quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

A Arte da Guerra

Escrito por Sun Wu Tzu




















Espada Ming













«"A Arte da Guerra" exerceu uma profunda influência na história da China e no pensamento militar do Japão; foi a fonte das teorias estratégicas de Mao Tse-Tung e a doutrina táctica dos exércitos chineses. Através dos mongol-tártaros, as ideias de Sun Tzu foram transmitidas à Rússia e tornaram-se uma parte substancial da sua herança oriental. "A Arte da Guerra" é assim uma leitura obrigatória para quem deseje ter actualmente um conhecimento mais profundo da grande estratégia destes dois países».

S. B. Griffith


«Toda a política da União Soviética, desde o fim da segunda guerra mundial, assim como todas as actividades do comunismo internacional, estão baseadas nos imperativos de ordem estratégico-militar. O axioma de Clausewitz "a guerra é a continuação da política por outros meios", transformado por Lenine em "a política é a continuação da guerra por outros meios", encontrou a sua última versão na definição estalinista: "A política é a preparação da guerra". O axioma, assim actualizado, encontra a sua plena expressão na chamada "guerra fria", desencadeada pela URSS contra o mundo livre, desde o discurso pronunciado por Estaline, em Fevereiro de 1946, no qual o dirigente soviético proclamava abertamente que as conquistas realizadas pela URSS durante a segunda guerra mundial representavam somente uma etapa do programa da Revolução Mundial que a União Soviética e o comunismo internacional tinham que realizar, no caminho traçado por Marx e Lenine. Desde então, os dirigentes soviéticos fizeram da política soviética e do comunismo internacional um instrumento de preparação da futura guerra mundial, que, segundo os seus cálculos, tem de dar ao comunismo o domínio do mundo inteiro».

Alejandro Botzàris («África e o Comunismo»).


«Despotismo e comunismo apoiados no instinto da raça, tal era já o ideal dos velhor teóricos moscovitas, porque o comunismo não existe apenas onde reina o colectivismo mas em toda a parte onde um déspota dispõe arbitrariamente da comunidade - e o estalinismo não se distingue nesse aspecto do czarismo. A Rússia foi sempre comunista, porque nunca reconheceu o direito de propriedade nem o da pessoa humana, de que a propriedade não é mais do que o desenvolvimento e a aplicação. Com efeito, para o russo a pessoa não existe. Somente conhece o orgulho colectivo e esse orgulho aspira impor ao mundo um deus russo, um senhor russo, uma religião russa. Por isso não é possível separar o comunismo da ideia russa, a qual se confunde com um implacável  pendor imperialista que nunca foi tão bem expresso como pelo lema dos eslavófilos: "Esmaguemos tudo o que não seja russo". O programa nacional comunista não tem outro objectivo. Mais próximo do absolutismo tártaro do que do marxismo, o bolchevismo é apenas um instrumento de ataque contra o resto do mundo que ele odeia e quer corroer para melhor o destruir. Por isso esforça-se em fecundar o nacionalismo latente nos povos asiáticos que se encontram em estado de espectação, de profetismo, de milenarismo, precursor das grandes erupções migratórias, e que a universal comoção da guerra exaltou».

Henri Massis («A Nova Rússia»).









«A liderança do Partido Comunista atribuiu ao KGB a responsabilidade de embarcar numa campanha de Perestroika dos roubos em massa de imóveis públicos e recursos naturais, e encarregou-se de despachar rublos para o estrangeiro, vender ilegalmente grandes quantidades de matérias-primas por divisas fortes e branquear essas divisas no Ocidente. Semanas após o colapso soviético, uma comissão parlamentar de investigação relatou o seguinte:

[...] compreendendo ser irrevogável a perda das prioridades então dominantes e ideológicas na sociedade, o Politburo do Comité Central do PCUS aprovou várias resoluções secretas no sentido de esconder directamente propriedades e recursos monetários, efectivamente acumulados, em estruturas comerciais às custas da nação. A partir daí, a todos os níveis da hierarquia do partido, registou-se a criação de um grande número de bancos do partido, empreendimentos conjuntos, sociedades anónimas, em 1990 e 1991.

Uma resolução do Comité Central intitulada "Medidas Urgentes para Organizar a Actividade Comercial e Económica Estrangeira do Partido", aprovada em 1990, pormenoriza como o Partido pretendia desde o início esconder as suas holdings na embrionária economia de mercado. A resolução exigia acções imediatas, incluindo:

- Elaboração de propostas para criação de algumas estruturas económicas novas e "provisórias" (fundações, associações, etc.), com o mínimo de ligações "visíveis" junto do Comité Central, que se tornariam focos de economia "invisível" do partido;






- Elaboração imediata de planos para utilizar organizações anónimas que escondessem ligações directas ao partido quando fosse lançada a sua actividade económica e comercial estrangeira; sobretudo, a possibilidade de fusão com joint ventures já em funcionamento, consórcios internacionais, etc., através do investimento de capital;

- Planeamento das condições e métodos de criação de um banco controlado pelo Comité Central, com direito a conduzir operações em divisas fortes, investimentos das reservas em divisas fortes do partido em empresas internacionais controladas por amigos do partido;

- Criação de uma empresa de consultoria, com estatuto de entidade jurídica, mas sem ligações directas ao aparelho do Comité Central, para a organização prática da cooperação económica e oferta de serviços de corretagem para a actividade económica no estrangeiro de diversas organizações do partido e empresas comerciais de partidos irmãos».

Daniel Estulin («Os Senhores da Sombra»).





Portugal não ama a guerra,
Sentado à sua lareira;
Mas, se querem apagar-lha,
Pega o Fogo à terra inteira!

António Correia de Oliveira («Mare Nostrum»).








«Lisboa, 28 de Dezembro - Há quatro ou cinco anos que se encontra preso na República da Guiné o sargento-aviador português Lobato. Raptado pelos terroristas, estes têm-no conservado preso com a conivência de Sekou Touré. Preso conjuntamente com criminosos de delito comum, subalimentado, em condições de suprema degradação, e tudo isto num clima que derrota os mais animosos. Tudo tenho tentado para libertar aquele nosso sargento: a Cruz Vermelha, a Comissão Internacional de Juristas, o governo francês, as Nações Unidas. Tudo em vão. Há dias, as autoridades guineanas disseram que estavam prontas a libertar Lobato se este assinasse um compromisso: se solto, não voltaria a combater em África. Pois Lobato respondeu que não só não assinaria como declarou que, se liberto, logo pediria à autoridade militar portuguesa para tornar ao combate. Parece que perante tanto patriotismo e tanta coragem moral, as autoridades da Guiné ficaram estupefactas, e impressionadas. Falei no assunto ao general Gomes de Araújo. Este tomou o caso muito a sério, e reuniu os chefes de Estado-Maior das três armas: por unanimidade, resolveram que se não podia autorizar aquele militar a tomar tal compromisso, nem mesmo o governo tem poderes para o permitir. Assim o transmiti para Paris. Mas que notável português, e que exemplo para os meninos de cá que vão a cursilhos, são pacifistas, têm teses, são muito superiores, são muito evoluídos, e consomem-se em discutir com um embevecimento provinciano se a Pátria deve ou não existir. Lobato, serenamente, anonimamente (pois ele não sabe que nós sabemos da sua atitude), não tem teses, não está propriamente a par da consciência universal - e está pronto a morrer».

Franco Nogueira («Um Político Confessa-se. Diário: 1960-1968»).





A Arte da Guerra


(...) Toda a guerra é baseada no engano.

Assim, quando está capaz, simula incapacidade; quando activo, simula inactividade.

Quando perto, faz parecer que está longe; quando longe, que está perto.

Oferecemos ao inimigo engodo para o atrair; simulamos desordem e atacamo-lo.

Quando se concentra, preparamo-nos contra ele; onde ele é forte, evitamo-lo.

Devemos enraivacer o seu general e confundi-lo.

Devemos simular inferioridade e encorajar a arrogância dele.

Devemos conservá-lo sob tensão e esgotá-lo.

Quando ele está unido, devemos dividi-lo.




Devemos atacar onde ele não está preparado; deslocar-nos quando ele não nos espera.

(...) A vitória é o principal objectivo da guerra. Se tal for muito adiado, as armas ficam rombas e o moral deprimido.

(...) Quando o exército se entrega a campanhas prolongadas, os recursos do Estado não serão suficientes.

Quando as nossas armas estiverem rombas e o entusiasmo abatido, a nossa força exausta e o tesouro gasto, os governos vizinhos irão tirar partido da nossa dificuldade para agir. E embora tenhamos sábios conselheiros, nenhum conseguirá elaborar bons planos para o futuro.

Assim, embora tenhamos ouvido falar da pressa imprudente na guerra, ainda não vimos uma operação inteligente que fosse prolongada.

Nunca houve uma guerra prolongada com a qual um país tenha beneficiado.

(...) A razão pela qual as tropas matam o inimigo é porque estão enfurecidas.

Eles pilham o inimigo porque desejam riqueza.

(...) Devemos tratar bem os prisioneiros e cuidar deles.

A isto chama-se «vencer uma batalha tornando-nos mais fortes».

Assim, o que é essencial na guerra é a vitória, não as operações prolongadas. Deste modo, o general que compreende a guerra é o ministro do destino do povo e juiz do destino da nação.

Geralmente na guerra a melhor política é capturar o Estado intacto; arruiná-lo é inferior a isso.

Capturar o exército inimigo é melhor do que destruí-lo; capturar um batalhão, uma companhia ou um esquadrão de cinco homens é melhor do que destruí-los.

Obter cem vitórias em cem batalhas não é a capacidade suprema. Subjugar o inimigo sem lutar é a capacidade suprema.

Assim, o que é de suprema importância na guerra é atacar a estratégia do inimigo.

A segunda melhor é desfazer as suas alianças.

A terceira melhor é atacar o seu exército.






(...) Há cinco circunstâncias segundo as quais a vitória pode ser prevista:

Aquele que sabe quando pode combater e quando não pode sairá vitorioso.

Aquele que sabe usar forças pequenas e grandes sairá vitorioso.

Aquele cujas fileiras estão unidas com determinação sairá vitorioso.

Aquele que é prudente e prepara uma emboscada ao inimigo que não o é, sairá vitorioso.

Aqueles cujos generais são competentes e não sofrem a interferência do soberano sairão vitoriosos.

(...) «Devemos conhecer o inimigo e conhecermo-nos a nós mesmos; em cem batalhas nunca estaremos em perigo».

«Quando somos desconhecedores do inimigo mas nos conhecemos a nós mesmos, as nossas hipóteses de vencer ou perder são iguais».

«Se somos desconhecedores do nosso inimigo e de nós próprios, estaremos certamente em perigo em todas as batalhas».

Antigamente, os guerreiros tornavam-se invencíveis e esperavam pelo momento de vulnerabilidade do inimigo.

A invencibilidade depende de nós próprios; a vulnerabilidade do inimigo depende dele.

Assim, aqueles que são hábeis na guerra podem tornar-se invencíveis mas não podem garantir que o inimigo seja realmente vulnerável.

Assim, diz-se que podemos saber como vencer, mas não necessariamente consegui-lo.

A invencibilidade reside na defesa; a possibilidade de vitória, no ataque.

Defendemos quando a nossa força é inadequada; ele ataca quando é abundante.

(...) Antigamente, os que eram considerados hábeis na guerra conquistavam um inimigo facilmente conquistado.

E assim as vitórias obtidas por um mestre da guerra não lhe trazem reputação pela sua sabedoria nem mérito por bravura.



Sun Tzu



Porque ele obtém as suas vitórias sem cometer erros. «Sem cometer erros» significa que o que quer que ele faça garante a sua vitória; ele conquista um inimigo já derrotado.

Assim, o comandante hábil assume uma posição na qual não pode ser derrotado e não perde qualquer oportunidade para dominar o seu inimigo.

Por isso, um exército vitorioso obtém as suas vitórias antes de procurar o combate; qualquer exército destinado à derrota combate na esperança de vencer.

Aqueles que são hábeis na guerra cultivam o Tao e preservam as leis, sendo por isso capazes de formular políticas vitoriosas.

(...) Geralmente, em combate, devemos usar a força normal para atacar; e a extraordinária para vencer.

(...) As notas musicais são apenas cinco em número mas as suas melodias são tão numerosas que não podemos ouvir todas.

As cores primárias são apenas cinco em número mas as suas combinações são tão infinitas que não podemos visualizá-las todas.

Os sabores são apenas cinco em número mas as suas misturas são tão variadas que não podemos saborear todos.

Em combate, há apenas forças normais e extraordinárias, mas as suas combinações são ilimitadas; ninguém as pode compreender todas.

(...) A aparente confusão é produto de boa ordem; a aparente cobardia, de coragem; a aparente fraqueza, de força.






A ordem ou a desordem dependem da organização; a coragem ou cobardia, das circunstâncias; a força ou a fraqueza das disposições.

Assim, aqueles que são hábeis em fazer o inimigo movimentar-se, fazem-no através da criação de uma situação à qual eles se terão de sujeitar; atraem-no com algo que ele aceitará garantidamente, e com o engodo preparado, esperam-no em força.

Assim, o comandante hábil procura na situação e não a exige aos seus subordinados.

Ele escolhe os seus homens e eles exploram a situação.

(...) Geralmente, aquele que ocupa primeiro o campo de batalha e espera pelo seu inimigo, está descontraído; aquele que chega depois e se apressa a combater, está esgotado.

Assim, aqueles que são hábeis na guerra trazem o inimigo para o campo de batalha e não são para lá levados por ele.

Aquele que consegue que o inimigo venha por iniciativa própria fá-lo oferecendo-lhe alguma vantagem. E aquele que consegue evitar que ele venha, fá-lo perseguindo-o.

Quando o inimigo está descontraído, temos de conseguir cansá-lo; quando bem alimentado, temos de o fazer passar fome; quando está a descansar, temos de o fazer mover-se.

Devemos aparecer em pontos onde ele tem de se apressar; e deslocarmo-nos rapidamente onde ele não nos espera.

Para garantir que tomamos o que atacamos, atacamos onde o inimigo não está protegido. Para garantir que defendemos, defendemos um local que o inimigo não ataca.

Assim, contra aqueles que são hábeis no ataque, um inimigo não sabe onde defender; contra especialistas na defesa, o inimigo não sabe onde atacar.

Subtil e insubstancial, o especialista não deixa rasto; divinamente misterioso, ele é inaudível. É assim o mestre do destino do inimigo.

Aquele cujo avanço é irresistível mergulha nas posições fracas do inimigo; aquele que durante a retirada não pode ser perseguido desloca-se tão rapidamente que não pode ser dominado.






(...) O inimigo não pode saber onde pretendo combater. Porque se ele não souber onde pretendo atacar, ele tem de estar preparado em muitos locais. E quando ele se prepara em muitos locais, aqueles com que tenho de combater em qualquer local, serão poucos.

(...) Aquele que tem poucos efectivos tem de se preparar contra o inimigo; aquele que tem muitos obriga o inimigo a preparar-se contra ele.

(..) Nada é mais difícil do que a arte da manobra. O que é difícil na manobra é tornar o caminho sinuoso no caminho mais directo e transformar o infortúnio em vantagem.

Assim, marchamos por um caminho indirecto e desviamos o inimigo atraindo-o com um engodo. Para isso, temos de  partir depois dele e de chegar antes dele. Aquele que for capaz de fazer isso, compreende a estratégia do directo e do indirecto.

(...) Há cinco características que são perigosas no carácter de um general.

Se é temerário, pode ser morto;

Se é cobarde, é capturado;

Se é irascível, podemos fazer troça dele;

Se tem um sentido de honra demasiado delicado, podemos caluniá-lo;

Se é de natureza compassiva, podemos atormentá-lo.

Ora estes cinco traços de carácter são defeitos graves num general, e em operações militares são calamitosos.

A ruína do exército e a morte do general são resultados inevitáveis destas deficiências. Devem ser ponderados aprofundadamente.

(...) Há cinco tipos de agentes secretos que se podem utilizar. São os nativos, os internos, os duplos, os liquidáveis e os flutuantes.

Quando estes cinco tipos de agentes estão a trabalhar simultaneamente e ninguém conhece os seus métodos de trabalho, são chamados «A Divina Meada» e são o tesouro de um soberano.

Agentes nativos são agentes do país inimigo que nós empregamos.






Os agentes internos são oficiais inimigos que nós empregamos.

Agentes duplos são espiões inimigos que nós empregamos.

Agentes liquidáveis são espiões nossos a quem são dadas deliberadamente informações falsas.

Agentes flutuantes são aqueles que regressam com informações (in «A Arte da Guerra», Evergreen, 2007).


Nenhum comentário:

Postar um comentário