilidade e abundância. Mas, aqueles que atentam contra a ordem que a Divina Providência instituiu, pagam habitualmente o preço do seu orgulho, e encontram aflição e miséria, onde, imprudentemente, julgavam encontrar a prosperidade dos seus desígnios.


29. A Igreja, quando manda prestar obediência, primeiro e acima de tudo a Deus, soberano de todas as coisas, é acusada errada e falsamente de invejar ou de arrogar-se para si o que pertence aos direitos dos soberanos. Ao invés, ela ensina que procede bem, quem, com convicção e consciência do dever, dá ao poder civil aquilo que lhe é devido. Ao ensinar que imana do Próprio Deus o direito de governar, engrandece a dignidade do poder civil, e contribui para captar a obediência e a boa vontade dos súbditos. Amiga da paz e defensora da concórdia, a Igreja abraça todos no seu amor maternal, e empenhada somente em ajudar os homens, ensina que não há justiça sem clemência, autoridade sem equidade, lei sem moderação; que ninguém deve sofrer uma violação dos seus direitos; que a tranquilidade e a ordem pública devem ser defendidas e que as carências dos mais pobres devem, na medida do possível, ser amparadas pela caridade, pública e privada. “Mas, por esta razão”, para usar as palavras de Santo Agostinho, “os homens pensam, ou querem que se pense, que a doutrina Cristã não convém ao bem dos Estados; porque eles não querem que o Estado se funde na solidez da virtude, mas na impunidade do vício” (15). Sabendo isto, os príncipes e os povos agiriam com sabedoria política (16), e de acordo com as necessidades do bem comum, se em lugar de se juntarem aos Maçons para destruir a Igreja, se juntassem à Igreja para repelir os seus ataques.

30. Qualquer que venha a ser o futuro, perante um tal mal tão grave e tão disseminado, é Nosso dever, veneráveis irmãos, fazer um esforço para encontrar um remédio. E porque Nós sabemos que a Nossa melhor e mais segura esperança de remédio reside no poder dessa religião divina que os Maçons odeiam na exacta medida em que a temem, Nós pensamos que é duma importância primordial chamar esse poder salvador em Nossa ajuda contra o inimigo comum. Portanto, o que quer que os Romanos Pontífices Nossos antecessores tenham decretado com o propósito de fazer frente aos pressupostos e aos esforços da seita maçónica, e o que quer que seja que eles tenham estipulado para impedir a entrada ou afastar os homens de sociedades dessa natureza, Nós ratificamos e confirmamos tudo isso com a Nossa autoridade apostólica: e confiando grandemente na boa vontade dos Cristãos, Nós rogamos e suplicamos a cada um em particular que, a bem da sua salvação eterna, proceda com escrupulosa consciência, não se afastando nem por um momento do que, sobre essa matéria, foi ordenado pela Sé Apostólica.

31. A vós rogamos e suplicamos, veneráveis irmãos, que unais os vossos esforços aos Nossos, e que procureis afincadamente extirpar esta praga asquerosa que trepa pelas veias da sociedade. Tendes que defender a glória de Deus e lutar pela salvação do vosso próximo, e com este desígnio pela frente, não vos faltarão as forças nem a coragem. Manda a prudência que avalieis quais são os melhores meios para transpor os obstáculos e as dificuldades que ides encontrar. Mas, sendo da autoridade do Nosso ministério, que Nós Próprios indiquemos qual a maneira mais recomendável de proceder, Nós queremos que a vossa primeira regra seja arrancar a máscara à Maçonaria, para que se possa ver como ela é realmente; e ensinar às pessoas, por meio de sermões e de pastorais, quais os artifícios usados pelas sociedades dessa natureza para seduzir e atrair as pessoas às suas fileiras, bem como às suas ideias depravadas e às suas acções maldosas. Como os Nossos predecessores repetiram muitas vezes, não deixeis que um homem que preza o facto de ser Católico e aspira à salvação eterna, tal como é seu dever, adira à seita maçónica. Que ninguém se deixe enganar por aquela honestidade fingida. Pode parecer que os Maçons não exigem nada que seja abertamente contrário à religião e à moral; mas, como a doutrina genérica e o objecto da seita repousam sobre o que é vicioso e criminoso, unir-se a esses homens, ou ajudá-los por qualquer maneira, não é lícito.


Capela Sistina














32. Acresce que, por meio de contínua predicação e exortação, a população deve ser induzida a aprender cuidadosamente os preceitos religiosos; e com esse fim, recomendamos vivamente que os elementos que constituem as verdades sagradas da filosofia Cristã sejam oportunamente ensinados por meio de escritos e de sermões. Com isto, os espíritos serão fortalecidos pela instrução, e ficarão protegidos contra as muitas formas de erro e as solicitações para a maldade, sobretudo na situação actual em que impera uma liberdade desmesurada de escrita e uma voracidade insaciável de aprender.

33. O trabalho é deveras grande, mas o clero partilhará os vossos esforços, se com a vossa ajuda, for induzido a isso por meio do saber e duma vida regrada. Esta obra boa e útil também requer a colaboração e o esforço daqueles que, dentre os leigos, juntam o amor pela religião e pelo seu país ao saber e a uma vida exemplar. Unidos os esforços de ambos, clero e leigos, esforçai-vos, veneráveis irmãos, por fazer com que as pessoas conheçam profundamente e amem a Igreja, pois, quanto maior for o conhecimento e o amor pela Igreja, mais se afastarão das sociedades clandestinas.


ORGANIZAÇÕES PRÁTICAS

34. Portanto, não é a desproporção que Nós usamos nesta ocasião para afirmar aquilo que Nós afirmámos noutra ocasião, a saber, que a Ordem Terceira de São Francisco, cuja regra há pouco prudentemente mitigámos (16), deve ser persistentemente apoiada e promovida, pois o fim genérico desta Ordem, tal como foi instituído pelo seu fundador, é convidar os homens à imitação de Jesus Cristo, ao amor pela Igreja e à observância de todas as virtudes Cristãs; e por conseguinte, devemos convir que contribuirá grandemente para impedir o contágio das sociedades perversas. Permitamos, portanto, que esta santa confraria se torne mais forte, contribuindo para que todos os dias cresça. Entre os muitos benefícios que se esperam disso, está o de atrair os espíritos para a liberdade, a fraternidade e a igualdade de direitos; não como os Maçons imaginam absurdamente, mas como Jesus Cristo logrou para a raça humana e São Francisco aspirou fazer: a liberdade, Nós queremos dizer, de filhos de Deus, através da qual nos libertamos dos laços da escravatura a Satanás ou às nossas paixões, ambos mestres temíveis da perfídia; a fraternidade, que tem origem em Deus, o Criador e Pai comum de todos; a igualdade, que, fundada na justiça e na caridade, não faz desaparecer todas as diferenças entre os homens, mas que, com os diferentes estilos de vida, de cargo e de objectivos, criou a união e a harmonia que concorrem para melhorar e dignificar a sociedade.

35. Em terceiro lugar, existe uma instituição sabiamente criada pelos nossos antepassados, mas marginalizada com o correr dos tempos, que agora pode ser tomada como modelo e exemplo. Nós referimo-nos às corporações dos mesteres que protegiam, sob os auspícios da religião, tanto os interesses temporais como a conduta moral dos seus membros. Se os nossos maiores, por mercê duma experiência secular, sentiram os benefícios dessas corporações, a nossa era talvez os sinta ainda mais, atendendo à oportunidade que representam de esmagar o poder das seitas. Aqueles que obtêm o sustento pelo trabalho das suas mãos, além de serem, por natureza, mais merecedores de caridade e de consolo, também estão especialmente expostos aos caprichos de homens cuja conduta se pauta pelo embuste e pela artimanha. Por conseguinte, eles devem ser ajudados com toda a simpatia possível, e devem ser convidados a aderir a associações que são boas, a fim de evitar que adiram a associações que são más. Por esta razão, Nós desejamos ardentemente, para a salvação dos povos, que, sob os auspícios e o patrocínio dos bispos, e nas ocasiões mais oportunas, essas corporações sejam amplamente reconstituídas. Para Nossa grande satisfação, irmandades deste género e também associações profissionais, já foram reconstituídas em muitos lugares. Cada uma na sua categoria, tem por objecto ajudar os trabalhadores honrados, proteger os seus filhos e as suas famílias e promover neles a piedade, a doutrina Cristã e a moral familiar. E a este respeito, não podemos deixar de mencionar essa associação exemplar, que tomou o nome do seu fundador, São Vicente, que tanto tem ajudado as classes mais pobres. As suas actividades e os seus desígnios são bem conhecidos. A sua vocação genérica é dar alívio aos pobres e aos miseráveis. O que faz com uma discrição e uma humildade, singulares; e quanto menos aspira ser vista, melhor se adequa à prática da caridade Cristã e ao consolo dos que sofrem.


EDUCAÇÃO DA JUVENTUDE

36. Em quarto lugar, com vista a atingir mais facilmente aquilo que Nós queremos, Nós recomendamos que a vossa fidelidade e a vossa vigilância se exerçam sobremaneira nos mais novos, por serem a esperança da sociedade humana. Dedicai o melhor do vosso esforço à sua educação; e não penseis que alguma precaução é suficiente para mantê-los afastados de mestres e de escolas, onde a respiração pestilenta das seitas, é de temer. Sob a vossa orientação, pais, professores de religião e padres encarregues da formação cristã devem aproveitar qualquer oportunidade, no ensino Cristão, para prevenir os seus filhos e os seus pupilos sobre a natureza infame dessas sociedades, para que eles estejam alerta sobre os vários artifícios fraudulentos com que os seus mentores costumam ludibriar as pessoas. E, aqueles que ministram à mocidade formação religiosa, procederão com sensatez de os convencerem a tomar a firme resolução de nunca se envolverem com uma sociedade sem o conhecimento dos seus pais ou o aconselhamento do pároco da sua paróquia ou do seu director espiritual.




37. Nós sabemos bem, contudo, que a reunião dos nossos esforços não será de todo suficiente para arrancar estas sementes perniciosas do campo do Senhor, a não ser que o Mestre Celestial da vinha queira ajudar-nos piedosamente nos nossos esforços. Nós devemos, por isso, implorar-Lhe, com grande e angustiada preocupação, a ajuda que a necessidade e a gravidade do perigo, requerem. A seita dos Maçons mostra-se insolente e orgulhosa do seu sucesso, e parece que é como se não existissem limites para a sua tenacidade. Os seus seguidores, ligados por um emaranhado de maldades e por desígnios secretos, ajudam-se mutuamente e uns instigam os outros a ter audácia para a maldade. Um ataque tão veemente exige uma defesa proporcional – designadamente, que todos os homens de bem formem uma associação, o mais alargada possível, de acção e de oração. Nós suplicamos-lhes, por isso, encarecidamente, que permaneçam unidos e inamovíveis contra a força invasora das seitas; e com lamentos e súplicas, estendam as suas mãos a Deus, rogando para que o Cristianismo possa florescer e prosperar, que a Igreja possa usufruir da liberdade de que precisa, que aqueles que se desencaminharam possam voltar ao espírito recto, que com o tempo o erro dê lugar à verdade, e o vício à virtude. Vamos aceitar a ajuda e a intercessão da Virgem Maria, Mãe de Deus, para que ela, que desde o momento da sua Conceição submeteu Satanás, possa demonstrar o seu poder contra estas seitas maléficas, nas quais revive o espírito contumaz do demónio, bem como a sua indómita perfídia e dissimulação. Imploremos a Miguel, o príncipe dos anjos celestes, que expulsou o inimigo infernal; e a José, o esposo da Santíssima Virgem, e patrono celestial da Igreja Católica; e aos grandes Apóstolos, Pedro e Paulo, pais e campeões vitoriosos da fé Cristã. Com o seu padroado, e reunidos com perseverança na oração, nós esperamos que Deus possa, piedosamente e no momento apropriado, socorrer a raça humana, que se encontra cercada por inumeráveis perigos.

38. Como sinal dos bens celestiais e da Nossa benevolência, Nós carinhosamente concedemos ao Senhor, a vós, veneráveis irmãos, e ao clero e a todas as pessoas confiadas à vossa vigilância, a Nossa bênção apostólica.

Dada em Roma, junto a São Pedro, no vigésimo dia de Abril, 1884, no sexto ano do Nosso pontificado (in ob. cit., pp. 340-350).


Leo XIII



Notas:

(14) Ver Arcanum n. 81.

(15) Epistola 137, ad Volusianum, c.v., n. 20 (PL 33, 525).

(16) (17 de Setembro de 1882), na qual o Papa Leão XIII tinha recentemente glorificado S. Francisco de Assis por ocasião do sétimo centenário do seu nascimento. Nesta encíclica, o Papa apresentou a Ordem Terceira de S. Francisco como uma resposta Cristã aos problemas sociais da época. A Constituição Misericors Dei filius (23 de Junho de 1883) expressamente relembrou que a negligência com a qual as virtudes Cristãs são tidas é a causa principal dos males que ameaçam as sociedades. Confirmando a regra da Ordem Terceira e adaptando-a às necessidades dos tempos modernos, o Papa Leão XIII tencionava trazer de volta o maior número de almas à prática destas virtudes.






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