sábado, 7 de dezembro de 2019

"Foram homens do Partido Comunista Português, companheiros ou ex-companheiros do general Delgado, quem planeou e fez executar o assassínio"

Escrito por Henrique Galvão











«Ao fim da noite, Miguel Urbano Rodrigues manda, num telegrama de oito folhas, a primeira reportagem a bordo do Santa Maria, onde descreve um ambiente de tranquilidade, animado pelo jantar de despedida, e cita Galvão para revelar que toda a operação foi montada com apenas 22 mil bolívares, cerca de 6 mil dólares (57 mil euros a preços de 2010).

A seguir escreve uma proclamação ao povo português, a defender uma revolução baseada nas reformas agrária e urbanística: "Os nossos lemas serão: a terra para os que nela trabalham e a casa para os que nela vivem. Liquidaremos o latifúndio, como liquidaremos a especulação imobiliária. (…) Estamos longe de Lisboa e do ditador. Mas a todos nos anima a certeza inabalável de que lá entraremos como vencedores para implantar a revolução portuguesa do século XX, a revolução que abrirá também para o Ultramar as portas da liberdade, do progresso e da independência.» Henrique Galvão, Velo e Sottomayor elogiam o texto e este segue para os jornais O Estado de S. Paulo e Portugal Democrático

Pedro Jorge Castro («O Inimigo N.º 1 de Salazar. Henrique Galvão, o líder do assalto ao Santa Maria e do sequestro de um avião da TAP»).


«(...) Parece-me irrefutável, ante o realismo da época em que vivemos e da situação a que o regímen nos arrastou, que a tragédia não se evitará sem que a Consciência portuguesa se decida e o país cumpra, na liberdade evidentemente, um programa rígido e insofismável de profundas reformas económico-sociais adaptáveis aos seus caracteres específicos, digamos, ao que na sua índole, tradições e personalidade histórica é imperativo e, como tal, indeformável; isto, naturalmente, em conformidade com o momento histórico que atravessamos e em vista à integração europeia. Pelas deformações que tem sofrido e especulações a que se prestam, neste mesmo momento histórico que atravessamos, repugna-me um pouco servir-me das expressões "direita" e "esquerda", que só me parecem ter algum sentido quando inseparáveis do conceito de liberdade. Não é fácil, porém, no momento actual, ser inteligível sem as usar. Assim, atribuindo-lhes a correspondência com duas posições mentais ou políticas, inseparáveis do conceito de liberdade e só conforme esse conceito explicáveis, em que a Direita representa a posição das correntes conservadoras e a Esquerda a posição das correntes progressistas - acentuarei que me parece irrefutável a necessidade de a Consciência portuguesa se decidir por um programa adequado, mas rígido de esquerda.

Parece-me igualmente não menos irrefutável que as forças conservadoras que hoje dominam o país numa ditadura de direita, mesmo vencidas amanhã pela abolição do regímen, e, por outro lado o conservadorismo democrático, liberal, cuja posição e boa democracia se tem de reconhecer como legítima e, de certo ponto de vista, útil, se oporão à indispensável execução de um tal plano - as forças vencidas tentando impelir o país para o regresso a uma ditadura de direita, as democráticas favorecendo, porventura inconscientemente, esse desígnio. O mesmo realismo não poderá deixar de reconhecer quanto o pensamento esquerdista, no momento actual, é susceptível de intoxicação demagógica, correntes como são no mundo as tentativas de o impor, menos pela força das ideias do que pelo recurso à demagogia, com o seu estendal de paixões desordenadas; e correríamos então o perigo de cair numa ditadura de esquerda, que além de não realizar os fins do pensamento esquerdista (nenhuma ditadura realiza os fins que pretendem justificar o seu exercício), favoreceria, por reacção contra a supressão da liberdade, o extremo totalitário oposto.

Ora, o drama português, ante estas realidades que nos parecem irrefutáveis - digamos, o complexo de dificuldades que teremos de dominar e vencer, para evitar a tragédia pelo exercício adequado de um pensamento esquerdista irrefutavelmente indicado - consiste no seguinte: declarado, manifestado, não existe um pensamento esquerdista autónomo; existirá sim, uma ansiedade geral, um sentimento, que nas suas intuições e esperanças, esperam esse pensamento e o seu exercício; existirão também os valores capazes de o constituir e seguir, uma vez libertos das mordaças e cadeias que os tornam inoperantes e colocados sem vendas perante os verdadeiros problemas nacionais. O que entre nós se manifesta, e com todas as dificuldades que a ditadura opõe à expressão dos pensamentos estranhos à sua ortodoxia, é menos um pensamento esquerdista autónomo do que um inconformismo esquerdista de militantes políticos mais ousados, menos contidos pelo medo. As excepções que constituem um António Sérgio, hoje irrecuperavelmente enfermo, e um Cunha Leal, são muito raras. Nesta bruma, movimenta-se, oferecendo e propagando menos o seu figurino social do que a sua política demagógica, o Partido Comunista e os seus simpatizantes com todas as vantagens dessa falta de um pensamento português autónomo - falta que ele pretende suprir. Na situação assim criada pelas forças repressivas do regímen, não é o comunismo em si que me amedronta - e tanto menos que ainda não vi (refiro-me ao comunismo prático, tal como no mundo se tem aplicado, e se exerce, e não ao comunismo teórico) como enquadrá-lo entre os sistemas de esquerda; antes me parece, pelo seu cunho essencialmente ditatorial, pela sua noção aristocrática de classe dominante e com a sua burocracia de cúpula dominando um capitalismo de Estado, um exemplo flagrante de uma concepção da extrema-direita. O que me amedronta no comunismo e o torna perigoso, é a sua política inseparável do seu figurino social, as suas violências, a sua maneira demagógica de procurar os seus fins e a fatalidade ditatorial que esses fins trazem consigo. Quer dizer, o que me amedronta, como português e defensor de um pensamento esquerdista, é a falsidade do socialismo, do esquerdismo comunista - e, ante a falsidade, a falta de um pensamento esquerdista português, autónomo, que se lhe oponha. Ora, a parte mais activa do pseudo-esquerdismo português militante está intoxicada desse comunismo prático cujas estratégias políticas a influenciam mais do que os seus programas sociais:

Se para suprir essa falta, se torna necessária a inspiração de um figurino estranho adequadamente adaptado - e compreende-se a necessidade; se parece indicado que da experiência alheia tentemos colher as lições mais proveitosas - então eu cuido que, na situação em que nos encontramos, melhores fontes e melhores exemplos encontraremos, sem perigo para a liberdade essencial, no trabalhismo inglês e no socialismo escandinavo. Demais, tratando-se de sistemas onde se tem praticado com êxito a acção temperadora de um conservadorismo esclarecido e muito útil contra os perigos de um progressismo precipitado no tempo. Ontem como hoje, o Tempo só respeita o que com seu auxílio se realizar.»

Henrique Galvão («Emergências do Problema Político Português», publicado no «Boletim da FAPLE» de Junho de 1963).






«Relativamente aos problemas relacionados exclusivamente com Portugal, e recordando o lema que adoptara, - "Pelo Povo, com o Povo, para o Povo" -, permito-me, para ilustrar a sua atitude clássica, referir a resposta que lhe deu quando a Maria Helena procurou aperceber-se da sua precisa posição política, de qual o quadrante ideológico em que se movimentava.

O General [Humberto Delgado] compreendeu-a. E satisfez-lhe a curiosidade:

- Minha Senhora. Se eu não tivesse consciência de que o importante, para já, é libertar o povo português e os povos das colónias, diria que era mais maoísta do que os próprios maoístas. Simplesmente, tenho consciência dessas responsabilidades. E tenho consciência de que as ideologias prejudicam a solução do problema nacional.»

Henrique Cerqueira («ACUSO! O CRIME», 2.º Vol.).


«(…) A Frente Patriótica de Libertação Nacional, criada em 1962 pela I Conferência das Forças Anti-Fascistas Portuguesas, é hoje o único movimento unitário organizado que, no nosso país, luta contra a ditadura fascista e colonialista de Salazar.

A FPLN, é um movimento antifascista e anticolonialista aberto a todos os que desejam lutar pela liberdade do povo e a independência da Pátria, e conta ainda com a adesão dos três únicos partidos políticos que, nas difíceis condições da clandestinidade, lutam contra a ditadura salazarista: o Movimento de Resistência Republicana e Socialista, o Movimento de Acção Revolucionária e o Partido Comunista Português.

(…) Tendo em conta as condições existentes em cada momento e em cada caso, a FPLN adopta as formas de luta mais diversas: legais e ilegais, pacíficas e violentas. As reclamações, as manifestações, as greves, preparam-se e desenvolvem-se na base do trabalho organizado clandestino e do aproveitamento das possibilidades legais e semi-legais de actuação. Ao mesmo tempo que se prepara para a luta armada, a FPLN promove a acção nas organizações legais de massas e não despreza as possibilidades de mobilização das energias populares em torno das eleições fascista.

(...) A Conferência, como consta da resolução sobre o problema colonial, sublinhou a importância da luta contra a guerra colonial, tanto através da acção política geral, como pela intensificação, quer em Portugal quer nas colónias, da resistência e das revoltas contra a guerra colonial, das deserções e de acções dirigidas directamente contra o aparelho militar da guerra colonial designadamente as que podem partir das iniciativas dos militares das forças expedicionárias, como sabotagem de armamentos, de transportes e destruição de material militar.»

III CONFERÊNCIA DA FRENTE PATRIÓTICA DE LIBERTAÇÃO NACIONAL


«A partir das eleições de 1958 e sobretudo depois da saída do General para o Brasil, criam-se, activam-se ou desenvolvem-se, pelo mundo fora onde quer que existam colónias de emigrantes portugueses, pequenas organizações de oposição ao regime salazarista. Mas, simultaneamente - tal como acontecera no interior do país com as J.A.P. (Juntas de Acção Patriótica) que proliferaram em 1962 e 1963 - verifica-se o assalto aos cargos de direcção para elementos ou adeptos do Partido Comunista Português que, como já fizera com o MUD (Movimento de Unidade Democrática) e com o MUD Juvenil, procura chamar a si o controlo da maioria dessas organizações com o objectivo de fiscalizar, condicionar, submeter ou orientar a sua actividade ou actuação, aos interesses do Partido e a orientação global à linha do seu Secretariado. A unidade para a acção, tantas vezes invocada pelo Partido, obedecia, também neste caso, ao seu conceito de democracia: a ditadura, que diz do proletariado! Em vez de aceitar que essa unidade resultasse da aliança das diferentes organizações de diversas tendências em torno de um programa de acção de que pudesse resultar a queda da ditadura (em torno de um programa para a acção armada, portanto, dado que só esse tipo de acção poderia atingir aquele objectivo) o Partido Comunista tentou impor, sempre, a transformação dessas organizações em organizações unitárias que, a breve trecho, outra coisa não eram que sucursais do próprio partido. E a unidade transformava-se, assim e na prática, numa acção anti-unitária. Ora, se bem que uma tal política se possa compreender à luz daquele conceito de democracia (?!), ele não basta para justificar toda a actividade do partido, orientada, ao longo de décadas, contra todos os grupos e organizações que se propuseram a acção armada, ainda que fossem marxistas-leninistas. Na verdade, esse conceito de democracia levou o Partido Comunista a tomar uma atitude contra a luta armada, enquanto condições sócio-económicas e a conjugação de forças, nos planos interno e internacional, lhe não garantissem o acesso ao poder, a sucessão ao regime fascista. E é à luz dessa atitude "anti-luta armada", que a actividade do Partido Comunista tem de ser vista.

Todos nós sabemos, hoje, no que, depois do 25 de Abril, resultou a unidade - palavra de ordem desde então constantemente invocada. No momento em que se impunha a unidade nacional em torno de um programa de recuperação, a orientação e a acção do Partido Comunista (e não só a dele!) fariam com que essa palavra de ordem redundasse na divisão de um povo que, embora unido por cinco décadas de ditadura salazarista, não podia aceitar que, a essa, se seguisse uma outra ditadura, embora, de sinal contrário.



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Outro e maior inconveniente resultaria ainda da atitude do Partido. Ao infiltrar-se nessas organizações e ao proceder ao assalto dos seus cargos directivos, o Partido Comunista, para obstaculizar e sabotar toda a actividade para-revolucionária que se propusessem, viu-se obrigado a adoptar um comportamento e uma linguagem, que permitiriam, por sua vez, a infiltração de elementos provocadores ligados à PIDE, a cujos objectivos - impedir a luta - serviam, perfeitamente, àqueles comportamento e argumentação. Ora, como a identificação desses agentes e provocadores, só era - e só é - possível através da sua linguagem e comportamento, e, sobretudo, através dos seus resultados negativos, essa identificação tornou-se impossível, uma vez que os resultados, comportamento, linguagem e objectivos, deles e do PC, se confundiam. Esta situação, genial e sistematicamente aproveitada pelo regime e pelas forças de repressão, impossibilitaria completamente o trabalho para-revolucionário dessas organizações, essencial para a adopção e  arranque dum plano de acção revolucionária consequente. Sem os recursos, que lhe deviam advir da actividade das referidas organizações, o General e os revolucionários portugueses ver-se-iam, por total fatal de recursos, impossibilitados de agir.

Dentre as muitas organizações existentes, citaremos algumas:


Argentina - Democratas Portugueses da Argentina.


Brasil - Movimento Nacional Independente, do Rio e S. Paulo;

União Democrática Portuguesa;

Unidade Democrática Portuguesa;

Centro Republicano Português;

Grupo de Portugueses Democratas do Recife;

União das Mulheres Portuguesas; etc.


Canadá - Portuguese Canadian Democratic Association, de Toronto;

Movimento Democrático Português de Montreal.


Venezuela - Junta Patriótica Democrática;

Movimento Democrático para a Libertação de Portugal e Colónias.


Estados Unidos - Committee Pro-Democracy in Portugal;

Portuguese Democratic Clube, etc.


Uruguai - União das Mulheres Portuguesas;

Junta Patriótica Portuguesa;

Associação dos Democratas Portugueses de Montevideo;

Portugal em Sud-América.


Argélia - Junta da Acção Patriótica da Argélia;

Frente de Acção Popular;

Frente Patriótica de Libertação Nacional;

Frente Portuguesa de Libertação Nacional.


Marrocos - Portugueses Livres de Marrocos;

Frente Portuguesa de Libertação Nacional;

União Democrática Portuguesa, de Casablanca;

Delegações dos Portugueses Livres de Marrocos, em Casablanca, Larache, Tânges e Meknes.


Inglaterra - Council for Freedom in Portugal.


França - Comité pró-Liberdade em Portugal;

Frente Portuguesa de Libertação Nacional;

Junta de Acção Patriótica.


Bélgica - Frente Portuguesa de Libertação Nacional.


Holanda - Frente Portuguesa de Libertação Nacional.


Alemanha - Frente Portuguesa de Libertação Nacional.


Senegal - Frente Portuguesa de Libertação Nacional.


Itália - Comité Anti-Fascista Português;

Frente Portuguesa de Libertação Nacional.



Henrique Cerqueira («ACUSO! O CRIME», 2.º Vol.).




Álvaro Cunhal e Humberto Delgado aquando da reunião da Frente Patriótica de Libertação Nacional.



«Numa conferência em São Paulo, em Junho de 1962, o capitão [Henrique Galvão] defende que há três formas de derrubar o governo português: uma sublevação popular; uma invasão de forças formadas no estrangeiro; ou a morte de Salazar, através da violência. Nesta fase a relação com os outros adversários do regime que estão no Brasil torna-se cada vez menos próxima. Mas ainda são feitas várias tentativas para uma reconciliação com Humberto Delgado, que também regressa ao Brasil depois do assalto ao quartel de Beja, em 1962. Realiza-se uma reunião num templo maçónico no Rio de Janeiro, onde se sugere a constituição de uma comissão de conciliação para voltar a juntar o capitão (que não é maçon) e o general (que é grão-mestre do Grande Oriente Português no Exílio).

Mas a reaproximação é impossível. Humberto Delgado chega a promover um abaixo assinado entre os oposicionistas portugueses para pedir a expulsão do seu ex-amigo do Brasil. Nas cartas para os mais próximos, o general passa a referir-se ao capitão como "fiteiro", "traidor" e "gangster". E publica uma carta nos jornais onde, a pretexto de denunciar a falta de seriedade de Galvão, o acusa de ter roubado um móvel de madeira de pau-santo, quando era um jovem militar. É um boato que persegue o capitão desde o início do Estado Novo. Galvão não perdoa e interpõe um processo contra o general, mas o caso não chega a julgamento e acaba por ser arquivado pela justiça brasileira. Não espanta por isso a forma como o capitão se refere ao seu rival da oposição, numa carta a Maria de Lurdes, em Dezembro de 1963:

"O Delgado saiu para sempre do Brasil. Ainda bem. Foi ter com os comunistas e portou-se por cá como um macaco num armário de louça. Esse está liquidado de vez e receio que venha a acabar muito mal. Deixa atrás de si o espectáculo de um estado patológico de indignidade política e moral que só se explica com casos de loucura.

R. I. P."

Catorze meses depois, quando os corpos de Humberto Delgado e da amante Arajaryr Campos são encontrados em Badajoz, Henrique Galvão limita-se a fazer uma dedução dos factos para publicar n'O Estado de São Paulo uma violenta acusação: "Foram homens do Partido Comunista Português, companheiros ou ex-companheiros do general Delgado, quem planeou e fez executar o assassínio. (…) Para bons comunistas, o facto de o fazerem desaparecer seria, como para qualquer totalitário, a menor das coisas."»

Pedro Jorge Castro («O Inimigo N.º 1 de Salazar. Henrique Galvão, o líder do assalto ao Santa Maria e do sequestro de um avião da TAP»).


«Antes do "25 de Abril" um livro incómodo era silenciado por um organismo de repressão chamado "Comissão de Censura". Era a censura de cúpula. De cima para baixo.

Durante o "Gonçalvismo" um livro incómodo era silenciado por um "organismo" fantasma a que chamei na altura, por oposição ao primeiro, "censura de base"; eram as células do PCP actuando nas tipografias, nas distribuidoras e nas próprias editoras.

No actual equívoco governativo a censura chama-se chantagem. Demissões em jornais estatizados, ameaças de não pagamento de salários, promessas de proteccionismo, "ordens" à Polícia Judiciária para apreender os livros, tudo isto aconteceu nos primeiros dias após a edição de o "Acuso!", de Henrique Cerqueira. Os próprios - os que sofreram as ameaças e ouviram as promessas - que denunciem esta nova forma de censura se quiserem ajudar a salvar a Democracia. Tanto quanto sei, a Polícia Judiciária deu uma lição de dignidade democrática: recusou proceder à apreensão do livro porque isso era - e é - ilegal.

Nada acontece por acaso.

Quando o secretário de Estado da Informação, Manuel Alegre, declara à Imprensa que a edição do livro "Acuso!" é um "caso de polícia" para, logo a seguir, afirmar que ainda não tinha lido o livro, não está apenas a ser irresponsável: está a ser fascista.

(...) Quando, porém, o público anónimo (o povo) assalta as livrarias e esgota 54.000 livros em 12 dias - apesar de toda a campanha desenvolvida contra o "Acuso!" - não está a ser fascista: está a demonstrar a sua fome de Democracia, de Justiça e de Dignidade.

(…) O editor não é, obviamente, o autor do livro. Mas, dada a natureza das acusações nele contidas e face à memória causada na Opinião Pública, pareceu-me elementar que - íntima e pessoalmente - eu próprio acreditasse na razão de ser desta obra. Decidi, assim, fazer algumas investigações por conta própria: as suficientes para perceber que algo de tenebroso impede o Inquérito público à morte do general Humberto Delgado, e as necessárias para poder afirmá-lo tranquilamente. Cabe aqui, portanto, fazer algumas revelações ao leitor:

(…) Outras investigações - mais complexas mas que envolveram pessoas perfeitamente identificadas e identificáveis num inquérito público - levaram-me a concluir que dentro da PIDE funcionava uma célula do PCP. Este ponto é, aliás, o mais importante e nele pode estar a chave de tudo… Igualmente fui levado a deduzir que a brigada da PIDE que foi a Badajoz continha pelos menos um agente que era suspeito de ser militante do PCP.






Provavelmente Henrique Cerqueira não conseguirá provar, matematicamente, todo o crime. Raramente um crime político, organizado por especialistas, deixa provas insofismáveis, materiais e visíveis. Mas prova, em absoluto, que a inexistência e a não realização de um inquérito público só aproveita aos homens que ele acusa, com a agravante de estes homens constituírem hoje o Poder Político detentor da capacidade de desencadear, ou não, um inquérito. Não aproveita a ele Autor: aproveita unicamente - e só - aos homens que são acusados neste livro.»

Paradela de Abreu (Nota do Editor, in Henrique Cerqueira, «ACUSO!" O CRIME», Intervenção, 1977, Vol. II).


«O crime de que foi vítima o general Delgado só poderá tornar-se claro e ser compreendido à margem de toda a confusão que, premeditadamente, se fez em volta dele - não pela intervenção que nas averiguações tiverem advogados ou juristas de qualquer das partes, nem mesmo pelas diligências menos suspeitas de entidades correspondentes ouvindo testemunhas apaixonadas, mas por simples e objectiva pesquisa policial que comece por apurar o que se passou na Argélia desde que o general lá chegou e as razões porque se dividiu a "oposição unificada" até então chamada também "Frente Patriótica de Libertação Nacional"; a natureza e profundidade do conflito que levaria o Partido Comunista clássico a destituir da sua liderança o general; por que formou este com os poucos que lhe ficaram dos poucos que tivera (não eram mais de 40 ao todo, os tais "argelinos"), a "Frente Portuguesa de Libertação Nacional"; o significado claro dos documentos (comunicados, cartas e manifestos) depois disso publicados e distribuídos pelas duas Frentes desavindas, as atitudes de Ben Bellah e da Polícia argelina em face dos dois grupos tornados antagónicos; finalmente, a "expulsão" do general da Argélia, as perseguições a que foram submetidos os partidários de Delgado e a situação em que se viu o Partido Comunista e que só o desaparecimento do general poderia resolver… com honra e proveito para ele. Quer dizer, a averiguação que, pelo menos em profundidade, ainda não se fez, ou porque não foi possível fazê-la na Argélia, ou porque não a quiseram fazer.

Eu creio que só isto bastaria para chegar imediatamente à verdade, que as averiguações, desencontradas, e mais do que suspeitas, realizadas em Badajoz, só confundiram e comprometeram.»

Henrique Galvão («Da Minha Luta Contra o Salazarismo e o Comunismo em Portugal»).


«Muito se escreveu já sobre o caso Delgado. Aqueles que - ao proporem-se, uns, a eliminação política do General e outros (poucos), inclusive a sua eliminação física - acalentaram, candidamente, os últimos, a hipótese de não vir a ser denunciada a sua captura, e, os primeiros, a que jamais pudessem vir a ser conhecidas as circunstâncias que o forçaram a ir a Badajoz consciente do perigo a que se expunha.

(…) Que a tragédia de Badajoz "foi antecedida duma prévia e longa preparação" é conclusão a que chegaram e proclamaram quer os inquéritos português e espanhol, quer os principais interventores neles, nomeadamente, o próprio Mário Soares, como advogado da Esposa do General.

Do plano concertado para o aproveitamento do prestígio de Humberto Delgado, em proveito próprio ou duma ideologia que não era a sua, participaram, consciente e activamente, os militantes e o delegado do Partido Comunista Português, em Argel, e, obviamente Álvaro Cunhal sem cujas prévias instruções isso não teria sido possível; os elementos da Resistência Republicana e Socialista no exílio e Mário Soares, quer como seu líder, quer, mais tarde, como pretendido dissidente e membro fundador, efectivo e dirigente, da Frente Portuguesa; o MAR (Movimento de Acção Revolucionária); e Emídio Guerreiro, que - segundo Delgado - apenas reflectia o comportamento e a influência de Soares, em consequência de ter agido como elemento de ligação entre ele e Humberto Delgado. Em suma: todo o "gang" de Argel, os seus mandatários e o "imprudente" e "incauto" professor de Paris.

Que a actuação de Álvaro Cunhal  - para além do que respeita às operações de Praga, ao traiçoeiro incumprimento dos acordos firmados e dos compromissos a que obrigavam, e do veto que, criadas as condições necessárias e suficientes para o efeito, opôs ao recurso à luta armada como forma de derrubar o regime fascista português - tenha ficado na sombra porque, para tanto, dispunha dos meios e da organização necessários, pouco importa. Sem a comparticipação activa do PCP, o desastre de Badajoz não teria sido possível. Que o secretário geral do PC, interpretando à sua maneira, o internacionalismo proletário e, em consequência, servindo rigorosamente as suas próprias convicções, tivesse obedecido a razões que são suas, embora nada tivessem a ver com os interesses imediatos do povo português e das suas ex-colónias, ainda poderia aceitar-se se, como ele, perfilhássemos o princípio de que o fim justifica o recurso a todos os meios. Mas já Mário Soares, esse obedeceu exclusivamente à sua ambição pessoal e megalomania política, consciente da traição a que a sua actuação necessariamente conduziria.


Têm as investigações até agora levadas a efeito (não me refiro às italianas, porquanto lhes não cabia esclarecer o caso Delgado, mas tão só avaliar da culpabilidade ou da ausência de culpa de Mário de Carvalho) ignorado, ostensiva e intencionalmente, os antecedentes imediatos e mediatos da captura do General em Badajoz, quando, na verdade, Badajoz não foi mais que o epílogo duma tragédia ardilosamente tecida em Argel, pelos sequazes do Sr. Soares, no qual Roma e Paris não foram mais que o teatro de actuações ocasionais e de circunstância, e em que a oportunidade de comparticipação propiciada à Pide - e por ela criminosamente aproveitada - e a sua actuação, constituíram apenas o necessário complemento.

De outra forma não podiam, de resto, ter decorrido esses inquéritos, feito, um e outro, sob a égide e orientação de autoridades e entidades gravemente comprometidas na captura do General e, quiçá, no seu posterior assassinato, e orientados no sentido de produzir uma versão que apagasse aqueles antecedentes e, portanto, ignorasse as responsabilidades dos Autores das tais "acções de concerto e de conluio" contra o General.

Humberto Delgado foi a Badajoz porque a tanto o forçaram aqueles que, em Argel, lhe criaram uma situação por mais tempo insustentável, enquanto outros o seduziam com promessas de apoio de pequenas organizações civis e grupos militares, mas, sobretudo, do apoio económico imprescindível e inadiável, congelados, como tinha, por acção dos elementos da Frente Patriótica, todos os seus fundos, depositados em divisas, em bancos argelinos. Em pouco, ou em nada, teriam resultado aquelas promessas se o General tivesse possibilidades económicas para subsistir por mais um mês ou dois e para se transferir, com um mínimo de dignidade necessária e à sua documentação e estrutura directiva para Dakar e Conacry, onde, isolado, difamado, sabotado em Argel, se dispunha a fixar-se, a convite - que lhe fora já feito - dos governos dos respectivos países, como consta de documentação em nosso poder e, inclusive, da sua correspondência com Emídio Guerreiro. A isso se referem, por exemplo, as frases em código do documento n.º 153. No seu n.º 4 pode ler-se - "Guiné: o encontro em Rabat foi adiado pois ele (Amílcar Cabral) está no interior. Demoro a minha partida para o Senegal até ver".

(…) Não só eu - mas, e por razões diferentes a opinião pública e toda a imprensa portuguesa - nos vimos insurgindo contra a forma como vem decorrendo o inquérito sobre o "caso Delgado". Por isso, entendi conveniente chamar a atenção para algumas das mais graves anomalias que transparecem dos detalhes e das conclusões do inquérito, até agora divulgados, antes de encerrar este volume.

Pretende-se ter chegado à conclusão de que o General Humberto Delgado e a sua secretária foram capturados e mortos a tiro, (numa pequena colina duma região inteiramente descoberta, próxima da estrada de Badajoz-Olivença e a pouca distância duma ponte) por uma brigada da Pide, chefiada por Rosa Casaco e Ernesto Lopes Ramos, na tarde do dia 13/2/1965, sendo enterrados, no mesmo dia, a umas dezenas de quilómetros desse local e a poucos metros da frequentada estrada de Villa Nueva del Fresno para São Leonardo, próximo da casa dum grande rural cujo filho "foi encarregado de descobrir os cadáveres", e a tão só 500 metros dum Posto da Guarda Civil espanhola; Lopes Ramos é - ainda segundo as conclusões, que ignoram a existência de 2 dos 4 cadáveres - nada mais nada menos que Ernesto de Castro e Sousa.

Eis a verdade dos factos, que os documentos, a seguir publicados, como muitos outros a incluir no próximo volume, fundamentam.

O General, durante a sua presença em Badajoz, devia ter sido directamente escoltado por dois guarda-costas facultados pelas autoridades argelinas - no Hotel foi assinalada a presença de dois norte-africanos (?!) com os nomes de Benezet e Hazan Guy Isaac - e por dois ou três emigrantes idos de Paris, facultados por um dos seus delegados: ou Emídio Guerreiro ou Amadeu Cabral, cujo cadáver, por volta de Novembro de 65, apareceria num pântano nos subúrbios da capital francesa. Fora assassinado com uma pancada na base do crâneo, tal como três dos quatro cadáveres de Badajoz.

Quando, pelas 15 horas do dia 13, Humberto Delgado e a secretária almoçavam no Hotel Simancas, alguém os preveniu da presença da polícia no Hotel. Saíram, então, apressadamente. Pouco depois, conduzidos por elementos da polícia espanhola, ambos abandonaram o edifício pela porta das traseiras. Não foram, portanto, capturados pela PIDE, como pretendem as conclusões oficiais, e muito menos nesse descampado. De resto, é absolutamente inconcebível que a Pide, para uma tal operação, escolhesse semelhante local.







A 24, outros dois cadáveres aparecem. E, em 26, próximo deles, um quarto cadáver, reconhecido como sendo, provavelmente, o de Ernesto de Castro e Sousa. Com exclusão do cadáver da mulher, morta por estrangulamento, todos os outros pertenciam a indivíduos abatidos por fractura da base do crâneo, tal como Amadeu Cabral, em Paris.

Da "Gaseta Ilustrada" - págs 74 a 77: "(…) o General e a Senhora Campos saíram do hotel precipitadamente; diz-se que alguém os tinha avisado que a polícia estava na porta e que a verdadeira identidade de Delgado tinha sido descoberta"; "uns minutos antes de sair, alguém os tinha chamado por telefone"; "outro automóvel suspeito apareceu também numa garagem de Badajoz. É um Lincoln com matrícula de Virgínia e tem no assento manchas de sangue e cabelos de mulher. Está há muito tempo numa oficina. O seu proprietário era um súbdito argelino que vinha, ao que parece, de Lisboa, de assistir à partida Benfica-Real Madrid. (Trata-se de Elias Tapiero, marroquino casado com uma espanhola e residente em Madrid. Agente da polícia espanhola, foi quem em Espanha, viria a ser solto sem julgamento. O inquérito português parece ignorar a sua actuação e, pelo que se sabe, não foi pedida a sua extradição. Pôde comprovar-se que o sangue e os cabelos encontrados no carro pertenciam a Arajaryr).

Como se comprovou, inclusivamente através das autópsias, nenhum dos cadáveres apresentava o menor vestígio de ferimentos produzidos por tiros. Acresce que a presença de Humberto Delgado, preso em Espanha, foi assinalada e dela tivemos nós conhecimento, como o tiveram Emídio Guerreiro (que o denuncia em vários documentos), a delegação da Frente Portuguesa na Venezuela e a Câmara de Deputados desse país (veja-se doc. n.º 202 na parte assinalada, em que, a 7/4/65, se diz que se "logrou estabelecer que o General Delgado se encontra prisioneiro do regime franquista…"), a própria família (como se infere do doc. n.º 205) e, por uma fonte diplomática, a segunda personalidade do MNI.

Se é certo ter sido essa Delegação quem, a 18/3/65, pela primeira vez deu como assassinado Humberto Delgado (ver parte a negro do doc. 204), a verdade é que o fez sem qualquer fundamento, apenas porque "era impossível esperar mais tempo" (ver doc. n.º 203), o que, de resto, se concluiu pela expressão "Afinal, tanto o companheiro em Rabat como nós aqui, éramos os únicos que infelizmente ACERTÁMOS…" (ver final do doc. n.º 206) e pela declaração dos elementos da Câmara dos Deputados da Venezuela, sempre em estreita ligação com aquela delegação, assinalando, em data muito posterior, a presença do General preso em Espanha (doc. n.º 202).

Mais ainda! Há testemunhas - inclusivamente aquelas que, tendo-o declarado inicialmente, viriam a ser coagidas pelas autoridades espanholas a declarar o contrário - de que os corpos foram depositados no local em que foram encontrados em fins de Março. De resto, se as mortes se tivessem verificado em 13 de Fevereiro, não teria sido possível a Tapiero transportar Arajaryr Campos viva, a Lisboa muitos dias depois, o que ficou provado.

As conclusões divulgadas do inquérito pendente ignoram completamente, a actuação deste agente da polícia espanhola.

Acrescente-se, ainda, que a identificação do cadáver "juridicamente identificado como sendo de Humberto Delgado", não foi regularmente feita. Nenhum dos objectos encontrados junto do cadáver foi reconhecido como autêntico pela família, que, para mais, foi impedida - tal como nós e toda a gente que pretendeu fazê-lo - de o ver. As autoridades espanholas, que negaram a nossa colaboração na identificação dos cadáveres, nunca estiveram interessadas nela. Pelo contrário! A agravar as dúvidas consequentes de tal atitude, sucede que o Dr. Jaime Cortezo (um dos advogados espanhóis da família Delgado e o único sério) me informou no hall do Hotel Hilton de Rabat (no dia em que nos encontrámos no enterro do líder argelino Mohamed Kider, assassinado em Espanha) que os médicos legistas espanhóis se haviam recusado a identificar o cadáver atribuído ao General, até porque ele tinha 1,75 m e o cadáver apenas 1,70 metros. Assinale-se aqui que o cadáver de Delgado - se fosse realmente o dele - seria facílimo de identificar, não só pelas suas características físicas notáveis, como pelas fracturas, prótese dentária e, inclusivamente, pela cicatriz, recente, de 22 centímetros, que tinha no abdómen em consequência das operações de Praga.

É certo que o inspector Ernesto Lopes Ramos teve a seu cargo a planificação da captura do General Humberto Delgado, em que teria participado, também, a célula do PCP infiltrada na Pide. Mas já não é verdadeira a versão que ele apresenta, como não acreditamos ter sido ele quem funcionou como Ernesto de Castro e Sousa. Mário de Carvalho, que conheceu este último, nega terminantemente que sejam uma e a mesma pessoa. Sabemos, para mais, que não foi, sequer, Lopes Ramos quem capturou Delgado, embora tivesse desejado fazê-lo. O facto de se encontrar em liberdade e de não aceitar aproveitar-se da fuga que amigos seus de Angola lhe vêm propiciando (e lhe possibilitaram já naquela nossa ex-colónia), sendo ele advogado e sabendo que, a comprovar-se a sua versão, isso lhe acarretaria longos anos de cadeia, apenas demonstra que está seguro de que a acusação contra si será mal produzida ou insuficientemente comprovada, o que conduzirá a que lhe seja aplicada uma pena inferior à prisão já sofrida, como diz ter-lhe sido garantido. Esse será o prémio final da sua colaboração na tese que convém aos seus corresponsáveis.



Ver aqui






As conclusões do inquérito, finalmente, ignoram a existência dos outros dois cadáveres, um dos quais fora reconhecido como podendo ser o de Castro e Sousa, o que cremos ser exacto.

De qualquer forma, a verdade é que, na preparação das condições que forçaram Delgado a ir a Badajoz, colaboraram o "gang" de Argel, Mário Soares, Emídio Guerreiro, António Simões de Figueiredo e Maria de Bragança, sobre cujas actividades temos, ainda, muito para dizer.»

Henrique Cerqueira («ACUSO! O CRIME», 2.º Vol.).


«Segundo O Diabo de 17/1/78, no Mensageiro de Leiria veio a notícia de que o Governo Português teria pago ao Governo de Argel qualquer coisa como um milhão de contos pelas despesas ocasionadas pela estadia do "Grupo de Argel" durante a "noite fascista". Como não vimos nenhum desmentido a esta notícia, gostaríamos de saber se se confirma ou não e, caso afirmativo, quem autorizou esse pagamento. De qualquer maneira, a ser verdade, o famoso "grupo" tratava-se bem.»

José Dias de Almeida da Fonseca («Livro Negro do "25 de Abril"»).


«Mas em que consistia, afinal, o plano? "Raptar o general e levá-lo clandestinamente para Portugal, para lhe ser dada voz de prisão e responder em tribunal por 'actos de terrorismo'." A ideia de Casaco, como haveria de declarar em Madrid logo após o 25 de Abril, era "cloroformizar o general", por forma a adormecê-lo, transportando-o de seguida "na mala do automóvel pela fronteira de S. Leonardo".

Casaco nega que a morte do general fosse o objectivo do plano, pelo menos tal qual lhe foi transmitido. Muitos anos depois, quando o caso subiu a tribunal, a acusação haveria de considerar que "o objectivo central" da direcção da polícia era o de "reduzir" o general "à não actuação, quaisquer que fossem os meios necessários para tanto" - o que incluiria, obviamente, a possibilidade da liquidação física. Esta tese, contudo, não foi acolhida pelos juízes do Tribunal Militar. Na sua apreciação, a morte não figurava no plano traçado, que visava, outrossim, "tentar raptar e prender" o general, "trazendo-o para Portugal".

(…) A 33 anos do crime, Rosa Casaco põe em causa inúmeros aspectos do acórdão do tribunal e considera que "está por esclarecer o móbil do crime" e a quem aproveitou. São quatro as respostas possíveis que dá à magna questão de se saber quem ordenou a morte do general: o "triunvirato da PIDE"; "algum dos seus membros isoladamente"; uma "iniciativa pessoal de Casimiro Monteiro, sem para tal estar mandatado"; ou, por fim, uma acção deste último, "a mando de terceiros, a troco de dinheiro". Em sua opinião, "qualquer destas teses é admissível, mas de demonstração impossível ". O mais provável é que o "mistério" nunca venha a ser totalmente decifrado, mas o que Rosa Casaco afiança, "sem sombra de dúvidas, é que o caso começou de livre iniciativa de um ou mais elementos da direcção da PIDE e terminou em Casimiro Monteiro".»

Versão de Rosa Casaco sobre a morte do "general sem medo" (ver aqui).


«Os anos de vivência nos Estados Unidos e o contágio da democracia americana transformaram Delgado, segundo um editorial do New York Times, numa personagem "extravagante, loquaz e com uma visão internacional dos problemas". Voltou para Portugal decidido a agir politicamente e a cumprir o que julgava ser o seu destino. Salazar descreveu-o, numa cínica nota necrológica: "Enamorado de certos aspectos da vida americana que lhe instilou no espírito, já predisposto, o veneno da suficiência e da espectaculosidade, pensou azado e fácil importá-los em Portugal onde tradições de hierarquia, de comedimento, de dignidade do poder se lhes opunham frontalmente". Sendo director-geral da Aviação Civil, Delgado visitou Henrique Galvão na cadeia, para escândalo dos situacionistas, e envolveu-se desde o final de 1956 em conspirações contra Salazar. Um membro da Administração Kennedy retratou assim Delgado: "Ele era fortemente pró-americano e era um tipo com graça: extrovertido, voluntarista, impetuoso e sempre pronto a dizer o que pensava". Compreensivelmente, quando Delgado anunciou a sua candidatura presidencial, o regime tentou desacreditá-lo como um "louco" [que no fundo era] e o Partido Comunista chamava-lhe "general Coca-Cola"».

José Freire Antunes («Kennedy e Salazar. O leão e a raposa»).










O ÚLTIMO ACTO DO DRAMA DO GENERAL DELGADO


Este último acto do drama Delgado, pelo menos depois de anunciado o seu desaparecimento, não me surpreende, no seu desenlace macabro, porque sempre o tive como certo. Se não certo da mesma maneira que as propagandas geralmente o apresentaram e os mais ingénuos depois ampliaram - sem dúvida certíssimo quanto à forma como os factos se produziram, como os interessados os deformaram e como as várias correntes políticas, depois, mais ou menos inconscientemente, os fizeram correr. Se não o sabe o chamado grande público, para o qual não escrevi nada sobre o assunto, sabem-no pelo menos todas as pessoas com quem falei, os meus companheiros e até alguns adversários políticos - a quem então disse, mais ou menos, o mesmo que hoje vou escrever. Não me julgo, por isso, mais arguto nem mais clarividente do que qualquer outro; julgo-me, apenas, não só mais bem informado pela variedade das notícias que recebo de todo o mundo interessado (imprensa brasileira e de outros países latino-americanos, francesa, inglesa, italiana, espanhola e portuguesa; correspondência da mesma origem; notícias frequentes da Argélia, etc.) - como também mais objectivamente informado pelo facto de ter compilado todas essas informações depois de as ler atentamente, e por alguma experiência que tenho colhido dos meus contactos com as intrigas políticas e a inferioridade intelectual que geralmente lavram na Oposição Portuguesa - e das quais são os comunistas os mestres e agentes mais organizados.

Não se trata agora de discutir a personalidade do general Humberto Delgado, nem do papel que teve na tormentosa história da Oposição Portuguesa ao regime salazarista. Fomos amigos íntimos, de longa data, e fomos depois, por motivos políticos e extra-políticos que dificilmente se entenderiam, inimigos irreconciliáveis. Nem as recordações dessa primeira fase, que eu julguei indestrutível, nem as lembranças mais dramáticas da fase em que tudo se afundou, podem influir nos sentimentos com que considero o caso hediondamente político do seu cobarde assassinato. Sejam quais forem os erros que tenha cometido e o que deles resultou para a Oposição Democrática Portuguesa a Salazar, a morte que teve e nas condições em que a teve - uma morte que nenhuma razão humana, incluindo a política, pode justificar - obrigam a tudo esquecer àqueles que não puderam ou não souberem perdoar. Para mim, foi um homem que mataram premeditadamente, conforme uma intriga certamente planeada, com tal crueldade e cobardia, que não preciso perguntar quem era nem o que fez, se era amigo ou inimigo, para me indignar profundamente.

Foram homens do Partido Comunista Português, companheiros ou ex-companheiros do general Delgado, quem planeou e fez executar o assassínio. Foram homens do Partido Comunista Português quem teceu e divulgou pelos seus meios mundiais de propaganda a intriga que imediatamente insinuava a responsabilidade de outros no crime - intriga a que aderiram inconscientemente os democratas menos advertidos, que logo a ampliaram e, sem exame, a aceitaram como boa, pois, na verdade, culpava a PIDE e a Polícia espanhola, mancomunadas, autoras de outros crimes igualmente hediondos e que bem podiam haver cometido este... se o crime lhes aproveitasse e os servisse como aproveitava e servia os "interesses comunistas".

Demonstremos (o que me parece que se mete pelos olhos dentro de quem, considerando-as embora nos seus aspectos de provocado confusionismo, se puser fora da intriga e considerar também outros aspectos da questão, propositadamente evitados ou mal esclarecidos, de que a imprensa sensacionalista, não se ocupou):

O Partido Comunista, que precisa absolutamente, para bem cumprir os seus desígnios, inalterável e rigidamente «comunistas», de se infiltrar e liderar as correntes democráticas portuguesas, especialmente frágeis e desarmadas contra estas infiltrações, para dar a impressão de um número e de uma força que a sua insignificante minoria só por isso tornaria ridículas, «inventou» a campanha da «unidade democrática», da qual se fazia uma das partes, e de que se constituiu o mais denodado e acérrimo dos campeões. Seria divisionista todo aquele que não os admitisse, como totalitários que eram, na luta contra os totalitarismos; seriam «verdadeiros patriotas» todos aqueles que, por desespero ou julgando que depois os dominariam, os aceitassem como os melhores e mais organizados dos antifascistas. Admitiriam todos os sofismas, todos os contorcionismos, todas as fraudes, até o anticomunismo de alguns, uma vez que na confusão estabelecida mantivessem, efectiva e realmente, a liderança do conjunto. Contavam e contam, para isso, com o apoio e dinheiro do seu bloco, coisa que em absoluto falta aos democratas ocidentais e que lhes assegura possibilidades enormes de organização e de movimentos - e contam também com o estúpido comodismo de alguns democratas aliciados pelas suas fraudes e pelos seus slogans de «verdadeiros democratas». Isto para não falar no apoio que lhes prestava o anticomunismo comunizante do próprio ditador português. Assim se vieram a estabelecer na Argélia, onde o pró-comunismo do ditador argelino (julgavam eles) lhes ofereceria as condições mais propícias para a instalação do seu quartel-general. Nasceria assim a «Frente Patriótica de Libertação Nacional», que seria a «verdadeira», «única» e «considerável» estrutura da «Oposição Democrática Portuguesa». Liderança real, efectiva: a do Partido Comunista Português










O movimento não teve, porém, a repercussão que esperavam em Portugal. A Oposição verdadeiramente Democrática reagia desfavoravelmente à solução argelina, que lhe parecia não só antidemocrática como antiportuguesa. Por maior que fosse a confusão e o isolamento em que estavam, tornava-se muito crua a aventura em que queriam fazê-los embarcar para que não a descobrissem. O seu programa, dito anticolonialista, era apenas, na vacuidade dos seus slogans, um aliciamento para entregar à sorte do neocolonialismo sino-soviético os destinos das colónias portuguesas. A «Oposição Democrática Portuguesa» de que eles diziam ser donos, passou a ser designada «os argelinos». Entre os próprios democratas menos filo-comunistas que tinham naufragado na Argélia, eram frequentes as discussões e os descontentamentos. Precisavam de um líder que ainda tivesse algum prestígio em Portugal, e que se resignasse a aceitar a liderança comunista para recuperar o terreno que estavam perdendo - e, ao mesmo tempo, intensificar as suas infiltrações na Acção Democrático-Social em que se havia instalado pela primeira vez um espírito patriótico e anticomunista. A meu respeito tinham perdido todas as ilusões; eu seria o homem a «desgastar», a inutilizar, a destruir. Fixaram então as suas esperanças no general Humberto Delgado.

O general encontrava-se então numa das fases piores da sua atribulada vida política. Feroz anticomunista contra os quais se desmandara, aliás com reciprocidade, nos termos mais soezes e, por natureza, feroz anti-salazarista, tinha-se indisposto também com a maioria enorme dos democratas portugueses do Brasil e, depois, praticamente, com todos. Parecia um beco sem saída. Gozava, no entanto, ainda, de certo prestígio que colhera entre as massas mais ignaras de Portugal, para quem as suas atitudes no Brasil eram desconhecidas e que o tinham ainda como homem da hora triunfal que vivera na campanha eleitoral de 1958. Parecia aos comunistas um limão que ainda continha umas gotas de sumo que poderiam espremer em seu proveito. Mostraram-se esquecidos das irredutibilidades passadas, das ofensas recebidas, das prepotências do general para com eles - e o general, sem outro recurso nem outra saída à vista, esqueceu também a sua ferócia anticomunista, os golpes que deles havia recebido, e caiu-lhes nos braços. Desdisse-se de todas as ligações e atitudes anteriores, conversou com eles e fez-se, de um dia para o outro, um filo-comunista que parecia convicto. O caso, pela sua crueza e irresponsabilidade provocou ressentimentos e discórdias entre alguns comunistas e filo-comunistas do Brasil que, pelo menos aparentemente, dele se desligaram, mas a nova e surpreendente «sociedade» constituiu-se - o general seria o líder dos «argelinos», visto que se incapacitara para continuar a ser o líder de uma oposição verdadeiramente portuguesa.

Sai do Brasil, onde não mais poderia voltar, demora-se uns tempos na Jugoslávia para tratar da saúde e, por fim, recuperado, assenta arraiais na Argélia. Em troca da sua profissão de fé «socialista», o elogio da Argélia e do seu chefe e o reconhecimento do Partido Comunista «como única força política oposicionista bem organizada em Portugal» (entrevista dada por ele ao jornal jugoslavo «Tanjug» de Agosto de 1964), é reconhecido como «hóspede bem visto do povo da Argélia». E assume a liderança da Frente Patriótica de Libertação Nacional e da Junta Revolucionária Portuguesa. Parecia então aos comunistas, apesar do que conheciam do general que, na situação em que ele se encontrava, poderiam explorar o prestígio que ainda tinha em Portugal e exercer efectivamente, a coberto do seu nome, a verdadeira liderança da Frente. Simplesmente, o general tinha uma ideia fixa - a única a que sempre fora fiel e de que não queria desistir: que com salazaristas, democratas ou comunistas, os seus poderes se exerceriam sempre discricionariamente, como mais lhe aprouvesse; os que não concordassem seriam traidores e seus inimigos. Qualquer situação ou regime lhe serviria, uma vez que ele fosse o Chefe incontestado.

Eu, que sabia isto - que o aprendera - esperava evidentemente o que não podia deixar de acontecer. A presença do general na Argélia, onde aliás Ben Bellah cumpria tudo que prometera à Frente Patriótica, tornava as coisas cada vez mais complicadas e mais difíceis, sobretudo entre os comunistas ortodoxos e os filo-comunistas menos ortodoxos e democráticos mais impacientes. Estes sentiam-se logrados e aqueles sentiam-se vítimas do próprio logro que tinham montado.

Em Janeiro de 1965 declara-se o rompimento. A Frente Patriótica publica um comunicado anunciando a destituição do general da liderança e substituindo-o por uma espécie de colegiada; por sua vez o general Delgado, em 12 e 14 de Janeiro, anuncia a formação de outra frente - a «Frente Portuguesa de Libertação Nacional». A irredutibilidade de ambas é absoluta, mas os comunicados são muito prudentes; nem os comunistas hostilizam abertamente os menos comunistas ou anticomunistas, nem estes se referem à qualidade ideológica daqueles cujos desígnios são as determinantes do rompimento. E compreende-se: ambos dependem de favores de Ben Bellah e não poderiam dispensá-los, ambos se declaram anticolonialistas e, naturalmente, «socialistas». No comunicado da Frente Patriótica diz-se inclusivamente que «não estão perdidas todas as esperanças de uma reconciliação com o general». Quer dizer: cada uma das partes (as duas FPLN) procuraria ganhar a partida em guerrilhas secretas de intriga e anular a outra. Venceria a que, com menos escrúpulos se conduzisse. Entretanto, seria Salazar quem iria ganhando, pelo menos no tempo, com esta picaresca oposição que tão bem o servia.

Entre as duas correntes da famosa «unidade», digamos entre os mais e os menos comunistas, flutuavam e hesitavam, influenciados também pelo cisma sino-soviético, os menos relevantes e os mais furibundos partidários da linha russa e da linha chinesa - o que naturalmente facilitava as infiltrações da «Frente Patriótica» na «Frente Portuguesa». E tanto mais que se fazia correr que as razões essenciais do conflito resultavam da divergência aberta entre as duas frentes: uma, a patriótica imaginava uma acção a realizar no tempo muito minuciosamente preparada; a outra, queria lançar-se imediatamente na acção revolucionária.


Esta era a situação em que se encontravam as minorias divergentes da chamada «Oposição Democrática Portuguesa Unitária» que se propunha «libertar» Portugal, quando Delgado, munido de passaportes argelinos oficiais, mas com nome suposto, saiu da Argélia, onde prometera voltar mas onde, desgraçadamente, não voltaria mais. Acompanhavam-no a secretária, dois delegados dos portugueses de França e um da Itália - pessoas estas que nunca foram nomeadas e de quem não mais se falou. Antes tinha estado em Inglaterra e supõe-se que passara também por França, Bélgica e Itália. Regressou destas viagens, e no dia 8 de Fevereiro é que saiu definitivamente da Argélia com destino à Espanha.

Não restam dúvidas, portanto, de que a presença de Delgado na Argélia causara graves perturbações à «Frente Patriótica de Libertação Nacional» - o que aliás acontecera já no Brasil e, mais ou menos, em todos os lugares por onde passara -, que esfacelara a organização liderada pelo Partido Comunista e prometia, do ponto de vista comunista, torná-la infernal. Que, portanto, também, a única solução radical que se lhes oferecia com probabilidades de êxito, seria a de, por qualquer forma que não os revelasse, desfazerem-se dele. Para bons comunistas, o facto de o fazerem desaparecer seria, como para qualquer totalitário, a menor das coisas; a dificuldade da «operação» estava apenas em se apresentarem como queixosos num processo de que afinal eram os autores - mas para a vencerem contavam, e muito bem, com o apoio das propagandas comunistas no mundo e com a boa-fé com que os democratas acreditam em qualquer atoarda; a atoarda desta vez visava a outros totalitários - a PIDE e a Polícia espanhola. Seria muito mais fácil, pois toda a gente acreditaria ou aceitaria a versão como muito provável.

Resolvido e estudado o crime, a execução tornava-se para eles bastante fácil: tudo consistia em evitar a curiosidade da Polícia espanhola, o que em Badajoz não parecia muito difícil. Badajoz fora o local escolhido. Cidade fronteiriça, à vista da cidade portuguesa de Elvas, era, ao mesmo tempo, aquela onde seria mais fácil conduzir Delgado para imaginosos entendimentos com valores da oposição portuguesa, e aquela onde a intriga post mortem teria mais probabilidades de pegar.

Três ou quatro soi-disants companheiros de Delgado que ele tinha como fiéis companheiros (como é fácil acreditar nestas coisas quando se conspira), encontravam-se com ele em Badajoz, no Hotel Simancas, no dia 13 [de Fevereiro de 1965] - o mesmo dia em que Delgado escreveu a várias pessoas, inclusive ao embaixador Álvaro Lins, cartas e postais ilustrados. Conduzido com a secretária por eles, à Villanueva del Fresno, ou antes, a um eucaliptal vizinho que fica a três quilómetros da fronteira portuguesa, aí foram assassinados e enterrados, tão sumariamente que uns cães mais tarde os descobriram.

Esta é a versão encadeada dos factos antecedentes com os factos consequentes do monstruoso assassinato. Só assim se revestem de uma inteligência que em absoluto faltou ao desenvolvimento passional das propagandas. O desaparecimento só principiou a ser noticiado cerca do dia 20 de Fevereiro - e logo as primeiras notícias vindas de Argel, e rapidamente espalhadas pelo mundo, acusam a PIDE e a Polícia espanhola; ou pelo sequestro do general e da sua secretária, ou pelo seu fuzilamento. Sentia-se no ardor com que eram lançadas e no apoio que encontravam em quase todos os países, a cadeia comunista trabalhando... conforme os planos pré-estabelecidos. Depois, apareceram os cadáveres - e só então surgiram, embora ainda timidamente, outras versões mais próximas da verdade, inclusivamente a do representante em Marrocos da "Frente Portuguesa de Libertação Nacional", acusando frontalmente o Partido Comunista Português e a Secretaria Geral da "Frente Patriótica de Libertação Nacional" de "serem os principais responsáveis pelo que aconteceu ao general Delgado, porquanto criaram intencionalmente uma situação que levou a esse desastre e porque agiam há tempos com o propósito de o provocar".

Não excluo em absoluto a hipótese de serem os assassinos de Delgado e da secretária agentes da PIDE que em Espanha se houvessem infiltrado, por denúncia da Frente Patriótica. Apenas não acredito nela, tão estúpida me parece. Mas mesmo que assim fosse, isso não altera o que sempre pensei: que foram os comunistas quem os matou ou, de qualquer forma, os fez matar. É a única versão que se ajusta perfeitamente aos factos.

Tenho perfeita consciência das acusações que faço - sobre as quais não tenho a menor dúvida - bem como das responsabilidades em que incorro. Estou disposto a sustentar umas e a defender outras. Omiti nesta exposição, que reduzi ao mínimo, muitos pormenores de factos que apenas a tornariam mais longa, embora mais convincente. A minha responsabilidade é toda pessoal; não intervenho nem conduzo qualquer intriga, nem me aliei a ninguém para assim concluir. Por alguma razão, e não por simples capricho ou paixão política, sempre considerei, quer no plano ideológico, quer no plano prático, indesejável e absurdo qualquer entendimento político, combinação, arranjo ou compromissos entre democratas e comunistas - como indesejáveis e absurdos me pareceriam entre democratas e fascistas, nazis ou qualquer espécie totalitária. (Da Minha Luta Contra o Salazarismo e o Comunismo em Portugal, Arcádia, 1976, pp. 284-291).














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