A vós, ó geração de Luso, digo,
Que tão pequena parte sois no mundo;
Não digo inda no mundo, mas no amigo
Curral de Quem governa o Céu rotundo;
Vós, a quem não somente algum perigo
Estorva conquistar o povo imundo,
Mas nem cobiça ou pouca obediência
Da Madre que nos Céus está em essência;
Vós, Portugueses, poucos quanto fortes,
Que o fraco poder vosso não pesais;
Vós, que, à custa de vossas várias mortes,
A lei da vida Eterna dilatais:
Assim do Céu deitadas são as sortes
Que vós, por muito poucos que sejais,
Muito façais na santa Cristandade.
Que tanto, ó Cristo, exaltas a humildade!
Vede'los Alemães, soberbo gado,
Que por tão largos campos se apascenta;
Do sucessor de Pedro rebelado,
Novo pastor e nova seita inventa.
Vede'lo em feias guerras ocupado,
Vede'lo em feias guerras ocupado,
Que inda co'o cego error se não contenta,
Não contra o superbíssimo Otomano,
Mas por sair do jugo soberano.
Vede'lo duro Inglês, que se nomeia
Rei da velha e santíssima Cidade,
Que o torpe Ismaelita senhoreia
(Quem viu honra tão longe da verdade?).
Entre as Boreais neves se recreia,
Nova maneira faz de Cristandade:
Para os de Cristo tem a espada nua,
Não por tomar a terra que era sua.
Os Lusíadas (Canto VII).
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