domingo, 8 de abril de 2012

Humanum Genus (i)

Escrito por Leão XIII





Sala da Meditação na ONU



«Em cerca de 300 anos, a maçonaria conseguiu formar e conformar a opinião pública do nosso tempo, inclusive a partir dos mais elevados estratos políticos. Um exemplo ou caso concreto: no jornal Levante (edição digital, n.º 2534, 12 de Dezembro de 2004, p. 2), um jornalista perguntou ao valenciano Ramón Torres, Grande Comendador ou presidente do Supremo Conselho do Rito Escocês Antigo e Aceite do Grau 33 para Espanha: "No Parlamento Europeu os mações estão em maioria?". Ramón Torres respondeu: "Sim, entre 60 e 70%". E, como é lógico, votam no Parlamento Europeu em sintonia com os seus princípios e a sua ideologia. Todos se lembram do resultado de algumas votações sobre questões sensíveis e de palpitante actualidade. Observe-se que a representação das esquerdas e das direitas políticas na União Europeia ocupa aproximadamente metade do arco parlamentar. A maioria dos eurodeputados mações pertence ao grupo socialista. A percentagem restante terá de ser enquadrada no Partido Popular Europeu. Uma percentagem de 10% de flutuação é demasiado ambígua. Porque não se diz o número exacto de mações que há no Parlamento Europeu e a sua identificação pessoal? Aí entra o segredo maçónico. Além disso, tem-se a impressão de que se trata de uma percentagem considerável.

(…) A infiltração da maçonaria na Turquia ajuda a explicar a complacência com que a sua proposta de adesão à União Europeia foi recebida por não poucos eurodeputados e políticos de vários quadrantes. Além disso, os quase 100 milhões de turcos – residentes na Turquia e emigrantes sobretudo na Alemanha – serviram e servirão de álibi ou justificação arrevezada para não mencionar as raízes cristãs da Europa na sua última Constituição, elaborada sob a direcção de Giscard d’Estaing, membro do Grande Oriente Francês (Grau 32), ou maçonaria irregular, a mais anticristã. Nega-se assim uma realidade histórica. Não se trata de um futuro hipotético, mas de um passado já irreversível. A Europa é uma realidade mais cultural do que geográfica. Ela é o que é por obra do cristianismo, unitário no primeiro milénio de existência da Igreja e com várias modalidades no segundo, sendo principalmente católica nos países meridionais, ortodoxa nos orientais, protestante nos nórdicos e anglicana numa das extremidades ocidentais (a Grã-Bretanha). Além deste, há dois ingredientes e factores da Europa admitidos por todos – o legado grego e romano – que conformaram a Europa depois da avalancha dos bárbaros, graças à Igreja Católica, que conservou e transmitiu o seu pensamento através das bibliotecas dos mosteiros, das universidades, etc., e que contribuiu, entre outros aspectos, para o renascimento da arte grega por meio do mecenato dos Papas.

(…) No edifício da ONU em Nova Iorque há uma sala não muito grande dedicada à oração dos crentes e à reflexão dos descrentes em termos religiosos. Por isso, segundo a mulata que serviu de guia do meu grupo hispano-falante, não há nela nenhum símbolo religioso: nem cruz cristã, nem meia-lua islâmica, nem roda budista, etc. Quando lhe perguntaram "E esta pedra, o que simboliza? Porque está aqui?", a sua reacção foi um tanto atrapalhada.

É a mesma que há no "templo" de todas as lojas maçónicas – a "Pedra Bruta", que se encontra à esquerda do altar onde estão o Livro Sagrado, o esquadro e o compasso. É uma pedra tirada da pedreira, sem desbaste, que simboliza o homem "profano", ou não mação. Dela se irá extrair a estátua representativa do "homem perfeito, ideal", ou seja, a "Pedra Cúbica", lisa, perfeitamente talhada, que simboliza o mação aperfeiçoado por meio dos ritos de iniciação, com os seus graus, e da ajuda dos "irmãos". Eis a inspiração da maçonaria: o antropocentrismo».


Manuel Guerra
(«A Trama Maçónica»).






CARTA ENCÍCLICA SOBRE A MAÇONARIA E OUTRAS SEITAS (20 de Abril de 1884)


1. O género humano, depois, de, por inveja do Demónio, se ter separado de Deus, criador e doador dos bens celestiais, ficou dividido em dois grupos diversos e opostos: um deles combate assiduamente pela verdade e pela virtude, e o outro por tudo quanto é contrário à virtude e à verdade.








Um, é o reino de Deus na terra, isto é, a verdadeira Igreja de Jesus Cristo, e aqueles que quiserem, com o seu coração, estar em união com Ela, como convém para a salvação, necessitam servir a Deus e a Seu Filho unigénito com todo o entendimento e toda a sua vontade; o outro é o reino de Satanás, sob cujo mando e poder se encontram todos aqueles que, seguindo o exemplo fatal do seu chefe e dos nossos primeiros pais, recusam obedecer à lei divina e eterna, e procedem incessantemente como se Deus não existisse ou mesmo contra Deus.

2. Santo Agostinho conheceu e descreveu, com nitidez, estes dois reinos como duas cidades, contrárias nas suas leis, por serem contrárias nos seus fins; e com uma brevidade subtil, descreveu a causa eficiente de cada uma com estas palavras: «Dois amores edificaram duas cidades: o amor de si mesmo até ao desprezo de Deus edificou a cidade terrena; o amor de Deus até ao desprezo de si mesmo, a celestial» (1). Ao longo dos tempos, as duas cidades lutaram, uma contra a outra, com armas e com meios distintos, ainda que nem sempre com o mesmo ímpeto, nem com o mesmo ardor. Nos nossos dias, contudo, todos os que defendem o mal parecem estar unidos, e lutar com a maior veemência, guiados ou ajudados pela sociedade, firmemente organizada e implantada, a que chamam dos Maçons. Não escondendo mais os seus intentos, rebelam-se com a maior audácia contra a majestade de Deus, maquinam aberta e publicamente para a ruína da Santa Igreja, e isto com o propósito de despojar, se pudessem, os povos da Cristandade das bênçãos obtidas por Jesus Cristo, nosso Salvador.

Chorando Nós estes males, e sendo o Nosso ânimo movido pela caridade, sentimo-Nos constrangidos a clamar incessantemente ao Senhor: foi aqui que os teus inimigos vociferaram; e ergueram a cabeça os que te odeiam. Contra o teu povo, determinaram maus conselhos, discorreram contra os teus santos. Vinde, disseram, e façamo-los desaparecer entre as gentes (2).

3. Perante um perigo tão iminente, no meio de tão atroz, e porfiada, guerra contra o nome cristão, é Nosso dever indicar o perigo, apontar os adversários, e com o melhor na Nossa autoridade, resistir aos seus intentos e artifícios, para que não pereçam eternamente aqueles cuja salvação Nos está confiada, e que o reino de Jesus Cristo cuja defesa Nos está confiada, não só permaneça firme e inteiro, mas possa ser acrescentado com novos aumentos por todo o orbe.


ADMOESTAÇÕES DOS PONTÍFICES ROMANOS

4. Os Pontífices Romanos Nossos antecessores, na sua vigilância incessante pela salvação do povo Cristão, perceberam bem depressa quem era, e o que queria, este inimigo capital, logo que surgiu das trevas da sua conjura oculta; e tocando o clarim avisaram os príncipes e os povos para que não se deixassem enganar pelas artimanhas e ciladas preparadas contra eles.

5. O primeiro aviso do perigo foi dado no ano de 1738 por Clemente XII (3), cuja Constituição foi confirmada e renovada por Bento XIV (4). Pio VII (5) seguiu os passos de ambos, e Leão XII, na sua constituição apostólica Quo Graviora (6), reuniu as leis e decretos dos antecessores sobre esta matéria, e ratificou-os e confirmou-os para sempre. No mesmo sentido, falaram Pio VIII (7), Gregório XVI (8), e por várias vezes, Pio IX (9).


6. Logo que a natureza e o propósito da seita maçónica foi claramente descoberto pelos indícios manifestos das suas acções, pela investigação das suas causas, pela publicação das suas leis, e dos seus ritos e comentários, frequentemente complementados pelos testemunhos pessoais daqueles que estavam no segredo, esta Sé Apostólica denunciou a seita dos Franco-Mações, e proclamou publicamente que a sua natureza era contra a lei e o direito, era não menos perniciosa à Cristandade do que ao Estado; e proibiu todos de se filiarem na sociedade com as penas que a Igreja não aplica senão a pessoas com culpas excepcionais. Os sequazes, indignados com isto, tentaram eludir ou enfraquecer, em parte, com desprezo, em parte com calúnias, a força daquelas censuras, acusando os sumos Pontífices que as decretaram, quer de ter excedido os limites da moderação, quer de terem procedido injustamente. Foi por essa maneira que procuraram eludir o peso e a autoridade das Constituições apostólicas de Clemente XII, Bento XIV, Pio VII e Pio IX (10); Ainda que, dentro da própria sociedade, tenha havido homens que reconheceram inequivocamente que os Pontífices Romanos actuaram no seu pleno direito, de acordo com a doutrina e a disciplina Católica. Os Pontífices receberam o mesmo assentimento, e em termos vigorosos, de muitos príncipes e chefes de governo, que cuidaram, quer de denunciar a sociedade maçónica à Sé Apostólica, quer de condená-la eles próprios promulgando leis para esse efeito como aconteceu, por exemplo, na Holanda, Áustria, Suíça, Espanha, Baviera, Sabóia e noutras partes de Itália.


CONFIRMAÇÃO DOS FACTOS

7. Mas, o que importa acima de tudo é que o curso dos acontecimentos veio confirmar a previsão dos Nossos antecessores. Da sua solicitude previdente e paternal, não resultou sempre e em todos os lugares o resultado desejado; e isto, quer devido à dissimulação e astúcia de alguns que eram agentes activos na iniquidade, quer devido à leviandade impensada dos demais, daqueles a quem cumpria vigiar de maneira diligente estes assuntos. Daqui resultou que, no espaço de um século e meio a seita dos Maçons cresceu a uma velocidade difícil de prever, ao ponto de se ter tornado capaz, pela audácia e por meios fraudulentos, de se infiltrar em todos os níveis do Estado, parecendo ser o poder dominante. Uma mudança e um progresso tão rápidos causaram na Igreja, no poder dos príncipes e no bem-estar dos povos, os efeitos nefastos que haviam sido previstos pelos Nossos predecessores. Chegou-se a uma situação tal que razões graves para recear, não certamente pela Igreja – cujo fundamento é firme bastante para que não possa ser derrubado pelo esforço de homens – mas daqueles Estados nos quais prevalece o poder, quer da seita de que temos vindo a falar, quer doutras seitas não dissemelhantes que se comportam como suas discípulas ou subordinadas.

8. Por estas razões Nós logo que ascendemos à cabeça da Igreja vimos e sentimos claramente que era Nosso dever usar da Nossa autoridade contra um mal tão grave. Nós temos por diversas vezes, sempre que surge uma ocasião, atacado certos pontos cruciais do saber nos quais se faz sentir de maneira particular a influência perversa das opiniões Maçónicas. Assim, na Nossa carta encíclica, Quod Apostoli Muneris, Nós tratámos de refutar as monstruosas doutrinas dos socialistas e dos comunistas; depois, noutra que começa por “Arcanum”, Nós cuidámos de defender e de explicar a noção verdadeira e genuína da vida doméstica, de que o casamento é a fonte e origem; e novamente, na que começa por “Diuturnum” (11), Nós descrevemos o ideal do poder político em conformidade com os princípios da sabedoria cristã, que está maravilhosamente em harmonia, por um lado, com a ordem natural das coisas, e por outro lado, com o bem-estar tanto dos príncipes como das nações. Agora é Nossa intenção, a exemplo dos Nossos predecessores, tratar expressamente da própria sociedade maçónica, de toda a sua doutrina, dos seus propósitos, e da sua maneira de pensar e de agir, a fim de aclarar cada vez mais o seu poder maléfico, e de fazer tudo o que Nós pudermos para evitar o contágio dessa praga fatal.



ORGANIZAÇÃO «SECRETA»



9. Há vários corpos organizados que, embora difiram no nome, no cerimonial, na forma e na origem, estão tão ligados entre si pela comunidade de propósito e pela semelhança das suas ideias principais, que formam de facto um só com a seita dos Maçons, a qual actua como uma espécie de centro de onde todos partem e aonde todos retornam. Hoje, estes já não aparentam querer permanecer na penumbra; para isso, têm os seus encontros à luz do dia e perante os olhos do público, e publicam os seus próprios jornais; no entanto, observados atentamente, verifica-se que ainda conservam a natureza e os hábitos das sociedades secretas. Há muitas coisas que são mistérios sobre os quais é uma regra aceite escondê-los com todo o cuidado, não somente dos estranhos, mas, também, de muitos dos seus próprios membros; como os seus desígnios secretos e últimos, os nomes dos seus chefes supremos, e certas reuniões secretas e reservadas, bem como as suas decisões, e os meios e processos para as pôr em prática. Esta é, sem dúvida, a razão da diferença manifesta que existe entre os membros no que diz respeito aos direitos, cargos e privilégios respectivos, das diferenças de ordens e graus existentes entre eles, e da severa disciplina a que estão submetidos.

Os candidatos são obrigados a prometer – isto, por meio dum juramento especial – que nunca darão a conhecer a ninguém, em nenhum momento, nem por qualquer meio, os nomes dos filiados, as suas senhas ou quais os assuntos tratados. Assim, com uma aparência externa, e com um estilo de dissimulação que não varia, os Maçons, como os Maniqueus de outrora, procuram, na medida do possível, esconder-se e não ter por testemunhas senão os seus próprios associados. Como meio de dissimulação, apresentam-se como homens de cultura e investigadores que estão associados com a finalidade de aprender. Eles falam do seu empenho por um aperfeiçoamento cultural, e do seu amor pelos pobres; e afirmam que o seu único desejo é o melhoramento possível das condições dos povos, e partilhar com o maior número possível de pessoas os benefícios da sociedade civil. Ainda que estes propósitos sejam verdadeiros, eles não constituem a totalidade dos seus fins. Acresce que, para se filiarem, os candidatos devem jurar obediência cega aos seus chefes e mestres com uma submissão e uma fidelidade irrepreensíveis, e estar prontos a obedecer ao menor sinal da sua vontade; e se desobedecerem, submetem-se às mais duras penas e à própria morte. De facto, quando se pensa que alguém traiu os deveres da seita ou desobedeceu às suas ordens, não é raro que a pena seja infligida com tal temeridade e eficiência, que muitas vezes, o assassino não chega sequer a ser acusado e julgado pelo seu crime.

10. Mas dissimular e querer permanecer escondidos; unir os homens como escravos por meio de laços apertados, e sem uma razão aparente; utilizar homens escravizados à vontade de outros por um qualquer meio arbitrário; utilizar homens de mão para perpetrar crimes de sangue, garantindo-lhes a impunidade – tudo isto é uma monstruosidade que a própria natureza rejeita. Seja como for, a razão e a própria verdade revelam claramente que, a sociedade de que estamos a falar, está em antagonismo com a justiça e com a honradez natural. E isto torna-se ainda mais claro, com a ajuda de outros argumentos, aliás bem evidentes, que provam que a sua essência colide com a virtude natural. Porque, por maior que seja a habilidade dos homens para se esconderem e a sua capacidade para mentir, é impossível impedir que os efeitos duma causa revelem, de alguma maneira, a própria natureza intrínseca da causa que os originou. “A árvore boa não pode dar maus frutos, nem a árvore má dar bons frutos” (12). Hoje, a seita maçónica produz frutos que são perniciosos e de sabor bem amargo. Porque, de tudo aquilo que Nós mostrámos com clareza, se vê que o seu propósito principal e último, é a aniquilação de toda a ordem religiosa e política que nasceu do Cristianismo, e a sua substituição por uma nova situação conforme com a suas ideias, cujos fundamentos e leis serão elaborados com uma base meramente naturalista.

Cúpula de São Pedro


11. Aquilo que Nós dissemos, e continuamos a dizer, deve aplicar-se à seita dos Maçons entendida genericamente, e abrangendo também as associações que com ela estão geminadas e confederadas, mas não os membros individuais que delas fazem parte. Podem existir pessoas, e não serão poucas, que, conquanto não se livrem da culpa de se terem envolvido com tais associações, nunca participaram nos seus actos criminosos nem estão conscientes do fim último que aquelas prosseguem. Da mesma maneira, algumas sociedades conexas talvez não aprovassem as conclusões exageradas, o que só aconteceu por estas decorrerem dos princípios comuns, se não causasse horror a sua própria infâmia. Algumas destas, mais do que uma vez, deixaram-se levar por circunstâncias de tempo e de lugar, tanto porque procuram coisas menos importantes do que as outras costumam procurar, ou do que elas próprias gostariam de atingir. Não é por esta razão, no entanto, que devem ser consideradas independentes da federação maçónica, pois a federação maçónica deve ser julgada, não só pelas coisas que fez ou para que contribuiu, mas pelo conjunto dos princípios que professa (in José António Ullate Fabo, O Segredo da Maçonaria Desvelado, Diel, 2009, Apêndice D, pp. 325-332).


Notas:

(1) De Civ. Dei, 14, 28 (Pl. 41, 436).

(2) SI 82, 2-4.

(3) Const. In Eminenti, 24 de Abril de 1738.

(4) Const. Providas, 18 de Maio de 1751.

(5) Const. Ecclesiam. a Jesu Christo, 13 de Setembro de 1821.

(6) Const Dada a 13 de Março de 1825.

(7) Enc. Traditi, 21 de Maio de 1829.

(8) Enc. Mirari, 15 de Agosto de 1832.

(9) Enc. Qui Pluribus, 9 de Novembro de 1846, pronunciamento Multiplices inter, 25 de Setembro de 1865, etc.

(10) Clemente XII (1730-40); Bento XIV /1740-58); Pio IX (1846-78). Ver números 79, 81, 84.

(11) Conc. Trid. Ses 6 de iustif. C. 1.

(12) Mt. 7, 18.







Continua


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