«Agora, com a minha máquina, eu cortarei a sua cabeça num piscar de olhos, e você nunca sentirá isso!».
Discurso pronunciado pelo mação Joseph-Ignace Guillotin na Assembleia Constituinte de Paris a 1 de Dezembro de 1789.
«Para Gaston Martin, a doutrina revolucionária não nasceu nas lojas, mas partilhava com elas um fundo deísta, um anti-clericalismo, uma crença no progresso e na indefinida perfectibilidade humana por meio da ilustração; e além do mais, a maçonaria não só formava parte dum panorama intelectual mais amplo, como também contribuiu para que a revolução passasse "da teoria à prática", fixando "os métodos próprios para assegurar a realização das suas doutrinas".
Os matizes que Martin assinala podem parecer irrelevantes, mas a sua descrição reflecte a forma de actuação da maçonaria em quase todas as agitações políticas, desde o século XVIII até, pelo menos, à primeira metade do século XX: a irmandade mostra-se solidária com as doutrinas "progressistas" e colabora para o seu triunfo.
(...) A maçonaria, em linhas gerais, não escondeu a sua participação activa e até "preponderante", mas não existem indícios de que aquele "grande e salutar movimento" tivesse sido planeado atrás das colunas do pórtico maçónico, e ainda que fossem excepções, até houve maçons que se opuseram ao avanço da Revolução. Aquele movimento teve muitos ingredientes. De facto, por assombroso que possa parecer, as tendências galicanas da coroa francesa, que escavavam as suas raízes mais de três séculos antes, uma coroa cada vez mais centralizadora e com uma concepção laicista do poder político, tinham feito mais para preparar a chegada da Revolução do que os remetentes conventículos maçónicos. Os juristas revolucionários sentiam-se plenamente herdeiros dos seus antecessores, os juristas galicanos, que tinham sustentado as teorias absolutistas do poder em prejuízo da filosofia social da Igreja: a Revolução foi a consequência natural do desenvolvimento dos princípios absolutistas. Outro princípio que também nasceu à sombra da coroa gaulesa foi o do nacionalismo, sobretudo a partir da política do Cardeal Richelieu e da sua obra póstuma, o Pacto de Vestefália.
Como diria Richard M. Weaver, "as ideias têm consequências"».
José Antonio Ullate Fabo («O Segredo da Maçonaria Desvendado»).
«O Grande Oriente de França esteve sempre nas mãos dos três "I": Ignorantes, Imbecis e Intrigantes».
Albert Pike (Carta ao Visconde de Jonquière).
«Pelo seu ambiente familiar, pelos amigos, pela época e a terra em que viveu, se alguma fé religiosa poderia ele ter abraçado, ela seria, sem dúvida alguma, a maçonaria. E poderíamos acrescentar a essas circunstâncias a de existirem afinidades esotéricas entre o pensamento de Bruno e os fundamentos e aspirações da maçonaria. Apesar de tudo isso, o pensador portuense nunca esteve filiado em qualquer loja. É ele quem o diz: "filho de maçon, com altos graus na Ordem, eu nunca pertenci à Maçonaria. Respeito a sua tradição histórica; e sei que os serviços que ela prestou à causa da liberdade na Europa e na América a tornam digna de veneração a todos os espíritos progressivos [...]. Todavia - quero ter a coragem de dizê-lo, consoante ainda mui rapaz me atrevi a dizê-lo a meu próprio pai - em regra, e como princípio geral superior -, não simpatizo com associações secretas; e não simpatizo com associações secretas porque é força da sua essência que elas façam prevalecer sobre a ideia de justiça para todos a ideia da protecção para alguns; e assim, sacrifiquem o direito do profano à iniquidade do iniciado, com cuja causa o laço da misteriosa solidariedade se aperta" ["A Voz Pública" de 26 de Janeiro de 1902].
(...) quem "esotericamente definiu o ternário sagrado" foi o abade de Saint-Martin ["O Brasil Mental"], e Saint-Martin teria bebido em fontes misteriosas - o ensino de Martínez de Pascualis, judeu português ou espanhol, autor do tratado da Reintegração dos Seres, que "instituíra um rito cabalístico, o qual introduzira nalgumas lojas maçónicas de França, em Marselha, Tolosa e Bordéus" ["O Encoberto"]. Quer isto dizer, por conseguinte, que o "ternário sagrado" teria origens simultaneamente mística e judaica. O messianismo judaico teria sido aqui o veículo dessa revelação, obra, em última análise, do verbo divino...».
Joel Serrão («Sampaio Bruno»).
«O abandono da Maçonaria vulgar correspondeu à descoberta do "martinismo", em cujos "mistérios", teóricos e práticos Joseph de Maistre foi iniciado pelo citado Willermoz, discípulo, como Saint-Martin e, por morte deste, seu continuador da chefia da Ordem.
(...) [No] capítulo sobre a Tradição Portuguesa, diz-nos Álvaro Ribeiro ter sido "Sampaio Bruno o pensador que mais inteligentemente no-la revelou". Com efeito, em O Encoberto, depois de ter estudado a influência de Saint-Martin, na Revolução Francesa, ao expor a doutrina esotérica pela tríade de Liberdade, Igualdade, Fraternidade, escreve assim:
"O ternário sagrado! Saint-Martin, seu inventor e promotor!"
Mas, sem embargo da sua peculiar originalidade, cumpre não esquecer que Saint-Martin começara por ser discípulo d'outrem, d'um desses homens extraordinários que grava a sua personalidade na sua época; e esse homem era português, "misterioso português", consoante (realista, romanescamente) se compraz em lhe chamar o biógrafo crítico do philosophe inconnu, o sr. Matter. Português-judeu, cristão-novo, "de raça oriental e de origem insólita, mas tornado cristão à laia como assim se tornavam os gnósticos dos primeiros séculos". Quem?
Mas, sem embargo da sua peculiar originalidade, cumpre não esquecer que Saint-Martin começara por ser discípulo d'outrem, d'um desses homens extraordinários que grava a sua personalidade na sua época; e esse homem era português, "misterioso português", consoante (realista, romanescamente) se compraz em lhe chamar o biógrafo crítico do philosophe inconnu, o sr. Matter. Português-judeu, cristão-novo, "de raça oriental e de origem insólita, mas tornado cristão à laia como assim se tornavam os gnósticos dos primeiros séculos". Quem?
"Quanto mais se estuda Saint-Martin, com o tratado de seu mestre, Da Reintegração, à vista, tanto mais se sente, em toda a sua profundidade, a influência do teurgista de Portugal sobre o mais célebre dos seus discípulos de Bordéus".
O tratado de Pascoal Martins, Da Reintegração, é, de seu título completo, Tratado da Reintegração de Todos os Seres nos Seus Princípios Primitivos.
(...) Não se deduz de tudo isto que haja um exclusivo de identidade entre a tradição portuguesa e o martinismo. Este terá sido durante o século XVIII e para a Europa Central a expressão oportuna dessa tradição. Mas a relação pode constituir o fio que nos conduza à cabala pelo judaísmo, à gnose pelo cristianismo, à sabedoria sufi pelo islamismo. "Três tradições concorrem na formação do pensamento português: a judaica, a cristã e a islâmica". A filosofia portuguesa terá por fim realizar a sua síntese católica.
(...) "Heterodoxia" e "ortodoxia" são relativos entre si. Se houvesse incompatibilidade da doutrina, do dogma e dos sacramentos da Igreja de Christo com a kabbalah, como teria sido possível a obra catolicíssima de Joseph de Maistre, guia oculto da Ordem maçónica martinista? Joseph de Maistre não se afasta um yod da ortodoxia e, no entanto, outra coisa está por debaixo. Não será uma relação análoga que o próprio Filho do Homem estabelece entre o Novo e o Velho Testamentos?».
António Telmo («Filosofia e Kabbalah»).
Os adversários do Martinismo e as suas objecções
Apesar dos fracos recursos materiais, os progressos da Ordem Martinista foram rápidos e consideráveis. Mas o seu sucesso originou três tipos de adversários: 1.º os materialistas ateus, representantes do Grande Oriente de França; 2.º os clérigos; 3.º as sociedades e indivíduos que combatem Cristo e procuram diminuir a sua obra, aberta ou ocultamente.
Os Clérigos
É muito difícil convencer escritores clericais que o clero e Deus possam agir independentemente um do outro; que podemos perfeitamente admitir a bondade de Deus e a cobiça material do clero (que age dizendo ser em seu nome), sem as confundir um instante que seja. Segundo eles, atacar um inquisidor é atacar Deus.
Os Martinistas querem ser cristãos, livres de toda a dependência clerical; as acusações de satanismo farão balançar-lhes os ombros, pedindo perdão ao Céu para aqueles que os caluniam injustamente.
A esse respeito, ouviremos novamente a grande farsa de Léo Taxil sobre o tema dos ocultistas diabólicos? Veremos sob o seu verdadeiro aspecto essa bizarra sociedade secreta do Labarum, cujos dignitários são nossos conhecidos? Ouviremos como Taxil deve estar disposto a organizar uma nova mistificação baseada na Maçonaria Feminina? Não seria melhor tolerar o insulto, a calúnia, o descrédito, sem responder de outra maneira a não ser pelo perdão e pelo esquecimento?
Cada novo ataque, sendo injusto e vil jamais fica sem recompensa e vale ao Martinismo um novo sucesso. Eis a verdadeira manipulação das leis ocultas e o verdadeiro uso das faculdades espirituais do homem. Quando acusamos os escritores clericais de enganar o público ingénuo, que aceita as suas afrontas, e de empregar processos polémicos, indignos do autor de respeito, poder-se-ia acreditar que existe da nossa parte certa animosidade e tendência para o exagero. Para evitar essa dúvida, iremos submeter alguns desses processos ao próprio leitor, para o seu julgamento. Escolheremos a última deslealdade cometida. O autor ficará certamente muito feliz por ser apresentado ao público. Chama-se Antonini, professor do Instituto Católico de Paris, e o seu livro intitula-se A Doutrina do Mal.
Nessa obra, fala-se muito de Satã, de Lúcifer, do Diabo e do seu culto secreto. Entretanto, falta a esse autor a veia do excelente Taxil; ele é, ademais insonso e sem imaginação. Não temos mais esse bom Bitru, de quem Taxil extraiu parte do apêndice para oferecê-lo aos Jesuítas, que o aceitaram com reconhecimento. Fica bem entendido que os ocultistas (benzei-vos), e em particular o vosso servidor, passam uma boa parte do seu tempo na companhia do Diabo, fazendo anagramas, para os quais o Sr. Antonini tem imensa dificuldade em encontrar a chave. (...)
Os adversários de Cristo
Ora, a prática da Magia Negra consiste em fazer o mal consciente e covardemente; nada é mais distanciado do objectivo e dos processos essencialmente cristãos do Martinismo de todos os tempos. Os Martinistas não praticam magia, nem a branca, e muito menos a negra. Estudam, oram e perdoam as injúrias da melhor maneira possível.
Os Rosa-Cruzes sempre combateram os feiticeiros, aproveitadores da ignorância e do cepticismo popular, para exercerem os seus poderes sobre vítimas inocentes, prevenindo abertamente todos aqueles a quem tinham dado o baptismo da luz. Esse trabalho foi sempre oculto, realizado através da prece.
Os Martinistas, como os Rosa-Cruzes, sempre defenderam a verdade, agindo sem subterfúgios, publicando os seus actos e as suas decisões. Pelo contrário, aqueles que difamam na sombra, ocultando-se quando se vêem descobertos, escrevendo circulares hipócritas e caluniando sorrateiramente os Martinistas, temendo a sua lealdade, não merecem senão piedade e o perdão. Vendo as faculdades latentes manifestadas através desses processos, somos levados a mostrar a esses homens que a Magia Nagra começa pela difamação anónima, tão geradora de larvas no plano mental quanto a baixa feitiçaria do camponês iletrado no plano astral.
Martinismo e Franco-Maçonaria
Os escritores que se ocuparam do Martinismo, sobre tudo os clérigos, confundiram muitas vezes com uma má fé voluntária o Martinismo com a Franco-Maçonaria. O Martinismo, não exigindo nenhum juramento de obediência passiva dos seus membros e não lhes impondo nenhum dogma (muito menos o dogma materialista ou clerical) deixa-os inteiramente livres nas suas acções; ele é independente da Franco-Maçonaria como ordem, tal como é praticada actualmente em França.
Como toda a ordem de iluminados, o Martinismo dá acesso, nalgumas reuniões, a Franco-Maçons instruídos (sobretudo a membros do Rito Escocês) quando possuem pelo menos o grau 18 (Rosa-Cruz); mas essas relações limitam-se a uma simples questão de delicadeza. Os Martinistas contemporâneos não agem de maneira diversa nas mesmas circunstâncias, como agiram os seus antepassados dos Conventos de Gaules e de Wilhemsbad.
Portanto o nome cabalístico de Cristo e o reconhecimento do Verbo Criador na mente, em todos os seus actos, o Martinismo só pode manter relações com potências maçónicas que trabalhem segundo a constituição dos Rosa-Cruzes Iluminados, que fundaram a Franco-Maçonaria. Todo o rito que subtrai Deus das suas pranchas e transforma, sem referências tradicionais, o simbolismo que lhe confiaram, não existe mais para os Martinistas, assim como também para todos os iniciados de um centro real e sério.
Eis porque o Grande Oriente de França, que está distanciado da verdadeira e universal Franco-Maçonaria, não deve ser confundido com o Martinismo, como os clérigos procuram fazer.
O Grande Oriente e as suas Origens
O Grande Oriente de França nasceu de uma insurreição de alguns dos seus membros contra as constituições e a hierarquia tradicionais da Franco-Maçonaria. Algumas linhas de explicação são aqui necessárias.
A Franco-Maçonaria foi fundada na Inglaterra por homens que faziam parte de uma das potentes fraternidades secretas do Ocidente: a Confraria dos Rosa-Cruzes. Esses homens, sobretudo Ashmole, tiveram a ideia de criar um centro de propaganda onde pudessem formar, sem que se soubesse abertamente, membros instruídos para a Rosa-Cruz. Assim, as primeiras lojas maçónicas foram mistas e compostas por obreiros reais e por obreiros da inteligência (livres maçons). Os primeiros trabalhos de Ashmole datam de 1646; mas foi somente em 1717 que a Grande Loja de Londres foi constituída. Foi essa Loja quem forneceu as cartas regulares às Lojas francesas de Dunkerque (1721), Paris (1725), Bordeaux (1732), etc.
As lojas de Paris multiplicaram-se rapidamente, nomearam um Grão-Mestre para França, o Duque D'Antin (1738 a 1743), sob a influência do qual foi idealizada e publicada a Enciclopédia, como veremos adiante. Eis a origem real da revolução realizada inicialmente no plano intelectual, passando após ao plano formal.
Em 1743, o Conde de Clermont sucedeu ao Duque D'Antin como Grão-Mestre e tomou a direcção da Grande Loja Inglesa da França. Esse Conde de Clermont, muito negligente para se ocupar seriamente dessa sociedade, nomeou como substituto um mestre de dança, Lacorne, indivíduo intrigante e de costumes deploráveis. Esse Lacorne fez entrar nas lojas uma grande quantidade de indivíduos da sua espécie, o que originou a cisão entre a loja constituída por Lacorne (Grande Loja Lacorne) e os antigos membros que formavam a Grande Loja de França (1756).
Após uma tentativa de reconciliação entre as duas facções rivais (1758), o escândalo tornou-se tão grande que a polícia interveio e fechou as lojas de Paris.
Lacorne e os seus adeptos aproveitando-se desse acontecimento, obtiveram o apoio do Duque de Luxemburgo (15 de Junho de 1761) (9). Fortes por esse apoio, conseguiram entrar na Grande Loja de onde tinham sido banidos. Fizeram nomear uma comissão de controle, cujos membros foram previamente comprados. Ao mesmo tempo, os irmãos do Rito Templário (Conselho dos Imperadores) associaram-se em segredo às intrigas dos comissários e, em 24 de Dezembro de 1772, um verdadeiro golpe de estado maçónico foi dado pela supressão da inamovibilidade dos presidentes das Lojas e pelo estabelecimento do regime representativo. Revoltados vitoriosos fundaram, desse modo, o Grande Oriente da França. Um maçon contemporâneo pôde escrever: «Não é demais dizer que a revolução maçónica de 1773 foi a precursora e o estopim da Revolução de 1789» (10).
O que é necessário enfatizar é a acção secreta dos irmãos do Rito Templário. Foram eles os verdadeiros fomentadores das revoluções; os demais não passaram de dóceis agentes. Assim, o leitor poderá compreender a nossa afirmação: O Grande Oriente nasceu de uma insurreição. Retornemos sobre dois pontos: a) A Enciclopédia (Revolução Intelectual); b) A História do Grande Oriente de 1773 a 1789.
A Enciclopédia
Dissemos que os factos sobre os quais os historiadores se baseiam foram, na maioria dos casos, consequência de acções ocultas. Ora, pensemos que a revolução não seria possível se esforços consideráveis não tivessem sido feitos precedentemente para orientar num novo caminho a intelectualidade de França. É agindo sobre os espíritos cultivados, criadores da opinião, que se prepara a revolução social. Iremos encontrar, agora, uma prova decisiva sobre esse facto.
Em 25 de Junho de 1740, o Duque D'Antin, Grão-Mestre da Franco-Maçonaria de França, pronunciou um importante discurso onde veio a anunciar o grande projecto em curso, como demonstra a seguinte citação:
«Todos os Grão-Mestres da Alemanha, Inglaterra, Itália e de outros países, exortam todos os sábios e artesãos da Fraternidade a se unirem para fornecer os materiais de um dicionário universal das artes liberais e das ciências úteis, excepto teologia e política. Já se começou a obra em Londres; e pela reunião dos nossos irmãos, poder-se-á conduzi-la à perfeição em poucos anos».
Amiable e Colfavru, nos seus estudos sobre a Franco-Maçonaria no séc. XVIII, compreenderam perfeitamente a importância desse projecto, pois, após terem falado da Enciclopédia Inglesa de Chambers (Londres 1728), acrescentaram:
«Bem mais prodigiosa foi a obra publicada em França, contendo 28 volumes in-fólio, sendo 17 com texto de 11 com gravuras, aos quais foram acrescentados, em seguida, cinco volumes complementares, obra cujo autor principal foi Diderot, secundado por uma plêiade de escritores de elite. Mas não lhe bastava ter colaboradores para a boa execução da sua obra; foi-lhe necessário potentes protectores. Como poderia ter sido protegido sem a Franco-Maçonaria?».
«Além disso, as datas aqui são demonstrativas: o Duque D'Antin pronunciou o seu discurso em 1740; sabe-se que, desde 1741 Diderot preparava a sua grande empresa. O privilégio indispensável à publicação foi obtido em 1745. O primeiro volume da Enciclopédia apareceu em 1751».
Assim a revolução já se manifestava em duas etapas: a) Revolução Intelectual, originada da Enciclopédia, com apoio da Franco-Maçonaria Francesa, sob a alta impulsão do Duque D'Antin (1740); b) Revolução Oculta nas lojas, promovida em grande parte pelos membros do Rito Templário executado por um grupo de Franco-Maçons expulsos, depois amnistiados pelo Duque de Luxemburgo (1773) e pela presidência do Duque de Chartres.
A revolução patente na sociedade, isto é, a aplicação à sociedade das constituições das lojas não tardou. Retomemos a história do Grande Oriente no ponto onde a deixámos. Uma vez constituída, a nova potência maçónica apelou a toda as lojas para ratificar a nomeação do Duque de Chartres como Grão-Mestre.
Ao mesmo tempo (1774), o Grande Oriente instalava-se no antigo noviciado dos Jesuítas, à rua do Pot-de-Fer, procedendo à expulsão das ovelhas sarnentas. Cento e quatro lojas aderiram ao novo estado de coisas; mais tarde, 195 (1776); finalmente, em 1789 havia 629 lojas em actividade.
Mas um facto, em nossa opinião considerável, produziu-se em 1789. Os capítulos do Rito Templário tornaram-se oficialmente aliados ao Grande Oriente, chegando a fundir-se com ele. Vimos como os Irmãos desse rito ajudaram à revolta de onde nasceu o Grande Oriente. (...)
O Rito Templário e o Escocismo
A Franco-Maçonaria, como vimos, foi estabelecida na Inglaterra por membros da Fraternidade dos Rosa-Cruzes, desejosos de constituir um centro de propaganda e recrutamento para a sua ordem. A Franco-Maçonaria inglesa possuía somente três graus: Aprendiz, Companheiro e Mestre. Como consequência, a Franco-Maçonaria Francesa e o Grande Oriente, o seu ramo principal, eram formados por membros possuidores apenas dos três primeiros graus. Mas, logo homens determinados desejaram ter recebido uma iniciação superior, de acordo com os mistérios da Fraternidade dos Rosa-Cruzes. Os ritos criaram-se concedendo graus superiores ao grau de Mestre, chamados altos graus.
O espírito dos ritos dos graus superiores, assim criados, era naturalmente diferente daquele da maçonaria propriamente dita. Foi assim que Ramsay instituiu o Sistema Escocês, cuja base era política e cujo ensinamento tendia a fazer de cada Irmão um vingador da Ordem do Templo (11). Eis porque demos o nome de Rito Templário a essa criação de Ramsay.
As reuniões dos irmãos detentores de altos graus passaram a denominar-se não mais lojas, mas capítulos. Os principais capítulos estabelecidos em França foram:
1.º - O Capítulo de Clermont (Paris 1752), de onde saiu o Barão de Hund, criador da alta maçonaria alemã ou iluminismo alemão;
2.º - Após o Capítulo de Clermont, nasceu o Conselho dos Imperadores do Oriente e do Ocidente (Paris, 1758), do qual certos membros, separando-se dos seus Irmãos, formaram;
3.º - Os Cavaleiros do Oriente (Paris, 1763), cada uma dessas potências expedia cartas de lojas e os principais Irmãos (Tshoudy, Boileau, etc.) criaram ritos especiais no interior da França.
Em 1782, o Conselho dos Imperadores e os Cavaleiros do Oriente uniram-se para formar o Grande Capítulo Geral da França, cujos principais membros tinham contribuído para a constituição do Grande Oriente pelas suas intrigas. Assim, também vemos em 1786, esses Irmãos realizarem a fusão do Grande Capítulo Geral da França. Qual foi o resultado dessa fusão? Os membros do Grande Capítulo, bem disciplinados, perseguindo um objectivo preciso e sendo inteligentes, puderam dispor do número fornecido pelo Grande Oriente.
Compreende-se agora a génese maçónica da Revolução Francesa. A maior parte dos historiadores confunde esses membros do Rito Templário, verdadeiros inspiradores da revolução (12), com os Martinistas (in ob. cit., pp. 44-48;54-58).
Notas:
(9) Veja Ragon. Ortodoxia Maçónica, p. 56.
(10) Amiable e Colfavru, Op. Cit.
(11) Em 19 de Março de 1314, Jacques de Molay, Grão-Mestre da Ordem do Templo, foi queimado numa pequena Ilha do Sena, em Paris, por ordem do rei de França, Philippe, o Belo, com o consentimento do Papa Clemente V. A Ordem do Templo foi exteriormente destruída e os seus bens confiscados pelo rei de França. A Ordem, no entanto, permaneceu oculta, sendo continuada na Escócia sob a direcção do Cavaleiro D'Aumout. Este, segundo S. de Guaita, teria constituído as bases da Franco-Maçonaria e continuado a iniciação oculta, que mais tarde tomou o nome de Fraternidade Rosa-Cruz (N.T.).
(12) Alguns autores pretendem que o internamento de Luís XVI, no Templo, foi decidido pelos Irmãos do Rito Templário.
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