domingo, 11 de julho de 2010

Saramago e a "revolução cultural" (i)

Escrito por Miguel Bruno Duarte











«A literatura degenera sempre que se submete a um realismo servil, incompatível com o pensamento criacionista. O êxito de uma obra meramente realista será tão efémero como o fenómeno observado. Nunca foi possível conciliar duramente o realismo com uma verdadeira filosofia da arte».

Álvaro Ribeiro



Em «Operação Saramago», já tivémos a oportunidade de dizer alguma coisa sobre a maior fraude literária imposta ao povo português. Cabe-nos, por agora, dizer algo mais sobre o completo domínio que a esquerda ocupa em todos os sectores políticos, económicos e culturais em Portugal. E como exemplo disso temos a “carta aberta” de mais um socialista - um tal de Vicente Jorge Silva - dirigida ao Presidente da República, Aníbal Cavaco Silva, para assim o pressionar perante uma das maiores operações vermelhuscas que já ocorreram no âmbito da cultura portuguesa e até estrangeira.

A “carta” em questão constitui um sinal deveras sintomático da animosidade doentia que permanentemente embota a mentalidade esquerdista infiltrada no ensino e nos centros de decisão do poder político, económico e jornalístico. Mas analisemo-la para demonstrar que assim é, procurando expor o que nela se afirma e sua respectiva refutação:

1. O Presidente da República - assim como a segunda figura do Estado, o Presidente da Assembleia da República -, não compareceu ao funeral do único Nobel da literatura portuguesa. Que, além do mais, deu justificações hipócritas para não comparecer, a ponto de nem sequer recorrer a um avião da Força Aérea para cumprir os seus deveres institucionais.


Refutação:

Ora, o que aqui está em causa não são as alegadas justificações que o Presidente da República deu para não comparecer ao culto fúnebre de um agente «cultural» do comunismo, mas sim o facto de haver sido criada uma mobilização em massa para sancionar uma actividade criminosa em nome da cultura. Canalizar, portanto, os deveres institucionais do Presidente da República em nome de uma consagração internacional estultamente enganosa, eis senão o maior engodo que se quis incutir aos Portugueses.

De resto, fazer crer que o Nobel de Saramago foi pura e simplesmente o resultado de um reconhecimento internacional é como sustentar um feitiço para todos os efeitos bem sucedido. É, pois, passar uma esponja sobre as instituições ditas culturais em Portugal, como o Instituto Camões, ao qual coube financiar as edições suecas de quem se denunciava a si próprio e à organização esquerdista que o apoiava em múltiplas e infindáveis ocasiões, como naquela em que, juntamente com Gabriel Garcia Marques, também internacionalizado pelo Nobel, festejou os 40 anos da revolução cubana em Santiago. Enfim, tudo isso aparece agora como sendo apenas o fruto espontâneo de um “talento miraculoso” que a esquerda pretende equiparar ao talento verídico e inquestionável de um Luís de Camões, de um Fernando Pessoa e de um Padre António Vieira.

Gabriela Canavilhas


Depois, não menos relevante é o avião da Força Aérea pago com o dinheiro dos portugueses para que a sonsa da ministra da Cultura, Gabriela Canavilhas, fosse à vulcânica terra de Lanzarote buscar o cadáver de quem verberara contra Portugal em jeito de represália para com as estruturas planificadas da cultura no tempo do Governo de Cavaco Silva (1). Por conseguinte, a esquerda insana engendrara a maior farsa em terra portuguesa, que o dito Nobel queria ver territorial, administrativa e culturalmente integrada em Espanha (na Ibéria como dizia), pelo que o melhor, o mais sensato e inteligente teria sido deixar nuestros hermanos ficar com o sinistro, assim se livrando Portugal de uma mancha vergonhosa para todo o sempre.

2. O Presidente da República, sem embargo «das divergências e conflitos políticos, de opinião ou de natureza pessoal», «é o Presidente de todos os portugueses (mesmo daqueles com quem possa divergir radicalmente)». Logo, por que não fora ao funeral «do único Prémio Nobel da Literatura de nacionalidade portuguesa»? Saramago podia não ser consensual «quer no plano literário quer no plano político e das ideias», mas, não obstante cultivar «frequentemente, sobretudo desde a sua “nobelização”, uma sobranceria, uma prosápia e uma vaidade tão destemidas que chegavam a ser patéticas e suscitavam uma compreensível aversão», o literato comunista, «apesar disso e contra isso», foi «um imenso escritor, com uma formidável irradiação em todo o mundo e a quem devemos algumas das páginas mais admiráveis escritas em português no último século». Mais: «Um romance como O Ano da Morte de Ricardo Reis é, sem sombra de dúvida, um dos maiores da literatura portuguesa de todos os tempos, um livro cuja magia ainda nos deslumbra – e supera todas as reservas levantadas pela personalidade humana, política e até literária do seu autor».


Refutação:

Sobre as razões para o Presidente da República não ter ido ao funeral, nisso implicando ou não as «divergências e os conflitos políticos de opinião ou de natureza pessoal», já pouco ou nada importa pela posição entretanto assumida. O que importa é, isso, sim, deslindar a engenharia social com vista à hegemonia da esquerda em todos os sectores da política, da economia e da cultura triunfantes.



Ressurreição de Lázaro (Giotto).



E não se trata somente de um Nobel da literatura, pois a esquerda tem apostado praticamente tudo para consolidar a maior fraude cultural mediante a projecção do globetrotter através de conferências, apresentações de livros, tournées por esse mundo fora, recepções, cerimónias, carrancas e apertos de mão, passeatas ideológicas em aldeias e escolas, incursões não menos ideológicas no Centro Cultural de Belém, adaptações cinematográficas de seus livros, como Jangada de Pedra, pelo holandês Georges Sluitzer, operetas italianas como a Bilmunda a partir do Memorial do Convento ou La Morte di Lazzaro e Cruci-verba, inspiradas no Evangelho segundo Jesus Cristo, enfim, um regabofe a que não faltaram 25 prémios, como o Prémio Camões, ou, ao jeito soarista, os 37 títulos de Doutor honoris causa nessas instituições que dão pelo nome de universidades.

Quanto ainda ao facto de o Presidente da República ser o Presidente de todos os Portugueses, seria preciso provar e demonstrar que Saramago tivesse sido português no verdadeiro sentido da palavra. Sim, porque ser português não é ofender, caluniar e denegrir o culto, a cultura e a civilização católica dos Portugueses com mais de oito séculos de existência. Mais: alegar as atrocidades da Inquisição, sempre condenáveis, não é nada perante as incomparáveis atrocidades do comunismo destruidor. Mas já lá iremos para contar, medir e pesar o que mais importa.

Convém, pois, notar que todo e qualquer Presidente da República Portuguesa que se preze como tal, e revele, acima de tudo, carácter e inteligência à altura do povo que representa e simboliza, não pode nem deve fugir ao acto de condenar energicamente toda a organização esquerdista responsável pelo ataque sem limites nem fronteiras ao sangue e à fisionomia espiritual de um povo já sacrificado no altar do mundo. Essa, pois, é que é e deveria ser a sua missão capaz de zelar pelo património histórico e sobrenatural dos Portugueses que percorreram e continuam percorrendo as Sete Partidas do Mundo.

E de nada vale alegar que o literato comunista não era política e literariamente uma «figura consensual» ao mesmo tempo que, num juízo de valor enviesado, se dá por adquirido tratar-se «de um imenso escritor (…) a quem devemos algumas das páginas mais admiráveis escritas em português no último século». Mas qual português? O português que uma tal de Lídia Jorge caracterizou em termos de uma «revolução cultural» à boa maneira gramsciana? O português que a cultura plumitiva e de magazine exibiu nos termos «de uma escrita original, tecida ao longo de extensos períodos» e supostamente bebida na estética dos «autores barrocos do século XVII» para exprimir as reivindicações sociais da “pseudo-literatura de intervenção”? O português tão zelosamente cultivado ao ponto de Saramago, aprendiz de operário mecânico, não passar do 11 a par de «um 15 a serralharia e outro a francês»? O português que na falta de pontuação e parágrafos não se distinguira no 24 de Abril de 1974 para, no 25 de Abril, passar a ser um escritor já comparável a Camões e a Pessoa, quando não mesmo a um Shakespeare entre os romancistas?


William Shakespeare



Diga-se de passagem que tão ramalhosa índole chegara a ser glorificada numa edição especial da revista Visão exclusivamente dedicada a tão sinistra figura. Uma revista, aliás, altamente prestável por conter aspectos tão interessantes e elucidativos como o que, referente ao episódio do Registo Civil, menciona Saramago como «nome de planta daninha», bem como aquele que, resultante da iliteracia de Saramago, tivera origem em certa tertúlia de poetas e intelectuais onde se fazia troça do apelido por que era então conhecido: Saragago.


(1) Era então Santana Lopes secretário de Estado da Cultura, com Sousa Lara no cargo de subsecretário.

Continua


Nenhum comentário:

Postar um comentário