«… Porque custa tanto admitir à maçonaria que está, por exemplo, no Parlamento?
Não é a maçonaria que está no Parlamento, mas sim os maçons.
Mas foi um ex-grão mestre do GOL, o António Arnaut, que disse que "onde está um maçon está a maçonaria".
Não. Onde está um maçon, estão os princípios da maçonaria...».
Entrevista a Fernando Lima Valadas, grão-mestre do Grande Oriente Lusitano (in «O Poder da Maçonaria em Portugal», Diário de Notícias/Gradiva Publicações, 2012).
«Mais de meia centena de "irmãos" está em importantes cargos políticos em Portugal, 30 dos quais em posições de relevo na economia e na sociedade. Muitos falam na sua influência, mas antes do escândalo que envolveu a Loja Mozart n.º 49, Alberto João Jardim era dos poucos a alertar para o poder das sociedades secretas. O fracasso da não-eleição do maçon Fernando Nobre para a Presidência da Assembleia (AR) recolocou a organização na ordem do dia, até porque os líderes das duas maiores bancadas parlamentares (PS e PSD) e o estratega do Governo, Miguel Relvas, são maçons.(...) Não há figura pública que nos últimos tempos mais tenha atacado a maçonaria do que Alberto João Jardim. Coincidência ou não, quatro meses antes das eleições regionais, o Grande Oriente Lusitano abriu duas lojas maçónicas na Madeira. Mas o presidente do Governo Regional acabou por ser eleito com maioria absoluta, embora com o pior resultado de sempre.
A campanha eleitoral foi dominada pela descoberta de um buraco financeiro na Madeira, ao qual Alberto João Jardim reagiu com críticas a organizações que, alegadamente, queriam prejudicar a Madeira. "O que se está a passar foi aquilo de que já avisei o povo madeirense: é mobilizar-se a comunicação social do Continente, mobilizar-se, agora, até neste caso, os próprios sectores da União Europeia afectos à Internacional Socialista e que estão a trabalhar neste grupo da Troika; a maçonaria mobilizou tudo quanto podia em termos de utilizar este período para atacar a Madeira", referiu o presidente do Governo Regional.
(…) Além dos líderes parlamentares dos dois maiores partidos também o líder parlamentar do CDS, Nuno Magalhães, tem ligações à maçonaria, embora não seja a nenhuma das duas maiores obediências (Grande Loja Simbólica de Portugal). Desta forma, ao todo são 206 os deputados (PSD-PS-CDS) dirigidos por "irmãos".
(…) Apesar de um dos ministros mais influentes do Executivo de Passos Coelho ser maçon (Miguel Relvas) e de a entrada de Rui Pereira para o Governo de José Sócrates ter levado o diário espanhol El País a anunciar o "regresso da maçonaria ao poder" em Portugal, os tempos áureos da maçonaria após o 25 de Abril terão sido o dos governos do católico António Guterres, entre 1995 e 2001. Todos eles do Grande Oriente Lusitano. (…) [Jorge] Coelho desempenhou (…) o cargo de ministro da Administração Interna, área em que os maçons têm, por norma, grande interesse.
(…) Está no ADN da maçonaria ter uma ligação à educação. Talvez por isso não seja de estranhar que nos últimos anos as organizações tenham crescido no mundo académico. "Estamos a ser muito procurados por jovens universitários", admitiu ao DN o grão-mestre da GLLP, José Moreno. O fenómeno está intrinsecamente relacionado com as juventudes partidárias e associações académicas, onde são recrutados maçons mais novos. No entanto, sempre houve uma tradição de professores universitários na maçonaria, sendo mesmo umas das profissões mais comuns. António Reis, Adelino Maltez e António Ventura são alguns dos exemplos de académicos maçons.
No mundo da cultura e das artes também é possível encontrar diversos "pedreiros livres". O actor Nicolau Breyner já pertencia à maçonaria no início da década de 1990, altura em que também foi iniciado o músico Carlos Alberto Moniz, bem como os escritores José Jorge Letria, Mário Zambujal e José Fanha. No domínio da arquitectura destaca-se Troufa Real. O autor da polémica igreja do Restelo é membro do GOL, tendo a sua arquitectura diversos traços maçónicos. Criou também o relógio maçónico Rebeldia, que concebeu para a loja do mesmo nome, que pertence ao GOL.(…) Tradicionalmente, o GOL é conotado com a esquerda política, sobretudo com o PS. Abel Pinheiro [director financeiro do CDS-PP em 2005] disse ao seu interlocutor [o advogado Júlio Correia Mendes, prestes a entrar para a Loja da Convergência, ligada ao GOL] que, durante os executivos de António Guterres, a sua loja era conhecida como "O Gabinete", dada a quantidade de socialistas por metro quadrado. (…) Abel Pinheiro até contou que, quando o PS vai para o Governo, "aquilo", ou seja, a loja, parece a "sopa dos pobres". As conversas entre os dois sucederam-se [ao telefone] durante alguns dias, e mais segredos foram escutados [pela Polícia Judiciária]. Terá a maçonaria poder? Abel Pinheiro respondeu negativamente. Mas tem a "coisa mais preciosa" no mundo moderno, declarou o antigo dirigente do CDS-PP – a informação. E informação é poder. O próprio Abel Pinheiro tratou de, genericamente, dizer ao advogado quem por lá andava: "Gente" do Ministério Público, juízes, professores universitários e do secundário, médicos, presidentes de câmaras. No fundo, uma "rede de relações humanas" única no mundo, concretizou. E ainda de acordo com as palavras do antigo director financeiro do CDS, o mais "espantoso na organização" é que as pessoas não "escondem" nada a ninguém e nada transpira para o exterior porque, elementar, não há "uma linha" escrita sobre o que se diz lá dentro.
(…) A ligação quase umbilical entre a maçonaria e a [Universidade] Moderna foi posta a nu durante a investigação judicial. Várias facturas de viagens pagas a elementos da maçonaria foram encontradas na extinta universidade. O envolvimento da maçonaria na universidade veio ainda ao de cima numa segunda investigação que tinha que ver com um eventual tráfico de armas, com referências a convites feitos por José Braga Gonçalves para integrarem a chamada "loja negra" de Cascais.
As suspeitas em redor de uma conspiração maçónica que tinha como ponto de reunião a Moderna, para tomar conta das estruturas do poder em Portugal, foram sintetizadas num documento de Nandim de Carvalho, antigo grão-mestre da maçonaria regular. Durante o julgamento do processo, Nandim de Carvalho entregou ao colectivo de juízes um papel intitulado "Loja Secreta Fénix Tipo P2", o qual, a seu ver, era "uma carta cartográfica" representando "a informação disponível sobre as ligações da Moderna e da Casa do Sino". E as ligações tinham que ver com funcionários e docentes da Moderna, cuja qualidade de maçons ficou a descoberto.
(…) Para Nandim de Carvalho, havia um projecto claro na Universidade Moderna: por um lado, a maçonaria funcionava como patronato ideológico; por outro, o patronato financeiro era a Universidade Moderna. No projecto arquitectado para dominar a maçonaria, José Júlio Gonçalves, o antigo reitor, pai de José Braga Gonçalves, teria tido um papel determinante».
(in «O Poder da Maçonaria Portuguesa»).
A criatividade dos mações. A sua relação nem sempre «visível» com as seitas
Helena Petrovna Blavatsky |
Os mações, por seu turno, pelo menos como tendência generalizada por parte de muitas sociedades teosóficas e mesmo fora delas, promoveram a expansão do budismo no Ocidente. E não disfarçaram a razão deste procedimento. A maçonaria considera que o budismo é a religião com crenças e práticas mais afins ao que é «comum a todas as religiões», aquilo que poderia ser ensinado nas escolas em vez de «uma determinada religião». Pensam que a maçonaria está acima de todas as religiões e que – mais do que uma religião – é a «religião universal», eterna e imutável» (A. Pike).
É necessário um certo treino para descobrir o elemento maçónico na origem e no reticulado da New Age, ou «Nova Era», que, em grande medida, está a conformar as crenças e as práticas do homem ocidental, assim como a opinião pública. Alguns mações reconheceram que bastantes lojas maçónicas da costa californiana (nos Estados Unidos) apoiaram os primeiros passos da New Age em torno de um dos seus principais berços: o Instituto Esalen, localizado em Big Sur, na Califórnia. Um dos mais decisivos introdutores da Nova Era em Espanha por volta de 1990 foi o mação Blaschke, prémio Nacional de Jornalismo em 1987 e co-autor do livro La Caída del Imperio del Vaticano (Robinbook, 1992), de uma tendenciosidade evidente e até agressiva contra a Igreja Católica.
Seitas promovidas pela própria maçonaria
No mesmo âmbito tem igualmente lugar a Grand Lodge Rockefeller. A esta «Grande Loja Rockefeller» só podem pertencer pessoas de elevado nível social (político, económico, cultural) que estejam iniciadas nos graus superiores dos ritos maçónicos – por exemplo, nos graus 30 a 33 do Rito Escocês Antigo e Aceite. É uma ordem secreta iluminista, de carácter luciferino, com sede em Nova Iorque transferida há pouco para os arredores da cidade, segundo parece por razões práticas (ficava em Nova Iorque, muito perto do Rockefeller Center com a figura do mítico Prometeu no chão numa atitude de rebeldia um tanto orgiástica contra Zeus, o deus supremo do panteão grego, e símbolo da irreligiosidade em qualquer época). No cimo do arranha-céus Tishman, de 166 metros de altura, figurava o número 666, de brilhante cor vermelha de dia e iluminado de noite. Este número foi retirado em 1992, mas o edifício é agora o «666 5th Avenue». O seu rito pretende outorgar uma luz superior à maçónica.
Os Rockefeller, descendentes de uma família sefardita ou expulsa de Espanha em 1492, estiveram ligados à maçonaria pelo menos desde John Davison Rockefeller (1839-1937), que lançou a sua grande influência no campo socioeconómico e político. Entre os actuais descendentes destacam-se David e Nelson. David, com um alto grau na maçonaria, foi secretário-geral do Council on Foreign Relations, membro fundador do Bilderberg Group e da Trilateral Commission, com cargos dirigentes em ambos. Orientou-os de molde a influir indirectamente nos Estados Unidos e a conseguir o advento da Nova Ordem Mundial. George Bush pai tinha 387 membros do CFR e da Trilateral em lugares importantes da sua Administração, Ronald Reagan 313. Dos primeiros 82 nomes que integraram o gabinete de Kennedy, 63 pertenciam ao CFR (cf. o interessantíssimo The Rockefeller File, 76 Press, 1976, de Gary Aleen, jornalista de investigação). O Instituto RAND, fundado por Rockefeller, e o Instituto Tavistock (com sede em Londres e 10 instituições sob o seu controlo directo, com 400 sucursais e 3000 grupos de estudo), financiado por Rockefeller, «têm um único objectivo: acabar com a força (resistência) psicológica do indivíduo e torná-lo incapaz de se opor aos ditames da Ordem Mundial (1). Nelson, por seu lado, pode ser considerado o representante da instrumentalização das religiões e das seitas ao serviço do imperialismo norte-americano e contra a Igreja Católica. Depois de ter percorrido a América do Sul, elaborou um relatório, conhecido pelo seu apelido, que apresentou ao Presidente Nixon em 1969. A Fundação Rockefeller, ardente defensora do controlo da natalidade por meio da contracepção e da esterilização, investiu somas avultadas no planeamento familiar em Nova Iorque e em todo o mundo, embora também os tenha recuperado com o lucro da venda de pílulas contraceptivas, agora também abortivas na sua maioria. Controla grande parte dos produtos contraceptivos (com as empresas Upjohn, Dalkon, Shield, Robins e Xeros). A Fundação Rockefeller financia o Summer Institute of Linguistics, os Catholics for a Free Choice, a AMORC («Antiga e Mística Ordem da Rosa-Cruz»), fundada por Harvey Spencer Lewis, membro da maçonaria egípcia (Memphis-Misraïm) e do martinismo, bispo da Milícia Crucífera Evangélica e da Igreja Antiga da Rosa-Cruz. No «Catecismo 34» da Loja Rockefeller fala-se com despeito dos «latinos» ou «ibero-americanos», tanto pela sua ascendência hispânica como especialmente pela asteca, maia, etc. «Estamos à beira de uma transformação global. A única coisa de que precisamos é de uma grande crise e as nações aceitarão a Nova Ordem Mundial» (David Rockefeller no jantar dos embaixadores das Nações Unidas; cf. D. Etulin, op. cit., p. 197). Os Rockefeller, multimilionários ávidos de poder, e os seus aliados procuram «criar um Governo Único Mundial […]. Estão há pelo menos 50 anos a seguir um plano cuidadoso para controlar os Estados Unidos e o resto do mundo conquistando o poder político através do seu poder económico (2).
São mações os membros da «Ordem da Luz» (nome originário: August Order of Light) fundada em finais do século XIX por Maurice Vidal Portman, iniciado na Índia embora integrado no ocultismo inglês. O mesmo acontece com os da Societas Rosicruciana in Aglia (SRA), fundada em 1866 porque os seus membros desejam fazer tender a maçonaria para o ocultismo mais do que os seus dirigentes permitiam. Gloriava-se de admitir como membros apenas mações do terceiro grau (Mestre). Está implantada em Inglaterra, Alemanha, França, Índia e em vários países sul-americanos (Argentina, Brasil, México, Uruguai, entre outros). Foram mações, membros desta sociedade rosa-cruzista inglesa e da Ordem da Luz que fundaram a Golden Dawn. Igualmente mações devem ser os membros da Societas Rosacruciana in Civitatibus Foederatis (SRCF), a sociedade rosa-cruzista dos Estados Unidos, fundada em 1880 por um grupo de mações pertencentes à sociedade rosa-cruzista de Inglaterra. Arthur Edward Waite (1857-1942), fundador da Fraternidade da Rosa-Cruz em 1915, era partidário de que a sua iniciação fosse ao mesmo tempo rosa-cruzista e maçónica.
A Ordem R. R. e A. C. Independente e Aceite foi fundada em 1903 por Arthur Edward Waite, mação, ocultista e rosa-cruzista. Devem ser homens e mações pelo menos todos os seus dirigentes, embora também sejam admitidas mulheres.
Sat B’Hai, que em sânscrito significa «sete asas/plumas» ou «sete irmãos», verte o hinduísmo no léxico e nos moldes maçónicos. No seu círculo superior (Royal Orient Order of Sikha) só podem ingressar mações que estejam iniciados pelo menos no grau 3 ou de Mestre. No inferior (Sat B’Hai of Priaya) podem pertencer mações, não-mações e também mulheres. Já no século XIX foi levado da Índia para a Inglaterra por Henry L. Archer (1823-1889).
(in Manuel Guerra, A Trama Maçónica, Princípia, 2012, pp. 268-272).
Notas:
(1) John Coleman, Conspirators’ Hierarchy: the Story of the Committee, of 300, Amhsa West Pulishers, 1992, texto extraído de D. Estulin, op. cit., p. 125.
(2) Larry MacDonald, que morreu num «acidente» em 1983, no prefácio ao citado El Expediente Rockefeller.
Continua
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