Escrito por Pinharanda Gomes
Paradoxal, porque unifica, em um termo único, dois termos opostos, insubstancial substante é, na teoria de José Marinho, «o que se diz como o que é, mas verdadeiramente não é, ou é só pela assumpção do Nada» (T.S.V., pág. 11). Diz-se insubstancial, porque não carece de substância alguma para ser, e diz-se substante, porque subsiste em si mesmo e por si mesmo (Id., pág. 118) e revela-se como «substância e forma substancial» (Id., pág 117). O conceito, que serve para apreender a verdade do ser e o ser da verdade como distintos, mas como unidos na mesma fonte, vem a significar, por antonomásia, o absoluto, que é separado de todas as coisas, mas está em todas as coisas.
José Marinho apreende aí, embora as modifique material e formalmente, as teorias de Leibnitz e de Duns Escoto sobre a substância e sobretudo sobre a forma substancial primeira. Noutra instância, podemos ainda advogar o que terá sido a tentativa de Marinho para conciliar os pensamentos opostos de Heraclito e de Parménides sobre o ser e sobre a verdade, de modo que, absorvida ou dissolvida a antinomia de Parménides, Marinho fixa a ideia de Heraclito - que o Espírito é todos os opostos - pela qual o Espírito nos foge enquanto insubstancial, e se nos mostra enquanto substante. No termo, o substantivo é insubstancial, o adjectivo sendo substante; então, o universal, que é o insubstancial, só o conhecemos pelo singular da mostração, o substante.
O termo carece do encadeamento de que Marinho se serviu para o atingir, sendo esse encadeamento formado pelas «noções decisivas»: interrogação fundamental, patente e secreto na cisão, liberdade divina, as quais conduzem à visão unívoca, à cisão e, por fim, ao insubstancial substante. Pela visão dizemos o que une; pela cisão, dizemos o que separa (Id., pág. 10), mas o que une e o que separa é um e o mesmo, pois só do insubstancial substante se pratica «todo o segredo de cindir e unir» (id., pág. 11). Ele é, portanto, a causa da visão e da cisão, sendo estes os modos pelos quais se revela, sem deixar de ser o cumulativo sentido de pensar e de existir. Cinde-se, e logo se revela e se oculta: revela-se como ser, oculta-se como verdade. O enigma permanece, então, para além do que se revela, sempre ávido de interrogação fundamental, que pode concluir pela visão unívoca, essa que vê o ser «como o que é» e «vê e sabe a verdade toda na verdade» (Id., pág. 19). O que pensa e o que existe, o que vê, cinde e une é, portanto, o Espírito, formulado como insubstancial substante (in Dicionário de Filosofia Portuguesa, Publicações Dom Quixote, 1987, pp. 129-130).
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