Escrito por Maurício Guinguand
«(...) Inocêncio III acusou os Templários de cultivar a "doutrina dos demónios", que equivalia simplesmente às ciências sobrenaturais. Sobre os Templários, corriam boatos de magia e de necromancia. Segundo alguns, eles teriam praticado a Alquimia, e mesmo que não se tratasse, provavelmente, disso, é, todavia, um facto que algumas esculturas dos monumentos e túmulos dos Templários apresentam sinais astrológico-alquímicos, por exemplo, o pentagrama, juntamente com vários símbolos dos planetas e dos metais. Encontrámos já elementos do género no ciclo do Graal. As referências astrológicas abundam em Wolfram von Eschenbach. Para decifrar os textos que continham os mistérios do Graal "lidos nas estrelas", Kot teve de aprender os caracteres mágicos. O "Rei Pescador" é, por vezes, descrito como um mago que pode assumir, a seu bel prazer, muitas formas. A contrapartida do próprio Artur é o mago Merlin. Na Morte Darthur, diz-se que foi com a ajuda dos seus poderes mágicos, que sir Balin superou a prova da espada. Recordar-se-á, enfim, a tradição, segundo a qual o próprio Graal teria sido trazido para a terra e guardado pelos "anjos caídos", sinónimo daqueles "demónios", a quem Inocêncio III atribui a doutrina dos Templários, ou dos demónios, aos quais os textos celtas cristianizados assimilaram os Tuatha dé Danan, a raça do alto, ou de Avalon, detentora das ciências divinas. O pentagrama, que figura num túmulo templário, é um sinal tradicional da soberania sobrenatural; num texto inglês do Graal - Sir Gawain and the green Knight - é precisamente o herói do Graal que o recebe como emblema e que, noutros textos do mesmo ciclo, ele consagra a Espada do Graal, para que se não quebre e para que a sua virtude fique intacta».
Julius Evola («O Mistério do Graal»).
«O Santo Graal é o cálice que serviu na última Ceia e no qual José de Arimateia recolheu o sangue e a água que escorreram da ferida aberta, no flanco de Cristo, pela lança do centurião Longin. Reza a lenda que o cálice teria sido levado para a Grâ-Bretanha por Nicodemo e pelo próprio José de Arimateia. Veja-se aqui uma aproximação entre a tradição céltica e o Cristianismo. Com efeito, o cálice desempenha um papel muito importante na maior parte das tradições antigas, nomeadamente na tradição céltica; frequentemente o símbolo do cálice e o símbolo da lança encontram-se associados, sendo em certa medida, complementares um do outro (...).
O que traduz mais claramente o significado essencial do Graal é o que nos é dito acerca da sua origem: teria sido talhado pelos anjos numa esmeralda caída da fronte de Lúcifer aquando da sua queda».
René Guénon («O Rei do Mundo»).
«Vindos da África do Norte, os Árabes invadiram a Península em 711, com um exército de doze mil homens, comandado por Tárique. A invasão procedeu de sul para norte da Península Ibérica, mas foi detida nas Astúrias, pelos últimos representantes do reino visigótico. Entre o Islão e a Cristandade manteve-se, durante séculos, um intercâmbio linguístico, cultural e moral que a história política, quando reduzida ao simbolismo militar, não deixa perceber. Certo é, porém, que proveniente das cidades do Oriente, como do Cairo e de Bagdade, a cultura islâmica se tornou notabilíssima pela divulgação de textos gregos. Escreve Renan: "Os árabes aceitaram a cultura grega, tal como lhes foi transmitida. Os livros que mais exactamente exprimem esta transmissão foram a Teologia de Aristóteles, um apócrifo que é de crer que haja sido composto por um Árabe, e esse livro De Causis cujo carácter indeciso manteve em suspenso toda a escolástica. A filosofia árabe conservou para sempre esta marca de origem: a influência dos Alexandrinos ressurge a cada passo". Os Árabes utilizavam principalmente os textos de Porfírio e de Alexandre de Afrodísia».
Álvaro Ribeiro («Filosofia Escolástica e Dedução Cronológica»).
O CAVALEIRO GUALDIM
O ano de 1156 marca o regresso da Terra Santa de uma personagem que na altura já era um herói nacional da terra portuguesa e que, depois da sua morte, passará a ser legendário.
Gualdim Pais nasceu em Bragança, mas as suas origens são bastante imprecisas. Foi aluno no Mosteiro de Santa Cruz, em Coimbra, e muito jovem ainda ficou ao serviço do futuro rei, Afonso Henriques, que ajudou juntamente com os seus irmãos de armas, os cavaleiros Mem Ramires e Martim Moniz, em todas as batalhas travadas contra os Mouros com vista à conquista do Reino. Evidenciou-se na tomada de Santarém, em 1147, e, mais tarde, na conquista de Lisboa, em 1149, antes de partir para a Palestina, onde participou no cerco de Gaza, em 1153.
Os seus dotes de guerreiro e chefe aumentam ainda mais o prestígio que lhe é conferido pelas qualidades notáveis de combatente e de organizador. A estada no Oriente aperfeiçoa uma experiência militar já confirmada e, quando regressa da cruzada, Gualdim Pais sabe perfeitamente qual a missão que o espera. Não tarda a receber o título de Grão-Mestre provincial da Ordem dos Templários em Portugal, sendo assim confirmada oficialmente a missão para que fora destinado.
Alguns anos antes, enquanto Afonso Henriques se preparava para travar a famosa Batalha de Santarém, São Bernardo deu-lhe a conhecer que, em sonho, vira a Virgem Santa revelar-lhe a vitória do rei.
Imediatamente, Afonso Henriques promete oferecer a Clairvaux as terras e subsídios necessários para a construção de uma grande abadia, caso obtenha essa vitória decisiva. A revelação do sonho torna-se realidade e o rei mantém a promessa: São Bernardo vai pessoalmente a Alcobaça, acompanhado por cinco monges arquitectos encarregados de delimitarem os terrenos necessários para a fundação, cuja primeira pedra será colocada pelo próprio soberano.
Mas a implantação de um mosteiro em Alcobaça necessita de forte protecção militar, de que são encarregados os Templários, que já possuem alguns castelos na região. No entanto, a construção do
Mosteiro de Alcobaça não poderá iniciar-se antes de estar perfeitamente garantida a segurança total dos bens cistercienses.
Afonso Henriques doa então à Ordem dos Templários todas as terras situadas entre Santarém e
Tomar. Gualdim Pais é encarregado de elaborar a cintura defensiva que rodeia os bens de Clairvaux e que ao mesmo tempo reforça a protecção das linhas portuguesas contra as incursões árabes.
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Castelo de Almourol
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Tomar será a chave estratégica que permitirá opor resistência a qualquer ataque vindo da fronteira andaluza e vigiar a estrada de Coimbra, artéria vital do Reino. No dia 1 de Março de 1160, Gualdim Pais inicia a construção do Castelo de Tomar, reforçado um pouco mais tarde, em 1171, pelo
Castelo de Almourol, edificado no meio do Tejo, e pelo Castelo de Bode, no rio Zêzere, castelos estes que são dois bastiões de vigilância das águas e dos territórios. A protecção completa-se com os castelos de
Pombal, Penela, Castelo Branco, Idanha e Cera.
Perto de Óbidos, reconquistada em 1148, é erigido um bastião portuário com a finalidade de suster qualquer ataque marítimo. O porto de Serra de El-Rei desapareceu totalmente. Invadido por aluviões, está agora situado a dez quilómetros para o interior.
Tomar, símbolo templário, corresponde simultaneamente aos imperativos ditados pelas exigências estratégicas da política territorial e religiosa contra os infiéis. Mas a charola e a cúpula de oito arcos ogivais da capela octogonal, réplica do Rochedo de Jerusalém, contêm o Tabernáculo de Ouro e a cidadela passa a ser a guarda dos mistérios da génese templária, germe fecundo de um futuro brilhante.
Devido às suas qualidades pessoais de bravura, à sua acção incansável e às suas realizações, Gualdim Pais representa o tipo ideal do templário cuja memória permanece fervente em terra portuguesa. Representa até o iniciado perfeito, capaz de trabalhar com presciência para o futuro do seu país; os seus sucessores limitar-se-ão a aperfeiçoar a obra que iniciou.
Quando regressa da Terra Santa, passaram-se trinta e quatro períodos de trinta e quatro anos desde o início da era cristã e o destino dá-lhe também trinta e quatro anos para levar a cabo a missão de que foi pessoalmente incumbido. Terá consciência destes factos? As viagens enriqueceram os conhecimentos astronómicos que já tinha e a formação templária que possuía levou-o a dedicar-se a preliminares já confirmados antes de se lançar no amadurecimento de projectos mais longínquos.
Durante a construção do Castelo de Tomar, utilizaram pedras romanas contendo inscrições, mas tiveram o cuidado de as colocar de forma a distinguirem-se das que têm inscrições novas. Procederam à escavação de um subterrâneo que ligava o castelo à Capela de Nossa Senhora das Oliveiras. Tanto a entrada como a saída são assinaladas por meio de poços, hoje em dia parcialmente atulhados. Um aqueduto verdadeiramente colossal conduz ao castelo a água de Pegões.
Em frente do miradouro foi construída uma igreja a que foi dado o nome tradicional de São João Baptista – posição do Sol no solstício -, que fica também defronte do campanário octogonal.
Na fachada foi esculpido um baixo-relevo. Dois animais de tamanhos diferentes, colocados de cada lado do motivo central, estão virados um para o outro. O maior representa um cão, indicando a Constelação do Cão Maior, cuja estrela principal é Sírio ou Sothis. O outro, um leão, está relacionado com a constelação do mesmo nome e com a sua estrela Régulo. Quanto à figura central trata-se de uma taça estilizada, relacionada com a Constelação da Taça. O ângulo que parte do centro é de trinta e quatro graus, idêntico ao ângulo formado por esta constelação.
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Sirius
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Perto do baixo-relevo, para a direita, encontra-se uma pedra bastante pesada com uma cabeça de esfinge, formando um relevo bastante pronunciado, que nos recorda que é conveniente consultá-la para podermos compreender a significação da placa.
Nela encontramos, evidentemente, todas as indicações necessárias e até outras (9).
A Constelação do Leão forma com a da Taça e a estrela Sírio, do Cão Maior, um ângulo de trinta e quatro graus à meia-noite real do dia 20 de Janeiro. Esta data coincide com a festa de D. Sebastião (10), um dos santos padroeiros dos Templários. A São Sebastião foram dedicadas inúmeras construções templárias e, em França, perto das pequenas quintas ou bastiões templários, há frequentemente um santuário que lhe foi consagrado. Em Portugal, existe a mesma tradição e, nas proximidades das fortalezas, encontra-se geralmente uma aldeia ou um lugarejo com o nome de São Sebastião. É nomeadamente o caso de Tomar, Ourém, etc.
A estátua majestosa de Gualdim que foi erigida em 1960, por ocasião do oitavo centenário da fundação templária, está virada para a fachada da igreja de São João Baptista e para a esfinge enigmática. Mas o olhar da estátua segue a direcção do subterrâneo que desce do castelo até ao rio Nabão.
A prova da sabedoria do famoso templário não ficaria completa se não fosse sublinhado que ao situar a sua finalidade em Tomar, esse ponto junto do mar – para além do qual tem esperança de conseguir levá-la -, não faz mais do que retomar tradições anteriores, celtas e visigóticas.
Mas os fins cistercienses e templários não teriam sido realizáveis sem os elementos de conhecimento obtidos junto dos infiéis árabes, contra os quais todos os esforços foram conjugados.
Tal como os que os precederam, os Árabes limitaram-se a transpor de este para Oeste, e segundo uma linha paralela, as mesmas tradições. O sentido da escrita adoptada por uns e outros confirma aliás as modalidades diferentes de um processo idêntico.
O europeu que olha para o sul escreve no sentido do movimento aparente do Sol, enquanto o árabe, que olha para o norte, traça os seus sinais em sentido inverso para reproduzir a mesma marcha solar.
Os Visigodos, e mais tarde os Templários, trouxeram para França e para a Península Ibérica o conhecimento relativo ao fluido magnético. Os Árabes trouxeram, para os mesmos pontos, o conhecimento da alquimia, complemento do primeiro.
A sua fusão, sob o céu da velha Europa do Oeste, só é possível de forma natural em épocas privilegiadas.
Outros tempos virão que permitirão a outros lugares (11), mais longínquos, possuir estes privilégios. Novas matérias e novos conhecimentos virão substituí-los e necessitarão, por seu turno, de um complemento indispensável. Opostos pela origem, serão complementares na essência.
Para se renovar, a tradição solar europeia tinha necessidade da meia-lua com que poderá aperfeiçoar-se como acontece com qualquer alquimia completa.
E tudo fica função de tempos e de ciclos.
UMA FÉNIX QUE RENASCE
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Castelo de Tomar
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Depois de 1314 a
Ordem Templária iria, como a Fénix (12), renascer das próprias cinzas. O rei de França espera ter conseguido dominar os seus perigosos rivais. Um único soberano se recusa a obedecer às instâncias de Filipe, o Belo, e a Ordem martirizada é muito bem acolhida em terra portuguesa. Em Portugal beneficia de grande prestígio junto do rei
D. Dinis, que sem dúvida está a par de alguns segredos.
Soberano esclarecido, fundador da célebre
Universidade de Coimbra, D. Dinis interessa-se pelas artes e ciências e não pode deixar de favorecer todos os estudos e investigações que se efectuem sob a sua égide. O seu espírito largo pode certamente pressentir as vias de realização do destino brilhante que um século mais tarde foi traçado para o seu país.
Saberá talvez que, para além do cabo Carvoeiro da costa lusitana, num ângulo de trinta e quatro graus, existe um continente secreto possuidor de riquezas imensas? O primeiro porto que encontramos na costa do Brasil, caravelas – um nome característico -, conduz a uma região de minas fabulosas. Com efeito, a província de Minas Gerais é um reservatório inesgotável de chumbo, cobre, mercúrio e prata, com reservas ilimitadas que seriam suficientes para abastecer durante séculos todos os fornos alquímicos de transmutação.
Sob o signo de um recomeço triplo, de uma renovação tripla, começou cerca do ano de 1327, trinta e nove – ou três vezes sete – períodos de trinta e quatro anos depois do início da era, um movimento tendente a estabelecer verdadeiras ligações com esta terra possuidora de minas tão providenciais.
Mesmos sem serem ligações regulares ou frequentes, permitem no entanto precisar os dados e serão suficientes para as necessidades do momento.
Estas expedições não constituem uma verdadeira inovação. Limitam-se a confirmar o que a tradição refere relativamente às tentativas das civilizações antigas. A crermos nas fontes hiperbóreas, os antepassados dos Normandos já tinham explorado as costas da América do Norte e ignora-se que outras explorações tenham feito, explorações que estão assinaladas nos
mapas de Piri Reis.
As correntes marítimas que partem da costa lusitana são extremamente favoráveis para alcançar o Brasil.
E São Sebastião virá mais uma vez em auxílio dos seus fiéis.
No dia de São Sebastião, à meia-noite, a estrela Arcturo nasce no Leste, a Constelação do Touro põe-se no Oeste, a do Leão está no sul e, num ângulo de trinta e quatro graus, vê-se, para Oeste, a Constelação Argo (13).
Não será um convite para tentar a aventura por mar?
Nos nossos dias, em que as viagens interplanetárias passaram da ficção científica às realidades quotidianas, as estrelas continuam à mesma distância mas desempenham na exploração moderna do Cosmo um papel muito importante porque são faróis que ajudam a colocar sondas cósmicas em órbita.
Foi assim que depois do lançamento da «Mariner IV» e de um voo de dezasseis horas sobre uma órbita geocêntrica, os técnicos iniciaram manobras de orientação. A antena da «Mariner» captou primeiro as radiações da estrela Markab da Constelação de Pégaso e depois as de Alderarã, a estrela mais brilhante da constelação do Touro. Mas como estas estrelas não podiam guiar a viagem da sonda, a «Mariner» recebeu ordens para procurar a estrela Canopo da Constelação Argo no céu austral. A manobra foi bem sucedida e a «Mariner IV» atingiu o seu objectivo: o planeta Marte (14).
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Marte, o planeta vermelho
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Graças ao precioso concurso dos intrépidos navegadores da Estremadura, os Templários lançam-se à aventura. O Câncer indica o ponto que é preciso ultrapassar no trópico para continuar a navegar no ângulo de trinta e quatro graus com Sírio, até que Oríon, que faz com Sírio um ângulo de dezasseis graus, indique o fabuloso país dos metais.
E dentro do maior segredo, os navios deixam a Europa, hasteando talvez, por sobre as velas, a grande cruz templária da Ordem dos Cavaleiros de Cristo, fundada em Portugal em 1320. Entre eles encontra-se a maior parte dos refugiados do Templo, expulsos de França, que em Tomar abraçaram a nova Ordem.
E tudo se faz em silêncio sob a protecção de um soberano que soube dar ao seu país servidores eminentes que o ajudarão a vir a ser uma das maiores glórias do século XVI.
A cosmogonia templária permitirá, com efeito, alargar os antigos conhecimentos de navegação baseados no ângulo de observação de Vénus. Embora os meios de orientação não tivessem mudado, a interpretação do céu, como oráculo, estava consideravelmente amplificada.
Foi assim que, ignorando os novos dados e continuando a navegar guiado por Vénus, Cristovão Colombo, que pretendia seguir a mesma rota que os Portugueses atingiu não o Brasil mas as Antilhas. Apesar de todos os esforços e estratagemas, Cristovão Colombo não conseguiu penetrar no segredo transmitido aos Portugueses pelos Templários. O genovês intriguista chegou ao ponto de casar com a filha do famoso navegador português Bartolomeu Perestrelo, cujo apelido denota a ciência das estrelas. Uma vez genro do fidalgo português, Colombo alimentava a esperança de descobrir um segredo. Tinha projectos grandiosos e queria provar que podia alcançar o imenso continente das Índias seguindo uma rota marítima para poente, evitando assim o longo périplo terrestre pelo nascente.
Quando ofereceu os seus serviços ao soberano de Portugal, D. João II, a expansão marítima portuguesa estava no auge. A oferta do genovês foi recusada. Com efeito, desde 1415 são feitos os maiores esforços para encontrar a «Rota das Especiarias» por via marítima directa e a ideia de contornar o continente africano pelo sul já germinou no espírito do Infante D. Henrique, o Navegador.
Em 1434, Gil Eanes passou além do Cabo Bojador, então limite do mundo conhecido, e, em 1488, Bartolomeu Dias dobrou o Cabo das Tormentas, imediatamente baptizado Cabo da Boa Esperança.
Para fundar a Escola Náutica de
Sagres, o Infante D. Henrique socorreu-se dos astrólogos, astrónomos, cartógrafos e navegadores mais conhecidos da época. Na Escola Náutica de Sagres aperfeiçoaram o astrolábio e o quadrante, inaugurando oficialmente a era da navegação astronómica. A cartografia beneficiou igualmente de alguns melhoramentos. Depois dos portulanos mediterrânicos, surgem as cartas do Atlântico que, mesmo quando não indicam as latitudes, demonstram a superioridade dos Portugueses neste campo.
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Rosa-dos-Ventos na Fortaleza de Sagres
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É construído um novo tipo de navio – a caravela – que alcançará o sucesso de todos conhecido. Aliás não está provado que a «Santa Maria» de Cristovão Colombo fosse uma caravela. Com efeito nunca a designou por outro nome que não fosse o de nau ou nave.
De qualquer modo este estrangeiro ambicioso não é necessário e não há qualquer desejo de o ver durante mais tempo interessado em certos segredos, suficientemente preciosos para serem guardados o mais tempo possível. Uma vez repelido, o
genovês ficou ao serviço de Fernando de Aragão e de Isabel de Castela e, depois de um êxito parcial em 1492, sucesso que tornou oficial a descoberta da América, Portugal e Espanha assinaram o Tratado de Tordesilhas que determinava a partilha das novas terras ainda por descobrir. O soberano português deixa para os Espanhóis tudo o que fica a poente de um meridiano traçado a trezentos e setenta léguas marítimas das ilhas de Cabo Verde para ficar com tudo o que se situa a nascente.
Esta escolha seria suficiente para confirmar que os Portugueses conheciam efectivamente, e nessa data, a existência do Brasil. Aliás serão obrigados a anunciar este facto oficialmente em 1500. Mas as circunstâncias em que foi feita a «descoberta» do Brasil por Pedro Álvares Cabral não são claras e tudo nos leva a pensar que se tratou de uma história elaborada para servir as necessidades em causa.
O empreendimento de Colombo foi provavelmente financiado pelas ordens militares espanholas, Cavaleiros de Santiago, Ordens de Calatrava ou de Alcântara. Os Templários que fugiram de França não se dirigiram para Espanha, onde as pressões de Filipe, o Belo, teriam mais efeitos do que em Portugal. Também não foram para Inglaterra. Os seus conhecimentos secretos irão para Portugal, onde serão aproveitados da melhor maneira.
Os Templários tinham seguido o caminho das estrelas, tal como o fizeram, um século mais tarde, os Portugueses na rota das Índias e do Brasil.
No Sudão, os Portugueses procurarão ouro e escravos mas também o Império de Prestes João.
Durante mais de quatro séculos os espíritos tinham estado fascinados pelas histórias contadas a respeito da existência de um país fabuloso.
As primeiras indicações remontam aos meados do século XII. Em 1177, o Papa Alexandre III, o rei de França e o Imperador de Bizâncio foram destinados de uma missiva extraordinária vinda de uma pessoa que pretendia ser descendente da rainha do Sabá e dos Reis Magos e estar à testa de um país maravilhoso de que fornecia pormenores muito curiosos.
Afirmava ser o Rei dos Reis, tão numerosas eram as suas cidades. São governadas por quarenta e dois reis e, ao enumerar inúmeras maravilhas, incluindo características verdadeiramente surpreendentes da fauna do seu estranho Império, censura os falsos Templários que são, afirma, «inimigos da fé». Pede ao Papa e a rei de França que lhe enviem cavaleiros nobres que pertençam à «verdadeira geração de França».
Apesar das investigações feitas, não foi possível reunir indicações precisas sobre Prestes João nem sobre o seu império. Foram enviados vários emissários mas nenhum cumpriu a sua missão. Uns procuraram em direcção ao nascente, para além do mundo muçulmano, chegando ao ponto de identificar Prestes João com Gengiscão (15); outros situam o seu império perto da Núbia e nesse caso Prestes João podia muito bem ser descendente de um dos Reis Magos.
Utilizando o tradicional ângulo templário em relação ao Sol nascente, repartiram à conquista de um novo Tosão de Ouro e os Portugueses, como todos os audaciosos, quererão tentar alcançá-lo.
Nos meados do século XV, mesmo os mapas mais antigos indicam, com ilustrações exóticas, o Império de Prestes João num ponto que geralmente se associa ao Paraíso. O descendente da rainha do Sabá é representado em trajes orientais, com um grande turbante vermelho, sentado, de pernas cruzadas, diante de um castelo com várias torres.
Conduzidos por D. Cristovão da Gama (16), chegaram à Núbia em 1520. No entanto não encontram precisamente aquilo que esperavam. É na Etiópia, em Gondar, que constroem um castelo e ajudam, um pouco mais tarde, a suster a invasão muçulmana. Dizimados, os sobreviventes fundiram-se com a população etíope.
Fim triste e desolador de um mito multissecular!
Julga-se que os próprios ocidentais foram a fonte desta miragem resplandecente.
A célebre missiva de Prestes João manifesta, com efeito, uma acrimónia nítida em relação à Ordem dos Templários, cujos membros são considerados cristãos falsos. Este facto pode levar-nos a pensar que poderia haver uma certa inveja para com uma Ordem que se desenvolveu demasiado rapidamente e cujas procuras esotéricas, provavelmente pouco secretas de início, contribuíram para despertar certas suspeitas ou mesmo receios.
Também podia ser uma espécie de queixa anónima destinada a denunciar as astúcias de São Bernardo e dos clunistas. Os termos verdadeiramente esotéricos da carta de Prestes João levam-nos a pensar numa mensagem dissimulada, destinada a iniciados, como o fez mais tarde Rabelais, que também era monge. A carta pode portanto ter nascido num convento desejoso de obter conhecimentos nascidos do Evangelho e adaptados por São João, enquanto os princípios a que os seus – ou o seu – autores se referiam parecem estar ligados aos textos apócrifos de São Tomás (in
ob. cit., pp. 59-65 e 109-116).
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São Bernardo («O Cavaleiro da Virgem»).
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Notas:
(9) A relação do ângulo de quarenta graus, resultante da divisão do círculo em nove partes iguais.
(10) Miliciano romano que, antes de ser decapitado, sofreu o suplício de ser trespassado por flechas.
(11) A primeira pilha atómica foi posta ao serviço da Universidade de Chicago em 2 de Dezembro de 1942. Pio XII declarou que o ano de 1942 estava sob a protecção de Alberto, o Grande, beatificado em 1652, morto em 1280. Desde essa data tinham decorrido 39 (3 vezes 13) períodos de dezassete anos.
(12) Ave fabulosa que, segundo a lenda, vivia nos desertos da Arábia. Quando pressentia a morte, construía um ninho de plantas aromáticas que o Sol incendiava e nele se deixava arder. Das suas cinzas nascia um verme que se transformava numa nova Fénix.
(13) Também chamada Navio Argos
(14) Lançado a 28 de Novembro de 1964, dia de Sant'iago, o satélite sobrevoou o planeta Marte no dia 15 de Junho de 1964, dia de Sant'Iago, o Maior.
(15) Que viveu efectivamente entre 1154 e 1226.
(16) Quarto filho de Vasco da Gama.
Continua